Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 11
Capítulo 11 - Aquele Jantar...


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem a demora. Eu viajei e não pude postar.



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– Mas você não para com esse celular, hein, menina? - aponta Dona Elisa, encontrando a filha interromper o sorvete sobre a mesa da cozinha, para trocar mensagens de texto - Menina dos dedos ligeiros! Com quem é que você está falando?

– Com o Otávio.

Depois daquele beijo as coisas ficaram meio estranhas entre eles. Felizmente, estavam a muitos quilômetros de distância um do outro. A inibição na internet praticamente não existia. Portanto, continuaram a desenvolver aquela intimidade, que acabava por provocar alguns sentimentos profundos. Tão profundos que ficavam contidos. Contidos com tamanho medo da luz do Sol, que mesmo em situações claras de demonstrações de afeto, tudo o que faziam era negar o ocorrido, e seguir como se nada tivesse acontecido.

– Esse não é o filho do seu patrão? - tenta esclarecer, sentando-se na cadeira de madeira clara na outra extremidade da mesa.

– É. - responde, tentando abafar o sentido da afirmativa.

– Menina... Você está procurando sarna pra se coçar...

– Não, mãe! Para. Você está vendo maldade em tudo! A gente não está neste tipo de relacionamento.

– Ainda, não é? É só questão de tempo. Mas ouça a sua mãe, evite esses "mauricinhos". Nunca dá certo.

– Ele não é nenhum "mauricinho". Ele é alguns anos mais velho que eu, é inteligente, e muito respeitoso.

– Iihhhh... Sei não...

– Como a senhora é chata Dona Elisa! - brinca ela.

– Eu não sou é cega, minha filha. - há após isso uma breve porém profunda pausa. - Mas filha, quando eu tinha a sua idade... Eu também era muito bonita. Meus cabelos brilhavam, minha pele era macia, minhas roupas me cabiam bem... Eu era muito melhor do que agora. - discursa com seriedade. - Larga esse celular que eu vou te contar uma coisa. - a menina obedece, largando o aparelho no colo, e terminando o resto de seu lanche - Você sabe que eu fui adotada, certo?

– Sim. A senhora me contou.

– Minha mãe adotiva me contou que me achou no lixo. Ela já tinha uma filha de poucos meses, e um dia, quando passava na rua, ela encontrou um bebê enrolado num saco de lixo preto.

– Puxa, mãe...

– Não. Não ligo mais pra isso. Meus pais adotivos me deram tudo o que eu precisava, inclusive amor.

– Mas...

– Bem, mas quando eu era mocinha, apareceu a mim e a minha irmã, um moço muito bonito. Ele era abastado, mas era humilde. Era gentil, tinha um bom senso de humor. Só que tanto eu como sua irmã gostávamos dele. E eu achava que ele gostava de mim, não dela. Só que, depois de várias brigas que eu tive com minha família, ele se decidiu por ela, não por mim. E é claro que meus pais e os pais dele apoiaram muito mais minha irmã, porque ela era a filha natural, de sangue. E nunca se trai o sangue. Eu entendo isso, mas não nego que fiquei muito chateada. Tanto que depois disso eu saí de casa. Fui viver minha vida, trabalhar. Arranjei um emprego numa empresa qualquer, onde eu nem fiquei muito tempo. Morei na Dona Lurdes por anos.

– Dona Lurdes? A fofoqueira?

– Essa mesma. E foi lá que eu conheci seu pai.

– Que legal, mãe!

– Pois é, filha. Quando aquele moço me trocou pela minha irmã, eu fiquei arrasada. Mas depois de um tempo passou. Especialmente quando eu conheci seu pai. Ele me curou.

– E a senhora quer dizer que o mesmo vai acontecer comigo e com o Otávio? Nós dois nem estamos juntos!

– Só estou dizendo para tomar cuidado pra não se amarrar em ninguém. Se apegar demais a alguém que no final nem te dá tanto valor, pode machucar demais. Você nunca passou por um término muito ruim. Mas você parece bem envolvida agora.

– Nós não estamos juntos.

– Mas tudo começa assim, Pri. Mensagens, conversas... Depois daí é só ladeira abaixo. - vive-se um momento de reflexão. - Mas não era exatamente isso que eu ia falar pra você.

– Não era?

– Não. A questão é que o homem que me criou anda meio adoentado, e acho que vamos ter que visitá-lo. Quer dizer, eu não tenho certeza... Acho que sim. Estamos vendo. Talvez seja a hora, porque acho que meu pai não vai durar muito. E não é correto continuar essa rixa após tanto tempo.

– Por que a senhora não me contou isso antes?

– Eu não sei. Eu estava esperando o melhor momento. Eu tinha vergonha de falar sobre isso, porque na verdade eu também não agi muito bem. Eu fiz aquela família passar uns maus bocados.

– Então agora eu tenho avô?

– É... - respondem, entre risos.

– Puxa... A família está crescendo de repente!

***

Ainda faltava uma semana para o término das férias. Como aproveitá-la? Otávio tentava acabar aquela maldita apostila de matemática aplicada. Na realidade, ele já a tinha acabado. Entretanto, queria dar uma revisada...

A quem queria enganar? Estava entediado. Tão entendido que considerou estudar para passar o tempo. Sua mãe queria combinar um churrasco na tia Zilda. Porém, ele odiava ir para lá. Queria sair com alguém. Até pensou em chamar os amigos, só que os mesmos estavam aventurados em seus próprios mundos. Desgraçados! Por que não o chamaram? Estavam na agora, aqueles três patetas, fazendo uma "tour" pelas cidades de Goiás. Fazendo qualquer porcaria que incomodasse as outras pessoas. "Zoando" pra caramba, e passando pelos lugares praticando todo tipo de arte, como se nunca mais fossem ir àquelas cidades de novo. De fato, não iam.

Pensou na sua lista de contatos. Para quem deveria ligar? Queria se divertir. Contudo, todos estavam em algum lugar onde não conseguia chegar a pé. Droga! Esqueceu-se de que o Cruzeiro só durava uma semana. Se se lembrasse, gastaria o mês inteiro fazendo outra coisa.

Olhou a agenda, e de repente, sem dúvidas ou cogitações, discou um número de interesse. Alguém que com certeza estava por perto, e que toparia sair com ele... Bem, talvez.

– Alô, Priscila?... Eu não te devia um jantar?

***

– A comida de lá é maravilhosa. - Priscila comenta, enquanto caminha pelo shopping, deixando o empório para trás.

– Verdade. Eu amo esse restaurante. Eu almoço aqui, em alguns fins de semana.

– Preciso sair mais com você, em fins de semana.

– Isso vai sair um pouco caro...

– Caro? Você deveria me pagar pra comer com você. - brinca, pondo a mão sobre o decote a regata pérola brilhante, presa a saia amarela comprida, que pairava nos sapatos negros, tão belos quanto a jaqueta azul, que espantava o frio e ajudava a espalhar os fios soltos da menina. Já ele, mostrava uma elegante e simples jaqueta de couro negra, sobre a camiseta branca e o jeans intencionalmente surrado, que contrastava com seu belo sapato escuro, que brilhava como nunca.

– Acho que comprar o restaurante fica mais barato! - e gargalham. - Você não quer mais nada, não? Uma viagem a Paris, um iate, uma ilha...?

– Bem... Eu sou uma pessoa humilde... - responde.

– Ah, é mesmo? - ironiza.

– É. Tudo o que eu queria era um namorado, na verdade. - ela insinua, com um sorriso malicioso.

– Sério? Essa é fácil, e barata.

– Não disse? Eu valorizo as coisas baratas da vida.

– Uma mulher econômica? Eu devo deixar passar?

– Você é desinteligente o suficiente para isso?

– Devo lhe informar, senhorita, que sempre fui o primeiro da classe. - esnoba.

– Então devemos começar?

– Preciso fazer um pedido?

– Só se quiser receber um sim.

– Então está bem. - ele se posiciona à sua frente, segura suas mãos, e olha dentro de seus olhos - Priscila, você quer namorar comigo?

– Hm... - diz ela, soltando-se dele, e cruzando os braços, tocando agora o queixo com uma das mãos. - Você ainda vai me comprar aquele iate?

– Eu compro uma lancha...

– Não sei...

– Você não valoriza as coisas simples e baratas da vida?

– Você é simples e barato?

– Barato não, mas simples com certeza.

Priscila encara novamente aqueles belos olhos, no momento sorridentes, brilhando tanto quanto o seu sorriso. Sentiu um frio na barriga. Mas um frio da barriga dos bons. Daqueles que sei lá, te dá coragem. Ou te mostra a coisa certa a fazer. E naquele instante, Priscila soube exatamente o que fazer. Ou soube exatamente o que queria fazer. Apoiou-se na ponta dos pés, agarrou a camiseta de Otávio, e beijou-o.

***

– O pai parece estar piorando. - comenta Ana com o marido, achegando-se debaixo do cobertor, onde Celso já se encontrava, embora lendo um de seus famosos livros, que estava sempre a mão, naquele criado-mudo de tabaco vintage, que tinha seu irmão gêmeo na outra extremidade, e que combinava com o guarda-roupa à direta da cama, e com a estrutura da mesma, sempre coberta pelos claros lençóis, sendo brancos, pérola, bege, ou creme, a cor da parede. O chão de uma madeira em mosaicos, sempre envernizado.

– Verdade. Tenho medo de que ele não se recupere.

– Eu brigaria com você em outros tempos por causa disso, mas dessa vez eu tenho que concordar. Meu pai já está muito velho.

– Sim. Ele já esteve em melhores condições.

– Você acha que a Elisa vai aparecer agora?

– Não tenho certeza. Talvez ela não tenha coragem. Ou talvez ela também perceba que não haverá outra hora para uma reconciliação.


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