Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 3
Capítulo 3 - Centro das atenções




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Não comera muito. Estava meio sem apetite. Foi a primeira a se levantar, antes de voltar a deitar no jardim da casa. O tal Celso também não parecia estar muito interessado nos alimentos, mal tinha tocado o prato. Deveria estar tão envergonhado quanto ela. Já os pais, só faltavam beijar os sapatos do rapaz. Perguntavam coisas que já sabiam a resposta, somente para escutar sobre algo grandioso que o homem fizera.

Ela não entendia porque os pais pareciam tão desesperados. Sua irmã era bonita, inteligente, e eles tinham boas condições financeiras. Por que tudo isso com um partido recém-chegado? Tudo bem que ele era muito bonito. E tudo bem que ele era inteligente e estudado. E tudo bem que ele era rico. E tudo bem que ele tinha viajado pelo Brasil e além. E tudo bem que era educado. E tudo bem que era gentil. E tudo bem que era humilde. E tudo bem que ele sabia conversar. E tudo bem que os pais dos envolvidos eram amigos de infância. Mas fora essas coisas, o que ele tinha de especial? A seu ver, nada. Que afobação!

Não que estivesse com inveja da outra. Porém, uma coisa é querer conhecer o rapaz, outra coisa é jogar a filha para cima dele. Literalmente. Ela já estava envergonhada. Por essa razão, optara por se retirar. Também que a situação era esquisita, posto que havia acabado de ser atropelada pelo paparicado na mesa. Se fosse outro dia qualquer, ou outra pessoa qualquer, o infrator receberia bons desaforos, em vez de, como agora, ser o centro das atenções. Não que ela sentisse ciúmes de o futuro noivo ser o centro das atenções apesar da atropelada ter sido ela. No entanto, não era pra ser assim?

A irmã parecia ter gostado muito da aparência do homem. Também, quem não havia gostado? Perguntava-se se acharia alguém daquela escala de beleza. Não que fosse necessário ter alguém tão belo ao seu lado. Mas seria bom poder ter alguém com quem pudesse sair na rua e exibir como troféu... Tocando nesse assunto, parecia que era isso que todo mundo queria com ela: exibi-la como um troféu. Não que ela fosse tão linda assim. A mesma não sem julgava tão especial. Porém, mesmo com sua modéstia, todos admitiam que ela tinha dotes abençoados. Seus cabelos eram negros e lisos, e seus olhos também eram escuros. Contudo, sua pele era branca, branca como a neve; enquanto sua irmã tinha os fios castanhos claros, e olhos iguais aos seus. Ambas eram lindas. De fato, pelo olhar, nunca alguém imaginaria que uma delas era adotada, devido a semelhança entre elas.

Os pais queriam casar as duas ao mesmo tempo. Talvez com um leve intervalo entre as cerimônias, todavia, simultaneamente. No entanto, a moreninha branquela havia rejeitado mais um pretendente semana passada. Os pais já estavam quase desistindo. A mais pacata, a chamada mais obediente, estava agora conhecendo seu futuro, e valorizava aqueles que se aproximavam.

A irmã era mais séria que a outra. Passava horas lendo seus livros complicados, e praticamente odiava sair de casa. Já ela, a moreninha, gostava de ir ao cinema, e não queria passar mais que duas horas dentro de casa. Conhecia o bairro inteiro, e era amada por ele. Até os bandidos da região lhe rendiam respeito. Todos pareciam querer cuidá-la. E possivelmente era isso que fazia com que ela obtivesse tantos amores. Claro que, não correspondia a nenhum, porque julgava-se muito jovem. Tinha seus dezenove, e os mais velhos clamavam para que ela aceitasse logo alguém. Que coisa! Com tanto a fazer, ela iria se casar?

Eis que, enquanto ainda presa em seus pensamentos, é interrompida por alguém, cuja sombra atrapalhava a claridade que lhe sobrevinha às pálpebras fechadas.

– Oi. - diz uma voz grave.

Ela ergue o corpo, sentando-se, antes de responder:

– Olá. Por que está aqui? - questiona, apoiando o tronco nos cotovelos.

– Eu queria saber se está mesmo tudo bem. - e agacha-se junto a ela.

– Eu já disse que sim, obrigada por perguntar. - e se levanta de vez, e começa a caminhar rumo ao portão, pronta para uma caminhada.

– Espere. É que você mal comeu hoje. - e segue-a.

– Eu como pouco.

– As mulheres comem pouco mesmo, disso eu sei. Mas você nem o pouco comeu.

– Você não comeu muito também.

– Porque eu me senti desconfortável pelo acidente mais cedo. E pensei se poderia fazer algo para compensar.

– Não precisa fazer nada. Eu não me machuquei gravemente e você não fez por querer.

– É verdade. Eu não fiz por querer. Mas me desculpe novamente.

– Está bem. Eu não estou brava com você. Além do mais - e para de caminhar, virando-se para ele, já na calçada em frente a casa - você não deveria estar falando com a minha irmã?

– Eu até queria, mas não me deixam falar com ela sozinha. Tem sempre alguém pra falar alguma coisa, fazer uma piada, dar uma opinião. Seus pais são incríveis, mas, sinceramente, eu vim aqui hoje pra conhecer sua irmã melhor, não pra fazer uma festa com toda a família. - ele provoca um pouco de riso no diálogo.

– Eu sei como é. Por favor, me desculpe pelos meus pais. É que, não sei se você vai entender, mas eles querem nos casar logo. Então, toda vez que um "bom partido" - e sinaliza as aspas - aparece, eles ficam assim, caindo em cima.

O garoto ri belamente, o que deixa a menina um tanto corada.

– O que faz de mim um bom partido? - ela fica mais envergonhada ainda, hesitando em responder.

– Ah... Você é uma boa pessoa, educado, parece ser maduro, é trabalhador, é gentil, e tem uma boa aparência. - desta vez, quem teve a face vermelha foi ele.

– Ah, ta... - diz ele, sem saber como prosseguir o assunto.

– Não precisa ficar envergonhado pelo que eu disse. Estou sendo sincera, não é que estou dando em cima de você. - concluiu, deixando a si mesma, sem graça.

– Não, não! - se apressa, desajeitado - eu não tinha pensado nisso. Jamais. Você não parece ser esse tipo de pessoa.

– Obrigado. Agora tenho que ir. - ela fala. - quero fazer uma caminhada.

– Você sai de casa quando tem visitas nela? - brinca ele.

– Relaxa, moço, não é comigo que você vai se casar. - e volta a andar em sua direção.

– Cuidado com os carros. E olhe para os dois lados antes de atravessar.

Ela vira o rosto brevemente para ele, e oferece um sorriso malicioso, informando de volta:

– Pode deixar. E vê se presta atenção quando dirigir um carro. Você pode atropelar alguém.


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