Troublemaker escrita por Charlotte Keller


Capítulo 3
Capítulo 3




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Os dias naquele colégio praticamente se arrastavam. Parecia que já havia se passado uma eternidade desde o que ocorrera na aula de Educação Física, mas mal tinha se passado uma semana. Eu não fazia ideia do por que, mas volta e meia, me pegava pensando naquele rosto sério de olhos azuis.

Já tinha me descabelado algumas vezes e me xingado também por causa disso. O que me intrigava era não entender o motivo dele ter me defendido da bolada.

Bom, eu não o vi pelos corredores do colégio – não que eu tenha procurado -, mas em compensação, o aluno loiro, Miguel, parecia que estava me perseguindo, e fazendo de tudo para que eu cometesse um deslize para que pudesse me humilhar publicamente.

Ele já tentou me derrubar na cantina, me empurrar no corredor, bater um livro na minha testa e várias outras babaquices. De todas eu me livrei com certa maestria ou com um pouco de sorte.

Mas hoje foi a gota d’água.

Eu estava num dia até que relativamente bem. Depois da aula eu sairia com meu pai, que me levaria numa biblioteca, ou no cinema, dependendo do humor dele.

Por causa disso, eu estava um pouco mais bem arrumada. Vestia uma camiseta branca com estampa de um gato preto de olhos verdes, uma jaqueta de couro azul-escuro, uma calça jeans Skinny preta e uma bota-coturno, com a parte interna de uma coloração vermelha. Fiz um rabo de cavalo e estava com um pouco de maquiagem – rímel e um gloss levemente vermelho, que sempre estava na minha bolsa.

Era o intervalo do almoço, e eu estava tranquilamente sentada em uma mesa de quatro lugares, segurando meu livro com a mão esquerda e dando garfadas na minha comida com a mão direita. O burburinho das conversas era alto, mas eu já havia me acostumado.

Parei no meio de um parágrafo ao ouvir uma algazarra incomum.Levantei levemente os olhos e esperei que o barulho diminuísse um pouco. O barulho se aproximava de onde eu me encontrava.

De repente, o barulho estava atrás de mim e a algazarra não parava de aumentar. Eram vários garotos falando ao mesmo tempo. Vi uma sombra atrás de mim e antes que eu pudesse me virar, senti que uma mão puxava a minha jaqueta e despejava algo gelado nas minhas costas. Arfei levemente e escutei uma explosão de gargalhadas.

O susto logo foi substituído por fúria.

Fechei meu livro e joguei-o na mesa, fazendo um barulho bem alto. As risadas continuavam soando altas, ainda mais as pessoas que estavam à minha frente. Ao me virar, era óbvio que só tinha uma pessoa que poderia ter feito isso.

– Opss. Caiu sem quer. – O sorriso era triunfante.

Ele era uma praga.

Uma raiva incontrolável tomou conta da minha cabeça. As risadas à minha volta só fizeram com que eu sentisse mais raiva daquele idiota. Por que eu virara o bode expiatório dele? O que foi que eu fiz pra ele? Não tinha nenhum motivo pra tudo isso.

Espalmei minhas mãos no tampo da mesa e levantei-me. Empurrei a cadeira para o lado e me virei de frente para Miguel.

– Qual é o seu problema!? – Falei em um tom controlado.

Arranquei minha jaqueta de couro e larguei em cima da mesa. Miguel mantinha o mesmo sorriso no rosto. Aproximei-me dele e fiquei a menos de um palmo de distância .

– Qual é o seu problema, seu otário? – Ele era uns dez centímetros mais alto que eu, o que fazia com que eu tivesse que inclinar minha cabeça para trás para encará-lo.

– Qual é o seu problema? – Ele imitou com uma voz sarcástica.

Cada segundo que se passavam me deixava mais irritada.

– Tem um babaca problemático que fica descontado as frustrações da vida de merda que ele tem, em mim, que não tem nada a ver com bosta nenhuma que acontece com ele. E como parece que não tem a capacidade de pegar ninguém, começa a perseguir as pessoas que não vão com a cara dele.

O sorriso desapareceu no mesmo instante.

– Quem você acha que é pra falar assim de mim? - Ele perguntou numa voz inexpressiva.

– Alguém melhor que você, com certeza.

Agora as risadas tinham cessado. Ficou um silêncio extremamente perturbador e um clima tenso no ar. As pessoas estavam nervosas, ou ansiosas, e eu conseguia perceber sem ao menos olhar para elas.

O que me importava era encarar o babaca. Eu não tinha medo dele e devia deixar isso bem claro. Não teria receio em bater de frente com ele, ainda mais quando eu estava furiosa.

– Aham. E o que você vai fazer agora? Chorar, gritar ou me dar um tapa na cara, como uma menina revoltada? – Havia uma pontada de sarcasmo.

– Nenhuma dessas opções.

– Então o que? – Ele levantou uma das sobrancelhas. – Será que vai me beijar?

– Quase isso!

Avancei com a testa, chocando-a violentamente contra o nariz dele. A dor que eu sentia era mínima perto da dele.

Miguel cambaleou para trás, levando a mão no nariz. Um fio vermelho estava escorrendo.

– Você é louca!? – Ele berrou.

– Eu disse que sua vida iria virar um inferno se enchesse a minha paciência. E cá entre nós, eu ainda fui muito boazinha com você. Se prepare, que da próxima vez, vai ser bem pior.

Seus olhos me fuzilavam, e quando ele se recuperou um pouco, avançou para cima de mim. Quando se aproximou o suficiente, agarrei seu braço direito e comecei a torcê-lo. Com uma rasteira, derrubei-o de costas no chão. Meu joelho ficou contra o seu peito, mantendo-o imobilizado momentaneamente. Aproximei-me um pouco mais e falei num tom baixo:

– Aprenda a se pôr no seu lugar. E pare de agir como se fosse melhor que todo mundo. Se duvidar, é o pior.

Peguei minhas coisas da mesa e saí do refeitório com um olhar firme. Quando a porta fechou-se atrás de mim, suspirei irritada e perdi toda a pose de garota forte. Passei a mão pelo rosto enquanto andava. Os corredores estavam vazios.

Peguei uma camisa extra que eu sempre deixava no meu armário e fui para o banheiro feminino. Tirei minha blusa molhada, e para minha sorte, Miguel só tinha jogado água gelada nas minhas costas. A jaqueta de couro ficaria com um cheiro estranho, mas nada que uma lavada não superasse. Coloquei uma blusa azul-turquesa, que tinha um decote em V e o desenho de uma coruja branca, então saí do banheiro.

As aulas seguintes foram mais silenciosas que o comum, e não fui incomodada até o final delas. Quando a ultima estava acabando, recebi uma mensagem do meu pai:

”Filhota, estou no estacionamento e vou esperar por aqui mesmo.”.

Não respondi nada, e fiquei aguardando ansiosamente pra fugir desse lugar.

Quando o sinal bateu, recolhi meus livros apressadamente e quase voei para meu armário. Coloquei minha mala no ombro esquerdo, peguei meu óculo de sol com armação de aviador e enfiei minha jaqueta na mala.

Algumas pessoas corriam para o estacionamento enquanto eu avançava calmamente. Passei pela última porta-dupla e havia dezenas de pessoas paradas na calçada observando algo. Percebi que estava tocando “Numb” do Linkin Park. Suspirei.

Comecei a passar entre as pessoas, pedindo licença e me desculpando quando esbarrava muito forte em alguém. Quando consegui atravessar a galera que estava parada, lá estava ele.

Um homem moreno, mal passando dos quarenta anos, com cabelos castanhos, e corpo que frequentava academia. Ele estava sentado no capô do carro, que não era nada mais, nada menos, que um Porsche 918 Spyder, azul escuro cromado. Um carro conversível mais do que perfeito, e tocando Linkin Park.

Lentamente fui andando até ele.

O homem, quem era? Meu pai, com um carro que deixaria no chinelo qualquer carro que estivesse no estacionamento do colégio. Não tinha forma melhor de terminar meu dia, acabando com todo mundo que se achava “rico” naquele lugar.

Meu pai me viu e abriu um enorme sorriso.

– Não tinha como vir chamando um pouco mais de atenção? Esse carro é muito discreto! – Ironizei, falando mais alto que a música.

– Droga! Da próxima vez eu venho com a Lamborghini dourada! – Ele riu.

– Totalmente certo! – Eu dei um sorriso alegre.

Ele jogou as chaves tilintantes do carro na minha direção e agarrei-as no ar. Sabia que todos me observavam.

– Você dirige! – Meu pai disse, antes que eu questionasse.

Girei as chaves no indicador, como meu pai tinha costume de fazer.

– Então você vai bancar o adolescente e vai levar minha mochila. – Entreguei-a na sua mão, enquanto dava a volta no carro e abria a porta do motorista.

– Com prazer, filhota! – Ele sentou no banco do passageiro enquanto eu girava a chave na ignição.

O motor despertou com um rugido. Acelerei, mais para mostrar a potência do que por necessidade. Dei ré no carro. Começou a tocar “Given Up” nesse momento. O único problema é que eu teria que passar na frente de todo mundo com essa máquina esportiva.

Fui acelerando lentamente até que vi o Miguel parado exatamente na frente da multidão. Ah, eu não poderia perder a oportunidade...

Parei exatamente na frente dele, e seu queixo foi até o chão. Dei um sorriso encantador e uma saudação militar sarcástica. Sua incredulidade foi a melhor sensação que eu podia ter. Vitória!

Comecei a acelerar o carro. Meu pai tinha um sorriso maravilhoso no rosto, já que esse modelo de Porsche mal começara a ser produzido, e ainda por cima, teria menos de 1000 unidades fabricadas. 918 para ser exata. Um pequeno brinquedo que custo só 845 mil dólares.

Parei na cancela do estacionamento e notei que havia uma moto preta parada atrás de mim. Ela também acelerava.

Passei pela cancela com uma baixa aceleração, então despertei o gigante. O ponteiro do giro do motor avançou loucamente e em menos de três segundos estava a 100 km/h. meu pai deu um grito de alegria e se segurou na lateral do carro. Entramos em uma rodovia.

Alguns segundos depois, uma moto ficou emparelhada conosco. Oh, meu Deus. Era a moto dos meus sonhos, e ainda por cima sendo pilotada pelo garoto que é modelo do meu sonho de consumo.

Era uma Ducatti 848 evo, preta, com três caveiras brancas pintadas na lateral. O contraste do preto fosco e do branco era perfeito.

O homem que pilotava tinha um corpo esguio e perfeito. Ele usava uma jaqueta de couro preta, calça jeans também preta e um tênis Vans vermelho com uma faixa branca atravessando a lateral. Meu olhar subiu para o rosto. Oh, meu Deus.

Olhos azuis me olhavam através da viseira do capacete totalmente preto. Fios de seus cabelos negros apareciam na sua nuca. Ele deu uma piscada e notei que um sorriso atravessava os seus lábios. Com uma das mãos ele abaixou a viseira, encerrando nosso contato visual, e acelerou mais ainda. Era o garoto que me salvara da bolada.

Meu coração deu um salto no peito e quase perdi o controle.

Papai deu uma risada alta e deu um leve tapa na minha coxa.

– Bela moto, não? Só não sei o que mexeu mais com você, a moto ou o cara que tinha o bom gosto de ter essa moto. – Ele riu novamente.

Bufei irritada.

– Os dois juntos.

Foi à combinação perfeita.

Me fez perder totalmente a linha.

Preciso descobrir seu nome.

Antes que eu enlouqueça.


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