Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 14
Capítulo 14 - Otávio e Elisa




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Isto já estava virando uma palhaçada. Puxa vida! O que estava acontecendo com Priscila? Fazia semanas, SEMANAS, que ela não lhe ligava! Por quê? Eis a questão. Não podia ser a tal da cólica das visitas mensais, como se dizia, pois isto não deveria durar muito.

Será que ela só queria se divertir com ele? Apenas, sei lá, "dar uns pegas". Só pra passar o tempo. Não que ele fosse alguém com quem as garotas quisessem passar o tempo. Quer dizer, falavam por aí que ele era a cara de seu pai, porém moreno. Só que seu pai era muito bonito, quando jovem, claro. Otávio já não se achava muito lindo. Seu pai era. Tinha que admitir. Celso era realmente belo. Se o filho se parecesse com o pai, estaria ótimo.

De qualquer forma, sentia-se muito meloso. Ou gay. Não queria aparentar-se fofo demais. Nem era muito seu estilo. Essa coisa de pensar tanto em alguém. E detestava admitir que não conseguia parar de divagar sobre Priscila. Tanto mais agora, que estava tão irritado com ela. Por que ela tinha que ser tão má! Puxa vida! Na sua formatura, ela estava tão na dela! E Priscila? Na dela? Mais estranho que o cabelo do Neymar! Afastava-se ao avistar a sua família. Podia simplesmente mentir, dizendo que estava ali por outra pessoa. Aliás, era esse o combinado. Ou dar a notícia ali. Contudo, ela transparecia insegurança, desconforto. Como se não devesse estar ali. No dia, Otávio tentou compreender, associando tal comportamento ao medo da oficialização do relacionamento. Todavia, agora, que o momento havia passado, ela ainda estava distante.

Bastava dar uma ligada? Bastava terminar essa "joça" direito? Tinha que se afastar assim, pisando nele daquele jeito? O que custava? "Desculpe, Otávio, mas não vai dar certo". Custava? Eram apenas vinte e cinco centavos! Nem precisava acabar cara a cara. Nem isso ele pedia. Somente um desligamento correto da relação.

Não! Isso não iria ficar assim. Ela não queria falar com ele? Perfeito! Por que agora era ele quem ia falar com ela.

Quando se viu, já estava no carro, rumo a casa dela. Talvez tivesse que enfrentar os pais, o segurança, o zelador, o Xing Ling... Mas tanto faz! Ela tinha acabado de partir seu coração (que meigo), e agora ele também iria bagunçar as coisas.

Desceu do veículo e estacionou na praça em frente ao prédio, que tinha tantos carros quanto pobres em liquidação da Marisa.

Chegando no prédio, perguntou o número do apartamento da menina. Por segurança, o porteiro não lhe deu a informação, mas discou o telefone da casa, e falou com uma das moradoras.

– Dona Elisa, tem um tal de Otávio aqui, e diz que quer falar com a Priscila. Pode mandar subir? - ouve um silêncio informativo, e logo ele concluiu - Pode subir moço, Dona Elisa diz que quer falar com você. - o velhinho tinha um cara de Papai Noel barbeado, atrás daquele vidro escuro, fincado nas paredes de pedra.

A porta foi liberada, e Otávio passou pelo portão de ferro negro, cumprimentou o vovô, que lhe informou o apartamento em questão.

Chegando no andar determinado, tocou a campainha da porta tabaco na parede vinho, e ao abrir, deu de cara com uma senhora, com provavelmente a idade de sua mãe, que aparentava ter sido bonita quando moça, mas que ainda tinha traços bem feitos. Devia ser ela, a mãe de Priscila.

***

Elisa ouve o soar da campainha. Deve ser o tal Otávio! Finalmente iria conhecer o tal garoto. Dizendo melhor, o tal homem, porque se dizia que sua altura era própria de um.

Arrumou os cabelos rubros pintados, ajeitou a cortina branca da sala, seguiu até a porta da frente e a abriu.

E respirou, antes de pensar em desmaiar.

Elisa estava pasma. Não. Aquilo só podia ser uma visagem. Um espírito, uma maldição. Aquela pessoa deveria ter tocado a campainha errada, entrado no prédio errado, pois aquilo não era o Otávio. Era o Celso.

– Dona Elisa? - pergunta ele, com um sorriso belamente peculiar.

Elisa divagou. Estava tentando descobrir se sonhava ou se estava tendo alucinações. Celso? O que o Celso estava fazendo ali? E por que tão jovem?

– Sou eu. - confirmou ainda desacreditada.

– Oi, Dona Elisa, eu sou o Otávio, namorado da Pri. - ele diz de forma casual, como se realmente fosse verdade.

Pelo visto, era a sua filha que tinha escolhido o namorado errado.

***

Ainda a contragosto, Dona Elisa o convidara para entrar. Estava agora trazendo-lhe um café, e agradecendo a Deus que seu marido não estava lá, porque do contrário, o pobre já estaria roxo, e repleto de hematomas. Tudo bem que fora algo há vinte e seis anos atrás, mas vingança não tem relógio.

Bah! Era tudo bobagem. Não era possível que aquele garoto fosse o Celso, ou algo associado a ele. Não. Era muita coincidência.

Fora isso, o menino transpirava preocupação. Como se estivesse, de certo modo, perguntando-se se deveria estar ali. Como se fosse algo errado de fazer, apesar do mesmo ter antes afirmado estar em uma relação amorosa seria com a sua filha. Bem, Elisa não entendia a razão daquilo. Não poderia ser vergonha dela. Até parece que ele não tinha percebido que aquele namoro não era novidade aos olhos da mãe. Na verdade, de fato, não se conheciam, entretanto, ela já aguardava aquilo. E ali estava.

– Então a Priscila não está? - repete a pergunta, após muito diálogo sobre coisas alheias, enquanto tenta ajeitar as pernas compridas no sofá, e pegando a xícara.

– Não, ela foi no supermercado. Mas logo estará de volta. Pode esperar aqui.

– Ah, entendo.

– Não precisa ficar amedrontado, Otávio. Eu tenho uma cara de brava, mas eu sou mansinha. Só vou pensar em te matar quando magoar minha filha, até lá, pode ficar tranquilo. - o menino riu, embora tenso.

– Não é isso, Dona Elisa. Eu não tenho medo da senhora. E nem pretendo magoar sua filha. De verdade, não pretendo. - falou, com sinceridade.

Já tinha sacado. Problemas no namoro. E pelo visto, era Priscila quem os tinha causado.

– A Priscila está te dando um mau momento? - ela decifra, sentando-se ao lado dele no sofá comprido.

– Não! Não! Imagina - apressou em dizer, espantado. Era mentira.

– Ela é minha filha, Otávio, mas ela não é perfeita, eu sei disso. E eu também sei que a gente não se conhece, mas você parece ser um bom moço, e quero que saiba que pode falar qualquer coisa comigo a respeito da Priscila, mesmo que não seja algo favorável. De verdade, me diga. - ele reluta - Ou melhor, qualquer coisa, mesmo que não tenha nada a ver com ela.

– Não tem nada. - mente novamente, mas acaba arfando, e se rendendo - tudo bem, tem algo acontecendo.

– O que se passa? - pergunta outra vez, preparando-se.

– Não é nada grave, é que a Priscila simplesmente não me liga! Ela parece não querer falar comigo! E eu não sei por quê. Há algumas semanas atrás, estava tudo ótimo, mas depois de uns dias pra cá, ela anda estranha. Estranha comigo, digo. Como se quisesse me evitar. E eu não sei o que eu fiz pra ela. Quer dizer, já discutimos outras vezes, e ela não é de guardar nada pra ela. Quando a Priscila tem queixas, ela resolve na hora, na lata. Só que agora, ela apenas deixou de falar comigo. Como se tivesse terminado comigo, mas sem me dizer coisa alguma.

– Entendo... - diz Elisa, ainda digerindo as palavras. Ela inspira bem o ar, e o solta num suspiro audível, cujas pessoas praticantes o fazem quando cansadas. - Olha, Otávio, eu também tenho notado que a Pri tem andado estranha. Ela não me falou que tinha a ver com o trabalho, mas eu deduzo que seja isso. Eu sei que vocês se conheceram na sua casa, quando ela fazia trabalho de babá com seu irmão, certo?

– Sim. É isso.

– Eu não quero ser chata, ou algo do gênero, mas preciso te perguntar: seus pais sabem que vocês namoram?

– Bem, eles sabem que eu namoro.

– Sabem que você namora minha filha?

– Ainda não. Mas estávamos pensando em contar isso quando ela saísse do emprego, ou seja, agora. Só que depois que ela saiu do emprego, ela mal me ligou! Nem se despediu, aliás, no seu último dia. E combinamos de contar isso aos meus pais, e a senhora e seu marido, agora, nas férias, para evitar muitos conflitos.

– Você não acha que ela pode estar incomodada diante disso?

– Pode ser. Mas como eu disse, a Priscila, quando incomodada com algo, ela não é de fugir sem ao menos dar uma explicação. Mas eu não entendo porque isso agora.

– Olha, Otávio, eu não posso fazer muito por você. Mas acho melhor, por ora, você deixar minha filha pensar um pouco.

– Eu deixei ela pensar por semanas! Eu só queria que ela me dissesse que acabou oficialmente. Só isso. Nem preciso que ela fique comigo, só que quebre o compromisso comigo, na minha frente. Porque eu tenho dizer, eu não consigo aceitar que acabou se ela não me diz isso. Só quero que ela me diga. Só quero...

– Que ela seja sincera, eu entendo - completa. - Mas dê mais uns dias a ela, Otávio. Olha, eu vou conversar com ela quando chegar, e pedir pra ela resolver a situação. Está bem? Por ora, eu acho melhor você voltar pra casa. Perdoe minha filha, mas dê um tempo a ela. Estamos no século vinte e um, mas ainda é complicada essa história de namorar o filho de sua chefa. Então, entenda. Ela deve estar tão confusa quanto você. E ela precisa organizar os pensamentos. Quero que saiba que não tenho nada contra você, mas também não acho isso tão legal. Se for isso que faz minha filha feliz, tenha certeza de que apoiarei. Mas se isso a fizer triste, tenha certeza, que eu mesmo tratarei de separar os dois.

– Eu sei... - diz ele, pesaroso. - Então eu estou indo agora. - continua, entregando a xícara para a sogra, e levantando-se, tomando cuidado para não bater na mesa de centro. Deslocou-se até a porta, e foi seguido por Elisa.

– Acho melhor. Mas é como eu disse, se isso der certo, entre vocês dois, quero que venha sempre aqui conversar comigo. Gostei de falar com você.

– Eu também gostei de falar com a senhora. - disse, passando pela porta que a anfitriã lhe abrira.

– Só uma pergunta. Uma última. - Elisa não iria se segurar, tinha que saber. O garoto se virou para ela, já fora da casa, com as mãos na calça jeans negra, sob a camiseta polo e a jaqueta simples azul escura. Bem vestido. - Como se chamam mesmo seus pais?

– Ah! - expressa animado - nem falamos disso, não é? Que falta de educação a minha.

– Imagina. Acontece.

– O nome da minha mãe é Ana, e o do meu pai, Celso.


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