Winter Soldier - Retomando o Passado escrita por Vendetta23


Capítulo 10
Vento de Inverno


Notas iniciais do capítulo

Eu queria agradecer todas as pessoas que estão acompanhando essa fic, todos os comentários e críticas. Vocês movem essa história. Fico muito feliz que estejam gostando.
Muito obrigado!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/494283/chapter/10

Steve dá um passo para trás e olha para mim.

“Desculpa...” sua voz está rouca e lágrimas ainda brotam de seus olhos “Desculpa por não ter que salvado, por ter te deixado cair do trem, não ter te encontrado depois” agora ele tremia mais do que eu, segurando meus ombros com as mãos “Eu pensei que você...”

“Tivesse morrido” eu completei hesitante ‘Mas você morreu, no instante em que atirou no meio da testa daquela mulher’ “Eu sei, Steve” ergui minha mão direita e a apoiei em seu braço ‘...sua primeira missão’ “Mas eu estou aqui” tentei acreditar completamente naquilo que eu estava dizendo ‘...de muitas outras’ mas o soldado não parava de murmurar, e eu não conseguia ignorá-lo.

“Eu ainda não acredito” senti um frio cortante no meu estômago até ele continuar “Eu ainda não acredito que você está aqui”, ele parecia nervoso por trás do calor afetivo, medindo cada palavra e cada gesto como se tivesse medo de que algo aconteceria se tomasse um passo na direção errada. Me lembrei do meu braço mecânico desferindo socos atrás de socos em seu rosto enquanto caíamos, fogo por toda a parte. Não posso culpá-lo. Eu estou tenso também, meus músculos se contraem brevemente a cada toque que ele me dá, a cada carro que ouço na rua ou barulho nos apartamentos vizinhos. Nunca realmente deixamos a guerra para trás.

“Você vai ficar, não vai?” Steve interrompe meus pensamentos com uma voz fraca e cheia de dúvidas, ele pensa que eu vou dizer não. Por um momento até eu duvido da minha resposta, por um momento eu consigo sentir o quão afundado em um sentimento profundo de medo eu estou e penso em quão difícil vai ser eu me livrar desse fardo desde que eu simplesmente não posso correr da razão do meu medo, já que eu tenho medo de mim mesmo. O ranger de dentes apreensivo de Steve me acorda dos meus pensamentos e percebo que estive encarando seus olhos durante esse tempo todo. Eu não conseguiria sozinho.

“Eu vou” afirmo. A tensão deixa seu rosto e ele abre um largo sorriso, e assim que o peso sai de suas costas, ele relaxa. Tento retribuir o sorriso mas tudo o que consigo é erguer um canto da minha boca. Mas está tudo bem, ele entende.

“Quando foi a última vez que você comeu?” ele perguntou me olhando preocupado. A última vez que me recordo de ter colocado alguma coisa para dentro foi quando estava recebendo o soro que Fury tinha colocado no meu braço. Steve suspirou e se virou para a cozinha, abriu a geladeira e ficou remexendo a pouco comida que tinha dentro dela, até olhar para o bolo na bancada ao seu lado. Imediatamente ele fechou a geladeira, pegou um prato e uma faca e cortou um pedaço de bolo. Ele fez tudo isso de costas para mim, sem me checar nem uma vez. Uma parte de mim ficou realmente irritada com isso, outra se sentiu grata. Suspirei, é como se ele tivesse esquecido que eu fui o homem que quase o matou.

‘Talvez ele preferisse lembrar de você como o homem que quase o salvou’, preferi ouvir essa vozinha insignificante do que os uivos do vento de inverno na minha cabeça.

“Bucky” ele disse, e percebi que ele estava na minha frente “Você não quer se sentar?” ele apontou o sofá, claro, eu podia sentar, eu não preciso de uma ordem pra isso. Assim que me sentei no sofá meu estômago grunhiu. Steve colocou o prato com o bolo na mesa na frente do sofá e se levantou para fechar a janela “Senão vai ficar realmente frio aqui” ele disse. Observei a cena, incrédulo. Um soldado nunca teria esquecido de abaixar a janela, apagar todas as evidências de que passou por lá. “Pode comer, Bucky, está tudo bem” Steve se sentou não muito perto de mim no sofá, preocupado em me dar um pouco de espaço.

“Ah” tinha esquecido do prato na minha frente, seguro-o muito delicadamente com a mão metálica, enquanto pego o bolo com a outra “Desculpa...” correntes que existiam por meio de palavras, ordens, me prenderam por muito tempo.

“Não tem que se desculpar”, essa frase era uma grande mentira.

“Na verdade, eu tenho” dou a primeira mordida no bolo que se desfaz na minha boca. Há muito, muito tempo eu não me alimentava de nada a não ser de líquidos que a H.Y.D.R.A. me dava, era estranho mastiga-lo, mas me trazia um estranho sentimento de conforto.

“Bolo de laranja” disse Steve como se pudesse ler minha reação “Minha mãe fazia para nós e deixava na janela para quando voltássemos para casa” ele hesitou por um instante, mas apertou as mãos uma contra a outra e prosseguiu “Você lembra, Bucky?”, me chamando pelo nome que soava cada vez mais familiar. Eu pensei por um instante.

“Não posso dizer que lembro” disse suavemente, eu não queria deixa-lo triste “Mas eu me sinto bem, eu sei que a memória está em algum lugar, eu só ainda não tive acesso a ela”. Surpreendentemente ele não pareceu desapontado.

“Eu sei que é uma questão de tempo. Você vai lembrar” se ele não acreditava nisso, não sei no que mais ele acredita, porque ele falou como se aquela fosse a única verdade. Ele me passou segurança. Eu terminei o bolo, olhando-o atento. Uma sombra negra passou diante dos meus olhos e uma dor aguda começou a ecoar do fundo da minha cabeça.

Não.

‘Abaixe a guarda dele’

“Steve” eu fitei-o “Podemos domir?” ele pareceu surpreso por um instante mas respondeu rápido.

“Claro! Você tem que se recuperar. Olha, eu pego o sofá e você pega a cama, pode ser?”

‘O sofá está mais próximo da cozinha’

“Posso ficar com o sofá? Eu prefiro um ambiente mais aberto...”

“Claro que sim, eu vou pegar alguma coisa para você se cobrir” Steve correu até o quarto e voltou com um cobertor cinza, esticando-o pra mim. “Você vai ficar bem, Bucky?”

Seu nome não é Bucky’

“Prometo que sim” eu disse dando uma rápida checada ao meu redor.

“Ok, então... boa noite” ele parecia nervoso ao andar em direção ao quarto dele, deixando a porta entreaberta como um convite para eu entrar quando quiser.

‘Ah, você vai’

Coloco o cobertor de lado e me sento, me camuflando no escuro, pertencendo a ele como se fôssemos feitos da mesma matéria. Depois de não sei quanto tempo, minha atenção foi voltada para o brilho da faca com a qual ele tinha cortado o bolo na bancada da cozinha.

‘Não esqueça da sua missão, soldado’

Ando devagar pelas sombras, segurando a faca firmemente pelo cabo. Meu braço esquerdo abre cuidadosamente a porta do quarto de Steve.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!