Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 7
Capítulo 7 - No cinema




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Celso estava num dilema. Estava numa questão insolúvel já resolvida. Queria, também, poder contar isso a alguém, no entanto, em quem poderia confiar seu íntimo? Muitas vezes tinha medo de admitir os próprios pensamentos, quanto mais sofria para tentar revelá-los. Não é como se houvesse alguém que realmente fosse compreendê-lo. Nem o próprio dominava esta proeza, que dizer dos aforas.

Sem mais delongas, a discussão era esta: já estava prometido a uma moça, que inclusive era bela, educada, e inteligente; todavia, ao mesmo tempo, sentia que seu coração palpitava por uma mulher diferente. Uma ainda mais formosa, mais esperta, mais divertida, mais gentil, mais viva. Não sabia exatamente o que procurar numa esposa, porém, algo compreendia: como os mais velhos diziam, sem amor, não há casamento que triunfe; e mesmo que o casal continue junto, com certeza, não haveria felicidade.

Embora seu pai visse as coisas de outro ângulo, sua mãe e seus avôs lhe diziam que casamento não é contrato. Se for pra ter uma esposa, que esta lhe traga alegria, não desordem, ou inquietação. E ele concordava. Ao menos, concordava agora, quando certa mulher que conhecera foi mais do que simplesmente atraente para ele. Sentiu-se feminino por ter tais sentimentos, portanto, tentou afastá-los; contudo, por mais que lutasse contra, eles acabavam voltando à sua linha de visão, e pareciam mais fortes e sutis a cada vez que surgiam, após espantados.

Já faziam dois meses desde que tinha sido apresentado a família Borges. E gostara muito de os ter conhecido. Eram atenciosos, tinham uma boa conversa, e filhas maravilhosas. Mas aí estava. Aí estava todo o problema. Como já mencionado, já fazia um tempo considerável que ele havia estabelecido contato com elas. Porém, da sua prometida, nada ele sabia, enquanto da irmã da própria, era como se se conhecessem há anos. Era uma sensação estranha, todavia, ele sentia que ela era, de longe, quem mais parecia entendê-lo, mas em contrapartida, por mais que tentasse estabelecer uma conversa com sua noiva, não conseguia! Ela era simplesmente... Uma estranha. Percebeu um frio na barriga ao admitir isto. Farejava perigo. Não é como se pudesse facilmente dizer a todos que queria "trocar de irmã". E achava melhor não fazer isso. Por via das dúvidas, ponderou ser melhor apartar-se da outra, e prometeu a si, em seu íntimo, se esforçar ainda mais pela sua pretendente.

Ainda devaneando em seu carro, pronto para mais uma refeição teoricamente alegre na casa dos Borges, foi surpreendido por ninguém mais que a dita cuja, que mesmo inocente deste fato, lhe causava tantos problemas.

– Oi, Celso, o que você ta fazendo aí? Não vai entrar? - pergunta ela, aparecendo pela janela do motorista, que estava aberta. Como sempre, lascando os lábios rosados em um sorriso particularmente seu.

***

Estava brava. Tinha acabado de brigar com sua irmã. Também, não era pra menos. Já tinha dias que ela observava como a irmã vivia se fazendo para seu noivo. Conversavam sozinhos, sempre fazendo piadinhas, com aquela intimidade. Ela estava sempre roubando tudo dela. As roupas, os sapatos, a atenção, os elogios, e até os pretendentes. Ela não merecia ter tudo isso. Andava por aí, com aquele seu sorriso safado. Mas eu não me engano com esse jeito de prostituta que ela tem - pensava. Não mesmo. Ela merece uma lição, uma lição pra aprender a não mexer nas coisas dos outros. Não cobiçar o que não é dela. Que audaciosa! Não podia parar de se intrometer na vida dos outros? "Somos só amigos!". Ah, sei... Só amigos. Ninguém via sua irmã só como amiga. Ela vivia dando em cima de todo mundo; não porque queria ter alguma coisa com aqueles homens, e sim para se divertir. Divertia-se magoando os corações dos que gostavam dela. Vadia.

Contudo, a verdadeira noiva disse a si mesma que desta vez não deixaria que sua irmã roubasse algo que lhe era de direito. Tudo bem que ela tomasse suas roupas, seus sapatos, sua atenção. Porém, Celso ela nunca iria surrupiar. Nunca! Porque sua futura esposa o impediria.

Quando viu seu pretendente sentado na sala, tratou de se aproximar dele. Sentou-se ao seu lado, após cumprimentá-lo. Finalmente conseguira um tempo a sós com ele. Isso era uma proeza particularmente difícil de conquistar. Nunca casa cheia como aquela, onde os parentes e vizinhos viviam entrando e saindo, muitas vezes sem permissão, era praticamente impossível arranjar um pouco de privacidade.

– Oi. Como você está? - ele quer saber, sinceramente.

– Estou bem, obrigada. E você?

– Melhor agora, falando com você, - expressa, com os dentes abertos. A mulher fica corada, embora tenha gostado. - Eu falei com seu pai mais cedo, e ele concordou em deixar você ir comigo no cinema. - sugere, com os olhos esperançosos por uma resposta afirmativa.

– Cinema? - diz, com um riso forçado. Odiava cinemas. Qual é a graça de sentar em uma cadeira desconfortável, numa sala com cheiro de pipoca, toda escura, e assistir a um enredo desinteressante, que sempre fala das mesmas coisas? Por que gastaria duas horas sem fazer nada, enquanto poderia estar terminando seus livros, que inclusive já somavam tantos? No entanto, se não fizesse isso, perderia uma ótima oportunidade de estar com ele. - Claro! Seria ótimo. Hoje?

– É! Mas seu pai não quer que vamos sozinhos, acho que temos que levar a sua irmã.

***

A ideia de ter de ir ao cinema já não lhe era boa, e a coisa piorou quando descobriu que teria de levar consigo a sua meia-irmã, a quem queria tirar das garras de seu namorado.

Decidiram-se por uma comédia: Três Solteirões e um Bebê. Uma verdadeira porcaria. Uns caras idiotas procurando a mãe de uma criança. Como alguém podia achar graça naquilo?

Celso e a outra pareciam estar se divertindo bastante. Ela chegou a se engasgar com a pipoca de tanto rir! E o noivo prontamente tratou de cuidar da safada. E logo, voltaram a gargalhar. Não só eles, mas o cinema em peso. Como? Como rir de algo tão banal?

Sentia-se deslocada, e essa sensação ficou ainda mais forte quando saíram do cinema e os dois começaram a repassar todas as falas teoricamente cômicas do longa. Imitavam os personagens, remendavam os atores, discutiam sobra a “fofura” do bebê. E ela simplesmente não conseguia participar do diálogo, porque simplesmente não tinha nada a dizer.

***

Estava extasiada. Perguntava-se como alguém poderia odiar um filme tão legal tal como aquele. Celso também não entendia. Muito pelo contrário, riu tanto que sua pele clara já parecia um pimentão. Revisavam juntos as melhores cenas do filme, que por acaso eram as mesmas.

Entretanto, por mais que tentasse envolver a irmã na conversa, ela se recusava. Também, estava fervendo de raiva dela. Haviam brigado mais cedo pela pessoa que agora as acompanhava. Embora ela repetisse que não queria nada com ele, a mesma se negava a crer.

Sentiu-se mal por ela. Mas o que poderia fazer? Seus esforços não serviam para nada! Somente para acrescentar motivos para o ódio da mulher.

Sua irmã não notava? Não era com ela que Celso estava se casando. A menina tinha uma sorte enorme de poder ter como seu noivo alguém tão legal. Quem a dera, ser a pessoa especial dele. No entanto, não havia sido a escolhida. E isso ficou ainda mais visível quando uma chuva se seguiu. Ela havia avisado que o dia estava nublado, e um guarda-chuva seria necessário. Contudo, quem a ouviu?

Em frente ao cinema, havia uma rua larga, e do outro lado, um sombreiro, para onde correram. O ar ficou mais frio, e Celso disse que tinha que pegar que ficara estacionado na esquina. Então, quando o buscasse, voltaria para pegá-las.

Lá estava ela, com o vestido de alças largas de estampa verde traspassada por linhas de tons mais escuros da mesma cor, naquele tecido levemente brilhante, que marcava sua fina cintura com faixas largas, antes de vazar num rodado até os joelhos, onde a barra do forro musgo aparecia de relance, causando sombra na sandália creme. Deixou o cabelo meio preso, e permitiu as mechas caírem sobre os ombros. Já sua irmã, sempre mais modesta, optou pelo vestido justo preto básico, que formava bem sua silhueta esbelta e elegante. Seus cabelos presos num coque nada simples, e o decote princesa mostrando sua clavícula, sob o colar branco de prata. As suas mangas também não eram nada compridas. E foi a esses ombros, que Celso decidiu cobrir com o seu blazer. Seu cheiroso e refinado blazer.

Flagrou-se com ciúmes, e decepcionou-se consigo mesma. Arredou-se desses maus pensamentos, e quando não conseguiu, concordou com a irmã em seu íntimo. Definitivamente, não era apenas amizade.


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