Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 4
Capítulo 4 — Feliz Natal Mas Eu Sou Judia


Notas iniciais do capítulo

QUERIDOS LEITORES,

Estava começando a imaginar que esse dia não chegaria ~drama mode on~. Alguém mais aí entrou em desespero nesses dias sem o nyah? Eu fui obrigada a estudar, PASMEM, porque não sabia o que fazer da minha vida. MAS esses dias sombrios acabaram! (ou assim espero e_e).

Aí vai mais um capítulo pra vocês. Não esqueçam de comentar! Fico sempre curiosa pra saber o que vocês estão achando *-*. E muito obrigada a todos que comentaram e favoritaram até agora!

Espero que curtam o capítulo!
Boa leitura :)



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24 de dezembro de 2011





Para Quinn,



Primeiro de tudo, eu gostaria de dizer: FELIZ NATAL! Mas eu sou judia. Não que eu não aprecie todas suas palavras, que foram tão belamente colocadas na última carta, porque eu o faço. Só achei que você gostaria de saber. Não se preocupe, embora. Nós também comemoramos o Natal aqui em casa, porque Leroy, o marido do meu pai, é católico. Portanto, nós acabamos por celebrar os dois. E eu gosto dessa época do ano. A neve e o frio fazem contraste com o calor humano. As pessoas são mais gentis e generosas. Até mesmo eu, o fundo da cadeia alimentar em pessoa, sou poupada pelos populares de piadas e humilhações. Provavelmente porque não temos aula no Natal, mas, enfim, gosto de pensar que é o espírito natalino enchendo seus corações de bondade. Uma que normalmente eles não têm.

O que eu posso fazer, senhorita Fabray? Sou mesmo uma caixinha de surpresas (risos). Bem, fico muito feliz que você pense coisas tão bacanas ao meu respeito. Você provavelmente é uma das primeiras em muito tempo a fazer isso. A me aceitar assim, desse meu jeito esquisito de ser. Talvez porque nós não conhecemos pessoalmente, então somos nada além de nós mesmas. É engraçado, porque quando convivemos com uma pessoa, as coisas são diferentes. Você julga. Mesmo que não queira. Mesmo que tente evitar. Entretanto, é muito mais difícil julgar alguém que você nunca viu. E aqui estou eu, divagando…

Enfim. Sobre sua amiga de boca suja — desculpe, acho mais divertido me referir a ela desta forma do que pelo nome (Santana, não é? Como em Santa Ana? Ela não tem, por um acaso, uma filha chamada Maria, ou tem? Há, há!) —, POR FAVOR, consiga-me alguma informação! Estou subindo pelas paredes, tamanha minha curiosidade. Vamos lá, Quinn. Você atiçou a fera. Precisa enfrentar as consequências. Cutucou a onça, aguente a mordida. E você nem ao menos sente muito por isso! Estou decepcionada com você. Sério. Não se brinca com os sentimentos de curiosidade de uma pessoa dessa maneira… Desculpe, preciso parar de escrever agora, estou rindo demais, e minha letra pode sair tremida…

Ok, acho que recuperei o controle. Meus pais vieram me perguntar o que é tão engraçado. Isso só me fez rir de novo. Não que eles estejam reclamando. Não sou uma pessoa que ri muito, então deve ser uma mudança agradável. Ou talvez seja efeito de alguma coisa que tomei. Você não acha que eles me embebedaram, acha? OH. MEU. MESSIAS! Não, eles não fariam isso… Espere, estou rindo de novo… Ok, talvez tenham feito. Ou talvez eu tenha bebido no copo do meu pai por engano… Oh…

Então, Santana me parece legal. Muito calorosa, divertida, e tudo o mais. Desculpe. Não estou conseguindo me segurar. É que essa época do ano me deixa feliz. Simples assim. A casa cheia. Companhia. Músicas cantadas no piano. Pessoas que aplaudem quando termino de cantar. Isso não acontece com frequência. E, respondendo sua pergunta, sim, eu sou uma boa cantora. Uma excelente, na verdade. Sem querer me gabar, é claro. O que me faz lembrar… Clube do coral, sério? Isso é incrível! Outra coisa que temos em comum! Eu também faço parte do da minha escola. Nós não somos ruins. Eu sou a cantora principal, e há este garoto, Finn, que é a pessoa mais alta que já conheci. Tudo bem, não posso falar muito sobre isso, já que tenho só 1,57, mas, sério, o cara é um gigante. Mas, você sabe, aparência (e altura), como você mesma disse, não importa realmente. No fundo, ele é um bom rapaz. Bem lá no fundo. Escondido em algum lugar de sua anatomia, talvez impossível de se achar, porque tudo nele é enorme. Os braços, as pernas, as mãos. Meu Deus. Acabei de notar o duplo sentido da frase. Certo. Quase tudo nele é enorme. Não posso falar sobre coisas que não vi, e, honestamente, prefiro não ver. Nunca. Digamos que eu tenho uma preferência… Bem… Diferente. Algo que garotos não podem me dar, se é que você me entende. Então, sim, eu sou lésbica. Nunca disse isso a ninguém. As pessoas geralmente já assumem isso, por causa dos meus pais. E para eles… Nunca precisei contar. Papai já sabia antes mesmo que eu descobrisse. Sexto sentido de pai, ou coisa assim.

Sabe, Quinn, eu gosto do seu nome. É bonito. E quando eu o pronuncio, sei lá, ele saí meio que… Gostoso? Não sei explicar. É só uma sensação boa de dizer. Quinn. Quinn. Quinn. Quem te deu esse nome? Você ouve muitos trocadilhos por causa dele? Quinn, você é uma Rainha (Queen). Há, há! Wow… Talvez isso não seja tão engraçado assim… Só que, por algum motivo, isso está soando extremamente engraçado em minha mente. Certo. Acho que realmente bebi no copo do papai por engano. Espero que você não se importe por todas as besteiras que estou falando. Ou escrevendo. Ou os dois.

Eu quero ler seu livro. Tipo, sei que ainda não está escrito, nem nada, e que você provavelmente nem sabe sobre o que quer escrever. Mas eu quero lê-lo. Quando ele estiver pronto. Poder passar a mão pelas páginas e imaginar você sentada, escrevendo, com rugas de concentração na sua testa. Não que você tenha rugas. Você é muito nova pra isso. Eu também sou. Nova, quero dizer. Bastante. Uau. Eu nunca tinha reparado que dezesseis anos é pouco… Tipo, quase nada. O que eu vivi? E eu digo viver realmente, sabe, com intensidade. Acho que só estive sobrevivendo. Inspirando. Expirando. Respirando. Espirrando. Saúde. Há, há, há! Espere, do que eu estava falando mesmo? Ah, sim, da minha vida sem graça, e tal. Pois é. Eu só sobrevivo, sabe? E tem pessoas que morrem aos dezesseis. E antes dos dezesseis. E antes mesmo de nascer. Isso é uma droga. Se dezesseis anos é pouco tempo, o que vem antes disso, então… Completamente injusto.

Quinn, Rainha, um feliz ano novo para você! Você sabe, um recheado de todas as coisas boas do mundo. Como chocolate — quem não ama chocolate? —, refrigerante de laranja — quem ama refrigerante de laranja? O Kel ama! —, suco de acabaxi, lasanha, e doces. Muitos doces. Doces deixam as pessoas felizes. Doces não são amargos (bem, alguns são, mas esse não é o ponto). Claro que não. Doces são doces, e deixam as pessoas doces. Eu não consigo pensar em coisas melhores do que essas no momento. Desculpe por isso.

É melhor eu ir agora. Preciso ir dormir cedo, você sabe, para o Papai Noel chegar, e tudo. Eu fui uma menina boazinha esse ano. Eu suportei calada todas as vezes que me empurraram contra o meu armário, e jogaram raspadinhas no meu rosto, e fizeram desenhos pornográficos meus nas paredes do banheiro, e me chamaram de nomes ofensivos, e ofenderam minha família. Nunca nem xinguei nenhum deles de volta. Juro. Isso me faz uma menina boa, certo? Não egocêntrica, egoísta, patética, como todos dizem? Não sou egoísta, sou? Eles dizem que sou má, também. Não me acho má. Eu chorei quando eles jogaram ovos em mim, no outro dia. Doeu, sabe? E eu fiquei com cheiro de ovo pelo resto do dia. Também não gosto quanto riscam meu armário. Ou me trancam no banheiro químico. Eles também fazem isso com Artie, um garoto cadeirante. É cruel. Ele geralmente consegue sair primeiro do que eu, sabe? Ele tem amigos. Comigo, ninguém se importa. Mas eu acho que nenhuma dessas coisas é o pior. O pior é que eles me fazem acreditar nelas. Eles me fazem acreditar que sou má, e egoísta, e egocêntrica, e terrível. Talvez eu seja, mesmo. Se não fosse, eles não me odiariam tanto, certo?

De qualquer forma, estou indo dormir. Mais uma vez, FELIZ NATAL, e um PRÓSPERO ANO NOVO!

Da garota que bebeu o que não devia,

Rachel Berry.

~x~

Quinn encarou a folha de papel que tinha em mãos boquiaberta. Ela estava deitada em sua cama, ouvindo Santana reclamar sobre como o Natal era deprimente quando se estava longe de casa, enquanto lia a carta mais recente que fora enviada por sua correspondente, Rachel.

No começo, ela achou a alteração da garota engraçada. Estava mais do que óbvio que ela realmente tinha bebido alguma coisa, tendo ou não a intenção. Quinn suspeitou que não foi proposital, porque não parecia a ela que Rachel fosse do tipo que gostava de bebidas, mas, realmente, ela não a conhecia tanto, então, quem sabe? Entretanto, à medida que foi lendo a carta, seus olhos se arregalavam cada vez mais. Ela sempre achou que Rachel fosse aberta demais, completamente honesta — mas, desta vez, provavelmente por causa do álcool, ela tinha dito coisas que, sóbria, Quinn tinha a absoluta certeza de que não diria.

A loira deixou a carta de lado por alguns instantes, sentindo o nó em seu estômago se intensificar. Ela se sentiu doente ao ler o que a garota enfrentava na escola. Não conseguia acreditar que outras pessoas fizessem isso a ela — alguém tão boa quanto Rachel. Uma pessoa que se importa mais com o bem estar dos outros do que com o dela própria. Quinn sabia que havia a possibilidade de Rachel ser uma pessoa completamente do que a aparentava nas cartas, mas o seu instinto lhe dizia que não. Aquela garota era simplesmente assim. Única. E se Quinn tinha alguma dúvida antes, depois de ler todos os abusos pelo qual a adolescente sofre na escola, todas elas se dissiparam.



— Qual o seu problema? — indagou Santana, mal humorada, lançando um olhar irritado na direção de Quinn.



— Veja isso — respondeu ela, entregando-lhe a carta de Rachel. Ela sabia que não deveria fazer isso, expor a intimidade da garota dessa maneira, mas ela simplesmente não conseguia suportar aquilo. Além do que, Santana era sua melhor amiga. Quinn estava certa de que ela manteria isso para si mesma, e não dividiria com a sua correspondente, que também era da escola de Rachel.

A correspondente…

Quinn se levantou da cama, num pulo, e passou a andar de um lado para o outro, observando as reações no rosto de Santana enquanto ela lia a carta. Foram as mesmas que Quinn experimentou. Divertimento. Dúvida. Nojo. Ao terminar, Santana levantou os olhos para a melhor amiga, uma expressão de completa incredulidade estampada em seu rosto.

— Então?

— Não acredito que ela fez uma piada com o meu nome.

— Santana! — exclamou Quinn, irritada.

A latina respirou fundo e passou a mão pelos cabelos. De repente, Quinn se sentiu mal. Quando Rachel e ela começaram a se corresponder, ela contou que sabia como era ver alguém enfrentando o preconceito. Claro que ela sabia. Ela viu Santana lutar contra isso durante todo o Ensino Médio. Ela viu sua melhor amiga sofrendo por causa da ignorância dos outros. E, agora, Quinn a mostrava a carta de uma garota que passava pelo mesmo — e por coisas até piores. Ela quase se bateu com sua estupidez. Ler a carta deveria ter trazido todos os tipos de memória. Quinn se sentiu mal. Ela estava prestes a pedir desculpas quando Santana ergueu uma das mãos, pedindo-a para ficar em silêncio.

— Pare aí mesmo, Barbie. Eu estou bem. Já superei tudo. Não vou começar a chorar no seu ombro, ou coisa parecida, então tire seu unicórnio da chuva — a latina abriu um pequeno sorriso, que logo desapareceu, cedendo lugar a um suspiro. — Q., sua amiga tá na merda.

— Linguajar, Santana — Quinn murmurou, sentando-se no espaço vazio na beirada da cama da amiga. — Eu não acredito que eles fazem isso com ela. Como podem, San? Como podem?

— As pessoas são cruéis, Q. — Santana respondeu, dando de ombros. — E me parecem ser particularmente cruéis com essa garota… Rachel, não é? Mas por mais que eu me solidarialize com a situação… Quinn, o que você espera que eu faça? O que quer que eu diga? É uma merda. E vai continuar sendo uma merda. Estamos há milhas de distância. O maior bem que você pode fazer pra essa pobre ferrada é continuar conversando com ela. Fazer com que ela sinta que tem alguém com quem contar.

— Mas você pode fazer uma coisa, San. Sua correspondente. Ela é uma líder de torcida, não é? Peça pra ela impedir isso. Ou, ao menos, fazer diminuir. Peça ajuda. Ninguém deveria suportar isso sozinha. Você tinha a mim. Rachel não tem ninguém. Nem os pais dela devem saber sobre isso. San, por favor.

— Eu vou falar com ela, Q., mas não posso prometer nada. Você sabe como os adolescentes são. Sabe como as coisas funcionam no colegial. Todos só ligam para a aparência.

— A Rachel não. Ela não liga.

Santana segurou a mão de Quinn, lançando-lhe um olhar penetrante.

— Você tem sorte, então. Ela é uma em um milhão.

— Sim — Quinn concordou, num sussurro. — Ela é.

~x~

31 de dezembro de 2011




Querida Rachel,

Vai melhorar.

Feliz ano novo.

Da mulher que deseja o seu bem,

Quinn Fabray.


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Notas finais do capítulo

Esse foi um importante salto no relacionamento delas. Até agora, Rachel e Quinn eram apenas duas estranhas conhecidas. Agora, elas estão dando passos firmes em direção a uma grande amizade (e no futuro, algo mais :P).

E então, gostaram do capítulo? Espero que sim!

Até o próximo :)