Legado de Semideuses! escrita por Lucas Lyu Santos


Capítulo 4
O sol do Amor.




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Eu voltei me rastejando para o amontoado de campistas de cores azuis que urravam de alegria em meio ao bosque. Meu pescoço latejava de dor pelo corte que haviam desferido minutos atrás. Aquelas garotas realmente não estavam de brincadeira, o que me deixou com um pé atrás sobre aquele lugar de semi-loucos. Isso de ser filho de um Deus, não poderia ser verdade... Ou poderia? Meus olhos vagavam de forma lenta, porém, objetiva. Onde estaria Alinne? Eu me pus a procurá-la, mas ainda não tinha qualquer sinal de sua presença. Por compensação a bandeira do time vermelho estava sendo exibida por uma garota de cabelos curtos, olhos castanhos-claros e de cor de pele clara. Ela usava um óculos redondo que por sinal não amenizava sua expressão de orgulho e liderança, tampouco a sua magnitude exibicionista de seu trabalho e esforço. Ela estava usando uma camisa preta por de baixo da armadura de guerreira, era possível ver arranhões nas partes protetoras do traje.

– E é assim que nós filhos de Zeus mostramos como se faz! – Ela gesticulava com a espada em punho, erguida, como seu queixo. – Da próxima vez que ao menos sirva de desafio para nós... Por que...

– Chega Munhoz, o time perdedor Vermelho; ficará com as tarefas da semana. – Helena, a tia dos “bottons” pausou, ríspida. – Daqui a meia hora a fogueira começará. Estejam famintos! Bom trabalho time Azul! Que a glória da vitória sirva para os seus amigos se esforçarem mais da próxima vez. – Gritos, risadas, uma mistura gutural invadiu meus ouvidos. Eles se dispersaram.

[...]

Eu fui ver Alinne quinze minutos após o término daquela gincana que me trouxe machucados reais. Naquela altura o sangramento já havia sido estancado, mas ainda havia manchas por toda a minha roupa. Joguei minha espada no chão e sentei ao conforto de um gramado que ligava a extremidade do refeitório, que por sinal, era muito grande com um amplo espaço aberto. Quando a loira me viu ela estremeceu, mas ainda sim se aproximou com rapidez e logo se pôs a me examinar de forma rígida. Ela não tinha quaisquer sequelas de machucados.

– Obrigado por ter corrido – Eu me emburrei.

– Óh, eu não achei que isso fosse acontecer né, e além do mais, estamos quites por aquilo de logo cedo, digo, do metrô – Ela tentou deixar as coisas amenas. Mas ainda era visível em seus olhos uma espécie de culpa.

– Elas te alcançaram? – Perguntei levantando o braço para ela atar uma bandana sobre o machucado.

– Sim, me cercaram. Mas uma garota de Ares chamada Lorenna conseguiu colocar as duas pra correr. Eu ainda não acredito no que vi e no que ela fez com aquelas espadas, só sei que nunca lutarei com ela – Ela pousou os olhos no meu pescoço e colocou os dedos próximos da ferida. – Eles são muito agressivos, será que isso que vimos naquele vídeo... De sermos filhos de um Deus, será verdade Lyu?

– Isso não existe... – Tentei afastar a ideia. – Sei lá, não pode ser verdade...

– Mas esses machucados são reais.

– Aé? Acho que notei isso. – Uma pontada de dor surgiu dos cortes, especificamente onde ela colocava os dedos.

– Tudo bem, eu vou te ajudar com isso. Ok? – Alinne sempre foi boa em cuidar de ferimentos, digo isso por que estudava com ela e nas aulas de biologia e primeiros socorros, a loira sempre deixou qualquer um no chão. Até mesmo eu que já tinha aprendido muitas coisas com a minha mãe, ela era médica. Por isso não questionei sobre seus dedos tocarem minhas feridas e logo estarem a efeito de seus delicados cuidados.

Quando ela se abaixou para terminar o ferimento seu tênis escorregou perante um pedaço maltratado de grama e ela caiu sobre mim. Nossos olhos se encontraram. Por um segundo eu fiquei perdido naquele brilho castanho-claro que pairava sobre mim. Ela era minha amiga desde sempre, mas nunca havia reparado que seus carinhos comigo eram tão espontâneos que me faziam me sentir tão bem. Não acredito que ali poderia ter segundas intenções, mas eu confesso, sempre tive uma queda por ela. Desde o dia que estava caminhando para a escola e uma cobra agarrou meus pés. Todos entraram em pânico, inclusive eu. Mas de todos os alunos ela foi a única a vir em minha direção e apedrejar a cabeça da cobra antes que ela pudesse me matar. Por isso, desde esse dia eu odeio todo tipo de animal que rasteje. E além disso, eu guardei um carinho especial por ela e jurei protegê-la - por mais que isso não funcione até agora. Mas a melhor forma disso, foi ter virado o melhor amigo dela.

– Me desculpa bobão. – Ela baixou os olhos e se recompôs, timidamente com vergonha. – Prontinho, está bom, agora vamos que minha barriga está roncando.

– Ok né, só evita ficar se jogando pra cima de mim, eu sou difícil. – E o clima constrangedor acabou, gargalhadas surgiram e fomos para a enorme fogueira que queimava ao horizonte, a comida estava pronta.

[...]

Eu fui exatamente para a mesa das massas, lasanha feelings, óbvio. Pensamento de gordo, eu sei, mas dane-se por que depois de quase morrer eu mereço ao menos comer. Ao lado eu via a mesa farta dos vencedores. Na ponta, a garota que se chamava Munhoz estava rindo e conversando com seus companheiros de caça. Ela contava como tinha sido tão maravilhoso derrotar cada campista do time vermelho, e também como usará o presente de seu pai no momento crucial para a vitória. Eu não prestei muita atenção, de longe eu sentia a arrogância dela falar mais alto que a própria voz. Assim que levantei os olhos notei duas sombras se projetarem nas minhas costas. Engoli em seco e me virei com os olhos altamente prontos para qualquer tipo de surpresa, e, de súbito, coloquei a mão entre as pernas e tampei o local onde tomei dois chutes naquele negócio de caça-bandeira..

– Não precisa, desculpe, aquilo era uma forma de desarmar o inimigo. – A garota do coração B, disse. – Nos perdoe, e além do mais esperávamos mais de um semideus...

– Semideus? Eu ainda não engoli essa, mas tudo bem, se eu ainda conseguir ter filhos colocarei o nome de Afrodito em homenagem a vocês.

Elas riram.

– Ah, talvez você não seja um “não-identificado” chato. – Disse a garota do S, se aproximando. – Isso é para você, talvez tenha conseguido arrumar uma boa companhia essa noite. – Elas soltaram risos abafados e saíram da mesma forma que vieram; sutis.

Eu desembrulhei a carta como se fosse o meu orgulho. Engoli em seco, e endireitei completamente o meu corpo. E nela, estava escrito.

Me desculpe pelo o que aconteceu hoje no caça.

Me sinto culpada, mas ainda quero te recompensar por isso.

Me encontre ao lado da árvore e do bebedouro na hora da fogueira.

Prometo que será bem inesquecível.

Ah, coloque essa pulseira, estará escuro e você pode me identificar com ela.

ASS: Filha de Afrodite, “M”

[...]

Não posso deixar de dizer que abri um sorriso de orelha a orelha com aquela carta. Como diz o ditado “Quem apanha merece carinho.” É, eu acho que não existe o ditado, mas nada que eu não possa patentear. Sai do refeitório com um bolinho na mão, abocanhei-o e logo joguei uma bala de menta na minha boca. Sorri mais uma vez de felicidade e fui ao encontro da minha princesa de Afrodite.

As fagulhas da fogueira me deixavam com uma sensação de proteção e calor. Andei aos cantos das árvores, me certificando que ninguém me veria e fiquei no lugar combinado. Vários campistas surgiram e se amontoaram em minha frente, mas ainda me deixavam isolado no fundo. Na pulseira estava escrita, “Sou eu” era óbvio que o sortudo da noite era ninguém menos que eu. Fiquei ali dez minutos esperando alguém, até que uma moça loira se aproximou e logo percebi ser Alinne. Eu não queria dizer nada, por isso esperei quieto até que ela se retirasse, o que não aconteceu.

– Não acha melhor ir um pouco pra frente? – Disse a loira. Eu logicamente não podia fazer isso, precisava esperar Mariana para enfim, conseguir o que queria desde o momento que vi seus olhos lindos. Só de me lembrar, me fisgava o coração degustar aqueles lindos lábios.

– Ah, só preciso ficar um pouco sozinho... – Bufei, pra que mentir? – É que estou esperando alguém. – Eu disse, sem olhar minha amiga nos olhos.

– Hãm... Eu também estou esperando alguém. – A loira falou previamente com vergonha.

– Ué. Temos um problema então, por que ela vai aparecer aqui com uma... Pulseira...? – Eu franzi as sobrancelhas, Alinne usava uma da mesma cor que a minha.

– Eu também, ele vai usar uma igual a sua. - A ficha tinha caído, fomos enganados.

Nós entreolhamos um ao outro, ao longe, a dona Helena começou a dizer algumas palavras e muitas pessoas despejavam comida na fogueira dizendo ser homenagem aos deuses. Eu ainda achava uma palhaçada isso, na boa... Pois se eles viam isso como sacrifício, eu já via como burrice; desperdiçar comida era uma das coisas que eu nunca poderia pensar em fazer.

Inquieto, ainda tentando entender o porquê daquilo eu fiquei. Peguei a mão da loira e li o que estava escrito na pulseira “Que vou te beijar hoje”. Ela ergueu a minha mão. Nós estávamos perto e meu coração pulsou rapidamente. O clima ficou envolvente e nossa respiração ficou um pouco pesada, havia uma faísca de atração ocorrendo naquele instante. Mas como isso era possível? Depois de tanto tempo, por que só agora...?

O silêncio foi o estopim da aproximação de nossos lábios, que se tocaram. Eu agarrei o pescoço dela e senti o calor do seu poder de me deixar sem ar me contagiar e me levar ao além. Me senti bem, me deixei levar pela impulsividade e quando me vi estava mordiscando os lábios dela que se acanhava em erguer os braços ao meu ombro e me abraçar. Eu agarrei a cintura dela e aos cantos dos meus olhos vi vultos. Todos estavam olhando para nós. Uma multidão inteira.

Eles nos encaravam com a boca entreaberta sem acreditar no que viam. Eles eram adolescentes como nós, o que poderia espantar? Era só um beijo... Uma claridade era exibida em algum lugar a cima, mas vinha de nossa direção. Alinne e eu éramos o centro disso tudo, mas por que? Paramos por um segundo e nos afastamos. Viramos para o lado e olhamos pra cima... O QUE SÃO ISSO?

Havia dois Sóis brilhando sobre nossas cabeças.

– Não pode ser. – Helena esbravejou. – Isso significa que eles foram reclamados...

– HEHE! Mais dois irmãos! – Um garoto de cabelos castanhos-claros esbravejou, ele tinha um arco em mãos. - Nosso pai não descansa, heim?

– Não, isso está errado! – Gritou Helena. – MEUS DEUSES, ISSO SIGNIFICA... MAMA! – Ela virou para o lado e uma garota de toga estava ao seu lado.

Ela tinha olhos claros, cabelo ruivo e covinhas na bochecha. Era magra, porém, com um olhar penetrante... Seus olhos se arregalaram e ela deixou sua comida cair e sujar um pouco sua blusa rosa que era coberta pela toga riscada com tintas de cores diferentes.

Quando a fogueira brilhar, o sol duplo se levantará.

Em busca de uma direção onde o fim pode esperar então.

As doze barreiras salvarão apenas quando o calor for uma solução.

Os amigos se encrencaram, se forem ajudar com o coração.

Mas com certeza pode acreditar.

Que em segurança eles irão ficar, se juntos trabalharem para ganhar.

Ela recitou uma profecia. E os olhares nos voltaram.

– Santo Apolo, eles são... O duplo sol que a profecia recitava. Eles são “ O Sol Gêmeo.” – Mama disse, perplexa.

O sol de nossas cabeças se apagou. O clima tenso apareceu e tudo que pude pensar foi naquela frase... “ Sou eu... Que vou te beijar hoje”.


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