Fechei os olhos e senti os lábios doces e úmidos de Jemma pressionando os meus, em um encontro suave e confortável. Nossos dedos ainda estavam entrelaçados e eu não acreditava que ela havia conseguido coragem para fazer aquilo. Lentamente, eu soltava uma de suas mãos para poder abraça-la com o outro braço que ainda doía um pouco, sentindo aqueles cabelos dourados ainda úmidos da neve que possuíam um adocicado aroma de maçã. Ela era linda. Em tudo, em cada mínimo detalhe, em cada centímetro do seu rostinho perfeitamente desenhado. Ela era completamente linda.

Parecia que o tempo havia parado para nós dois, eu poderia jurar que havia nascido ao lado dela e que já estávamos juntos desde sempre (o que não era lá tanto exagero assim). As mãos delicadas de Jemma bagunçavam o meu cabelo e faziam carinho no meu rosto quando o contornava, como se estivesse me redesenhando. Eu não compreendia como de uma única mulher poderia jorrar tanta doçura e amor e naquele momento, tudo que eu queria era que ela nunca mais saísse do meu lado.

O beijo parou e ela ficou apenas olhando para o meu rosto e óbvio que ela estava com as maçãs do rosto rosadas. Eu também deveria estar. Ela estava me encarando com um olhar firme e suave ao mesmo tempo, sorrindo enquanto se afastava um pouco de mim para voltar para a posição inicial. Ela sentou-se na cadeira, mas aproximou-a da cama para não ficar tão longe de mim. Já eu, não conseguia esconder a expressão de felicidade e encantamento por um momento que eu já esperava antes mesmo de ter conhecimento disso.

– Jemma... – Só consegui pronunciar o nome dela.

Ela sorriu. Simmons entendia quando eu pronunciava o nome dela sem nenhuma razão específica, apenas por gostar de ouvir as ondas sonoras se propagando no ar no formato do seu nome. No entanto, daquela vez, eu tinha sim muitas coisas para dizer, só não sabia exatamente como falar ou o que falar. Eu ainda estava com o coração acelerado, então simplesmente segurei a mão dela novamente e a fiquei observando, admirando a bela garota sentada à minha frente.

– Desculpe... – Ela começava a se desculpar por algo que obviamente não era preciso – Eu sei que não devia ter... – Ela voltava a se parecer com a Jemma que todos conheciam quando se enrolava na hora de falar – Eu só não consegui...

– Você não tem que se desculpar por nada, Simmons. – Sorri e fiquei desenhando círculos imaginários na mão dela com os meus dedos. – Eu também queria isso.

– Oh, Meu Senhor! – Ela se afastou bruscamente parecendo ter se lembrado de algo não muito agradável.

– O que houve? – Me assustei.

– Triplett! – Ela arregalou os olhos – Preciso contar a verdade a ele antes que... É melhor que ele saiba por meu intermédio...

– Por falar nisso... – Tentava achar palavras para me explicar – Você agora já deve saber porque eu estava estranho esses últimos meses... Triplett... Você...

– Então você realmente estava com ciúmes! – Ela sorriu apontando o indicador para mim – E não era só um pouquinho!

– Sim, eu estava. Nossa... Eu não suportava vê-lo perto de você... E quando ele te elogiava... Eu tive vontade de arremessa-lo para fora do avião algumas vezes.

– Awn, Fitz! – Ela sorria, aproximando-se de mim – Você não achou que eu te trocaria por ele, achou?

– Ah... Não, mas... Quer dizer... Um pouco... Não suportava a ideia de que ele estava me afastando de você...

– Bom, não está mais. – Ela sorriu.

– Posso te perguntar uma coisa?

– Claro, que pode, Fitz.

– O que você faria se estivesse apaixonada pelo seu melhor amigo, mas tivesse com medo disso estragar a amizade de vocês? – Perguntei, mandando uma indireta nada pretensiosa.

– Acho que... Eu o beijaria quando ele estivesse machucado num leito... Aí eu tiraria a prova.

Eu não esperava por aquela. Onde ela estava aprendendo a falar daquele jeito? Resolvi aproveitar a deixa para ser igualmente direto.

– Eu estou apaixonado por você, Simmons. – Falei sem cerimônias – E pra ser totalmente sincero, acho que é um pouco mais do que isso...

Ela ficou muda dessa vez. Eu fiz um esforço para me sentar na cama, imaginando que ela me mandaria ficar quieto, mas arrisquei mesmo assim. Puxei-a pelo braço delicadamente para que ela se sentasse do meu lado na cama, eu precisava olhar nos olhos dela para me sentir seguro.

– Eu amo você.

Não esperei nenhuma resposta ou reação dela, simplesmente a beijei.

Dessa vez, foi ela que ficou surpresa com a minha atitude e pareceu não ter processado muito bem tudo aquilo. Tê-la nos meus braços era a melhor coisa do mundo e eu só conseguia manter nela os meus pensamentos. Naquele momento, todo medo e todo receio deu lugar ao amor que eu sentia por ela, um amor que eu sentia voltar para mim no mesmo ritmo e intensidade. Eu sabia que as coisas não seriam mais as mesmas, mas dessa vez eu aceitaria as mudanças. Tudo que incluísse minha vida perto dela estava valendo.

– Eu também amo você, Fitz. – Ela falou enquanto me afastava um pouco para olhar nos meus olhos. – Nunca duvide disso – Ela sorriu para mim, docemente – E deite-se direito, você acabou de bater com a cabeça, precisa deixa-la em repouso.

– Tudo bem... – Sorri – Estava só esperando você dizer isso.

Ficamos mais um tempo juntos e eu ainda não acreditava em tudo o que estava acontecendo. Estávamos no meio da madrugada, então acabamos cochilando até o amanhecer quando fomos acordados por Coulson avisando que o bus estava pronto para levantar voo.

– Que horas são? – Perguntei sonolento.

– Sete horas – Ela respondeu com a voz um pouco grave enquanto bocejava.

– Você devia ter ido dormir no seu quarto, na sua cama confortável e quentinha. – Ela lançou um olhar engraçado – Eu já estou bem.

– Essa cadeira não é tão ruim assim. Eu consegui cochilar.

– Só porque você estava cansada.

– Talvez.

– Então... Posso me levantar? Ou você vai querer mais um exame? – Brinquei para ver a cara dela de reprovação.

– Claro que vou fazer o exame! – Ela tentou ficar séria, sem sucesso.

– Parece até que eu não te conheço.

– É. – Ela me deu um beijo antes de sair da sala – Vou ver o que tem na cozinha pra gente.

– Pode trazer...

– Não! Nada de rosquinhas a essa hora da manhã! Você precisa de carboidratos.

– Tudo bem, mãe.

– Obrigada pelo elogio, eu sempre adorei a sua mãe.

Ela sorriu triunfante e fechou a porta do quarto. Jemma conseguia achar respostas para quase tudo ultimamente. “Acho que ela está andando muito com a Skye” pensei, antes de voltar minha mente às últimas cinco horas. Ela era a melhor coisa que tinha acontecido na minha vida e naquele momento eu desejei que ficássemos juntos para sempre.