Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 16
Capítulo 16 - O beijo e a Bofetada


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Porque o site ficou fora do ar, não consegui postar. Mas tenho uma boa notícia: já terminei de escrever. Só falta postar.



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– Otávio, desce aí, você primeiro, querido, que eu vou levar o Eduardo na casa da mãe do seu pai. Acho melhor ele não ver o avô hoje. - diz Ana, ao lado do motorista, enquanto ouve objeções da parte do filho menor, que queria muito ver seu Demítrio. Mas não teve conversa. Otávio obedeceu as ordens da mãe, e logo, o menino teria que obedecer também.

Otávio respirou um pouco o ar matinal, tão puro! Resultado da arborização do local. Característica comum do bairro onde estava. Eram nove horas da manhã, e se não houvesse enfermo nesta casa da frente, ele teria que admitir: o dia estaria perfeito. Mais perfeito que isso se estivesse com quem gostava, sem esquecer que está pessoa deveria retribuir seus sentimentos. Porém, no final, chegou a conclusão que de bonito, só o céu naquele dia, porque este talvez fosse o último dia da vida de seu avô, ou a última semana, ou o último mês, ou o último ano. Não, seu avô não duraria mais um ano. Até o próprio sabia disso.

E pensou ali, brevemente, como seria quando seu avô se ausentasse. Não que fosse haver uma mudança drástica nos seus modos. Amava o avô, contudo, sua morte não implicaria em muitas consequências ruins, dizia, na rotina. Todavia, era quase impossível imaginar seu avô morto, posto que ele era uma daquelas pessoas que estão tão habituadas em determinado lugar, que praticamente já fazem parte dele. Parecia maldoso falar assim, mas era o que lhe parecia. Amava Demítrio. E não queria que ele fosse, porque a casa ficaria, sem ele, tal qual uma porção de cômodos vazios. Isso! A casa sem seu avô ficaria simplesmente vazia, ou sem sentido.

Afastou os pensamentos e se aproximou do portão gradeado. Ia tocar a campainha, porém, ao ver o portão simplesmente recostado, pensou ser desnecessário, além do mas, não era nenhum estranho. Contudo, cuidou de fechar atrás de si o aberto, temendo que algo ruim pudesse ocorrer. Não haveria muito trabalho para sua mãe entrar também, uma vez que, sendo ela enfermeira, apesar de não ser exatamente a designada para seu pai, ela sempre vinha checar sua saúde, e mantinha-se por perto, pronta a ajudar. Por este motivo, foi-lhe concebida uma cópia das chaves da casa. Por isso, bem trancou Otávio aquele portão, porque nunca se sabe.

Atravessou o breve jardim e abriu a porta da frente. E, ao chegar na sala de estar, assustou-se de uma vez.

– Pri? O que faz aqui?

***

– Isso só pode ser brincadeira. - comenta Otávio, já acomodado ao sofá da casa, ao lado de Priscila, que lhe explicava o porquê de estar lá.

– É inacreditável! - expressa, com uma expressão tão espantada quanto a dele.

– Mas como assim você não sabia que minha mãe era sua irmã?

– Você também não sabia!

– Bem, eu sabia em parte.

– Mas não associou o nome da minha mãe ao nome da sua.

– Seus pais nunca te contaram que sua mãe e a minha eram irmãs?

– Bem, eles me contaram esses dias que minha mãe tinha uma meia-irmã, e que por causa de um homem, as duas se separaram.

– Esses dias? Poxa! Está meio fora dos acontecimentos!

– Você também! Não entra em minha cabeça como você não foi capaz de se lembrar do nome da minha mãe e associar ao nome da sua mãe!

– Simples! Meus pais nunca me contaram os nomes. A história eu já sabia de cor, tanto que vez por outra minha mãe a conta novamente, mas jamais citou o nome da sua mãe.

– Nem a minha citou o nome da sua. - Há uma pausa breve, um ponto de reflexão entre os dois. - Então seu pai, o Celso, foi o homem que... - pensou em falar o homem que separou sua mãe da família, no entanto, isto poderia levar a uma discussão, cujo resultado seria em lugar nenhum. E ela não estava nem um pouco afim disto.

– É... Tenho que admitir que ele foi um pouco desgraçado.

– Eu não sei se posso falar algo, porque mal soube a história. Como minha mãe não me deixou a par dos detalhes, quando isso é tão importante?

– Eu entendo isso, agora. Pensei que sabia de tudo.

– É! Eu também pensei que ela me contasse tudo. Algo que mexeu tanto com a vida dela, e algo que agora temos que retomar, e ela nem me diz os nomes das pessoas.

– Eu estou magoado com isso, porque foi o que acabou de acontecer comigo. Mas tenho que tentar compreendê-las. Talvez estejamos assim porque tínhamos uma relação, e isso mexe com ela. Se formos ver, se não fosse isso, quer dizer, se não nos conhecêssemos, acho que bem pensaríamos nisso.

– Eu sei. Mas mesmo assim. Ela deveria ter falado. Tudo bem que não é um episódio muito legal da vida dela, mas eu queria saber! Queria saber tudo dela. Eu pensei que sabia tudo dela. Mas não sei nada.

– Eu tenho uma dúvida, Priscila - disse ele, com o cotovelo apoiado sobre as baixas costas do sofá, a mão sob as bochechas, desconsertando seus óculos em seu rosto. A outra mão pendendo sobre o colo, e as pernas largadas. Típico jeito dele.

– Fale.

– Quando você começou a contar a história, eu havia ficado feliz, entre aspas. Porque eu associei esta descoberta ao fato de que você não falava comigo. Só que, se você descobriu isso agora, digo, que somos quase primos, ou que nossos pais têm umas contas pendentes, então deve haver outro motivo para que você me evite.

– E-evitando? - balbucia, com olhos duvidosos, levantando-se para não mostrar a face culpada. Ele havia lhe pegado. - De onde você tirou isso?

Após um longo suspiro, acompanhado de olhos tristes a baixos, agora prontos para tirar a limpo aquela maldita história. Ergueu-se também, e pegou a menina pelo braço, virando-a para si. Tratou de encará-la. Ela não teria por onde fugir.

– Eu não sou burro, Priscila.

– Eu não te chamei de burro. - ela tenta desviar, já sentindo um rubor nas bochechas, característica própria, cujas manifestações vinham à tona quando mentia para alguém de quem gostava.

– Mas está me tratando como um. E eu não gosto disso. - admite, soltando-a.

– Desculpe. Não era minha intenção...

– Não era sua intenção? Como assim? Priscila, eu não quero ser grosso, mas você está fazendo o que bem entende comigo, e eu não vou tolerar isso. Se tem algo em mim que você não gosta, pode falar! Eu vou tentar me redimir. - ele dizia tudo de forma tão sincera, tão bela, tão apaixonante! Sentiu vontade se puxá-lo para si, e beijá-lo, mas não era hora.

– Não, Otávio! Não tem nada em você que me irrite assim. - ela explica, aproximando-se, buscando uma reconciliação, que foi negada, quando ele deu um passo para trás.

– Eu já sei. Você está com outra pessoa, não é?

– O quê? Não!

– Não precisa mentia agora, Priscila! Você está com outra pessoa. É claro! Você já está em outra!

– Você é louco?

– Eu esperava mais de você. Esperava que mesmo que se interessasse por outra pessoa, ia terminar comigo primeiro.

– Eu não estou com ninguém! - brada ela, sem, contanto, fazer barulho o suficiente para se fazer ouvir pelos do andar acima.

– Então por que você não atende quando eu ligo? Por que não se esforça pra me ver? Ou melhor, por que se esforça para não me ver? Quer saber? Eu não ligo mais. Se você não tem coragem de terminar comigo, pode deixar que eu te faço esse favor. Tchau, Priscila. Vê se trata de continuar me evitando. Agora sou eu que não quero ter o desprazer de sequer topar na rua com você. Vou indo agora. Quando você for embora, eu posso voltar aqui. - ele diz, indo em direção a porta.

Droga! Priscila pensa. Droga! Agora tudo estava acabado! Droga! Como ela podia contar pra ele que o motivo da separação, era seu simples medo de estragar sua relação com a sua mãe? Do que adiantaria, salvar seu namoro e ele, por sua vez, perder a mãe? Não queria fazer isso. Porém, também sabia que quando ele descobrisse por si só, coisa que mais cedo ou mais tarde se daria; o relacionamento deles continuaria sabotado. Por que você não me contou? Mas como poderia ela se intrometer em algo que tecnicamente não lhe dizia respeito? - Como poderia dizer aquilo... Tanto mais agora, que descobriu tanta coisa em comum com a família do seu namorado... Ou melhor, ex-namorado. Sentiu as lágrimas correrem pelo rosto, e percebeu que não conseguia abrir mão de Otávio. Não. Não conseguia. Era estranho, porque, mesmo havendo pouco tempo que estivessem juntos, ela poderia jurar que o amava. Ela poderia dizer que era capaz de casar com ele naquele instante, que haveria certeza que decepção não se sucederia. Como se tivesse encontrado a sua pessoa, sua alma gêmea. E por mais que isso soasse brega, ela não conseguia deixar esses sentimentos. Que se dane o mundo, porque ela simplesmente não conseguia deixá-lo ir. Não sabia se contaria sobre sua mãe. Ao menos não ali, naquele instante. Mas por ora, não estava disposta a terminar. E sabia que por tão cedo, se é que isso aconteceria, não estaria disposta a esquecê-lo. Num ímpeto de loucura, concentrou-se primeiro em pará-lo. E o único jeito de fazer isso que lhe veio à mente foi um abraço.

Cruzou os braços na cintura dele, apertando-o com muita força. Enquanto se esforçava para que ele não fugisse de suas mãos, tratou de demonstrar suas emoções também. Não parou de chorar, o que era ruim. Já encharcava a camisa preta dele de meias mangas, gola e botões, e pensava no quanto deveria parecer ridícula. E daí? O que de tão ruim ainda restava que ele pensasse dela?

– Não vai, Otávio! Eu te amo! Eu te amo! Me perdoa, por favor! Eu juro que não tenho mais ninguém, e que não quero mais ninguém. Eu só quero você! Eu só te evitei porque... Eu só te evitei porque... Porque... - ela tentava, mas as palavras não saíam. Não poderia fazer isso. Era desleal. Logo, sem saber o que falar, soltou-se dele, e Otávio, por sua vez, virou-se para ela, voltando seu olhar para o dela, esperando uma resposta, pronto a ouvir e checar se estava ou não dizendo a verdade. Mas ela não falava!

Priscila tentou. Tentou formar as palavras. Mas quando mexia a boca, escapava-lhe o som. E quando o som lhe sobrevinha, sumiam-se as formas da língua.

Após tanto tentar, desistiu. Expirou fundo, e finalmente sentiu sua fala retornar.

– Deixa quieto, Otávio. É melhor a gente terminar mesmo. Eu não vou conseguir te explicar o porquê disto. E é melhor deixar do jeito que está.

Surpreendentemente, ele não se deu por vencido. Atraído pelos lábios da menina, agarrou-lhe pela cintura, de modo até mesmo um tanto violento, e beijou-a. Beijou-a fortemente. E com ternura. Entrelaçou os dedos nos fios negros da garota, e fez-se esquecer do lugar onde estava. E daí? O que fazia de errado? Nem parentes de sangue eram. Apenas teriam de lutar contra uma pequena rixa de família, e tentar resolver o que tanto incomodava sua amada. Sentia seu carinho, suas mãos cravadas em suas costas, que pareciam temer saírem dali. Beijava-o com pressa, e até tremia. Ela deveria estar espantada com o segredo que tanto guardava. Pensaria nele. Mas depois. Agora estava ocupada demais.

Tentando acalmá-la, ele deixou o beijo e concentrou-se num abraço, alisando os cabelos dela, e sua cabeça, que não deixava seu peito. Tudo bem. Ele mostraria que estava ali. Que lhe amava, que lhe cuidaria. Não sabia se estava pronto. Mas se faria assim, ao chegar a hora.

Priscila tentava apaziguar-se. Porém, tudo que conseguia fazer era chorar. Voltou a pedir um beijo. Queria matar a saudade. Amava-o. Ela tinha certeza, amava-o. E quaisquer que fossem os sacrifícios que faria para viver aquilo... Bem, que viessem. Mais ferrada que aquilo não tinha como.

Retornou, pois, ao beijo, e o fez tão bem quanto o primeiro. Segurou o rosto dele entre as mãos, e pressionou seu corpo ao de Otávio, tão quente!

Entretanto, o que se seguiu não foi tão gostoso. Sentiu ser puxada pelo braço por um terceiro, e após isso, tudo o que sentiu, foi uma bofetada.


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