– M-Miles? – em questão de segundos, a voz da mulher tornou-se tão tensa quanto à dele. – Lydon?

– S-sim... Eu... Uau... Eu... – ele parecia ter perdido a fala. – Eu achei o seu... O seu número no site da Universidade.

– Eu... Eu não sei... – Sarah estava igualmente surpresa. – Aonde você está nesse momento?

– No Texas. Austin.

– Olha – ela ensaiou o nome dele na cabeça antes de pronunciá-lo em voz alta. – Miles... Eu estarei dando uma palestra sobre Genética em Washington D.C. em três dias... Se você quisesse me encontrar lá... Nós poderíamos tomar um café e conversar melhor. Tenho aula em dois minutos.

Ele pensou se realmente havia entendido direito.

– C-Claro! Claro, Mrs. Lydon! – ele não ousaria chamá-la de “mãe” na primeira ligação, embora fosse igualmente estranho se dirigir à sua mãe biológica com tanta formalidade. – Em três dias. Washington D.C.

– Isso. Pode me encontrar no auditório da faculdade... Quem sabe você se interesse por ciências...

– Estarei lá sim. Primeira fileira.

Ela sorriu. Talvez no fim das contas, não fosse tão complicado conversar com um garoto tão doce como Miles. Uma criança que ela fora obrigada a abandonar com um mês e meio de vida.

– Está marcado.

– Até mais. Tenha um bom dia. – ele falou, com cautela.

– Até mais, Miles. Tenha um bom dia também.

Ele desligou o telefone ainda trêmulo por ter acabado de ouvir a voz dela. Uma voz calma e consistente, que parecia quebrar totalmente sua resistência. Caminhou lentamente até a cama e deixou que o corpo afundasse, fazendo as tábuas rangerem com o peso. Miles não conseguia acreditar que tinha acabado de falar com a sua mãe.

– Ela quer me encontrar – ele dizia com os olhos cheios de lágrimas. – Minha mãe quer me encontrar. – Miles sorria como um garotinho. – Preciso falar com Skye – ele sentou-se subitamente na cama, procurando seu celular. – Ela precisa saber disso.

(...)

– Desculpe-me, Senhor – Skye olhou para Fury com um semblante arrependido. – Não deveria ter surtado desse jeito, eu sei o que é preciso fazer numa situação como essa. Jemma me lembrou de que temos de fazer o que for necessário.

Skye olhou para a amiga que assentiu.

– Além do mais – ela continuou. – Eu não tenho pra onde ir... Não que eu não possa me virar em outro lugar, mas... Meu lugar é aqui. Na S.H.I.E.L.D.

Fury assistia a tudo com uma expressão impassível. Ele não dificultaria a vida dela, muito menos sabendo como Coulson a prezava. Na verdade, ele ainda não tinha dito, mas realmente achava que aquela garota tinha futuro, apesar da sua personalidade um tanto rebelde. Ela poderia dar uma ótima diretora da S.H.I.E.L.D. algum dia.

– Fico feliz que tenha aceitado voltar, agente Skye – ele jogou parte do sobretudo para trás, quase como se tivesse ensaiado aquele movimento. – Porque eu não estava nenhum pouco declinado a mudar de ideia quanto ao senhor Lydon. Espero que esteja ciente disso. Nós faremos o que for preciso pra neutralizar a ameaça.

– Eu sei, senhor. E eu estou de acordo com isso. – ela o encarou, sustentando o olhar. – Depois de tudo que passamos com a H.I.D.R.A. não é justo arriscar tudo por causa dele.

– Pense assim e você crescerá bastante aqui dentro, Skye. Foque no inimigo. Não dê a ele nenhuma chance de brincar com você. Porque tenha certeza de uma coisa: no segundo que você piscar ele tentará contra-atacar e você precisará ser mais esperta, mais rápida. – Coulson e May olharam para Fury, estranhando a atitude dele. – Entendeu?

– Entendi – a garota respondeu igualmente surpresa.

– Ótimo – Nick Fury notou a aproximação de Ward, já andando sozinho, mesmo que mancando de uma perna, por conta do efeito da anestesia. – Phil, preciso de um particular contigo.

Coulson olhou para May e em seguida seguiu o Diretor da S.H.I.E.L.D em direção ao Bus, enquanto Skye aproximava-se de Grant para ajuda-lo a caminhar até o sofá da recepção.

– E você já pode andar assim? – ela perguntou, apoiando o braço dele no seu ombro. – Há dez minutos você era um robô zumbi. Quem te deixou sair?

– Ninguém – ele deu um sorriso descarado e Skye fechou a cara para ele. – Mas eu já não aguentava ficar deitado naquela cama sem fazer nada.

– Mas você não pode...

– Skye – ele segurou a mão dela sobre a almofada macia. – Eu já passei por coisa muito pior. E eu fiquei muito longe de você, da equipe... Se eu sobrevivi naquela prisão dos infernos, vou me recuperar mais rápido ainda com vocês na equipe. Eu sou um agente de operações.

– É, de carne e osso – ela ressaltou. – Mas eu também acho que você vai se recuperar melhor conosco.

– Que bom que você concorda – Ele sorriu para ela e tomou seu rosto entre as mãos. – Por que eu iria de qualquer jeito mesmo...

Ele a beijou rapidamente, enquanto May estava entretida desmontando uma pistola na mesinha de centro. Simmons havia ido procurar o Fitz e depois de alguns minutos, os dois apareciam pelo corredor, seguido de Coulson, Fury, Hand e Kate Neville. Era hora de voltar para o Bus.

– Então, agentes – Fury se colocou no meio deles e os cumprimentou com um aceno de cabeça. – É aqui que nós nos separamos. – Ele segurou o seu distintivo e o segurou firme entre os dedos. – A agente Kate Neville e eu, precisaremos nos afastar da S.H.I.E.L.D. por uns tempos. Com a volta dela, surgirão muitas perguntas que não serão fáceis de responder sem comprometer nossa organização. Mesmo morto, o desgraçado do Barão continua ferrando com a gente. Nós dois não somos as melhores caras para a S.H.I.E.L.D. nesse momento. Não essa que está ressurgindo das cinzas. Por isso – ele puxou o braço de Coulson e o colocou no centro, afastando-se para formar a roda com os demais agentes. – A bola agora está com o agente Philip Coulson. A partir desse instante, reportem-se à ele. – Nick Fury deu uma pausa apenas para admirar a expressão de espanto na cara dos agentes, inclusive May, que foi pega desprevenida. – Coulson é o novo agente da S.H.I.E.L.D.

Uma calorosa salva de palmas ecoou na salinha e todos foram repreendidos por terem esquecido que ainda estavam em uma unidade médica. Um a um, os agentes parabenizavam o novo diretor e despediam-se do antigo, demonstrando gratidão e respeito por tudo que ele havia feito dentro da S.H.I.E.L.D.

– Você agora é o dono do cajado, A.C. – Skye aproximou-se dele com um sorriso enorme nos lábios. – Vai poder mandar e desmandar em todo mundo.

– É uma grande responsabilidade. – ele sorriu de lado para ela, um pouco constrangido com tantos olhares espantados vindo em sua direção. – Reconstruir a S.H.I.E.L.D. num momento tão delicado como este.

– Nós podemos dar conta, Coulson. – ela endireitou-se numa postura séria. – Ou devo dizer... Diretor Coulson.

Phil não pôde deixar de sorrir ao vê-la chamando de “diretor”.

– Mas... Sério, senhor. O senhor está a altura disso. Não tenho dúvidas de que tomará as rédeas da situação da melhor maneira possível. – ela tinha os olhos brilhando, a ponto de lacrimejarem. – Eu sei disso. A May sabe... Nick Fury... Toda a equipe acredita em você, Coulson. Estaremos aqui. Senhor.

Ele a olhou orgulhoso. Como ela havia crescido... Mesmo que por diversas vezes Skye parecesse uma criança travessa, ela sabia exatamente o porquê de estar naquele lugar. Ela queria proteger pessoas. E sabia que era boa em fazer isso.

– Obrigado, Skye – ele respondeu igualmente emocionado. – Muito obrigado mesmo. Nunca me arrependi de tê-la acrescentado à equipe quando nos conhecemos. Você era diferente... Especial. Algo em você chamava atenção... Saltava aos olhos. – ele colocou uma das mãos no ombro da garota que sorria para ele, já derramando lágrimas. – Um dia você será grande aqui dentro, Skye. Eu posso sentir isso. Continue nesse caminho.

– Obrigada, A.C.

Ela lançou-se nos braços de Coulson, num abraço demorado e há alguns metros dali, May e Ward assistiam a cena, ambos com um sorriso nostálgico estampado no rosto. Era bom ver que tudo estava correndo para o bem, mesmo depois de uma trilha de morte e destruição traçada pelo Barão Strucker. Estava tudo em paz novamente.

* Alguns minutos atrás. Dentro do Bus.

– Tem certeza, Diretor Fury? – Coulson perguntava, com os olhos espantados.

– E alguma vez você já me viu errar numa coisa dessas, Phil?

Coulson estacionou os braços na frente do vidro embaçado do Bus, olhando o vão. Como ele pôde não prestar atenção naquele detalhe? Como pôde não conferir os documentos daquela garota? Como pôde esquecer aquela história de massacre? Como seu cérebro conseguiu apagar aquela memória?

– Antes que você surte tentando entender como esqueceu isso, preciso te contar uma coisa, Coulson. – Fury ficou de pé e apontou o dedo indicador para ele. – Mas você tem que me prometer que não vai descontar tudo na agente May.

– Eu prometo... E por que eu descontaria...

– O projeto T.A.H.I.T.I. alterou suas memórias. O agente encarregado do projeto era você mesmo, Coulson. A Agente May sabia, mas ela estava sobre ordens estritas para observar seu estado clínico e eu a pus no cargo, pois sabia que ela faria qualquer coisa por você.

Coulson apenas ficou estático tentando processar metade das informações que ouvira.

– E a droga que usaram pra te trazer de volta... Era de origem alien. – Fury deu uma pausa e aproximou-se do seu agente mais confiável – Você e Skye tem isso correndo nas veias, Coulson. Mas hoje eu pude perceber algo que mudará tudo. Skye não foi nem minimamente afetada pela substância. Eu vi as análises da agente Simmons e comparei com as análises que os médicos fizeram em você, Phil. Você quase morreu de dor. A cirurgia estava sendo tão delicada que cogitamos em deixa-lo morrer novamente, mas May se desesperou na sala. Ela ficava repetindo que você era forte, que iria resistir a todo o processo. E quando vimos que seu corpo realmente estava reagindo, demos prosseguimento. Mas Skye... Pelo que eu vi e falei brevemente com a agente Simmons quando cheguei aqui... Skye teve apenas uma pequena reação antes de seu corpo estabilizar... E detalhe: ela foi curada apenas com o uso da droga. O GH-325 adaptou-se ao corpo dela, porque naturalmente, ela já tinha isso dentro de si. Por isso ela não demonstrou efeitos colaterais depois de acordar, ao passo em que todos os pacientes do projeto T.A.H.I.T.I. precisaram de um transplante de memórias para permanecer estável. – ele finalmente deu uma pausa para respirar. – A Agente Skye tem descendência Alienígena.

Fury não sabia mesmo como ser sutil. Coulson estava se virando como podia para ligar todos os pontos. Procurou a cadeira mais próxima e sentou-se. Precisava de ar. Suas pernas fraquejaram. Falar tornou-se algo difícil.

– E... Como? – Coulson olhava para o nada, seu olhar quase vazio, perdido em tanta informação junta. – Skye é um 0-8-4. Não sabemos a origem dela, e nem...

– Agora eu sei, Coulson – Fury parou na frente dele, o fazendo retribuir o gesto. – E eu estou indo agora mesmo para Hunan procurar por respostas. Não vejo nenhum problema no fato de ela ter um pezinho pra fora desse mundo, mas eu preciso garantir que isso não vai gerar uma guerra intergaláctica. Seja lá quem for os pais de Skye... Eles devem ser poderosos...

– E o pior... – Coulson completava o raciocínio. – Devem estar loucos atrás dela.

– Então... Quero que você tome conta da S.H.I.E.L.D. por enquanto. Vou levar a Kate comigo. Se acontecer alguma coisa conosco, abafem o caso. Escondam os vestígios. Não quero estar ligado a vocês caso aconteça alguma coisa mais grave.

– Sim, senhor.

– E Coulson... O mais importante... Estejam preparados para tudo.