"I've seen it all. I've seen it all now. I swear to God I've seen it all. Nothing shocks me anymore after tonight..."

A noite havia chegado, e Jake a aceitara de bom grado. A noite fazia mais sentido para ele do que o dia. Por irônia, para ele, a noite era mais clara do que o dia. Ou ele conseguia organizar melhor seus pensamentos a noite. Que seja.
Novamente, Jake lutava contra o sono. Sim, lutava. Ele não gostava de dormir a noite. Segundo ele, se o dia fosse bom, não haveria a noite. Se a noite existia, era para ser aproveitada. Então para que dormir?
Ele saiu do castelo, com um casaco fino sobre os ombros não tão largos. Estava frio, mas ele quase nunca se importava com isso.
Seguiu direto até a Torre de Astronomia. Ele não tinha mais esperanças de estar sozinho. Antes aquele lugar mal era habitado por alguém. Agora, impossível de se ficar sozinho na Torre. Sempre terá alguém com você. Sempre. Não importava o horário. Apesar de que ele achava que não iria haver ninguém no meio da noite, no frio, na Torre.
Mas é claro que ele estava errado. Viu uma silhueta encolhida no canto, abraçando os joelhos. Ele quase sorriu ao ver a cena, e provar que estava certo.
Quase. Mas não o fez. Jake nunca sorria.
Ele sentou-se longe da pessoa no canto. Se ela estava ali, não queria ser incomodada. E ele não iria destruir o sossego de tal.

Mas é claro que a garota não podia ficar quieta. Todo mundo sempre fazia questão de fazer amigos, e conhecer pessoas. Jake vivera tanto tempo sem amigos, que não se importava de almoçar sozinho todos os dias. E na verdade, ele gostava de ficar sozinho. Mas a menina se pronunciou, tímida.

–Incomodo? Se quiser, posso sair... Muitos nao me querem por perto. Compreenderia se não me quisesse também.

–Todos tem o direito de ir e vir. Eu tenho o meu, e você o seu. Logo, os dois podem ficar. -Jake respondeu. Não queria inimizades. Mas também não queria papo.

–Mas sou do tipo que respeita o espaço dos outros. -E a menina ascendeu a varinha, e a apontou para o rosto do menino, fazendo-o fechar os olhos.

–Que mal humor em.. Nox!

E foi assim que uma conversa extremamente irritando e esquisita foi iniciada. A menina insistia em dizer que Jake era... Triste. E Jake insistia em dizer que ele era sério e nada mais. Além de tudo, nada da vida dele importava a ela.

–*-

07/04/2014

Querido diário...

Que jeito ridículo que começar uma carta não? Quem inventou isso? Enfim... Hoje a noite eu conheci uma garota. Nosso encontro foi ridiculamente inexpressivo. Não, eu não a odeio. Eu sei, eu sei... Sempre parece que eu odeio as pessoas não é? Fazer o que?

A Torre de Astronomia era pequena de mais para nós dois... Sabe o que isso significa, não sabe diário? Isso. Brigas. Que droga. Além dela estar ali, perto de mais, ainda ficou palpitando na minha vida. Eu não sou triste. Que droga. "Você é triste, eu vejo em seus olhos..." Rá. Felizmente eu sou muito piedoso. Isso quer dizer que depois que encerramos a conversa sobre tristeza, carinho, e afins, conseguimos nos entender.

Se vou voltar a vê-la? Eu não sei. Ela não é algum tipo de amiga... Aliás, quantas vezes precisamos ver uma pessoa para ela ser considerada uma amiga? Quantos segredos ela deve saber? Quantas lágrimas ela deve ver?

Já estou lhe cansando com isso tudo não? Claro que não... Você é só um caderno bobo. Queria estar em casa agora. Com a minha mãe, um chocolate quente, e neve. Aí quem sabe eu estaria... Feliz? É a palavra certa?

Meus olhos estão começando a ficar de um tom azul mais escuro... Isso significa que já passou da hora de dormir...

–*-

Então Jake B. fechou o diário, e se deitou. É claro, seus pensamentos circulavam ainda em cada palavra dita, e ouvida neste mesmo dia. Cada pessoa que ele conhecia lhe acrescentava uma coisa em sua vida, e Lysander não era diferente.

O que ela lhe ensinara? A lidar com críticas. A ouvir as criticas e aceita-las. Ou quase isso.