Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 15
Capítulo 15 - O reencontro




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– Sente-se, Priscila. Eu quero falar com você. - diz Dona Elisa, sentada no sofá, pernas e braços cruzados. Dirige-se a filha, que acabava de entrar na casa, com duas sacolas, uma em cada mão.

– Comigo? Por quê?

– Venha.

A menina larga as compras na mesa da cozinha, antes de voltar à sala. Senta-se ao lado da mãe, juntando os pés, coluna ereta, mãos dadas sobre o colo, como fazia quando estava nervosa, ansiosa.

– Pode dizer.

– Eu não quero que você namore mais com esse Otávio. Termine já com ele.

– Q-que namoro? - balbucia ainda mais preocupada.

– Não seja cínica. E me ouça, largue esse garoto já.

– Por quê? - pergunta, irritada, erguendo-se do assento. - A senhora acha que só porque ele é filho da minha antiga chefa, ele é má pessoa. Mas a senhora está errada, e preconceituosa. Eu não vou largar ele só porque a senhora quer. Afinal, nem o conhece!

– Quem disse que eu não o conheço?

– De onde você o conhece?

– Ele veio aqui, hoje.

– O Otávio veio aqui? - diz ela, sentando-se outra vez, com interesse visível.

– Sim. E eu não gostei nada do jeito dele. - ela levante novamente.

– Mas quem namora ele sou eu, não a senhora!

– Mas eu sei que isso entre vocês não vai dar certo.

– Como pode saber? Viu ele uma vez e já quer julgá-lo?

– Não estou julgando.

– Está sim. Você o tratou mal?

– Eu não o tratei mal! Eu o tratei muito bem. Mas eu não quero que fique com ele.

– Por quê?

– Porque eu não gostei dele.

– E por quê?

– Porque não.

– A senhora quer que eu acabe meu namoro com a pessoa que eu gosto, porque não gostou dele?

– Não simplifique as coisas.

– Simplificar? Estou tentando compreender! Eu imaginei que o pai se oporia a ele, mas a senhora? A senhora não é disso! Sempre procurou me entender, saber se eu estava feliz com as minhas escolhas, me aconselhando; e toda vez que me ensinava algo, me dizia os motivos e consequências dos meus atos. Mas agora a senhora se tornou isso? "Porque não"? Eu esperava mais da minha mãe. - termina, indo em direção ao seu quarto.

– Você quer uma razão? - revida Elisa, parando os passos da garota, que embora de costas, estava atenta as palavras - Eu vou te dar uma ótima razão. Mas eu não vou dizê-la, eu farei você ver. Amanhã, se arrume até as oito, vamos visitar um enfermo.

***

– Já é a quinta vez que você chama essas mensagens, Otávio. Com quem está tentando falar? - O sagaz Celso traz o assunto ao carro da família, onde se senta no banco da frente, aguardando a mulher e o filho mais novo, enquanto o mais velho está impaciente, na janela direita do veículo.

– Com ninguém. Estou apenas vendo se alguém vai falar comigo.

– Filho, em férias, às oito da manhã, nem eu, que sou seu pai, mandaria uma mensagem pra você.

– Eu sei. É que acho que estou com pressa, ansioso, sei lá. A mãe e o Du estão demorando.

– Eles sempre demoram.

– Parece que hoje estão demorando mais.

– É a Priscila, não é?

– Quê? Não! Está louco?

– Não se faça de sonso que eu não sou idiota. Enquanto você planta o trigo eu já comi o bolo. Faz tempo que ela não fala com você? - o menino deixa a pergunta no ar - Bem. Das duas uma: ou ela está com medo da nossa família, ou ela não gosta de você.

– Obrigado, pai. Isso foi muito encorajador.

– De nada, filho. Mudando de assunto. Vamos visitar bastante seu avô.

– Já estamos visitando muito.

– Mas vamos visitá-lo ainda mais. E eu estou falando isso porque pode ser que encontremos alguém do meu passado e da sua mãe.

– A mulher que foi uma de suas noivas? - diz, rindo.

– Sim. Ela mesma. Agora que seu avô adoeceu, creio que ela vai querer ao menos saber como ele está. Então pode ser que você a veja.

– Eu não ligo pra isso.

– Você, não. Mas sua mãe sim. Então, dias longos virão. - e a voz ecoa pelo automóvel, dando espaço para uma boa e profunda reflexão.

***

A casa era a mesma. Mas agora estava azul. O jardim já não era tão vivo quanto antes. Em volta havia prédios, prédios solitários, sem vizinhos. A pintura da residência estava só um pouco gasta, e em breves pontos podia-se ver que a própria estava desgastada.

Elisa tocou a campainha, e no mesmo instante, seu coração passou a doer. Doer mesmo. Ansiedade. Muita ansiedade. O que lhe aguardava aquela hora? Seria algo pacífico? Ou apenas mais um conflito? Acolher-lhe-ia de braços abertos? Lembrar-se-iam dela? Haveria lugar para ela?

Ao seu lado, sua filha, ao outro, seu marido. Por mais que tentassem, não conseguiam consolá-la. Tampouco acalmá-la.

Respirou fundo quando viu da porta uma mulher saindo. Ela era idosa, porém familiar. Os cabelos grisalhos, um vestido florido simples, o coque corriqueiro, os chinelos caseiros, uma postura irregular devido a idade avançada. Era ela. Era a mãe de Elisa.

Sentiu seu rosto molhado, e um olhar descrente da anciã que se aproximava. Ainda sem entender o que se passava, a mulher destrancou o portão, observou os três personagens, e tudo que pôde falar fora:

– Elisa? É você?

Sim. Ela a tinha reconhecido.

***

O choro era iminente. Eram abraços, beijos, e tudo o que tinha direito. A mãe estava emocionada, tanto mais quando viu a neta. Bela menina, disse ela. Priscila também não sabia como reagir. Também não podia dizer que não estava mexida. Há fez minutos não tinha avó, a agora se descobria com uma grande família.

Antes que pudessem descansar desta reconciliação, onde tanto Elisa, quanto seu marido e sua filha foram tão estimados, já estava a caminho do quarto principal, o quarto do pai.

Passou pelos corredores da casa. O gesso áspero pintado de bege, o piso escorregadio de porcelana, as janelas que agora mal fechavam. Tudo com o cheiro familiar daquele produto de limpeza, aquele cujo nome era desconhecido até mesmo a filha, que passara dezenove anos, antes de buscar refúgios em outros lares. Ao menos, por enquanto, não se havia tocado neste assunto.

Ao abrir a porta de madeira velha, que chagava a fazer barulhos rudes aos ouvidos dos visitantes; a alegria do reencontro foi parcialmente minada.

As cortinas estavam fechadas, o quarto estava escuro, cheirava a mofo, a velho. Também pareceria vazio, com a escassez de móveis. O guarda-roupa à esquerda, a cama no centro, e apenas isso, a não ser pelo cesto de roupas sujas, a cadeira de rodas, e alguns assentos ao lado.

Seu pai já parecia fazer parte da decoração. Deitado, dormindo.

Apenas Elisa e Teresa se aproximaram de imediato. Seu Rodrigo e Priscila acharam melhor deixar as coisas assim, entre família.

O enfermo acordara, depois de ser chamado.

– Demítrio, sua filha está aqui. - disse Teresa, sentando-se junto a cama.

– Ana está aí?

– Não, querido. A Elisa está aqui.

***

A coisa parecia estar ficando séria. Já fazia mais de meia hora que sua mãe estava lá dentro, e ela estava na sala, sentada no sofá forrado de vinho, olhando algumas fotografias, que lhe pareciam comuns, de algum modo, embora não soubesse como. Já fazia um tempo, também, que seu pai saíra, afirmando que precisava ir a um lugar, por causa do trabalho. Prometeu voltar logo. Assim espero - imaginou. Não que não gostasse de estar ali. Só se sentia meio largada. Sua mãe estava no meio de um reencontro, que pelo visto era muito esperado por ela. Estava feliz por ela. Porém, meio deprimida de estar ali. Talvez melancólica.

Pensou em sair pra tomar um ar, todavia, antes que pudesse dar um passo após levantar-se, escutou uma voz peculiar:

– Pri? O que faz aqui?


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