Troublemaker escrita por Charlotte Keller


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Me desculpeeeeeeem!
Eu devia ter postado quarta-feira, mas aconteceram alguns imprevistos....



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CAPÍTULO 4

Estacionei o carro habilmente e desliguei o motor. Muitos dos pedestres na rua pararam de andar e nos olhavam curiosos. Papai sempre adorou ser o centro das atenções.

Tirei meus óculos de sol e pendurei no decote da minha blusa, já que não gostava de o colocar em cima do meu cabelo. Saí do carro e escutei alguns assovios. Entreguei as chaves para papai e joguei minha mala sob o ombro.

Hoje era o dia em “família”.

Meu pai abriu a porta da cafeteria, e com um floreio, me deu passagem. Dei um leve sorriso e entrei, seguida por ele.

Sentamos em uma mesa perto da janela, e ficamos conversando sobre coisas triviais, até que uma atendente nos trouxe o cardápio, com um sorriso iluminado no rosto.

– Bom dia senhor e senhorita Keller! Têm passado bem? – Ela perguntou.

– Bem, muito obrigado! – Papai respondeu alegremente. – E você?

– Bem, tirando o fato que as crianças estão me matando... – Ela deu uma risada discreta. – Vão querer o que hoje?

– Um expresso, acompanhado de dois queijos quentes e... – Ele gesticulou para que eu pedisse o que quisesse.

– Um café preto e sanduíche natural.

Ela anotou tudo e em seguida, retirou-se.

– Pai, como que você está? Em relação... a “mãe”. – Falei essa ultima palavra com uma pontada de receio e ressentimento.

Ele torceu um guardanapo entre os dedos, enquanto pensava em uma resposta. Seus olhos direcionavam-se para as próprias mãos. A testa se enrugou levemente e ele ficou visivelmente triste.

– Não sei Bea. É um assunto um pouco... delicado. – Ele suspirou. – Com o divórcio ela conseguiu muitas coisas, mas eu consegui manter comigo a coisa mais importante: a Lamborghini.

– Pai. – Falei horrorizada, tentando ser brincalhona, para levantar seu astral.

– É brincadeira, querida! – Ele deu um sorriso fraco. – Fiz de tudo para manter você comigo. – Ele pegou minha mão carinhosamente. – Bea, eu nunca me perdoaria se eu deixasse você com Jane. Tenho medo só de pensar no que ela faria você aguentar.

– Acho que não conseguiríamos ficar no mesmo lugar por mais de cinco minutos. – Resmunguei, enquanto começava a acariciar a palma de sua mão.

A atendente voltou para a nossa mesa, equilibrando os pratos elegantemente, e depositou-os sobre a mesa. Esperamos ela sair para continuar a falar.

– Eu queria que tudo isso não passasse de um sonho. – Ele falou, esfregando o rosto, cansado. – E quem acabou sendo mais prejudicado foi você. Desculpe.

– A culpa não foi nem um pouco sua. – Beberiquei meu café. – A culpa não é sua de ela é uma vaca que traiu você e foi descoberta pela própria filha. – Sorri, sarcástica.

Toda vez que falávamos sobre isso, ambos ficávamos desconfortáveis. Cinco anos atrás, em um dia de aula, eu fui para casa mais cedo. Entrei inocentemente no quarto da minha mãe para falar com ela. E o que aconteceu? Uma menina de doze anos viu sua mãe deitada nua na cama com um homem desconhecido.

Depois disso, Jane, minha mãe, nunca mais conseguiu olhar-me da mesma forma, e fez de tudo para que eu não contasse para meu pai, indo desde um choro fingido, até suborno e ameaça. Nada disso funcionou. Acabou resultando em cinco anos de discussões e brigas verbais.

Isso praticamente destruiu minha adolescência. Não consigo mais confiar em pessoas, conversar abertamente com elas, rir e brincar a todo o momento. Seria muita falsidade e ingenuidade da minha parte. Agora, só consigo confiar em meu pai.

– Mas vamos falar de alguma outra coisa! – Do nada, ele ficou animado. – E os garotos?

– Pai!

– O quê? Não tenho o direito de saber? Já está com alguém?

Olhei com descrença para ele, que ria alegremente.

– Na sua idade, as garotas choviam aos meus pés.

– Tecnicamente, os garotos caem aos meus pés, mas só depois que eu os espanco. – Falei com um sorriso torto.

– Ahn? – Meu pai se engasgou com o expresso.

– Um cara estava me enchendo à paciência. Hoje ele jogou um copo de água em mim. Não me aguentei e dei uma cabeçada no nariz dele.

– Ai. Deve ter sido interessante. Espere, eu não devia estar te apoiando.

Eu estava com um olhar divertido pra ele.

– Você que me ensinou e falou para fazer com garotos abusados.

– Mas eu não pensei que isso aconteceria tão logo! – Papai estava indignado.

Não pude deixar de rir com a cara que ele fez. Voltei a tomar meu café.

– E o rapaz da moto?

Droga. Cuspi meu café quase no rosto do meu pai e comecei a tossir loucamente. Virei-me para o lado e continuei tossindo até que eu me recuperasse.

– Como disse?!

– Você ouviu bem. O que está rolando entre vocês dois?

– Não está rolando nada entre nós! Eu sequer sei quem é ele! Só achei a moto bonita.

Papai deu uma risadinha.

– A moto, pelo menos, você já sabe qual é. E não sei não... Mas ele me parece familiar.

Olhei de esguelha para papai, mas parecia que ele estava falando sério. Ele coçava pensativamente o queixo enquanto girava a xícara na mesa.

– Ah, deixe pra lá. Vamos, temos muitas coisas pra fazer hoje.

A nossa tarde foi simplesmente divertida. Papai me levou num campo de golfe (não que eu soubesse jogar, mas demos boas risadas). Chegamos em casa tarde, já passava das nove da noite.

Na verdade eu moro numa mansão de três andares.

O primeiro andar era composto por um hall de entrada enorme, uma sala de visitas, uma cozinha que tinha mais aparelhos que alguns restaurantes, um salão de festas e uma sala de jantar que tinha como sentar pelo menos vinte e duas pessoas espaçosamente.

O segundo andar abrigava a biblioteca, uma sala de visitas com um pequeno bar, uma sala de televisão que estava mais para um mini cinema, o escritório do papai e uma sala de com uma infinidade de coisas velhas que não conseguíamos no desfazer, como um quadro que eu havia pintado quando criança, documentos que já não tinham mais utilidade nem validade, brinquedos e muitos outros.

No terceiro andar ficavam os quartos, todos eram suítes com duchas e banheiras/ banheiros.

O centro desse andar era uma sala redonda, com um enorme sofá em meia lua. Desse cômodo, saia vários corredores, cada um levando para um quarto. Um desses corredores levava para uma parte externa da mansão. Era uma passarela suspensa, totalmente de vidro, que levava a uma casa secundária de dois andares. Um com academia e sauna, com uma piscina aquecida. No segundo andar era um quarto enorme, com outra pista de dança, uma TV de 64 polegadas e todos os tipos de consoles de jogos.

Ainda no térreo, havia uma garagem anexada, onde cabiam seis carros, com apenas duas vagas ocupadas, uma pela Lamborghini e pelo Porsche.

Desci do carro e apoiei as mãos no joelho, exausta.

– Céus, estou morta! Ainda bem que hoje é sexta-feira! Vou desmaiar na cama!

– Ha ha! Mas primeiro, vamos jantar! – Ele pendurou as chaves no painel de recados da garagem. – Banho ou comida primeiro?

– Banho. – Disse sem pensar duas vezes, e fui para o meu quarto.

Subi as escadas penosamente. Hoje era uma noite mais quente que o comum. Tomei uma ducha rápida e vesti uma calça de viscolycra preta e larga, uma regata branca e uma sandália dourada. Desci os degraus animada e encontrei meu pai na frente de um balcão, com um avental de babados. Corri e me pendurei nos seus ombros. Ele agarrou minhas pernas e girou algumas vezes, até quase fazer com que eu batesse em um dos balcões. Ele sempre fazia isso, e acabávamos rindo bastante.

Ele me colocou no chão e começamos a preparar algo para o jantar. Acabamos fazendo salada de repolho com pepino e frango a parmegiana. Foi um jantar divino, com as primeiras coisas que meu pai me ensinou a cozinhar. Em vez de ir à mesa, sentamos em banquetas altas em voltas dos balcões de granito negro.

– Bea, já te falei que vai ter um jantar dos sócios da nossa empresa semana que vem? – Papai começou a puxar assunto.

– Sério? Que legal! Ainda mais porque a maioria dos sócios é de Londres!

– Isso mesmo. - Ele pegou minha mão e começou a acariciá-la. – E você gostaria de ser minha acompanhante?

Segurei suas mãos entre as minhas. Era visível a fragilidade daquele homem. O divórcio e a traição sugaram quase toda a confiança dele. O problema é que como ele era empresário, isso era inadmissível e jamais poderia ser visto pelos outros.

Senti um pouco de pena do meu pai. O que me restava, e que eu poderia tentar fazer por ele, era restaurar isso, mesmo que lentamente.

– Claro! Seria um enorme prazer pra mim. Seria até uma honra para uma jovem como eu!

Papai deu uma leve risada.

– Fico feliz que queira vir comigo. Não sabe como isso me alegra, ainda mais por fazer tanto tempo desde a última vez que foi comigo nisso...

– Realmente. Faz muito tempo. E você não sabe como eu sinto falta.

Dei uns tapinhas na sua mão, então se levantou.

– Bom, vá dormir. Eu cuido da louça. – Papai deu-me um beijo na testa e enxotou-me da cozinha. – Boa noite.

Subi as escadas e joguei-me na cama. Em poucos minutos já estava dormindo.


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