Pensamentos De Uma Garota Estranha... Parte II escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 10
O último badalar inevitável de um relógio


Notas iniciais do capítulo

Um poema/crônica sobre tempo, morte e destruição... e, de certa forma, sobre amor.
Falar mais que isso estragaria a surpresa.
Boa leitura!



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Tic, tac, tic, tac...

Os ponteiros desse relógio marcam o compasso para o fim do mundo.

A minha existência, imperfeitamente sincronizada

Com o badalar do pêndulo que vejo

Aos poucos se desfaz, amargada,

Enquanto deixo as areias escorregarem por entre esses dedos

Neste quarto de paredes brancas

Minha visão não encontra sossego

A esperança seca, se contorce e se esvai

Dando lugar apenas ao vazio dentro do peito.

Os ponteiros se mexem, inexoráveis.

Eu ainda consigo ouvir as notícias na televisão.

O fim do mundo está próximo, repetiram incontáveis vezes.

O céu se despedaça, despenca como estrela cadente, em direção ao chão.

O chão treme, as coisas começam a fugir da realidade

Esse impecável quarto branco logo estará vermelho

Aquele vulto perto da janela parece estremer ao perceber a verdade.

A lâmina entre seus dedos não passa de um caco de espelho.

“Não deixarei que seu fim seja tão miserável.

Morrer no fim do mundo não passa de um clichê.”

Ele diz, abrindo um sorriso agradável

Eu, que nunca mencionei palavra sequer durante a vida, era incapaz de responder.

O som do pêndulo, dos ponteiros, de todo o resto pareceu sumir

Mesmo suas últimas palavras para mim foram engolfadas

Pelo clangor daquele meu mundo, a ruir.

Ao mesmo tempo em que minha vida era tirada.

Tic, tac, tic, tac…

Meus ouvidos ficam surdos ao som do relógio que marca o fim

Do mundo… do meu próprio…

Eu ergui-me através da escuridão que me afogou

Além do vermelho das minhas artérias expostas

Do branco daquele frio quarto de hospital

E do clarão indistinguível que apagou da existência quaisquer respostas.

O tempo havia cessado. O mundo não existia mais.

Era como um vazio, que aos poucos se desintegrava

Esmagando sem misericórdia os pobres mortais,

Uma pintura tridimensional, uma história macabra.

Este novo corpo, mal posso senti-lo

E nem com estas asas que agora me embalam, me foi permitido voltar a falar

Meu pensamento, contudo, não está mais perdido.

Ele corre com facilidade em direção ao meu algoz, no vácuo a caminhar.

“Eu lhe disse, o fim justifica os meios”.

Ele sorriu, travessamente, enquanto me fazia uma mesura.

Com seus olhos que pareciam dois buracos negros

E cabelos da cor das destruídas sepulturas.

“Destruístes o mundo por capricho, és insano”

Minha resposta atravessou o espaço infinito de lugar nenhum,

Ecoando diretamente em sua cabeça, soprando

Na brisa interminável de um senso incomum.

“Foi para tê-la ao meu lado, minha dama,

Aquele mundo aleijou-a, traiu-a, abandonou-a.

Mas eu sou mestre do tempo, a quem muito lhe ama,

Por ti, milady, destruiria ainda mais mundos, não poupando sequer uma pessoa”.

Silenciosamente, minhas asas fecharam-se

Naquela conversa, cuja qual nenhum de nós abria a boca para argumentar,

Eu perdia o fio que me comunicava a humanidade

Eu, profundamente perdida, começava a concordar…

Ergo minhas mãos para segurar as dele

E num beijo, renego todo o mundo que conhecia há anos.

É indefinível a sensação, meio terror, meio deleite

De ser a amante daquele a quem chamam de “Chronos”.

Tic, tac, tic, tac…

Não existem mais relógios para definir a inexistência…


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