Os 10 dias na casa dos pais estavam passando devagar demais. O coração de Hermione acelerava sempre que pensava em Draco e congelava ao se lembrar da despedida cheia de mágoa e indiferença. Seria Possível que eles terminassem daquela forma, sem mais nem menos, sem ao menos uma conversa final?

Nada parecia certo em sua mente. Lembranças das brigas e dos momentos felizes, ela tentando encontrar um vestígio de culpa, algo que tivesse feito Draco agir daquela maneira. Mas ela não encontrava. Hermione Granger estava, pela primeira vez, sem solução para um problema.

Estava deitada na cama, com os fones de ouvido tocando as musicas antigas de seu IPod trouxa. De repente, se levantou, pegando um pedaço de pergaminho e uma pena. Precisava desabafar, tirar o peso das costas. E sempre fizera isso escrevendo.

Querido Draco,

Eu nem sei direito por que eu estou escrevendo isso, para ser sincera. Mas a verdade é que já se passaram cinco dias desde o último dia de aula e não consigo pensar em mais nada senão na nossa conversa. Se é que podemos chamar aquilo de conversa.

Durante dois meses, eu fui a pessoa mais feliz de todo o mundo trouxa e bruxo, e você sabe bem disso, não é? Tudo aconteceu de forma rápida, intensa e surpreendentemente inovadora. Dizem que o destino prega peças e, sem duvidas, você foi a maior delas. Entre o amor e o ódio há uma linha tênue, diz o ditado. E nós dois estamos aqui para comprovar que ele é verdadeiro. Afinal, quem diria que Hermione Granger, a sabe-tudo, e Draco Malfoy, o galã, formariam um casal?

Devo te confessar que nunca gostei de perder o controle das coisas. Sempre tive todas as cartas na manga, sem surpresas, tudo certo e seguindo um cronograma. E aí você chegou com esse seu cabelo loiro aguado e esses olhos acinzentados e conseguiu me tirar o comando da minha própria vida. Em duas semanas, eu me vi nas mãos do meu até então inimigo, mas que não era não ruim assim. Eu tive que “deixar a vida me levar”, da forma mais literal. E hoje, posso dizer: obrigada. Eu nunca me senti tão livre, nunca tão leve, nunca tão apaixonada.

Eu me lembro da primeira noite em que tudo começou, quando eu topei com você. Eu estava chorando pelo Rony, se lembra? Você caçoou de mim. Mas depois veio o incêndio. Eu me vi perdida, me vi acabada. E aí, quando todas as esperanças já tinham ido embora, alguém me salvou. Você me salvou. Salvou não só do fogo, mas também de mim mesma. Aqueles dias na enfermaria, quando ficávamos trocando insultos e ao mesmo tempo abrindo sorrisos foram essenciais para eu me reconstruir.

Nosso primeiro beijo, então, foi digno de novela mexicana. Foi tão espontâneo, tão mágico e tão intenso que até hoje não tenho palavras para descrevê-lo. Mas naquele momento eu já soube: estava completamente apaixonada por Draco Malfoy.

No começo eu neguei. Neguei para todos, inclusive para mim mesma. Não era possível que eu me apaixonasse justo pelo garoto que me esnobou por seis anos! Não era justo! E eu pensei assim por muitos dias, até o trabalho começar. Como se não bastasse toda a confusão que estava a minha vida, eu fui comunicada de que iria passar um mês dividindo quarto com você. Aquilo era loucura!

Ou talvez fosse o destino querendo nos mostrar que negar não adiantaria em nada.

Eu me lembro da nossa trégua, quando paramos com os insultos, ou pelo menos com parte deles. Foi naquele momento que eu percebi que você também estava cansado daquela implicância sem motivo e dos tratamentos grosseiros. E eu fiquei tão feliz com isso, Draco! Porque eu achei que talvez houvesse uma mínima possibilidade de nós darmos certo.

E tudo caminhou para isso.

Os filmes, as dormidas, as brigas... Ah, eu nem posso descrever o quanto eu chorei no colo da Gina quando nós brigamos e o tamanho do meu sorriso quando nos acertamos.

E entre erros e acertos, tropeços e passos em branco, fomos traçando o nosso caminho e a nossa história. A partir dali, não éramos mais Draco e Hermione. Éramos Dramione, (haha, tenho que confessar que amei esse apelido para nós dois.)

Eu vou repetir o que eu já te disse pois eu tenho que admitir um milhão de vezes o quanto eu estava errada ao seu respeito. Você era muito mais do que eu pensava. Muito mais carinhoso, muito mais humano. E também era um garoto, que passava imagem de forte mas que tinha dentro de si um fardo que muitos não conseguiriam carregar. Um fardo que eu mesma nunca conseguiria agüentar, e você nunca tinha reclamado para ninguém, nunca se deixou abalar.

E você se abriu comigo. Eu nem sabia o que falar quando vi que você tinha confiado a mim seu maior segredo, tinha se aberto e mostrado o que tem por trás dessa sua máscara de galã. É algo tão lindo, Draco! Você fez muitas escolhas erradas sim, mas por dentro você é um garoto que, na minha opinião, todos deveriam conhecer e se orgulhar de ter ao seu lado. Assim como eu me orgulho de dizer: “Eu conheço o verdadeiro Draco Malfoy”. Ou, ao menos, eu conhecia.

Nesse momento, eu estou tão confusa, Draco... Não consigo perceber o que há de errado com a gente. Depois da apresentação, depois daquela noite... você simplesmente mudou drasticamente, de uma hora para outra. Voltou a ser o Draco que eu conheci no primeiro ano, sempre frio e calculista.

Mas eu sei que você não é assim.

Eu sei que você não é frio, sei que tem sentimentos e sei que o que nós temos não poderia se esvair de um dia para o outro.

Eu te amo, Draco Malfoy. Eu te amo e quero que você saiba que o que quer que esteja acontecendo você pode me falar, porque nenhum problema vai me machucar mais do que você me machuca me tratando como se nada tivesse acontecido.

Com todo o amor que eu sinto, e talvez mais um pouco,

Sua Hermione.

Ela dobrou o papel ao meio e escreveu o endereço, nome e sobrenome do remetente. Deu o pergaminho a sua coruja, que saiu voando em direção ao destino.

Ela precisava de respostas. E precisava ser naquele momento.