Once Upon a Time - Lua de Sangue escrita por log dot com


Capítulo 4
Corações Desesperados


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer à Emilly Célia Landwoight e 1908, que tão gentilmente comentaram minha história e me animaram a continuar escrevendo.
Essa capítulo é especialmente para vocês o/



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Floresta Encantada, vários anos atrás…

Era uma noite fria, e Tremaine estava muito nervosa. Apesar do clima fresco, aquele vestido engomado lhe apertava o corpo e a fazia perder o ar.

Tremaine era uma jovem de 18 anos. Tinha os cabelos castanhos e sedosos ondulados, e era realmente bonita. Sua pele era lisa e seus olhos eram claros. Todos os contornos de seu rosto eram extremamente delicados.

Ela vinha de uma família muito rica, talvez a mais rica de todo o vilarejo. E, naquela noite, um homem iria vir lhe pedir em casamento. Não apenas um homem, para ser sincero.

O Príncipe do Reino.

Tremaine estava nervosa. Há semanas atrás, um baile tinha sido dado pelo príncipe para escolher sua futura esposa, tendo ele convidado todas as garotas do reino para esse evento.

Tremaine tinha ido. Mais por obrigação (sua mãe não lhe parara de irritar até ela aceitar ir) do quê por prazer. Mas mesmo assim foi.

Então, quando chegou lá, o príncipe olhou para ela. Ela olhou para o príncipe. E ele escolheu então sua futura esposa.

Os dois bailaram e conversaram até o príncipe lhe informar que desejava sua mão. Então Tremaine se desesperou. Se casar com um Lorde ou até mesmo um Marquês? Não poderia ser tão ruim. Agora um príncipe?

Ela fugiu na hora, com medo das coisas que poderiam acontecer futuramente. Com medo de tudo aquilo ser verdade.

Passaram-se dias, e uma carta chegou em sua casa. Uma carta que informava que, em cinco dias, o príncipe viria para pedir a mão de Tremaine. E que não aceitaria não como resposta.

Agora ela estava nervosa. Em poucos minutos, o príncipe viria e sua vida mudaria por completo.

Tremaine se olhou no espelho. Estava deslumbrante. O vestido branco estava apertado em seu corpo, e seus olhos refletiam bondade e nervosismo.

Ela sorriu. Não havia motivos para ficar nervosa. Tudo ficaria bem no final…

***

O coração de Ashley pulou quando ela viu Thomas conversando com o Dr.Whale. Há dois minutos atrás, ela tinha visto Alexandra. Sua filha nunca esteve tão bem, pelo o quê a enfermeira disse.

Agora, ela só queria ver seu marido.

—Thomas…! - Exclamou ela, abrindo a porta e correndo para seus braços. Tudo o quê ela queria era abraçá-lo. Sentir o gosto de seus lábios nos dele. Sentir seus braços lhe apertando.

Ashley então o abraçou com força, e antes que ele pudesse abrir a boca, ela já tinha beijado-o.

—Eu senti tanto sua falta, Thomas… - Sussurrou Ashley em seu ouvido. Mas ao olhar para o rosto de Thomas, ela se assustou. Ele parecia confuso. Amedrontado.

Então sua boca se abriu, e as palavras que Ashley ouviu a assustaram, e mostraram que definitivamente seu final feliz parecia estar longe.

Mas muito longe de acontecer.

—D-Desculpe, mas… Quem é você?

***

—Cara Tremaine… Quando lhe vi pela primeira vez, meu coração bateu mais forte e meus olhos brilharam. Quando fui falar com você, minha boca secou imediatamente. Eu, que sou um homem seguro e confiante e que nunca me deixei intimidar por uma mulher, fiquei nervoso quando fui tomar a iniciativa da conversa. E é por isso, e por muito mais… Que quero que você seja minha. Para sempre.

—Quer se casar comigo, minha dama, minha bela senhorita? - Disse o príncipe por fim, olhando confiante para Tremaine.

A garota tremia. Sua mão estava estendida, e o príncipe a agarrava com ternura. Lentamente, ela assentiu.

—É o que eu mais quero… - Sussurrou, as palavras saindo trêmulas de sua boca. O príncipe sorriu.

—Meu nome é Viktor, como você deve saber… Minha cara futura esposa. - Ele então colocou um anel de noivado em sua mão e a beijou logo em seguida.

Tremaine fechou os olhos, sentindo o nervosismo passar lentamente.

—O prazer é todo meu, Vossa Alteza Real…

***

Era madrugada. Tremaine não conseguia dormir.

A cada tentativa de manter a cabeça recostada no travesseiro, a lembrança de Viktor a olhando com desejo, dele colocando um anel de noivado em seu dedo… Ela o queria.

Talvez não fosse amor. Talvez só uma paixonite ou o mero desejo corporal. Talvez ela estivesse jogando sua vida no buraco.

Mas a visão de Viktor pedindo sua mão era tão reconfortante, tão bonita…

Então Tremaine se visualizou casada. Cheia de jóias, de dinheiro e de poder. Só que, apesar de possuir tudo isso, ela não tinha amor por Viktor. Afinal, o desejo corporal havia sido saciado, e não havia mais nada naquele relacionamento que realmente a fizesse feliz.

Por alguns segundos ela refletiu, e quase se arrependeu de sua escolha. Depois de vários anos, quando seus cabelos estivessem brancos e suas formas não fossem mais curvilíneas, será que Viktor a amaria? Será que ela seria feliz?

De repente, Tremaine foi tomada por um sentimento antigo, um sonho que ela tinha desde a infância: Viver em um novo mundo. Sem carruagens, sem príncipes sedutores que não aceitam um “não” como resposta, sem todas as confusões mágicas… Desde criança ela sonhou com um mundo onde tomar banho fosse uma tarefa simples, onde as coisas eram mais organizadas, onde tudo fazia sentido.

Toda aquela excitação momentânea pelo príncipe passou, e Tremaine se viu sozinha em seu quarto olhando pela janela, sonhando acordada com esse novo mundo onde ela era livre. Não era casada com Viktor, e sim com alguém que ama realmente. Seus pais não lançavam olhares desaprovadores para ela quando pegava o garfo com a mão errada, e as pessoas não apontavam e cobriam a boca com a mão caso ela abraçasse um homem antes do casamento.

—E é por isso que eu digo… Toda escolha tem um preço, queridinha. - Disse uma voz atrás dela. Tremaine se assustou. Deveria estar sozinha no quarto, mas quando se virou, viu um homem parado, com sua pele, enrugada e gosmenta, com seus cabelos ondulados caindo sobre seus ombros e com aquele olhar que expressava um insanidade incomum.

—Prazer, milady… Meu nome é Rumplestilskin. - Ele estendeu sua mão, e ela recuou assustada.

—Não precisa ter medo… Eu não mordo. - Disse ele, cantarolando. De repente, ele não estava mais na frente de Tremaine. E sim atrás dela.

Ela pulou assustada, e se afastou.

—Uma vez me chamaram de Crocodilo, mas foi só uma brincadeirinha… Meus dentes são iguais aos de todo mundo… - Sussurrou uma voz no ouvido de Tremaine. Mais uma vez Rumplestilskin estava atrás dela.

—Para com isso! - Exclamou ela, com raiva, dessa vez sem recuar.

Ele sorriu com malícia.

—É assim que eu gosto…

—O quê você faz aqui…? - Tremaine perguntou com a voz trêmula.

—Você tem magia. - Disse ele sem rodeios, no que pareceu ser uma afirmação.

—Oi?

—Você tem magia. Eu senti ela pulsando, viva e uniforme, e decidi… Bem, ver o quê estava acontecendo… - Tremaine não estava entendendo nada. Ela, uma maga? Não podia ser. Ela não possuia magia.

—Eu não tenho magia. NÃO SOU UMA BRUXA! E QUERO QUE VOCÊ SAIA DAQUI IMEDIATAMENTE…! - Gritou Tremaine, espumando de raiva. Rumplestilskin apenas riu.

—Eu saio, mas antes me responda uma coisa…

“Você realmente vai se casar com aquele principe? Vai jogar mesmo toda a sua vida fora…?”.

Tremaine se assustou. Como raios ele sabia…

—Eu sei que você não deseja ser apenas mais uma Rainha num reino que já teve várias, Tremaine! Sei que, no fundo, você sonha com algo novo, algo diferente.

Tremaine se arrepiou.

—Eu sei que você sonha com a felicidade, garota! - Rumplestilskin sorria para ela, seu rosto a poucos centímetros do dela.

Tremaine não recuou nem discordou. Sua mente vagava pelo mundo de sonhos criado por ela.

—E eu sei a maneira correta de fazer isso, Tremaine… Eu vejo seu interior, e há magia nela. Uma magia poderosa, pulsante… Eu posso te ensinar a controlá-la… Eu posso…

Tremaine fechou os olhos, lembrando-se de alguns incidentes que haviam acontecido quando era pequena. Às vezes, quando ficava nervosa, um ou outro talher de repente estava levitando; uma vez, a garota havia lançado o pai contra a parede quando o mesmo recusou comprar a boneca que ela queria; houve uma vez que toras de madeira começaram a queimar do meio do nada…

—Você lembra-se, não? Quando era criança, alguns pequenos incidentes que indicaram o início da magia em você… - Sussurrou ele em seu ouvido, fazendo-a se arrepiar.

—Eu posso te ensinar, posso te levar para outro mundo…

Tremaine fechou os olhos, sua mente vagando pela idéia. Seu mundo de sonhos tornando-se real… Ela não precisaria se casar com Viktor… Seria feliz, finalmente feliz...

—Então me leve logo para esse outro mundo, Rumplestilskin… - Sussurrou ela no ouvido dele, sorridente.

***

—Está apertado? - Perguntou Boyd, sorridente. Tremaine estava em frente a um espelho, experimentando um dos vestidos de casamento que Viktor havia mandado para ela naquela manhã. Era feito de seda, com vários cristais cravejados. Deslumbrante na concepção de Tremaine.

—Não, está perfeito. - Respondeu com um sorriso. Boyd achou que o sorriso provinha do fato da amiga estar prestes a se casar com um príncipe, mas ela não sabia da verdade. Não sabia que Tremaine sorria porque havia completado uma semana de aulas sobre magia com Rumplestilskin.

Não que tudo que eles tenham feito fosse sobre magia. A relação entre eles tinham ido além da barreira comum entre um professor e uma aluna. Ido tão além que se sua mãe percebesse que ela havia… Bem, se deitado com um homem antes do casamento e mesmo estando prometida a outro…

Boyd assentiu. A garota era simplesmente a melhor amiga de Tremaine. Tinha cabelos loiros e claros e olhos azuis. Tinha um corpo magro e era realmente bonita.

—Boyd, querida, pode buscar um copo d’água para mim, por favor? - Perguntou Tremaine. Ela estava morrendo de sede. Boyd assentiu, correndo para buscar a água.

—Realmente o vestido ficou bom. - Disse uma voz. Tremaine não precisou se virar. Reconheceria a voz de Rumplestilskin mesmo no leito de morte.

—Pena que não vou usá-lo. - Disse Tremaine, sorridente. Rumple soltou uma de suas risadinhas irônicas.

—Você aceitou minha sugestão? - Perguntou ele. Tremaine assentiu. Duas noites atrás, Rumple havia lhe contado alguns de seus planos. Segundo ele, havia um outro mundo sem magia, onde as pessoas eram, por direito, livres. O mundo dos sonhos de Tremaine. E o Senhor das Trevas tinha algumas idéias que poderiam levar todos para lá. E então convidou-a a participar do plano. Ele tinha dito que apenas algumas pessoas poderiam chegar àquele mundo com suas memórias, e que, se Tremaine fugisse com ele, ela seria uma dessas pessoas.

—Então vamos partir em breve! - Disse ele, animado. As linhas de expressão em seu rosto demonstravam uma alegria incomum que Tremaine achou fofa.

Uma energia então começou a correr por seu corpo, e ela não aguentou. Rapidamente, seus lábios tocaram os do Senhor das Trevas, num beijo molhado e bom.

—Tremaine, aqui sua água… - Disse Boyd entrando no quarto. Rumple virou uma nuvem roxa imediatamente, mas a melhor amiga de Tremaine ainda assim o viu, deixando cair o copo d’água. Seu rosto estava vermelho e ela parecia bem assustada.

—Então seu sorriso é por causa de outro homem? - Perguntou uma Boyd boquiaberta e trêmula.

—Boyd… Sim. Eu não amo Viktor, e não pretendo me casar com ele… Eu…

Boyd não estava mais escutando. Ela já havia saído do quarto e estava descendo as escadas.

—BOYD!! - Gritou Tremaine, com medo. Suas mãos tremiam e seu corpo também. Sentia que, a partir daquele dia, sua vida não seria mais a mesma.

***

—O quê aconteceu, Doutor? Porque ele…? - Ashley estava desesperada. Ela e Whale estavam num escritório, e a garota não parava de se mexer de pedir para o doutor explicar o que havia acontecido com Thomas.

—Ashley, acalme-se, por favor. Estamos vendo o quê…

—EU NÃO QUERO SABER!!!!! - Gritou Ashley, exaltada. Ela estava cansada de enrolações e desesperada por respostas. Seu rosto estava vermelho e ela não parava de se debater, gritando feito uma louca.

—Ashley, eu…

—EU JURO QUE SE EU OUVIR MAIS UMA DESCULPA IDIOTA VINDA DE VOCÊ, WHALE, VOCÊ VAI PERDER ALGUNS DENTES…!!! - Gritou Ashley, avançando para cima dele. Algumas enfermeiras vieram, tentando impedir uma Ashley desesperada e completamente louca de matar o Dr.Whale.

—Okay, okay… THOMAS ESTÁ ENFEITIÇADO, E PROVAVELMENTE NUNCA MAIS SE LEMBRARÁ DE VOCÊ OU DE SUA FILHA!!!! - Gritou Whale, empurrando Ashley para a parede e bufando logo em seguida.

—Thomas foi enfeitiçado. Algo parecido com a Maldição da Rainha Má. Ele não se lembra de você nem de sua filha, nem de nada mais. Provavelmente memórias falsas foram implantadas em sua mente. Desculpa, cara Ashley… MAS EU NÃO POSSO FAZER NADA!!

Ashley estava chorando. De raiva, de dor, de ódio… De desespero.

Whale saiu do escritório estressado, e Ashley ficou ali, chorando.

Depois de vários minutos, a garota sabia o quê fazer. Sabia que, para trazer seu marido de volta, seria necessário falar com quem havia amaldiçoado ele.

Já havia passado da hora de ir visitar Tremaine.

***

Tremaine havia recebido uma carta naquela manhã, que avisava sobre uma reunião na Praça Central do vilarejo, onde o Príncipe faria um importante anúncio. Imediatamente, Rohard e Jimily, os pais de Tremaine, começaram a ficar preocupados.

Mas, no fim das contas, os três se arrumaram e foram para a Praça. Assim que chegaram lá, se depararam com algo no mínimo… Estranho. Um palanque estava montado no meio da Praça, e muitas pessoas se aglomeravam ao redor dele. Viktor estava bem em cima do palanque com uma expressão séria.

E assim que o Príncipe avistou Tremaine, mandou alguns de seus guardas conduzirem ela e seus pais até o palanque. E assim aconteceu: Viktor, Tremaine, Rohard e Jimily e alguns guardas, todos em cima de um palanque.

—Tremaine, é verdade o quê os rumores dizem? É verdade que você me traiu com outro? - Perguntou Viktor em voz alta para Tremaine, silenciando a todos os múrmurios na platéia.

Tremaine sentiu vontade negar. Sentiu vontade de gritar que não, que aquilo era uma grande mentira. Mas sua voz não saiu. Suas mãos estavam trêmulas, e seus olhos lacrimejavam.

—Responda-me, sua garotinha insolente… - Gritou Viktor, dando-lhe um tapa no rosto. O impacto fez Tremaine cair no chão, e ela não aguentou mais.

—Sim, é verdade. Eu nunca te amei. E nunca quis me casar com você… - Sussurrou ela enquanto tentava se levantar do chão. Seus pais ficaram parados, apenas observando. Estavam vermelhos e pareciam ter vergonha de possuirem Tremaine como filha.

Então, possesso de raiva e na frente de todos, Viktor disse:

—Eu poderia muito bem lhe matar, garota insolente… Mas você merece algo pior. Merece piedade. Merece todos ignorando você… Você merece ser infeliz! Eu desmancho todos os meus compromissos com você, para que você seja para sempre lembrada como “Aquela Que Foi Rejeitada Por um Príncipe”...

Tremaine sentiu algo tomando seu interior. Algo obscuro, maléfico… Algo estupidamente bom.

—Sério mesmo? Bom mesmo será você, que para sempre será lembrado como “Aquele Que Foi Traído Por uma Plebéia”... - Disse Tremaine em voz alta. Alguns murmúrios cresceram na multidão, e Viktor a olhou com uma mescla de indignação e estupefação.

—Bom, já que você quer que seja assim… Guardas! Tragam-me os pais dela! - Disse Viktor, sorrindo com malícia. Imediatamente Tremaine foi tomada por um arrependimento de ter dito aquelas palavras. Alguns guardas vieram e lhe agarraram por trás, impedindo ela de se mover.

Enquanto isso, outros guardas praticamente arrastavam Rohard e Jimily para o centro do palanque, bem na frente de Viktor.

Tremaine fechou os olhos quando ouviu os tiros. Fechou os olhos quando ouviu o baque dos dois cadáveres batendo chão. Fechou os olhos para impedir que as lágrimas rolassem por seu rosto.

Seus pais estavam mortos. E a culpa era de Viktor.

O coração daquela garota estava pesado como chumbo, e lentamente ficava cada vez mais frio como um bloco de gelo.

—Você, Tremaine… É alguém que merece ser repudiada. Mulheres como você merecem nada mais que o Inferno. Mulher como você…

—Cale a boca! - Sussurrou ela baixinho. Viktor recuou, levemente assustado. O público parou de vaiar. Todos haviam perdido a fala.

—Eu. Mandei. Você. Calar. A. Boca… - Então Viktor começou a levitar. Uma força apertava seu pescoço, enforcando-o lentamente. A raiva parecia tomar suas veias. Era como se aquela força obscura e malévola estivesse lentamente consumindo cada parte bondosa dentro de Tremaine, como o fogo queimando um pedaço de papel.

Tremaine demorou para perceber que essa força provinha dela. Provinha de sua magia. Ela estava matando Viktor.

E aquela idéia, que deveria assustá-la, não pareceu mais tão perigosa ou audaciosa. Afinal, ela não era uma menininha insolente que só merecia a infelicidade e a piedade? Não era uma alma condenada ao Inferno?

Os guardas do Príncipe se alarmaram, e começaram a atirar flechas de suas bestas. Mas nenhuma atingiu Tremaine, que logo percebeu que estava mais uma vez usando magia.

—Quem merece piedade é você… Seu príncipezinho de merda! - Sussurrou Tremaine, seus olhos brilhando de ódio, enquanto o cadáver de Viktor caia no chão.

Os múrmurios então transformaram-se em gritos. Os guardas olhavam para Tremaine, sem saber se podiam enfrentá-la.

A última coisa que Tremaine viu antes de se teleportar para outro lugar numa nuvem de magia foram os rostos mortos e frios de seus pais.

ANOS DEPOIS…

Tremaine observava pela janela Anastasia e Drizella brincarem. Suas duas filhas ainda eram pequenas, crianças de não mais que cinco anos. Mas sua mãe já podia ver o quê o futuro lhes reservava.

Haviam se passado anos desde o incidente com Viktor. Depois da bagunça generalizada, um novo Príncipe havia assumido o controle do Reino: Mitchell, o irmão mais novo de Viktor.

Caçaram Tremaine por anos, mas no fim desistiram. Afinal, Viktor havia matado os pais de Tremaine, e uma das leis daquele reino era: “Olho por olho, dente por dente”. No fim das contas, decidiriam que Viktor havia pagado o preço por ter se metido com uma feiticeira, e que o máximo que eles podiam fazer era cobrar uma multa daquela garota.

Então Tremaine pôde voltar para seu vilarejo e para sua casa. Porém sem o mesmo status de antes. Agora, apesar de não perseguirem mais ela, as pessoas a ignoravam. Não falavam com ela, não demonstravam sinais de saberem de sua existência. Tremaine aos poucos perdeu o dinheiro que tinha pagando as multas impostas pelo novo Príncipe, Mitchell.

Então ela se casou com outro para ter mais dinheiro. Teve duas filhas com ele, mas ele acabou falecendo num trágico acidente. E agora, depois de todos aqueles anos, Tremaine estava mais uma vez sozinha.

Rumplestilskin nunca mais havia aparecido para ela. As pessoas nem ao menos davam-lhe “bom-dia”. E suas amigas… Bem, Tremaine não queria falar com elas, pois Boyd estava lá.

E ela tinha certeza de que tinha sido Boyd quem contara para Viktor sobre o seu caso com Rumple.

Seu marido tinha sido seu verdadeiro e único amor. Ele havia aceitado ela do jeito que era, mesmo com todos os defeitos e sabendo sobre a morte de Viktor. Sempre havia lhe entendido, sempre havia a ajudado.

Mas agora ela não o tinha mais.

Tremaine era uma mulher mais velha agora. Tinha já alguns poucos cabelos brancos, e sua face não era mais tão lisa e bela como antes. Tinha engordado bastante, mas não era isso que fazia dela uma pessoa horrenda e assustadora.

Aquela expressão fria, de amargura e dor que sempre estava estampada em seu rosto é que assustava as pessoas.

Tremaine olhou pela janela mais uma vez. Anastasia e Drizella estavam brincando na rua feito dois moleques de rua. Enquanto isso, do outro lado, uma bela carruagem passava, transportando Boyd, seu marido e sua pequena filhinha, Cinderella.

Aquele antigo fogo obscuro e malévolo começou a queimar dentro do peito de Tremaine. Mesmo depois de tudo que havia feito, Boyd havia tido um final feliz. Mesmo depois de tudo… Aquela mulher havia traído e causado a morte dos pais de Tremaine.

“Ela não merece ser feliz”, pensou Tremaine com raiva. Ela merecia morrer tanto quanto Viktor mereceu. Ela merecia ver tudo desmoronar em sua vida. Ela merecia…

Tremaine então começou a pensar em como seria maravilhosa entrar na casa de Boyd, no meio da noite, e envenenar sua comida. Depois, como seria bom arrancar o coração de seu marido e controlá-lo, forçando-o a se casar com ela. Como seria bom se a guarda de Cinderella fosse para ela.

Como seria bom estragar o final feliz daquela que um dia tinha sido sua melhor amiga.

Tremaine percebeu que seu plano já estava montado e que ela o executaria em breve. Boyd morreria por suas mãos. Depois, seu marido se casaria com ela, só para morrer logo depois num “trágico acidente” causado por Tremaine. Enfim, Cinderella seria sua.

Aquela garotinha bondosa e dócil que era elogiada por todos na rua seria sua, e Tremaine faria de tudo para esmagar cada centésimo de bondade dentro dela. Então, quando a mesma crescesse, não seria mais motivo de orgulho para o vilarejo. Seria apenas uma menina má, cruel e insensível que todos repudiavam.

E Anastasia e Drizella, que sempre foram maltratadas e ignoradas por todos naquela vila, seriam meninas boas. Comportadas, belas e… Da Nobreza. Afinal, Mitchell tinha um filho chamado Thomas. Pequeno ainda, mas um dia teria que se casar, e para manter as tradições, um baile seria dado para todas as mulheres.

E ou Anastasia ou Drizella seriam escolhidas por ele. E Tremaine seria levada para o Palácio Real, onde teria a vida de Rainha que rejeitara por Rumplestilskin. O homem que nunca mais falou com ela depois da mesma ter matado Viktor.

Tremaine sorriu pensando naquilo. Se fosse a mãe de uma Rainha, poderia obrigar as pessoas a se ajoelharem perante ela. Poderia obrigar a todos que a rejeitaram que beijasse o chão em que pisasse. Poderia, enfim, ter sua vingança.

A partir daquele dia, a jovem e sonhadora Tremaine havia morrido, e havia surgido no lugar uma Tremaine fria e calculista, que abdicaria até de sua magia para ter o quê queria.

Havia surgido um coração desesperado por vingança.

***

Ashley estava na sala da Xerife, de frente para a cela de Tremaine. Sua madrasta estava deitada, e parecia amendrontada.

Emma havia deixado Ashley entrar para conversar com Tremaine por alguns minutos. A garota precisava descobrir o quê havia acontecido com Thomas.

—Tremaine! - Chamou ela. Ashley tentava parecer forte e confiante, embora por dentro se sentisse fraca e pequena.

Sua madrasta a olhou de relance.

—Eu quero saber o quê você fez com Thomas… Me conte agora! - A voz de Ashçey tremia. Ela estava desesperada por respostas.

—Sabe, Ashley… Você é tão idiota a ponto de achar que contarei algo a você? - Disse Tremaine, fria. Ashley pareceu ter levado um tapa.

—Posso te obrigar, se eu quiser. Posso…

—Pode o quê? Vamos, fale. Quero ver a Gata Borralheira mostrando para quê veio ao mundo. - Tremaine estava agarrada à cela.

—Oras, me conte mais sobre essa sua audácia repentina, menina… Quero ouvir qual ameaça uma fracote como você pode me oferecer…

Ashley parecia estar à beira de ter um ataque.

—Me diga, por favor…

—Bom… Você não poderá fazer nada mesmo.

“As memórias de Thomas foram substituídas por outras memórias. Agora ele acredita ser outra pessoa, com outra história… E definitivamente, você não faz parte da vida dele.”

—Então o quê…?

—Thomas não se lembrará de nada até a Lua de Sangue acontecer. Aliás, ele não se lembrará nunca, pois até a Lua de Sangue… Creio que ele já estará morto!!

“Morto, morto, morto…”, repetiu Tremaine, sorrindo para uma Ashley que chorava sem parar.

—Não há nada que você possa fazer querida. Assim como você não pôde fazer nada quando matei sua mãe, controlei e, posteriormenter, matei seu pai, e fiz de sua vida um inferno… Não importa se você se casou com um príncipe, ou se você acha que viveu feliz para sempre. Você não pode fazer nada para se ver livre de mim. - Disse Tremaine, sorrindo. Ashley parecia estupefata.

—Minha mãe… VOCÊ MATOU MINHA MÃE?

Tremaine assentiu.

—Nunca tive tanto prazer em esmagar um coração.

Ashley estava se debatendo compulsiva sobre a grade da cela de Tremaine.

—ME CONTE… POR FAVOR… O QUÊ POSSO FAZER POR THOMAS… ME CONTE...

—Nada, querida… Nada irá trazê-lo de volta para você… Nada…

***

Regina estava em seu escritório, pensando.

Havia acabado de conhecer Robin Hood, o ladrão. Ao mesmo tempo, havia acabado de descobrir que ele era o único que poderia trazer felicidade à ela, que ele era seu verdadeiro amor.

Ela tinha medo de prosseguir nessa empreitada. O amor… Bem, ele machuca as pessoas. Havia machucado ela mais de uma vez.

E depois de Henry não se lembrar mais dela, depois de todo o nervosismo que a chegada da Bruxa Má estava causando… Tudo o quê Regina menos queria era se machucar.

Então seu celular tocou. Regina atendeu com má vontade, sua voz soando fria quando disse:

—Alô…?

—Você irá sofrer, Regina. Eu me vingarei de você… Por tudo o quê você me fez sofrer… Aguarde a Lua de Sangue…

Então a pessoa desligou. Regina franziu o cenho. Devia ser um trote de algum moleque por aí que odiava a “Rainha Má”. A prefeita deu de ombros e saiu de seu escritório.

Se ela ao menos tivesse dado mais atenção àquele telefonema, muita coisa ruim poderia ter sido impedida. Muitas mortes poderiam ser evitadas.

Storybrooke poderia ter sido completamente salva.


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Notas finais do capítulo

Bom, e então é isso... No próximo capítulo sairemos um pouco da visão de Ashley/Tremaine/Thomas e entraremos em um novo ciclo de confusões...
Digamos que uma conhecida de João e Maria virá visitá-los, e que as consequências não serão nada agradáveis.
Se puderem, deixem seu comentário sobre o que gostaram/não gostaram do capítulo. Abraços e... Aguardem!!!



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