Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 4
Capítulo 4 - Os Três Patetas




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As pernas doíam. Fazia apenas três semanas que começara o trabalho, mas ainda não havia se acostumado com isso.

Quarta semana, terça-feira. Estava em pé no ônibus, e chegaria um tanto atrasada, visto que itera que comprar comida para o menino. Deveria fazê-la, mas não tinha força para tocar o lápis, que dizer para fazer arroz. Parecia tão cansada que não tinha força nem pra comer.

Passara no Mc Donald's, e tivera que pagar com o próprio dinheiro, uma vez que a mãe de Edu não fornecia cachê para comprar esse tipo de coisa.

Estava acabada, pensava. Iria ver aquele gato do Otávio, e parecia uma louca. Estava com aquela blusa preta social sem manga e transparente sobre a fina regata escura, acima da calça verde água, e a sandália negra, que lhe permitia ventilar os pés, cansados de ser pisados. Prendera o cabelo num coque, e sentia-se como uma cebola, ou um “alho poro”. Decidiu que iria desfazê-lo, assim que descesse do transporte.

A bolsa que pendia no ombro esquerdo parecia pesar uma tonelada, e a sacola que segurava com a mão direita, que guardava o lanche e deixava a outra livre para segurar a barra a fim de se segurar, já estava molhada, de tanto suor.

Ao chegar ao destino, soltou os cabelos e os jogou para o lado. Desabotoou alguns poucos botões da roupa e puxou o decote da regata para baixo, a fim de deixá-lo mais visível, além de por a barra frontal da blusa para dentro. Eram poucos detalhes, mas conferiam-lhe uma aparência mais bonita.

Entrou no prédio e sentou até o guarda lhe observar. Cumprimentou-o, como de costume, antes de subir no elevador. Tendo feito, descobriu, ao entrar na sala de estar, que não era a única que havia caprichado no visual. Sua paixonite já havia jogado os cabelos para trás, de uma forma que lhe deixava atraente, e estava com uma camisa xadrez com mangas sobre os cotovelos de tons azuis, em cima da camiseta branca estampada, sobreposta acima da calça jeans com arranhões quase abertos. Além disso, cobria os pés com o converse preto, o punho com um relógio caro, e os olhos com os seus óculos de costume. Estava simplesmente lindo. Mais do que costuma ser.

Pelo visto, ele também se surpreendeu ao vê-la. Ela não notou, porém ele oscilou.

– Oi, Priscila. - disse ele, se levantando. Ela já tinha a chave da casa, logo, ele já não se deslocava para abrir a porta.

– Oi, Otávio. Eu trouxe algo pra vocês comerem, porque estou sem ânimo algum para cozinhar. - explica, erguendo a comida para cima.

– Entendo. Muito obrigado, mas não precisa se preocupar comigo, eu vou sair com uns amigos hoje, então não vou jantar aqui.

– Ah é? - expressa, sorrindo falsa e tristemente.

Ela havia se arrumado pra isso? Com um calor daqueles, ela nem sequer prendera o cabelo, só pra se mostrar pra ele. Tinha caprichado em tudo, como podia, mas tinha se esforçado tanto, pra nada. Tudo que fizera de nada serviu, pois o idiota estava saindo com os amigos. Ela tinha gastado com ele! E o que ele fazia? Saía. Também não era pra menos que estava tão arrumado. Será que iria encontrar alguma menina? É. Adeus paixonite. Desisto - pensou, deixando a sacola de comida voltar para baixo.

– Você comprou isso com o seu dinheiro? - ele quis saber.

– Sim.

– Então eu vou deixar o dinheiro do lanche amanhã sobre a mesa da cozinha.

– Não! - fala apressada, quase gritando. -Claro que não! Eu comprei o lanche porque eu quis. E eu vou comer dele também. Eu nem posso deixar o Edu comer essas coisas. Se a mãe dele souber que estou dando hambúrguer pra ele, eu posso ser demitida. E se você pagar por isso, então...

– Mas você deve ter gastado muito. Se comprou pra você, pra mim e pro Edu... Pelo menos o meu eu vou pagar.

– Não. Tudo bem. Gastar com comida nunca é demais. - ele ri.

– Eu insisto.

– Bem, se você insiste, me leve pra comer alguma coisa, então. - brinca ela.

– Está bem, que dia é melhor pra você?

– Eu tava brincando.

– Não! Eu vou te pagar alguma coisa um dia desses.

– Pois eu não vou.

– Nossa! Como você é orgulhosa!

– Não é orgulho! Eu comprei isso pra comer com vocês. E vocês não pediram isso. Não podem me pagar. - antes que ele revidasse, ela tratou de mudar de assunto. - Afinal, onde Edu está?

– Ele ta tomando banho.

– Ah... - um breve silêncio invade a sala - eu vou por isso na cozinha. - ele acena a cabeça positivamente, antes de Priscila pôr a bolsa no sofá e levar o lanche para a mesa da cozinha, em frente a bancada de mármore negro.

Depois de despachar da sacola os alimentos e checar se o refrigerante estava bem, voltou ao cômodo principal, onde Otávio estava sentado no sofá de listras.

Nem houve tempo dela se sentar, pois a campainha tocara, lhe chamando para a porta. Otávio, por sua vez, nem a deixara abrir a porta.

– Deixa que eu abro. - e num pulo, move as pernas cumpridas até a entrada da casa.

– E aí cara! - diz um primeiro que passa para dentro.

– Fala aí tavião! - e abraça o segundo.

– Ô fera! Suave? - e batem as palmas das mãos.

O primeiro era um garoto de altura mediana, com cabelos e olhos castanhos, e pele levemente bronzeada. O segundo era um mais velho alto com fios dourados e bagunçados com olhos azuis, e o terceiro era um pouco mais alto que o primeiro, e tinha uma bela pele escura, e olhos tão negros que chegavam a brilhar. Todos eles eram lindos.

– Poxa, Otávio! Eu não sabia que ia levar alguém. É a sua nova namorada? - diz um deles.

Priscila gelou.

– Essa é mais bonita que a outra. - comenta o outro

Priscila piorou.

– Não, não! Ela não é minha namorada.

– Hm... - duvida o terceiro - é só uma amiga...?

– Parem vocês três. Ela é a babá do Eduardo.

– Sério? - dizem os três, ainda olhando para ela.

– É. Sério. - e se vira para a menina - Me desculpa, Pri. Esses malucos entendem tudo errado. - e se volta para os amigos - Pessoal, essa é a Priscila, a babá do Eduardo. Pri, esses três patetas são o Jorge, o anão de jardim; Nicolas, o travesti desbotado, e Lucas, o chefe do tráfico. - as apresentações tornam o clima mais descontraído, e faz o grupo rir, mas Priscila ainda está incomodada. - Vamos? A gente tem que ir logo, senão vai ficar muito tarde.

– O cliente disse que não tem pressa. - acalma o anão.

– Desculpa me intrometer, mas vocês vão ver um cliente a noite vestidos assim?

– Sim - confirma o moreno - é que o nosso trabalho é um site de vendas de artigos personalizados. E teve um objeto que não foi entregue ao cliente, por uns motivos aí. Então nós estamos indo entregá-lo pessoalmente.

– É. Mas depois a gente vai ver um filme e comer alguma coisa. - explica o loiro.

– Vamos, então? - diz Otávio. Os meninos se despedem, e logo somem dali.

Após saírem, Priscila sente um vazio grande, após desabar no sofá maior. Poxa... Ele estava tão lindo... E que amigos são aqueles? Que gatos!

Mas e aquela história de nova namorada? Como teria sido a antiga? Espera aí? Quem, de verdade, era a nova namorada? Droga! Esperanças no lixo. Deveria ser uma loira alta e peituda, com cabelos cacheados, e que gostava de usar shorts tais quais calcinhas jeans. Ela não poderia competir... Ah, tanto faz. Até parece que ele ia conseguir pegar alguém lindo, inteligente e rico... Ah não ser que ela fosse loira... Porque as loiras sempre ficam com tudo. Deveria pintar o cabelo de loiro... Ou se tornar ruiva. Porque se você for ruiva o mundo cai aos seus pés...

Quer saber? Que seja! Um dia ela ia ficar linda, famosa e rica. E continuar morena. Porque ser morena é o fluxo.

Não muito tempo depois, Edu apareceu com os cabelos molhados, andando pela casa com uma bermuda negra e o resto do corpo nu.

– Oi, Pri. - e beija o rosto dela. É, até que agora eles se davam bem! - Chegou tarde - e se senta no pouco espaço do sofá que sobrou - Eu to com fome.

– Vai pôr uma blusa que eu comprei um lanche pra você.

Ouviu um "Eba!" estridente, mas não deu ouvido, virou-se para o lado do sofá e tentou brisar um pouco mais antes do menino voltar para buziná-la.


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