Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 6
Capítulo 6 - Carona




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Otávio entrou no elevador e discou seu andar. Sua cabeça estava dolorida. Pressionou as têmporas em busca de estabilidade. Aqueles patetas às vezes eram insuportáveis. Eram tão doentes que todas as meninas que conversavam com ele, os idiotas tinham de falar alguma coisa. Conspiravam demais. Otários.

Mas até que tinham razão... Priscila não era nada feia... E era divertida, inteligente, e sempre tinha boas conversas com ela, era gentil e mantinha o bom humor.

Quando Otávio abriu a porta, assustou-se. Pensou que a menina já havia se ausentado. Entretanto, lá estava ela. Havia tirado a camisa preta, e estava apenas com a regata inferior, que lhe caía muito bem. Estava pegando sua bolsa, provavelmente pronta a se retirar. Seus cabelos estavam presos num coque, o que mostrava seu rosto melhor. Seu rosto límpido e belo.

– Priscila? O que faz aqui? - fala, sem saber como reagir.

– Eu estava trabalhando. - diz ela, soando como se fosse óbvio, enquanto lançava a bolsa no ombro.

– Ah! Ta! É mesmo. Mas não é meio tarde?

– É um pouco. Hoje o Eduardo estava muito imperativo. Então eu acabei demorando pra conseguir fazê-lo se deitar. Mas eu já vou embora. Desculpe por demorar tanto - e se dirige até ele, que ainda estava parado na porta, meio paralisado.

– Você quer que eu te leve? - sugere ele, tentando ser o máximo sincero e menos safado possível.

– Não precisa! Eu vou correndo.

– Mas está tarde, e as ruas são muito perigosas nessas horas.

– Não são, não.

– Eu insisto. Deixe que eu te leve. Não me sentiria bem vendo você sair daqui tão tarde. – expressa do fundo do coração.

– Está bem. É verdade. Está meio tarde. - ela cede, esfregando as mãos nos braços, demonstrando falta de calor.

– Você está com frio?

– Não! Não estou.

– Espera um pouco que eu te trago uma blusa de frio minha.

Antes que ela pudesse negar, ele já havia ido e voltado, trazendo uma blusa de tricô de máquina azul marinho masculino. Otávio estava nervoso, preocupado em aparentar aos olhos de Priscila, demasiadamente desesperado e apaixonado por ela. Ele não estava! Ele apenas sabia que ela era muito bonita e legal, e queria ser gentil com ela. Apenas isso. Contudo, todo mundo achava que ele queria algo mais. Porém, essas pessoas estavam enganadas. Ele só queria ser legal. E mesmo que possuísse segundas intenções, não as concretizaria. Ela era linda demais para um nerd estranho como ele. Ao menos não tinha espinhas... Não mais... Talvez não fosse tão feio. Somente um nerd bobão. Tentava ser elegante, mas não sabia se conseguia. Mas tanto faz. Não tinha pensamentos maldosos por Priscila. Não precisava estar tão preocupado em parecer lindo e legal pra ela.

– Está aqui. - e estende o agasalho.

Ela põe ali mesmo, o que o deixa corado, embora não fosse nada demais.

– Vamos?

– Estou falando sério! Não precisa fazer isso.

– Já fiz. Vamos. - e nem se dá conta que pegou a mão dela e a arrastou para o elevador. Isso só lhe vem a mente quando chegam ao térreo. - Desculpe. Eu não vi. - e solta-a. Ela fica envergonhada. Droga! O que será que ela vai pensar disso?

– Tudo bem. Acontece.

Eles vão à garagem em direção ao carro. Um Hb20 sedan prateado. Após desativar o alarme e as portas, eles entram.

Ela lhe ensina o caminho e diz que um carro para aquilo é desnecessário. Ele ri, e confessa que até iria a pé, se não fosse mais de meia-noite.

– Desculpe pelo cheiro de álcool. Meus amigos curtem bastante.

– Tudo bem. Não é como se fosse a primeira vez.

– O quê? Você costuma entrar frequentemente em carros de bêbados?

– Claro! Uns fumantes da rua de baixo às vezes me chamam pra dar um rolé. A gente toma um sorvete e fuma uma erva. - eles gargalham - Não. Eu me referia aos churrascos em família. O fim sempre é assim.

– Ah ta... Entendi.

Eles param num sinal vermelho, aguardando uns poucos carros no cruzamento atravessarem a larga encruzilhada. Otávio olha levianamente para o lado, e seus olhos termina por encontrar Priscila olhando para o nada, tão distraída quanto ele, tendo a grande blusa azul pendendo para o lado de seu braço, revelando parte de seu ombro nu, uma visão bela e perigosa. Policiando-se, ele volta a atenção para o sinal, agora verde, e segue seu caminho.

Ele estaciona em frente a um prédio cor de vinho bem cuidado que parecia ter uma longa idade, portanto, um bom espaço para a família, cujos membros somavam três, de acordo com a amiga.

A rua era bela, até. Havia uma praça em frente ao arranha-céu, que possuía alguns bancos e árvores frondosas, além de belas flores, que às vezes invadiam as calçadas na primavera.

– É aqui. Obrigada. Você realmente me ajudou hoje. – confessa, sorrindo meigamente para Otávio. Após um de nada, ela se aproximou para beijar-lhe a bochecha, como afeto de despedida, antes de sair do carro e adentrar em seu endereço.

O toque dos lábios delas é suave, e seu cheiro é doce. Contudo, não aquele adocicado enjoativo. Não. Mas um bom e viciante aroma, que mesmo breve, causa saudades no moço, mesmo ele não entendo a razão.

***

Dona Elisa já estava ficando preocupada. Apesar de ligar inúmeras vezes para a filha, sempre caía na caixa de mensagens. Essa menina é louca? Meia-noite e ela rodando por aí? Está pensando que está aonde? No paraíso? Esses jovens de hoje! Perderam totalmente a noção do perigo. Trabalhando? Como babá? Que tipo de criança fica acordada até agora? Sei... Trabalhando uma ova! Deveria estar é se agarrando com esses universitários. Em tempo de ficar grávida ou pegar uma AIDS. Ela avisou pra Seu Rodrigo, o marido:

– Não vou criar neto de nenhum! Se ela ficar de barriga, vou expulsar ela de casa na hora!

– Calma, dona Elisa – ele acalmava – deve ter acontecido alguma coisa.

– Você acha, Sampaio, que aconteceu alguma coisa com ela? Ai Meu Deus! Será que pegaram minha filha?!

– Não, mulher! Eu estou falando do trabalho. Ser babá é um emprego que demanda muitos imprevistos.

O marido mal tinha terminado o pensamento, quando alguém destranca a porta da frente.

A menina deu um belo Boa Noite, mas o que pôde ouvir foi:

– Menina! Isso são horas? Você quer me matar do coração? Onde a senhorita estava, hein? – diz a morena, já com sua camisola florida azul bebê.

A casa estava bem escura. As paredes brancas pareciam bem apagadas, devido a iluminação só provir da cozinha. O chão de madeira parecia negro, e os quartos, a maioria com suas portas marrons abertas, só revelavam escuridão. Na cozinha copa, o pai estava encurvado na mesa, degustando um pouco de chá, costume dele desde jovem. A mesa de estrutura moderna em mogno era acompanhada com cadeiras estofadas em preto, sendo a bancada e os armários, com estruturas semelhantes a estas, de mármore cinza, e base vermelha escura.

– O Edu hoje estava muito imperativo. E eu tenho que ficar lá até ele dormir. Como ele demorou pra pegar no sono, eu cheguei tarde.

– E você veio sozinha de lá até aqui?

– Mãe! Não é tão longe! E eu não vim só. O irmão mais velho do Eduardo, o Otávio, me trouxe de carro.

– Como assim irmão mais velho? Quantos anos ele tem? – questiona a mãe. Entretanto, não parece ser a única interessada na resposta. O seu pai, o bronzeado de cabelos castanhos, às vezes grisalhos, também tinha os olhos e ouvidos abertos.

– Ele é um pouco mais velho que eu.

– E por que ele se deu ao trabalho de fazer isso?

– Porque ele é gentil.

Os mais velhos se entreolham, como que duvidando deste fato. Os homens de hoje não costumam ser gentis com as garotas, se não quisessem algo mais.

– Você fica sozinha naquela casa com ele todos os dias? – interveem o pai.

– Não, pai. O Eduardo sempre está lá.

– Mas ele é uma criança. E criança não conta.

– Claro que conta. Mas não se preocupem. Esses dias estamos só esses dois e eu, mas o pai deles, que está viajando por agora a negócios, vai passar as noites lá também.

– Você não acha meio estranho você trabalhar num lugar onde só tem homem, minha filha? – aponta sagazmente, o Seu Sampaio.

– Não, pai. Não há o que temer. Lá é tranquilo. E mesmo que um dia aconteça algo, eu tenho meu celular, duas mãos para bater, e duas pernas pra correr.

– Você não acha melhor mudar de emprego?

– Não, pai. Esse é o melhor que eu achei.

– E pra voltar, filha? Não está complicado, não?

– Não, pai. É perto.

– Pegue um ônibus, ou peça para esse rapaz acompanhá-la quando voltar. Se não, você não vai poder continuar nesse emprego.

A ideia era boa, até. Seria bom voltar pra casa ao lado de Otávio.

– Mas cuidado com o que você faz, minha querida. Esses meninos riquinhos, muitas vezes acham que podem fazer o que quiserem com qualquer garota e depois jogá-las fora. E outra, ficar com o filho do patrão não é o melhor modo de manter o emprego.

– Eu sei. Não é como se isso fosse acontecer.


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