Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 1
Capítulo 1 — Um Dia Chuvoso E Outro Ensolarado


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! Aqui estou eu com esse mais novo projeto faberry :)
Essa fanfic é baseada em uma outra, "Cartas para Derek" (se você shippa Sterek, super recomendo), e o autor me deu a permissão de utilizar a ideia original para criar minha própria história. O que eu comecei a fazer com muito carinho e empolgação o/
Fiquei super animada em começar a escrevê-la, e espero que vocês gostem bastante de ler!
Por enquanto, é só.
Vejo vocês lá embaixo.
Boa leitura!!



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11 de setembro de 2011


Para Quinn,

Eu me sinto estranha fazendo isso. Escrevendo para alguém que não conheço — e que provavelmente nunca irei conhecer —, na esperança de criar um vínculo que não possuo nem mesmo com pessoas que vivem ao meu redor. Suponho que isso diga muito sobre mim. Ou sobre eles. Não sei ao certo. Ultimamente, tudo parece estar bem confuso. Como se eu não conseguisse mais distinguir a linha entre o certo e o errado; entre realidade e sonho. Devo estar soando maluca. Mas, em minha defesa, todos nós somos um pouco loucos. Alguns são apenas mais do que outros.

Perdoe-me por não estar fazendo sentido algum. Devo tê-la confundido no primeiro parágrafo com minhas divagações, e tentarei ser mais clara daqui para frente, mas não posso fazer promessas. Minha mente gosta de viajar para vários lugares ao mesmo tempo, e eu acabo sempre falando demais. Ou, no caso, escrevendo demais. Permita-me, então, começar de novo.

Olá! Meu nome é Rachel Berry, e eu tenho dezesseis anos de idade. Não sei por que dizer isso é importante — a idade, não o nome —, já que não faz a menor diferença para nós duas, que estamos tão longe uma da outra quanto duas pessoas podem estar. Não me refiro à distância física. Até porque nem ao menos sei onde você está servindo. Suponho, entretanto, que seja em algum lugar bem distante. Distante o suficiente para que a faça sentir saudades de casa, e a querer se comunicar com uma adolescente que vive todos os dias na cidade onde nasceu, ao lado dos pais, e possivelmente sequer é grata pelo tempo que pode passar com eles. Uma garota que não deve nem apreciar realmente o significado de se estar em casa.

Em parte, você está certa. A cidade onde moro é insignificante para mim. Não vejo a hora de deixa-la para trás; de sair para o mundo, conhecer pessoas com mente mais aberta. Pessoas que não vão fazer eu me sentir insegura em meu próprio lar. Espero que você não tenha uma visão tão ruim de mim por querer ir embora. Mas, desde que me lembro, esta cidade não tem sido nada além de cruel comigo, e com a minha família.

Você deve estar se perguntando o motivo. Acho que podemos colocar logo isto em “pratos limpos”. Se vamos mesmo nos comunicar por muito tempo, é melhor que você saiba minha história — ou pelo menos parte dela —, de forma que você pode escolher querer prosseguir em correspondência comigo, ou não. Então, aqui vai uma versão resumida: meus pais se casaram porque minha mãe ficou grávida de mim. Foi coisa de uma noite. Entretanto, uma vez que a gravidez foi descoberta, tanto a família de minha mãe, quanto a de meu pai, insistiu para que o casamento acontecesse. As duas tinham motivos diferentes, embora. A da minha mãe, para que a família não ficasse mal falada; a do meu pai, porque eles esperavam que o casamento o mudasse.

Devo esclarecer uma coisa: meu pai é gay. Ele só realmente se assumiu para a família quando se divorciou de minha mãe; mas, então, eles já sabiam. Esperavam que a convivência com uma mulher o “curasse”, e ele pudesse voltar a ser um “homem normal”. Em suma, a família do meu pai é composta por babacas preconceituosos.

Assim que eles se separaram, mamãe e eu nos mudamos para Nova York. Ela recebeu uma boa proposta de emprego em um escritório de advocacia, e começou a seguir seu verdadeiro sonho: o de advogar. Ela nunca pode fazer isso em Lima, Ohio, a pequena cidade onde nasci, e onde atualmente moro. Portanto, NY foi para nós duas um recomeço. Meu pai, todavia, permaneceu em Lima. Ele teria ido conosco, se não tivesse se apaixonado. Os dois passaram a viver juntos, e papai não quis mais ir embora. Nós nos víamos com frequência, contudo. Eu passava todos os verões ao seu lado e de seu companheiro — um cara muito gentil e legal —, e ele me visitava em todos os feriados. Tínhamos um bom arranjo.

É engraçado como apenas um dia pode mudar quem você é, e tudo o que você conhece. Esse dia chega, eventualmente, para todos nós. Alguma coisa acontece — não necessariamente algo grande; apenas marcante —, e te atinge de tal forma que deixa uma marca dentro de você. Em seu coração, em sua alma. O meu dia ocorreu há exatos dez anos. Imagino que você saiba do que eu estou falando. As Torres Gêmeas. O onze de setembro. Era onde minha mãe trabalhava. Eu me despedi dela aquela manhã, um beijo no rosto, um bom dia e boa aula, e foi tudo. Sem “eu te amo”. Sem um último abraço longo o suficiente para que eu me lembre da sensação de ter o corpo dela envolvendo o meu. Gostaria de poder me lembrar, embora. Do calor do abraço de uma mãe. Da minha mãe.

A partir de então, vivo com meus dois pais. Eles tentam me fazer feliz. Tentam mesmo. Talvez eu até fosse, em outro lugar. Talvez eu conseguisse seguir em frente, se estivesse longe daqui, onde as memórias são tão fortes que ainda continuam a me assombrar. Todos os dias, todos os segundos.

Dizem que tudo na vida acontece por um motivo.

Ainda estou procurando pelos meus.

Espero não tê-la aborrecido com meu falatório adolescente interminável. Ou tê-la sufocado, jogando-lhe tantas informações assim, logo de cara. Acontece que eu sou esse tipo de pessoa. A que não esconde o que sente. Não na maioria das vezes. E a que prefere deixar todas as cartas na mesa, ainda que isso possa prejudica-la durante o jogo.

Sei que falei muito sobre mim, mas não espero que você faça o mesmo. Sinta-se a vontade para seguir seu próprio ritmo. Eu não me importo. O que é verdadeiramente importante não é falarmos sobre nossas vidas, ou como nos sentimos, ou como são as coisas em Lima, OH, ou no lugar onde você está servindo. O importante é falar. Qualquer coisa. Mesmo que seja sobre o tempo. Espero, portanto, que possamos falar uma com a outra.

Até a próxima carta, então.

Da garota que fala (e escreve) demais,

Rachel Berry.

P.S.: Está chovendo.


27 de outubro de 2011


Para Rachel,

Desculpe-me pela demora ao responder sua carta. Tivemos algum problema com nossas correspondências, e elas levaram mais tempo para chegar do que o de costume. Acredito, entretanto, que as próximas não vão possuir um intervalo tão grande entre uma e outra. Ou assim espero.

Como você já deve saber, meu nome é Quinn. Quinn Fabray. Tenho vinte e um anos, o que significa que não sou tão mais velha do que você, e ainda não me esqueci de como é ser uma adolescente. Portanto, sou perfeitamente capaz de compreender a vontade de querer colocar para fora o que está guardado no peito. Coisas que, às vezes, sentimos que mais ninguém vai entender.

Não me incomodo, de forma alguma, de como é composta a formação de sua estrutura familiar. Admiro, até. É necessário coragem para ser quem você é, e ainda mais coragem para enfrentar aqueles que te dizem que seu jeito de ser é errado. Sei disso, porque conheço pessoas que passaram pela experiência em primeira mão. Não é agradável de ver; imagino que seja ainda mais desconfortável vivenciar. É uma pena, de verdade, que as pessoas se importem tanto com isso. Com a vida dos outros. Deixe-me citar agora uma amiga, quando se refere a pessoas que cuidam mais da vida dos outros do que da própria, “Isso é falta de...”, bem, suponho que o resto não seja apropriado escrever, mas acredito que você tenha entendido a intenção. Deve ter percebido, também, que minha amiga tem uma boca suja. Talvez eu não deva usá-la para citações daqui para frente. É provavelmente o melhor.

Sendo bem sincera, eu também me sinto estranha com a situação. Nunca me correspondi com alguém que não conhecesse — mal o faço com pessoas que conheço há anos —, por isso, não estou certa de que formalidade deve se seguir. Proponho que optemos pelo informal. Tentar conversar uma com a outra como se fôssemos velhas amigas que não se veem há anos, e estão colocando o papo em dia. Acredito que isso torne as coisas mais simples. Vamos tirando camada por camada, como uma cebola. Uma hora, escrever uma para a outra vai se tornar fácil. Esperado, até. Quem sabe? “O futuro a Deus pertence”. Não é esse o ditado? Soa-me, também, como sendo a verdade.

Não se aflija, Rachel. Eu conheço o sentimento. De não se sentir em casa em sua própria casa. De não pertencer ao lugar que deveria ser o seu. Não vou lhe julgar por isso. Espero não julgá-la por motivo algum. Particularmente, sou adepta da teoria de que, “se você não esteve em situação semelhante, não tem o direito de dizer nada”. Meio rude, eu sei, mas é uma filosofia de vida que tem funcionado muito bem até então. Não me meto na vida de ninguém, e espero que a mesma cortesia seja estendida a mim. Seria tão melhor, não acha, se todas as pessoas fossem assim? Mas longe de mim desejar que outros sejam como eu. Uma de mim é o suficiente.

Sinto muito sobre sua mãe. Eu entendo sobre perdas — tive as minhas, também —, então posso compreender como deve ser para você estar de volta à cidade depois de tudo que aconteceu. Ainda mais um lugar que não te faz bem. É como uma coceira que você não pode coçar; algo que está lá, abaixo da superfície, completamente inatingível. E sei que se passou muito tempo (dez anos agora, como foi rápido!) desde que tudo aconteceu, e que isso não é algo do qual você possa se curar completamente. É como você disse. Coisas assim deixam marcas permanentes. Tempo nenhum pode apagar. O máximo que podemos torcer é pela cicatrização. Mas a dor, ou a lembrança dela, estará sempre presente.

Sinceramente, não entendo porque precisa ser assim. Tão difícil. Gostaria que a vida fosse mais fácil, mais simples, que não houvesse tanta dor e sofrimento — entretanto, quanto mais tentamos negá-las, mais elas parecem nos atingir. Acredito que a solução para parte do problema seja, então, aceitar. Aceitar que há coisas que “são como são”. Aceitar que há pessoas por aí que não vão sempre nos entender, ou nos respeitar, e que vão nos julgar sempre que tiverem uma oportunidade. É como elas funcionam. Olham para os erros alheios, na esperança de nunca conseguirem enxergar os próprios. Aceitar, contudo, não é se conformar. Não é deixar de lutar para que as coisas mudem. Aceitar é, essencialmente, compreender. E uma vez que você compreende, torna-se mais fácil iniciar as mudanças. Digo isso por experiência própria. Conhecer o próximo é tão importante quanto conhecer a si mesmo. Aceitar é, também, seguir em frente. Mesmo quando é difícil. Diabos, mesmo quando é impossível! Mas você continua. E você aceita tudo o que sobrou — seja algo bom ou ruim —, porque te torna mais forte, mais sábio, melhor.

Sobre tudo acontecer por um motivo... Espero que você consiga encontrar os seus. Espero que, um dia, eu também encontre os meus. Acredite em mim quando digo que gostaria de ter respostas para as mais variadas perguntas. Gostaria de saber muitos porquês. Gostaria... Gostaria... Gostaria...

Gostaria de coisas demais. Talvez esse seja o problema, afinal. Viver tentando encontrar respostas, quando não estamos nem certos das perguntas. Contudo, creio que esteja começando a divagar (algo a que você deve estar familiarizada). É o que acontece quando perguntamos demais. Ou quando não perguntamos o suficiente.

Aprecio, sinceramente, sua compreensão em não exigir de mim o que você mesma está entregando. Isso sim diz muito sobre você. Não são os outros que te definem, Rachel. A única que pode fazer isso é você mesma. Pelas suas palavras, pelas suas atitudes, pela sua maneira de pensar. Tudo isso importa. Sei que pode parecer que não. Sei que, às vezes, pode ser tão solitário que aquela sensação de vazio preenche seu peito. Mas você precisa acreditar que importa. Se você não acreditar, ninguém fará isso por você. As pessoas esperam que você falhe. Esperam que, na primeira pedra no meio do caminho, você tropece. Esperam que você nunca chegue ao topo.

Não as escute. Prove que estão erradas. Vença. Os únicos demônios que você precisa enfrentar são os seus.

Preciso parar de escrever agora. Tenho coisas a fazer. Mas foi bom conversar — mesmo que, fisicamente, você não esteja aqui. Não é necessário, embora. Suas palavras estão. E as minhas, também.

Até a próxima!

Da mulher que ainda se lembra de como é ser uma garota,

Quinn Fabray.

P.S.: É um dia bastante ensolarado.


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Notas finais do capítulo

Reviews são mais do que bem vindos! Sintam-se a vontade para conversar comigo, seja por comentário, MP ou twitter (@_lovemyway). Sou legal, prometo :P
O tempo de postagem será provavelmente de duas em duas semanas, porque tenho uns capítulos prontos e preciso que eles durem pelo menos até junho (que é quando minhas férias começam).
Espero que tenham gostado, e até o próximo!! :D

P.S.: Nem todos os capítulos serão em forma de cartas. ;)