A Garota do Cabelo Lavanda escrita por Chibieska


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Yo, mina-san!!!! Tudo bom com vocês? Como prometido estou de volta depois de 15 dias (não sei ao certo se deu 15 mas como o capítulo já estava pronto voltei).

Fico feliz que vocês ainda leem e se interessam, muito feliz mesmo.

Tive algumas ideias novas para a fic graças as sugestões de vocês e fico realmente agradecida com a interação que vocês me permitem.

Chega de lero e vamos para a ação.

Tema: início

Boa leitura!



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O JEITO SENHORA ICHIJOUJI DE RESOLVER AS COISAS

Para Ichijouji Ken aquilo era estranho. Estranho e desconfortável. Esperara por dias para se reencontrar com Wormmon, mas agora que ele estava ali, dividindo o mesmo espaço, no pequeno quarto do adolescente, ele se sentia terrivelmente desconfortável.

Havia evoluído o parceiro, o forçado a atacar os companheiros de batalha, a matar outros Digiescolhidos. Tinha colocado em xeque sua lealdade apenas para provar sua teoria.

Takaishi Takeru e Motomiya Daisuke tinham estado em sua casa algumas horas antes, devolvido seu computador, celular, Digivice e principalmente, seu Digimon. O inseto se esgueirou lentamente por entre as pernas do líder e foi para o lado de seu parceiro, com aqueles grandes olhos pidões que sempre fazia, mas não disse nada.

O gênio podia ver como Daisuke se esforçava para manter o clima agradável e fazer a conversa fluir. Takeru parecia acanhado em um primeiro momento, como se não soubesse ao certo o que pensar, mas então, conforme a conversa corria, o loiro se sentiu mais a vontade. Comentou sobre o time de basquete e sobre as provas que tinham feito na semana anterior, e por mais que ainda houvesse alguma tensão no ar, ele estava sorrindo e brincando.

O clima se tornou mais leve, mais amigável, como os almoços sob a árvore nos intervalos da escola, mas quando os garotos foram embora, o clima desconfortável voltou a reinar. O gênio levou seus pertences para o quarto, ligou o computador, colocou o celular para carregar.

Queria tanto dizer a Wormmon como se sentia, que lamentava tudo o que tinha feito com ele, se desculpar novamente, mas não conseguia começar. O bicho o seguia com olhos grandes e ansiosos, mas Ichijouji sentia-se ainda mais acuado com essa expectativa.

Podia começar com um assunto mais leve, perguntar como fora os dias na companhia de Chibimon e Daisuke, se tinha se divertido, aproveitado as férias “forçadas”, mas sentia que começar por essas frivolidades poderia mostrar que ele não se importava realmente. Ele precisava começar direito, escolher as palavras certas e mostrar realmente como se sentia.

“Sabe...” Começou, mas foi interrompido pela senhora Ichijouji, que abriu a porta e enfiou a cara no quarto, chamando-os para o jantar. Tinha sido até um alívio essa interrupção, porque ele não se sentia verdadeiramente pronto para começar.

Wormmon se sentou ao lado de Ken na mesa de jantar, diante do casal Ichijouji. A comida ali era muito mais saudável e nutritiva e o ambiente muito mais tranquilo do que as refeições barulhentas na casa dos Motomiya, e ele se sentiu feliz em estar de volta.

Esperara ansiosamente a passagem da quarentena para reencontrar seu precioso Ken-chan. Não sabia como o garoto estava, mas era seu parceiro, e mesmo depois de tudo, ainda se sentia saudoso. Mesmo que Ken vacilasse e o mandasse fazer coisas horríveis, ele o seguiria, afinal Wormmon já havia decidido que nunca desistiria dele, por pior que ele se tornasse, por mais distante que Ken ficasse do Ken-chan gentil e bonzinho que o Digimon conhecera no passado.

Por isso, apesar de um leve receio de encontrar Kaiser o invés de Ken, estava ansioso para vê-lo. Se sentiu mais seguro quando o viu conversar normalmente, ou tentar pelo menos, com Daisuke e Takeru, mas foi estranho ver o adolescente mergulhar em silêncio quando os amigos foram embora. Podia ver em seu rosto um misto de várias sensações que não saberia por em palavras. Havia medo e receio ali, medo e receio de ter arruinado tudo entre eles.

Wormmon queria dizer que, apesar dos acontecimentos daquela fatídica noite, ele ainda estava ao seu lado. Dizer que fizera tudo aquilo com plena consciência e que faria novamente, se fosse a vontade de Ken, mas julgava que tais palavras fossem um fardo muito grande para o adolescente carregar e por isso, preferiu deixar que Ichijouji tomasse a iniciativa do diálogo.

“Então, Wormmon, como foram suas férias?” A senhora Ichijouji perguntou enquanto servia o monstrinho esverdeado.

“Boas.” Respondeu com a voz fininha.

“Fico feliz, deve ser divertido ter alguém com quem brincar.” E colocou a tigela diante do ser.

“Sim, foi divertido. Mas senti falta de casa.” E os olhos desviaram para Ken, que se concentrou na refeição que fazia. A senhora Ichijouji apenas acompanhou o olhar do Digimon.

Quando a conversa cessou e o único som era dos talhares contras tigelas, Ken levantou o olhar do próprio prato e encarou a mãe, apenas para constatar que ela também o fitava. Exatamente o que ela queria com a aquela conversa toda? A situação entre ele e Wormmon já não era das melhores, ela não precisava agir como se nada tivesse acontecido.

“E para comemorar seu retorno, Wormmon terá o direito de assistir o programa que quiser na televisão.” Disse a mulher de repente.

“É mesmo?” A voz fininha explodiu de excitação.

“Sim. Não é mesmo, querido?” E lançou um olhar ao marido que até então permanecia alheio. “Você não está com vontade de ver o telejornal hoje.” O homem abriu a boca, mas a mulher curvou a sobrancelha em ameaça.

Sem alternativas, o homem concordou, dizendo que eles assistiram o que Wormmon desejasse. E o bichinho quase caiu da cadeira de felicidade.

Quando a refeição terminou, o senhor Ichijouji foi até a sala com Wormmon, que não se cabia em contentamento. Geralmente, após o jantar, era sempre o homem da família que escolhia a programação e sempre eram assuntos desinteressantes ao monstrinho. Ken mal teve tempo de se levantar, a mãe o intimou a ajudar a recolher a mesa e lavar a louça.

“Se você não falar com ele, as coisas não irão se resolver.” A mulher começou enquanto lavava os talheres. Ken estava ao seu lado, com um pano de prato na mão, esperando a mãe terminar para secar a louça.

“Do que você está falando?” Tentou parecer o mais indiferente possível.

“Eu não sei o que aconteceu entre vocês, mas esse tempo que tiveram afastado era para você pensar no assunto, certo?” Questionou enquanto lavava os copos.

“Eu pensei no assunto...” Era estranho ter esse tipo de conversa com sua mãe. Mesmo que a relação entre eles tivesse melhorado muito desde que deixara de ser o Kaiser, ainda não eram tão amigos e confidentes assim.

“E?” A mulher se virou, fechando a torneira e enxugando as mãos no avental.

“Ele nunca vai me perdoar.” Disse por fim.

“Eu duvido disso, ele ama você.”

“Mãe, você não entende, eu o obriguei a fazer coisas horríveis.” Se como Kaiser tinha sido uma pessoa horrível que sempre o maltratava e humilhava, muito pior tinha feito agora, o colocando contra as pessoas que confiavam nele. “Coisas que ninguém deveria fazer...”

“Eu realmente não entendo como são as coisas lá.” A mulher se apoiou na pia, o lá se referia o Digital World, ela vira Digimon lutando em seu mundo, mas não fazia ideia de como era o local que por vezes o filho enveredava. “Mas não há nada que você possa ter feito que ele não vá te perdoar. Mesmo o crime mais horrível, sempre há perdão se você estiver realmente arrependido.”

“Não é algo que possa ser perdoado facilmente...” Respondeu derrotado.

“Mas você nos perdoou, não?” O garoto curvou as sobrancelhas sem entender. “Todo o mal que nos fizemos, eu e seu pai, você nos perdoou.”

“Do que está falando, mãe? Eu que fiz um enorme mal a vocês quando sumi...”

“Nada disso.” Interrompeu balançando a cabeça como que para respaldar o que dizia. “Quando Osamu morreu nós ficamos muito abalados. A dor de perder um filho era grande demais para que eu pudesse suportar e eu negligenciei você.” Ela fez uma pausa e encarou para se certificar de que ele realmente estava ouvindo. “E então, quando finalmente aquela sensação diminuiu, eu me vi diante de você, que havia se tornado uma cópia do seu irmão.”

“Você havia se dedicado aos estudos como ele, havia se tornando mais sério e centrado, praticava os mesmos esportes e via os mesmos programas. Você havia assumido de onde Osamu havia parado, e isso deveria deixar qualquer pai horrorizado, mas eu me senti aliviada porque era uma forma de ter Osamu comigo.” Ken sabia daquelas coisas, havia experimentado na própria pele, mas sua mãe nunca expusera isso de maneira tão franca e aberta. “E novamente eu negligenciei você, pois deixei que o Ken, meu pequeno e doce Ken se anulasse, para assumir a essência do irmão.”

“E errei mais uma vez, quando você se tornou famoso. Nunca seu pai e eu te perguntamos se era isso mesmo que você queria. Estávamos tão felizes com um filho importante, tão orgulhosos...” E a frase morreu lentamente. Os olhos estavam marejados e Ken pôde ver que a mãe realmente sentia muito por tudo que havia feito.

Quase toda a infância do garoto havia sido destruída por causa do comportamento inconsequente dos pais, era uma época que a maioria das pessoas lembra com saudosismo, mas não Ken e sua mãe sabia que ela era a principal responsável por isso.

“Mesmo assim, mesmo depois de tudo.” Ela se recompôs. “Você nos perdoou.”

Era verdade, quando finalmente retornou do Digital World, ouviu o pedido de desculpas dos pais dezena de vezes, por mais que naquela época ainda não entendesse de todo, sabia que os adultos se culpavam pelo seu destino e se sentiam responsáveis pela pressão que colocavam sobre ele, sobre seu lado genial.

Sabia que havia os comparativos com o Osamu, mas o que ganharia se não os perdoasse? Eram seus pais, sua família, tudo o que ele tinha e confiava. E eles pareciam verdadeiramente arrependidos, como se depois de tudo, finalmente percebessem o mal que lhe causaram. Tinha sido uma época ruim, e ele levaria essa memória pelo resto da vida, mas as sensações, a amargura, ele poderia enterrá-las no passado e assim o fez, quando perdoou os pais.

“Você nos perdoou porque nos ama.” A mãe retomou, com um sorriso delicado. “Wormmon ama você, ele irá perdoá-lo também se seu arrependimento for sincero.”

“Eu não sei como começar, que palavras usar...” Confidenciou. Era muito difícil começar uma conversa. Tentara antes do jantar e durante a refeição ficou esperando uma brecha ou chance, mas não encontrou nenhuma.

“Não precisam ser palavras bonitas, apenas diga como sente, de verdade. Ele irá entender.” As palavras da mulher pareciam certas e Ken se sentiu mais leve. Havia muito a dizer a Wormmon, seria difícil assumir o seu lado sombrio para ele, mas ele teria que fazer. Não poderia apagar quem ele era, nem mudar isso, mas todo o resto: a luta, as dores, isso ele realmente se arrependia. “Agora,” a mãe o tirou do devaneio “seque essa louça.” E apontou para o pano de prato que o garoto trazia nas mãos.

=8=

Era final de inferno, os dias já não estavam mais tão frios e o vento não incomodava tanto. Em breve, o ano letivo terminaria[1]e Ichijouji Ken estaria no segundo ano. Era verdade que tinha perdido as provas de final de semestre por causa de sua quarentena e teria que renegociar suas avalições com os professores, mas isso era o menor dos seus problemas.

Teria que ver Hanamizuki todos os dias, e consequentemente se lembrar do que acontecera com Kariya. Teria que lidar com os olhares que receberia dos colegas por sua inexplicável ausência, teria que lidar com seu novo eu e como seus amigos viveriam com isso, e principalmente teria que lidar com Inoue Miyako.

Nunca o caminho para o colégio lhe parecera tão curto. A viagem de trem foi rápida, a rua estava vazia e mesmo andando na velocidade de sempre, pareceu que chegou muito mais ligeiro ao seu destino. A escola não estava tão vazia, havia um número considerável de alunos circulando pelos corredores. Aparentemente nem Daisuke nem Takeru ainda tinham chegado, Aya, amiga de Miyako, estava trocando seus sapatos diante do armário, mas não havia nenhum sinal da menina por ali. O que era estranho, porque a namorada sempre chegava bastante cedo. Talvez ela tivesse alguma atividade no clube e já estivesse na sala ou talvez só estivesse atrasada, afinal, as pessoas se atrasam, às vezes.

Na verdade, havia uma pequena parte sua que estava feliz de não encontrá-la logo pela manhã, queria ver seu rosto, mas não sabia como se apresentar. Miyako o conhecia tão bem quanto Wormmon, mas certamente não era tão delicada, podia ser compreensiva, mas não iria ficar calada esperando ele despejar suas desculpas vazias.

Assim, quando o sinal tocou para aula, ele imaginou que teria a manhã toda para escolher as palavras apropriadas para a menina. Sua mãe havia dito para expor seu coração a Wormmon e havia dado certo, mas por algum motivo, sabia que dizer só como se sentia não seria o suficiente para reconquistar a confiança da garota.

Quando se reuniu ao Digimon no quarto, depois do jantar, juntou a coragem que possuía e se desculpou. Eram palavras sinceras, mas soavam tão estranhas. Era um discurso parecido com o que usara com Daisuke e os outros, mas era como se cada palavra tivesse um peso muito diferente por ser Wormmon.

Sabia de fidelidade do parceiro e sabia que este nunca o abandonaria, por mais que fizesse algo terrível e monstruoso, e por saber disso, havia se aproveitado dessa confiança no Digital World. Era exatamente disso que o gênio tinha medo, do resultado do jogo que armara.

O bicho esverdeado ouvira tudo em silêncio, com aqueles grandes olhos negros que pareciam fitar cada parte da alma do adolescente. A mente vagava pelas palavras desajeitadas e atropeladas. Ainda se lembrava da primeira imagem que criara de Ken, um garoto dócil e gentil que o recebera com muito amor e carinho. Ainda podia ver esse mesmo menininho através dos orbes sóbrios do garoto diante de si, mas sabia que Ken, o seu Ken, havia crescido e mudado muito.

Havia bondade sim, mas havia muito mais do que isso, e havia as trevas. Talvez trevas não fosse a palavra correta. Wormmon vira o companheiro ser consumido por elas no passado e sabia que o adolescente diante de si não era aquela figura sádica e sombria. Havia algo que tornava o Ken mais decidido, mais determinado, que Wormmon gostaria de tachar como maturidade, mas que também seria incorreto assumir assim.

Sobrava-lhe apenas aceitar que Ken, o seu Ken-chan, tinha agregado o melhor dos dois lados. A bondade e docilidade de Ken, a genialidade e determinação de Kaiser. Teria que aprender a conviver com isso, conhecer novamente seu Ken para impedir que ele caísse nas trevas novamente, nas verdadeiras e repugnantes trevas.

“Eu sempre vou estar ao seu lado, Ken-chan.” O insetoide disse simplesmente quando Ken concluiu. O adolescente sentiu o corpo estremecer, se assustava com essa lealdade cega. “Vou estar aqui para te apoiar quando necessário e vou estar aqui para te parar quando for preciso.”

O menino encarou o Digimon diante de si, eram palavras bonitas, mas que não faziam muito sentido, Wormmon não o havia impedido da última vez.

“Sei que não fiz isso da última vez.” A vozinha estridente pareceu ler seus pensamentos. “Mas não foi só você, Ken-chan, que teve tempo de pensar em tudo o que aconteceu nesses últimos dias. Eu errei lá, errei tanto quanto você e eu também terei um peso para carregar.”

Wormmon sabia do peso que carregaria pelo resto da vida. A escolha que fez de atacar os companheiros seria algo que apenas ele carregaria. Não importava se Ken tinha mandado, ele poderia ter rechaçado aquela ordem, mas não o fizera.

O Digimon sorriu e o humano sorriu de volta. Não haveria choro desta vez, nem promessas, apenas aceitação, pura e simples.

“Ichijouji-san? Ichijouji? Ken-san?” Só quando sentiu alguém o cutucá-lo é que voltou de seus pensamentos. Hanamizuki estava parada diante de sua carteira com um olhar muito curioso. “Já soou o sinal para o intervalo, você não vai almoçar?”

Ken estava tão preso em suas lembranças que nem ouvida o sinal tocar. As aulas haviam passado rapidamente, sem que ele verdadeiramente se desse conta. Sorriu sem graça e levantou desajeitado indo para o corredor.

Havia alunos transitando por todos os lados, barulhentos e felizes. Ele teria que conversar com os professores sobre as provas que perdera, mas deixaria isso para depois das aulas. Atravessou o caminho que fazia diariamente e encontrou com Daisuke e Takeru embaixo da árvore. Se desculpou pelo atraso e almoçou com os amigos.

Ainda era um clima estranho, como se aquele fosse o primeiro encontro entre eles, mas não podia culpá-los. Os olhos esquadrinharam todo o pátio, mas nenhum sinal de Miyako. Pôde ver Aya com um garoto do terceiro ano e Hikari em companhia de garotas da sua turma, mas nenhum sinal de sua giganta.

De certa forma, era confortável, já que por mais que pensasse não escolhera como abordar a menina, mas era estranho, Miyako sempre estava por ali, será que tinha faltado?

“Vocês viram a Inoue-san?” Perguntou interrompendo o que Motomiya contava. Inoue-san? Argh, ele não a chamava mais assim, mas tinha saído por instinto.

“Eu a vi mais cedo.” O ruivo respondeu.

“Ela deve estar ocupada.” Takaishi completou concentrado no suco que bebia.

“Com o quê?” O gênio perguntou sem entender.

“O clube, eu acho.” O loiro respondeu rapidamente.

“O clube? Achei que as atividades do clube de informática já tivessem acabado.” Daisuke questionou e Takeru fez uma careta.

Visivelmente o caçula dos Ishida sabia de algo que não queria contar aos outros. Se a menina estava por ali e tinha inventado alguma desculpa esfarrapada para não estar no pátio durante o almoço só havia uma explicação, ela o estava evitando.

=8=

Se antes do horário de almoço a preocupação de Ichijouji Ken era como falar com Miyako e como se desculpar apropriadamente, agora ele se preocupava em ao menos vê-la.

Conhecia a garota razoavelmente bem, sabia que ela não era do tipo que fugia do confronto e que não levava desaforo para casa. Se ela andava o evitando era porque a coisa era pior do que imaginava. Bem, ele havia cravado um pedaço de Torre Negra no peito dela, as coisas eram bem piores.

Ele poderia passar na sala do clube de informática no final das aulas, mas como Daisuke dissera, as atividades estavam encerradas até o final do período letivo. Poderia desviar seu caminho e passar na loja da família Inoue, mas não sabia se ela estava ajudando diariamente.

E se a encontrasse, o que iria dizer? Se ela estava fugindo, seu argumento precisaria ser infinitamente melhor, e se ele não tinha pensando nem em um razoavelmente bom, imagina em um realmente bom. Nessas horas, sua genialidade não servia de coisa alguma.

As aulas da tarde pareceram correr ainda mais rápidas, enquanto sua mente não se decidia se tentava ligar para a garota, embora se desculpar pelo telefone parecia uma ideia estúpida, ou se esperava eles se encontrarem ao acaso. Afinal, mesmo com o final do ano letivo, eles ainda estudariam na mesma escola no próximo ciclo e Miyako não poderia fugir para sempre.

Quando o sinal tocou, ele arrumou suas coisas e foi até a sala dos professores conversar com o responsável. O docente não parecia nada satisfeito com sua ausência prolongada, mesmo sua mãe tendo entrado em contato com a escola. No final, ficou acertado que ele faria as provas junto dos alunos que fariam recuperação. Significaria que não teria férias entre um ciclo e outro. Não eram férias verdadeiramente longas, mas era alguma coisa. Coisa essa que ele não teria por suas antecipadas férias forçadas.

O caminho da sala dos professores até seu armário estava vazio, os alunos tinham voltado para casa e poucos clubes ainda funcionavam próximo ao encerramento do ciclo. Ichijouji puxou o celular. Analisou os nomes na lista de telefones e escolheu o de Inoue.

Precisamos conversar :)

Encarou a mensagem escrita antes de enviar. A carinha feliz parecia muito petulante. Apagou. Mas só um simples ‘precisamos conversar’ era muito seco, impessoal. Não importava tudo o que tinha acontecido, eles ainda eram namorados. Talvez um ‘por favor’ soasse mais adequado. Algumas palavras a mais, mas não sabia realmente o que dizer. Não podia parecer impessoal, mas nem festivo demais.

Atingiu os armários de sapatos, o celular na mão, as palavras vagando na cabeça, em alguns minutos estaria fora da escola e ainda não havia decidido o que fazer.

“Miyako?” Saiu mais alto do que pretendia.

Em frente ao seu próprio armário, a garota trocava os sapatos, um pé de cada um modelo, meio desequilibrada se apoiando na porta de metal.

“Droga.” Os lábios femininos se moveram sem proferir som algum.


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Notas finais do capítulo

N/T: Ai me pergunto, a mãe do Ken tem nome? Olhei na Digipédia e está só sra. Ichijouji mesmo.

[1] O ano letivo japonês abrange de abril até março do ano seguinte, por isso o ano acabou e eles ainda estão na mesma série escolar. Praticamente não há férias entre as trocas de ano letivo, as férias de verdade, são em agosto, as famosas férias de verão.

Alguém percebeu que por causa da quarentena do Ken, eles não tiveram nem Dia dos Namorados nem White Day? Atropelei as datas mais importantes numa fic de romance, me matem :P

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