Um homem mascarado com cabelos negros parou à nossa frente. Ele caminhava a passos lentos e tinha uma faixa enrolada em uma das mãos. As cicatrizes no antebraço mostravam que ele tinha estado em guerra. Poucas pessoas conheciam na pele a dor de um tiro de fuzil.

– Por que a pressa? Acabaram de chegar...

– E já estamos indo embora! – Skye aproximou-se do homem e eu fiz sinal para que Ward a impedisse de se matar.

– Ora, ora, ora! Veja quem está aqui... – Ele aproximou-se de mim e eu me preparei para a luta – A própria Cavalaria! Acho que devo estar em apuros...

– Sim, você está! – Skye atiçava o homem mais uma vez.

– E você? O que é? – O mascarado olhou para Skye e Ward apertou os punhos – Ah, me lembrei! Você caiu feito mosca na sopa! – Ele deu uma gargalhada. – Estávamos aguardando você, Skye... Sabíamos que você não resistiria em salvar o amor da sua vida. Sempre tão corajosa e destemida...

– Ele não é o amor da minha...

– E óbvio – O homem interrompeu o discurso que Skye estava prestes a encenar – Ela também viria. – Ele agora se referira a mim – Não deixaria a pupila de Coulson invadir uma fortaleza sozinha. Ela não. A única coisa que me admira, May – Ele descansou as mãos sobre a cintura, olhando-me com sarcasmo – É você ainda sentir algo por esse traidor. – Ward agora me olhava como se me interrogasse silenciosamente, perguntando se aquilo era mesmo verdade.

– Cale a boca, estamos dando o fora daqui! Vamos. – Peguei o braço de Skye e Ward fez a retaguarda. Eu não queria ter que bater em mais ninguém naquele estado.

– Vocês vão. A garota fica.

Mas ele estava pedindo.

– Ward? – Lancei um olhar que ele já conhecia. Era a hora do Rush.

– Entendido.

Com o ombro machucado, um tiro no joelho e algumas escoriações pelo corpo, não poderia proteger Skye e lutar ao mesmo tempo, então Ward o fez. Ele e Skye desceram alguns lances de escada enquanto eu lutava com o veterano. E ele era bom.

– Pensei que encerraria minha carreira sem antes ter essa honra – Ele confessou.

– Quando eu acabar com você, vai desejar que isso fosse verdade.

– Uou... Sabia que eu adoro mulheres assim?

Ele não sabia com o que estava se metendo. Um chute. Dois. Ele conseguia se proteger cruzando os braços em “X” acima do queixo. Ele era ágil.

– Isso é o melhor que sabe fazer? – Ele umedecia os lábios com a língua nojenta, levantando os punhos e me desafiando – Não era isso que eu costumava ouvir na academia...

“Espera... Ele é um agente da S.H.I.E.L.D?” Pensava comigo enquanto tentava derrubar o sujeito. Prendi o seu pescoço com um fio de nylon que eu arranquei de uma das cortinas. Ele ficou sem ar por alguns segundos, mas conseguiu se soltar, imobilizando meus braços, sabe-se lá como.

– Calma, querida... Não se desconcentre com os meus músculos.

A voz metálica que ele utilizava era tão irritante quanto à máscara negra que cobria metade do seu rosto, apenas deixando a boca aparecer, embora a mesma estivesse enegrecida por uma espécie de tinta grossa. Que raios de ser era aquele?

– Devia prestar mais atenção nos seus inimigos, May. – Ele só sabia falar. O tempo inteiro – Se fizesse isso, se desgastaria menos.

– Eu não tenho tempo para avaliar a ameaça. Uma vez que eu a identifico, só tenho uma tarefa: Eliminá-la.

– Sempre pronta para a ação, não é mesmo?

Um salto, um grito e três chutes em série. Bem no rosto do sujeito. O sangue espirrou no tapete que parecia ter vindo da Pérsia. Mais na frente, a máscara havia caído, também manchada de sangue. Não pude evitar um sorriso zombeteiro ao perceber que o havia atingido. Ele permanecia de costas, o rosto dele devia ser muito feio para que ele não quisesse ser visto. E pra ser sincera, nem estava interessada em saber nada sobre ele. Nada.

– Aonde pensa que vai? – Ele levantou-se e deu uma gargalhada, limpando o sangue com o dorso da mão ainda de costas e com a voz metálica dando curto circuito.

– Por que o disfarce? Por que não se mostra como é? – Desafiei.

– Porque você não vai gostar de me ver, Melinda.

– O que...

O homem virou-se. O homem, na verdade. Era meu marido. Meu ex-marido morto.

– Brock?! – Dei dois passos para trás num misto de espanto com indignação. – O que você... Como você...

– Eu não sou o homem que você conheceu, May... Eu nunca fui o homem que você achou que eu era.

– Como você está vivo? Eu vi você...

– Eu nunca morri, May. A HIDRA forjou minha morte. Meses depois do acidente eu fui injetado com um soro. O mesmo que o seu amiguinho da SHIELD recebeu. Mas não funcionou como deveria.

– Ele não é meu amiguinho da SHIELD.

– Quem é amiguinho de quem? – Skye e Ward voltavam à sala inicial, algemados.

– Eu disse que ficaria divertido – Brock bateu palma para os capangas que os trouxeram de volta – Vocês não vão a lugar nenhum.

– Seu desgraçado, filho da...

– Uou, espera! Calma aí, esposinha... Não precisa ficar nervosa...

Dei um murro no rosto dele quando ele estava despercebido.

– Odeio quando você me chama assim...

– Espera, calma... – Skye arregalou os olhos, quase esquecendo que estava amarrada e presa por um desgraçado daqueles. – Vocês se conhecem?

– Ele é... Era... Meu... – Olhei para os lados, constrangida. Não imaginava que eles descobririam isso dessa forma.

– Marido dela.

O queixo de Skye caiu. Ela quis soltar uma gargalhada acompanhada de um: “Sem chance”, mas eu evitei, olhando para ela com aquele olhar que ela já conhece.

– Brock Rumlow. – Ele continuou sua apresentação. Tinha me esquecido o quanto ele era exibido – Ao seu dispor.

– Não, muito obrigada. – Skye cortou o charme dele e eu sorri de lado.

– Então quer dizer que vocês dois... – Ward já ia entrar num assunto desagradável.

– Isso não importa, Ward. Eu vou dizer o que vai acontecer aqui. – Me virei para Brock, apontando o dedo para ele – Você vai nos deixar ir embora e eu farei questão de nunca mais olhar na sua cara.

– Separação difícil, hein? – Ward continuava com gracinhas. Ele estava louco para que eu entrasse na dele.

– Calado, bastardo. Não pense que eu esqueci o que você fez.

Olhei para Skye, e ela abaixou a cabeça. Estava meio perdida naquela discussão maluca, era muita informação e tensão ao mesmo tempo. Resolvi deixa-la de fora disso e conseguir um acordo com Brock.

– E então? Estamos liberados ou você vai querer levar mais alguns socos?

– Você acha que vai a algum lugar? – Ele e os capangas riram em coro. – O chefe chega em instantes. Ele vai querer ver os três. Principalmente a garota. – Ward e eu nos entreolhamos por alguns instantes – Além do mais, você pode até tentar... Mas com esse joelho e esse ombro... – Ele balançou a cabeça em sinal de negação – O máximo que posso fazer é fornecer suporte médico. Ninguém sai daqui.

Ele estava certo. A dor estava gritando dentro dos meus ossos, mas eu não daria esse gosto a ele. Resistiria até o último instante, mas naquela hora, lutar seria inútil. Precisávamos de um novo plano, e rápido.

– Ossos? – Uma segunda voz encheu a sala emadeirada.

– Sim, senhor. – Brock respondeu.

– Finalmente. – Disse o ancião ao olhar Skye mais de perto. – Você conseguiu, Ossos! Leve os três para o Calabouço! A asiática será a primeira a receber a droga. Deixe a garota para o Gran Finale.

– E quanto a este, senhor Strucker? – Brock apontava para Ward.

– Este? – O ancião gargalhou – Vamos apenas esperar o soro fazer efeito. – Os olhos de Ward se espantaram com as palavras do homem – Ele é o nosso Paciente Zero.