Mais um dia infernal naquela droga de prisão, cheia de ratos de todos os tipos. No começo eu me achava o pior de todos, mas percebi que existiam piores do que eu. Homens sem nenhum código ou honra, apenas vivendo amontoados e podres como animais. Eu era um dos poucos que não assediava a doutora Thompson, até porque eu estava muito ocupado pensando na Skye para me distrair com ela, embora ela fosse atenciosa e cuidadosa. Ela não era a minha Skye.

– Grant Ward.

– Você sabe que esse nome não existe mais. – Reclamei, lembrando de quando Skye me ligou avisando que havia apagado nossas ID’s.

– Mas é o seu nome. Seu verdadeiro nome.

– É o nome de um fantasma.

– Parece bem real pra mim. – Ela mudou o tom de voz e repousou a mão direita sobre a minha coxa.

– Doutora... Aqui está o resultado dos exames – Falei, levantando-me da cadeira para voltar para a cela.

– Não precisa ir tão rápido, podemos aproveitar o momento. – Ela insistia, enquanto eu sentia suas unhas deslizando pelo meu braço.

– Não, isso definitivamente não é uma boa ideia. Com licença.

– Ward. – Ela me chamou antes que eu desaparecesse pela porta. – Agora é sério, preciso te dizer uma coisa.

– Como assim agora é sério? Você estava me testando?

– Claro que eu estava te testando! – Ela disse, enquanto se afastava encenando numa cara de nojo. – Queria saber que tipo de homem você era.

– E a que conclusão você chegou?

– Que você é leal.

Esbocei um sorriso, mas dei uma gargalhada internamente. “Eu leal?” aquela mulher não sabia exatamente nada sobre mim.

– Olha, doutora... Eu tenho muitos atributos, modéstia a parte, mas... Lealdade? Não acho que seja uma delas.

– Depende do ponto de vista.

Fiquei calado. Não sabia direito onde ela estava querendo chegar com aquilo.

– Sim, os exames! – Ela disse, puxando uma cadeira e se sentando novamente de frente pra mim. – Preciso saber se tem sentido dores de cabeça, insônia, mais fome do que o normal... Enfim, preciso que responda este questionário médico.

– Doutora, eu estou bem...

– Por favor, me chame de Riley. – Ela me interrompeu – E não diga que está bem. Apenas responda a tudo que está aí.

– Posso saber por quê?

– Agora não, mas em breve saberá.

– O que vocês fizeram comigo?

– Calma aí, homem de lata! – Ela falou exatamente como a Skye – Não fizemos nada de mais com você. Você é muito precioso para ser desperdiçado.

Resolvi não discutir. Ela viria com mais joguinhos e a minha paciência estava quase no limite. Ao invés disso, resolvi caminhar pelo Pátio Alto, próximo da torre sul. Nós trabalhávamos como se estivéssemos em um presídio convencional; já estava cansado de acordar achando estar em Plymouth, Massachusetts. Eu precisava reconstruir uma pequena parte do muro que tinha apenas um metro e meio de altura e aproveitei para ir na hora mais deserta do dia, assim poderia ficar em paz por alguns minutos e quem sabe esquecer daquele lugar.

Lá de cima podíamos ver a Tundra gelada, coberta por uma mancha branca maciça. Não estava nevando naquele momento, mas a noite anterior havia sido a mais fria daquele mês, apenas me fazendo pensar se ela ao menos sonha que eu estou vivo ou se comemorou a notícia da minha morte. Mesmo sem ter certeza, aquele não era o estilo de Skye. Acho que ela não me aceitaria de volta, mas comemorar a minha morte seria algo diferente do que ela é. Ela é boa, boa até demais.

Meus pensamentos se perdiam ao imaginar aqueles longos cabelos castanhos e os doces lábios macios que eu pude tocar pelo menos uma vez. Nunca em todos aqueles anos de espionagem alguém pudera mexer tanto comigo em tão pouco tempo. Skye era diferente até nisso. Havia prometido a mim mesmo que se eu saísse daquele lugar algum dia, eu iria procura-la para esclarecer tudo isso. Queria ao menos uma chance para mostrar a ela que eu não era o monstro que eu pensei que fosse. Eu a amava e faria qualquer coisa para tê-la de volta.

A imagem de Skye ia sumindo aos poucos, à medida que eu percebia um movimento diferente lá embaixo. Parecia que de repente aquela floresta estava criando vida. Galhos movimentando-se estranhamente e alguns pontos pretos deslocavam-se de vez em quando. Descia da torre correndo para avisar os guardas que provavelmente havia espiões do lado de fora dos muros, poderíamos até sofrer um novo ataque em breve.

Adentrei a sala de monitoramento e os guardas tinham saído para almoçar. As câmeras conseguiram detectar algo que estava embaçado, mas dava para entender que havia no mínimo quatro pessoas com fuzis e um rosto quase familiar. Busquei por outras imagens de segurança até que meu coração teve uma parada cardíaca brusca – metaforicamente falando – e eu senti falta do chão. Era ela. Skye estava há poucos quilômetros, provavelmente com uma equipe de buscas da S.H.I.E.L.D. numa missão resgate, ou numa missão vingança, não importa. Eu conhecia aquele olhar. Ela havia voltado por mim.