Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 10
Capítulo 10 - Cruzeiro em Família




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A ideia era prazerosamente perigosa, e ainda assim, pecaminosamente perfeita. De toda forma, já estava feita.

Estavam de pé há alguns minutos. A casa de Celso está vazia, pois seus pais estavam em uma viagem na Ásia; algo relacionado a trabalho.

Celso beijou a menina talvez pela décima vez aquela manhã. Contudo, não se importava em fazê-lo de novo. Tinha certeza: amava-a. E com esse pensamento, seguiu para o banheiro, pensando nos dentes.

Não era a primeira vez que passavam a noite juntos. Aquela foi há alguns meses. Num dia chuvoso quando ambos se sentiam totalmente desamparados; e como a moreninha costumava fugir de casa tarde da noite, somente para poder livrar-se um pouco da solidão e do sufoco que passava em casa, eles acabaram por se encontrar, enquanto o rapaz passava pelas ruas vazias dirigindo seu carro. Encontraram-se, pois, ali, e não muito depois de algumas palavras, entregaram-se aos seus sentimentos no quarto de onde agora saíam. Não era exatamente o correto. Disso tinham certeza. Todavia, com tantas emoções à flor da pele, não conseguiam discernir a qual delas dar atenção. Às vezes lembravam-se da razão, e outras, sequer podiam traduzir tal palavra. Seguiam seus jovens corações sem pensar nas causas ou nos efeitos. Se pensassem, não estariam tão próximos.

Celso fazia de tudo para consertar a situação. Já mostrava que queria distância da irmã de sua amada. E a primeira, por sua vez, parecia que não se convencia, ou que apenas vendava os olhos para o que ele demonstrava.

Eram cinco horas da manhã, e a moreninha já tinha que se apressar a ir embora, a fim de que, ao chegar em casa, pudesse passar a impressão que nem sequer estivera ausente.

E foi naquele instante que Celso viu seu coração doer. Na sala, sentada no sofá, abraçando os próprios braços, estava a menina, envolta em um cobertor qualquer, segurando lágrimas ininterruptas, forçando o silêncio do ato, envergonhada, cabisbaixa, triste, desamparada, arrependida. E o pior, era que Celso não só sabia o motivo do choro, como fazia parte disso. Percebeu o sofrimento à porta, cumprimentando-a. Fizera o próprio pesadelo. E este pesadelo envolvia a pessoa que ele mais gostava no mundo.

Atônito, aproximou-se dela, ajoelhou-se à sua frente, e tocou-lhe a face com ambas as mãos, como uma concha. Beijou-lhe a testa antes de envolvê-la nos braços, buscando proximidade, mas evitando confronto direto com as gotas constantes.

– Desculpa. - diz ele, sinceramente. Não sabia mais o que podia falar. - Eu vou dar um jeito, amor, eu vou dar um jeito. - e os soluços acharam brecha, tornando a coisa pior. - Eu prometo que eu vou dar um jeito. Ainda essa semana, eu vou falar com nossas famílias.

E as pausas revelavam uma dor crescente, devido que, na ausência de palavras, havia lugar para o barulho infernal. Como miná-lo? Como acalmá-la? Soluções? Aonde?

– Eu tenho um plano, ok? - blefa, afastando-se por poucos centímetros, tateando com seus olhos, os olhos dela, enquanto alisava seus cabelos, oferecendo consolo para sua futura mulher - Eu vou falar com meus pais, vou falar com os seus... E não importa se eles não deixaram a gente ficar juntos. Porque querendo ou não, a gente vai ficar. Eu te amo, e eu não vou desistir tão fácil. - e retornam ao abraço. Ao quente e aconchegante abraço. - Me perdoa por te fazer sofrer. É por pouco tempo, eu prometo. Eu nunca mais vou te fazer chorar.

***

– Com quem é que você ta falando nesse celular, rapaz? - pergunta o pai de Otávio para ele, redundantemente.

– Ah... Com a babá. Sabe, a Priscila?

– Sei... Cuidado.

– Por quê?

O coroa senta-se ao lado do filho no majestoso sofá, desligando a televisão porquanto inútil.

– Afinal, o que você quer com essa moça, Otávio?

– Ah... A gente é amigo. - responde, sentindo-se um adolescente.

– Eu perguntei o que você quer com ela, não o que vocês são.

– Não sei.

– Ah... Você sabe.

– Pai, não se preocupe. Ela não é do tipo que...

– Não é isso que eu estava insinuando. Mas é uma opção.

– Fica tranquilo. Está só na amizade. - termina, desligando a tela do celular, dedicando sua atenção agora exclusivamente a conversa.

– Ela é uma moça linda, inteligente, humilde, gentil. Mas acho que alguns na casa não gostariam de tê-la muito por perto.

– Eu sei que a mãe não curte ela. De qualquer forma, como eu disse, é só amizade.

– Vocês até que formam um belo casal. - admite.

– O poder do senhor Celso de me fazer sentir oito anos mais novo... Obrigado, pai. Sinceramente, eu também acho que a gente forma um belo casal. Só que por mais que eu lance as indiretas, ela não percebe! Então deixa do jeito que ta.

– Entendo... - uma breve pausa se segue, daquelas que se faz para um momento de reflexão - Vamos falar mais disso depois. O que eu realmente queria falar era sobre seu avô.

– Meu avô? O que tem?

– Seu avô anda meio adoentado, e nós temos que visitá-lo, antes de viajar.

– Vamos viajar enquanto meu avô está doente?

– Sua mãe não conseguiu o reembolso do cruzeiro, então, pra não perdermos dinheiro, teremos que ir. Seu avô está doente, mas não é algo de extrema preocupação. Também, é um cruzeiro simples, nacional mesmo. Não vai demorar muito. Uma semana só.

– Sei... Mas sinceramente, pai, eu não acho que nosso avô dure muito tempo.

– Vira a boca pra lá, moleque.

– Eu sei! Não pensar em algo ruim... Mas eu sinto, não que eu deseje, muito pelo contrário, queria que ele vivesse bem mais; mas eu sinto, que a história dele está acabando...

– Sinceramente, - confessa o pai, observando o nada - eu tenho a mesma impressão...

***

Celso estava preocupado. Muito preocupado. Como se não bastassem os vários problemas que enfrentava, ainda tal dúvida o sobrevinha: Estaria ela grávida? Esperava estar errado. Entretanto, a garota estava se sentindo muito tonta nesses últimos dias. Vomitava, parecia sempre cansada, às vezes com febre...

Agora que parava pra pensar, não foram poucas as vezes que estiveram juntos sem providências corretas. Na realidade, de qualquer jeito, aquilo era errado. Porém, o erro era ainda dobrado. Teriam um filho? Só podia ser brincadeira.

Pensou melhor... Não. Não pode ser. Não. Não tinha como. Absurdo. Nem deveria se preocupar com isso. Por que pensar em coisas como essas? Não era tão azarado assim.

Mas é se fosse verdade? E se, por alguma brincadeira de mau gosto da vida, isso lhe sobreviria? Teria que casar as pressas, enfrentar crassamente a oposição dos familiares, e o julgamento alheio. Trabalharia sozinho por uma casa para três pessoas. E se não fosse o suficiente? Espera aí, ele era corretor de imóveis. Não era como se desse pra não ter o necessário. A não ser que fosse negligente. E Celso poderia ser louco, mas negligente, nunca.

Não importava se sua namorada estava ou não grávida. De todo jeito, ele disse a si mesmo que faria o correto. Assumiria a relação dos dois, e se fosse o caso, sustentaria tanto ela como a criança, sem deixar faltar coisa alguma, e de boa vontade.

***

Dona Ana pedira à menina que a ajudasse no dia da viajem. Priscila já estava de férias há alguns dias, e pelo dinheiro extra que a patroa soltava agora, não custava arrumar algumas cuecas nas malas.

Já estava tudo certo. Eduardo estava tão excitado quanto todos os outros. Amava o mar, amava cruzeiros, amava praia, amava tudo. Sr. Lima já não parecia fazer muito caso. Pelo visto e falado, ele, desde jovem, sempre foi de fazer várias viagens. Talvez por isso o encanto delas já não fosse tão vistoso.

Estavam, agora, transportando a bagagem para baixo. Era hora de ir, se não quisessem perder hora, posto que ainda precisavam chegar em Santos o quanto antes, a fim de não serem deixados pela tripulação.

Edu logo se agarrou ao elevador, e seus pais também entraram, levando a maioria das malas. E não aparentava que caberia mais uma mosca ali.

– Vocês dois, Otávio e Priscila, peguem o elevador depois de nós - ordena a sistemática Dona Ana, que parecia finalmente estar de bom humor. Que tipo de enfermeira conseguia ser chata desse jeito? Os pacientes deveriam ficar doentes por causa dela.

Obedientes, eles permaneceram a espera.

Otávio com duas bolsas grandes, uma em cada mão, e Priscila com duas bolsas pequenas. Largaram-nas no chão, a fim de aguardar o transporte.

– Finalmente férias de você! - brinca ele. - já estava ficando louco!

– Estava ficando louco, querido? Por quem? Por mim?

– Ha-ha! - risada falsa. - até parece!

– Me ama menos, cara.

– Não consigo. Você aprisionou meu coração! - diz ele, apertando os dedos contra o peito, simbolizando a frase, acompanhada de uma podre expressão escandalosamente forçada.

– Quando eu posso ganhar por ele? R$ 1,99? - e riam das piadas sem graça - vem cá. - ela pede, abrindo os braços para ele, convidando-o.

Otávio aceita o gesto, e logo, aperta-a contra si carinhosamente, como já queria fazer há tempos, mas sem sucesso. Arrastava as mãos pelas costas da menina de maneira respeitosa, procurando parecer o mais amigável possível. Contudo, pelo jeito, não funcionou. Nem para ele, tampouco para ela.

Priscila segurava-o com fervor, com todo sentimento possível. Sentiu o cheiro dele. Daquela colônia famosa que ela não conseguia se lembrar do nome, embora não pudesse esquecer-se do aroma. Ele era macio, forte, um homem de verdade. Um homem bonito. Um homem gentil. Um homem que ela queria que fosse dela.

Afastou-se levemente a fim de ver o rosto do rapaz, e acabou por se prender em seu belo olhar. Hipnotizados, aproximaram-se os lábios, num beijo simples e inocente, cuja consequência apareceu depois de feito, quando soltaram-se assustados com suas próprias ações. E sem saber o que dizer, foram salvos pelo elevador, que se abria agora.

Afinal, o que tinha sido aquilo?


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