Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 13
Capítulo 13 - A Ligação Noturna


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me os leitores, se é que há algum, pela demora. Os trabalhos da escola estão puxados.



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Era o último dia de trabalho de Priscila. Ela se sente aliviada. Finalmente terá férias daquela família louca. O trabalho de babá era mais complicado do que ela pensava. Todo fim de semana estava um caco. Tinha dias que nem tinha animo para sair com Otávio. Tinha vezes que, na universidade, nos cafés, nos restaurantes, nos parques, nas fazendas, nas viagens a lua, dormia ao seu lado, estragando todo o clima. Ele dizia não se importar. Mas Priscila sabia que ele a preferia acordada. Porém, com tal rotina, nem santo aguenta.

Apesar dos pesares, ela não podia negar o seguinte fato: simplesmente não queria se afastar daquele maldito emprego. Mesmo com o salário baixo, com as reclamações frequentes, com o menino endiabrado, com o horário puxado; ela gostava de fazer aquilo. Mentira. Não gostava de fazer aquilo. Contudo, gostava de Eduardo. E lá estava, se despedindo dele. Por tão cedo não o veria, posto que não havia circunstâncias que pudessem uni-los. Dona Ana já lhe reclamava por estar perto enquanto precisava, imagine quando não necessitasse.

Levou, portanto, o menino para comer um maldito fast food, que era a paixão de toda criança contemporânea, e passou lá boa parte da noite, juntamente com seu secreto namorado, irmão de Edu.

Ao chegar em casa, o menino já estava tão cansado que parecia não suportar-se em pé. Isso era até bom. Poderia ir cedo para casa. Embora o mesmo ter lhe prometido ficar acordado até ela ir para casa. Não aguentou. Estava tão cansado que voltaram mais cedo que o planejado. Tudo bem - pensava Priscila - o importante é que ele havia se divertido.

Dona Ana dizia que mudaria novamente seu horário de trabalho para o período da manhã. Desta forma, como no próximo ano Priscila já estaria em estágio, logo, fora de cogitação para mais um ano de trabalho, não haveria problema, visto que a mãe poderia cuidar de seu filho quando este estivesse em casa. Por enquanto, neste resto do ano, Otávio ficaria incumbido de cuidar do irmão. Diferentemente de quando estava em aula e fazia trabalhos e saídas em alguns dias da semana à noite, agora era certo, nestes dois meses de férias, que ficaria em casa de forma regular, e que, se carecesse se ausentar em algum momento, haveria quem fizesse sua designação.

Talvez ficasse um tanto complicado ir em encontros com Otávio. Bem, de qualquer forma, eles dariam um jeito. Na realidade, o plano era "desmascarar" o namoro. Queriam oficializar tudo. Entretanto, acharam conveniente aguardar o término do ano letivo, para evitar maiores conflitos. Bem, agora ele estava acabado.

A formatura de Otávio seria dali a algumas semanas, e ele estava bem ansioso. Queria estar lá junto a Priscila, no entanto, de uma forma oficial, não apenas no teórico, e tampouco escondido. Ele havia assaltado uma loja? Ou matado alguém? Entendia que Priscila não tinha uma situação financeira semelhante a sua. Mas isso já estava virando novela! Aquela história de pais que não concordam com o relacionamento amoroso dos filhos. Aliás, pais não, porque Celso era totalmente "de boa" com respeito a isso. O problema era Dona Ana. Era sua mãe? Sim. Era sua mãe. Porém, não negava: às vezes ela agia como cobra. Principalmente quando o assunto era romance. Celso não podia conversar com a faxineira do prédio que Ana jorrava veneno. Ela era particularmente ciumenta. Seus ciúmes cegava sua bondade de boa enfermeira. Fazer o quê? Perfeição mesmo só no mundo ideal, e este era o mundo real.

Voltando ao assunto principal, Priscila e Otávio logo iam oficializar tudo. Todavia, necessitavam se apartar de seus pais; da sua excessiva, ou obsessiva, proteção domiciliar.

Priscila abraçava agora o pequeno Eduardo. Pegou-se apertando-o com mais força do que o normal, quando ocasionalmente o menino desmaiava de sono no sofá, ou qualquer outro lugar que não fosse seu aposento pessoal. Estava realmente com saudades. E olha que bem havia saído. Trabalharia ali para sempre. Está bem, pra sempre é muito tempo. Mas queria revê-lo o mais cedo possível.

Teve de passar pela porta do quarto empurrando-a com o corpo, depois de bater o braço desajeitadamente na maçaneta, e dar aquela famosa batida de bumbum na madeira, encontrando-se com a grande escuridão do quarto da criança. Também, não havia meios distintos destes, devido que o menino cruzava os braços em seu pescoço, e as pernas em sua cintura, forçando-a a prover uma base com as mãos, sob o corpinho do menino.

Deu uma cotovelada, ou recostou os ombros, não sabia ao certo, no interruptor ao lado da porta, e conduziu o menino até a sua cama, pondo-o em meio aos cobertores que lutavam com o ar-condicionado que ainda estava ligado, erroneamente, visto que era noite, e as temperaturas caíam consideravelmente em tal turno.

Tirou os sapatos de Eduardo de seus pés, e arrancou seu agasalho e qualquer outra coisa que o pudesse incomodar. E quando foi dar-lhe um beijo na testa, também notando uma demora anormal, percebeu que o pequenino despertara.

– Pri! - dizia ele, dengoso e impaciente, como sempre.

– Oi, Edu! - responde, afastando-se a um ponto que pudessem ver um ao outro cara a cara.

– Eu te amo, Pri!

– Também te amo, Edu!

– Não, Pri. Você ama o Otávio. Mas tudo bem. Eu te amo mesmo assim.

– Edu! Quem te falou uma coisa dessas?

– Só não vê quem não quer.

– Sabe o que eu quero agora?

– O quê?

– Que você vá dormir.

– Mas quando eu acordar você não vai estar aqui!

– Por enquanto, a gente não vai conseguir se ver, mas daqui a algum tempo, eu prometo que vou voltar pra ficar com você.

– Para de mentir!

– Ei! Mentir é bom. Você não se sente melhor depois de ouvir as minhas mentiras?

– Pri. Você é sarcástica demais.

– Sarcástica? Onde aprendeu essa palavra?

– De qualquer forma, Pri, sugiro que se case logo com o Otávio. Porque se você for minha cunhada, eu vou te ver sempre!

– Eita! Bem que eu te falei que aquelas coisas no seu hambúrguer não era bacon.

– Feia! Eu estou falando sério. Já não aguento mais essa pouca vergonha de vocês dois!

– Mais carente de vergonha está você! Esses assuntos ainda não devem fazer parte das suas conversas.

– Eu sou muito precoce!

– Puxa! – exclama admirada - Hoje alguém leu o dicionário!

***

Priscila sai contente do quarto de Edu. Sentiu que havia cumprido sua missão. Viu-se sorrindo, feliz. Porém triste, deixando, ao menos por um tempo, aquele menino que tanto lhe perturbou o juízo aquele ano. Suspirou. E sorriu novamente. Tal qual uma retardada, brincando consigo mesma, como se estivesse vendo peixes no céu de "chikenitos". Foi quando escutou alguma coisa. Alguns sussurros. Não era da sua conta. Mas afinal, o que era aquilo. Curiosa, dirigiu-se a fonte de barulho, a única, dado que o Sr. Lima já estava repousado no quarto, despedindo-se quando ela chegara a casa; e Otávio também já estava recolhido, mas que sugerira lhe levar em casa, quando ela terminasse seu tempo com seu irmão. Bem, de todo jeito, escutou:

– Oi, amor... Não. Não sei quando a gente pode se encontrar. Meu marido e meus filhos estão todos em casa... Eu sei que você me queria aí, mas eu não tenho como sair!... De verdade, amor, não tenho como... Mas eu vou te recompensar, prometo!... Sim, vou fazer do jeito que você gosta... Hum hum!... Você sabe que eu não aguento mais esse homem! Ele piora a cada dia! Frio, não conversa comigo! Simplesmente me ignora... Não que eu me importe, você já me dá tudo que preciso... Eu sei! Também te amo!... Eu sei que já fazem um ano e dois meses! Mas não posso ir. Não hoje... Obrigado, amor. Eu sei que você entenderia... Não fica bravo! É só hoje. Depois a gente acerta isso... Aquela sala de sempre. Está ótimo!... Temos de aproveitar, porque vão utilizá-la para outras coisas mais pra frente... Eu sei... Concordo plenamente.

A voz era feminina, manhosa, carinhosa, própria de casal. A pessoa sussurrava, forçando um jeito sedutor, fazendo gestos, caras e bocas enquanto prosseguia a tal conversa. Estava no telefone, e muito contente. O sorriso vinha de um lado ao outro da boca. E não só mostrava alegria, mas prazer. Prazer proibido, pois a pessoa na cozinha, que estava em meio a uma conversa romântica com um qualquer, era nada mais, nada menos, que Dona Ana.

Priscila paralisou-se. Isso do podia ser brincadeira. Não. Não podia ser real. Mas era.

Ao término da ligação, Dona Ana se vira com um sorriso se vira, perdendo a expressão romântica, e adquirindo uma tão assustada quanto à da menina. Ambas agora se entreolhavam. Num momento de tensão, tudo o que pudera sair da boca da promíscua foi:

– Você não viu nada. - ela ordena, demonstrando seu medo, quase pedindo um favor.

Sem reação, tudo o que a garota consegue fazer é sair. Corre para sala como se fugisse de um animal, agarra sua bolsa e atravessa a porta até o elevador, onde some na escuridão da rua. Sequer se preocupou com a ausência de transeuntes, apenas necessitava ficar longe dali.

E agora? O que ela faria? Dona Ana havia estragado tudo! Como conseguiria encará-la depois disso? Como conseguiria encarar Otávio depois disso? Como conseguiria esconder aquilo? Mas como poderia contar? Meu Deus! O que Priscila devia fazer?


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