Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 5
Capítulo 5 - A babá de Eduardo


Notas iniciais do capítulo

Não sei se está confuso. Me perdoem, se sim. Mas é esse o jeito que devo narrar a história. De outra forma, as coisas não iriam funcionar como planejei.



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Otávio dirigia o carro com segurança. Fora o único que não havia bebido dos três. E, na realidade, os amigos nem estavam bêbados. Porém, se já eram loucos enquanto sóbrios, que dizer depois de duas cervejas?

Jorge estava ao seu lado, seria o primeiro a sair. Atrás, os outros dois malucos, que disputavam sobre alguma questão da prova da semana passada. Todavia, logo pararam, a fim de saber sobre algo mais interessante.

– Cara... - começa Nicolas - Aquela Priscila é gostosa.

– É cara, você não vai pegar ela, não? - pergunta Lucas.

– Não, seus psicopatas. Eu não vou pegar a babá do meu irmão.

– Por quê? Ela tem namorada? - Jorge se manifesta.

– Não, acho que ela não tem.

– Então! Pega ela!

– Não! Ela não é do tipo que fica com alguém por ficar.

– Hm... Ela é de que tipo?

– Ela é uma boa pessoa, e eu não vou me aproveitar dela.

– Cara! Você ta curtindo a babá?

– Você ta louco?! Eu não!

– Eita... Já era - Lucas atiça. - ta apaixonado.

– Como vocês são gays! Eu não gosto dela.

– Vocês devem conversar bastante, já que se vêem todo dia - aponta Jorge.

– Vamos mudar de assunto?! - pede o réu, embora o pedido pareça mais uma ordem.

– Não quero. - ousa Nicolas. - quero falar da sua paixão proibida.

– Cara, me deixa dirigir em paz.

– Ela também estuda na nossa faculdade, né?

– É. - responde secamente.

– Então cara! Logo ela vai estar rica! Porque vocês não se casam? Ou estudam juntos um pouco de anatomia humana? - Otávio, nesse momento, faz uma curva violenta, antes de bater o freio com força, ato que faz o pneu cantar.

– Você quer matar a gente, cara?! - grita Jorge, com aqueles olhos esbugalhados.

– A culpa é minha? Vocês estão me distraindo! Eu só quero dirigir até em casa em paz! - rola um silêncio no ar por uns instantes, enquanto Otávio volta à constância no motor, e os meninos acalmam os sentidos.

– Mas ela é gostosa, admite. - Nicolas conclui.

***

– “Acocorada junto às pedras que serviam de trempe, a saia de ramagens entalada entre as coxas, sinha Vitória soprava o fogo. Uma nuvem de cinza voou dos tições e cobriu-lhe a cara, a fumaça inundou-lhe os olhos, o rosário de contas brancas e azuis desprendeu-se do cabeção e bateu na panela. Sinha Vitória limpou as lágrimas com as costas das mãos, encarquilhou...”...

– Pri! Para de ler esse livro chato! – briga o pequeno, batendo seus pezinhos debaixo do edredom cor de rosa, sobre sua cama “Fashion Teen”, como Priscila a chamava. O pobre já tinha ouvido três capítulos, e não se aguentava mais.

– Chato, menino? Como você pode chamar esse livro de chato! Pura literatura brasileira! – argumenta a babá, fechando o livro, porém, tomando cuidado em marcar com o dedo indicador as páginas interrompidas.

– Pra quê eu vou ler isso?

– E como você quer passar no vestibular? – questiona, recostando melhor as costas na cadeira que arrastara da escrivaninha do computador.

– Vestibular?! Eu tenho sete anos!

– Quanto mais cedo melhor. – diz, tentando ser sincera.

– Fala sério, você ta lendo isso aqui pra mim porque não consegue ler outra hora, não é? – deduz Eduardo.

– Não! – mente. – Eu li porque achei que ia gostar.

– Gostar? Eu nem consigo dizer metade das palavras que ele usa nesse livro! Eu não entendi nada do que você leu!

– Não entendeu porque não prestou atenção!

– Pri! Me conta uma história boa! Uma cheia de heróis e espadas, de reinos e garotas bonitas...

– Onde que eu vou achar uma história dessas? – pergunta, cruzando os braços.

– Sei lá. Inventa.

Ela o encara por instantes, matutando se deve ou não aceitar a proposta.

– Está bem. Mas só se for um conto de fadas. – decide.

– Ta... - expressa, desanimado - mas um conto macabro.

– Não sei se vai dar tempo.

– Conta um rapidinho!

– Ta! Já ouviu falar da princesa Tainá?

– Quem?

– Tainá, a princesa brasileira das trevas.

– Que podre!

– Ela era morena e alta, e cada passo dela tinha léguas de distância. Um dia, ela foi para Oz, tentar a vida. E se deu bem. Montou um negócio e prosperou. Até comprou um bolo de amora flambado que fazia diminuir. Então ficou no tamanho normal.

– Isso não é Alice no País das Maravilhas?

– Eles copiaram. Essa que eu estou contando é a versão original.

– Ah...

– Certo dia, ela conheceu o Peter Pan.

– Peter Pan é da Terra do Nunca, não de Oz.

– E ele não tira férias, não?

– Quando alguém sai de férias, ele vai pra Europa, não para Oz.

– Não, senhor. Caso você não saiba, Oz é o lugar onde tem as melhores tapiocas do mundo.

– E quem faz as tapiocas? A Tainá? - debocha.

– Ela mesma.

– Que porcaria.

– Continuando. Quando o Peter a viu, se apaixonou. Mas ele não sabia que Tainá era cobiçada por muitos. Por isso, quando ele a pediu em casamento, oferecendo como dote um capuz vermelho, os outros pretendentes acharam muito ofensivo da parte dele. Por isso, os sete camaradas apaixonados o desafiaram.

– E ele venceu todos e ficou com ela?

– Não. Cara! Você é louco? São sete homens de machado contra um moleque voador. Ele não saiu meio metro do chão e os brutamontes começaram a despedaçá-lo.

– Então ela chegou e matou todos os sete e salvou o Peter Pan?

– Não! Quando ela chegou, o Peter Pan já estava todo partido.

– E...?

– E que ela, por consideração, juntou os pedaços dele e mandou por sedex até a Terra do Nunca.

– E ela ficou sozinha pra sempre?

– Não. Ela se casou com um "sereio".

– Quer dizer Tritão?

– Isso aí. Ela se casou com um tritão que conheceu meses depois num festival de paçoca em Marte. Eles tiveram três filhos ursos que dominaram Atlanta por séculos. Eles souberam mais tarde que o Peter havia ganhado vida por um cientista maluco, que costurou os pedaços dele e o chamou de Billie.

– Você quer dizer Frankstein?

– Não! Billie. O mesmo nome do cachorro que o cientista teve na infância. Tainá foi visitar ele com o marido. Só que ele a enforcou antes que ela pudesse cumprimentá-lo.

– E...? – pergunta ele, esperando mais.

– E o quê? Acabou.

– Moral?

– Bom... Moral... Têm várias. Tipo: nunca lute com sete caras por alguém que não te ama. Ou siga em frente mesmo quando quem você gosta morre. Ou nunca leve seu marido para conhecer seu ex-namorado, ainda mais quando um deles tem pavio curto e uma perna de cada cor. – Uma pausa excruciante se segue ali. O garoto tem seus olhos esbugalhados de medo.

– Pri, agora eu não vou conseguir dormir.

– Consegue sim! Quer que eu cante algo pra te ajudar?

– Alguém morre na canção?

– Por quê? Você ficou com medo do que eu te contei?

– Não!

– Não era você que queria uma história macabra?

– É! Mas uma que preste!

– Minha história é ótima!

– Ótima? Ela é tão sem sentido que eu nem sei por que o nome da história é a princesa das trevas!

– O nome não importa. Eu só coloquei esse porque é legal.

– Eu não achei.

– Achou sim. Agora vai dormir.


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