Hermione levantou no dia seguinte radiante, como uma garotinha que sabe que vai receber um presente do papai Noel. Pulou da cama e se trocou, pondo uma roupa normal. Ah, como sentira falta de se vestir como uma trouxa às vezes. Jeans, uma camiseta vermelha com um moletom e seu fiel cachecol, única marca da escola. Amarrou o cadarço dos “all-stars” pretos e desceu para o salão, ao perceber que nem Lorena nem Gina estavam no quarto.

– Bom dia!- exclamou para os amigos, em sua maioria ainda sonolentos.

– Que animação é essa, Hermione? – perguntou Harry, coçando os olhos e a encarando. Ela sentiu as bochechas ficarem quentes e balançou a cabeça, se sentando.

– Estou animada para as férias de inverno, Harry.

– Hm... Ta com cara de que o encontro de ontem foi bom, em? – Gina- nem sempre conveniente-Weasley apontou, abraçando a amiga e notando imediatamente o colar. – Ai meu deus! Não acredito, que lindo! Harry, por quê você não me dá essas coisas?

– Por que ele deveria? – questionaram Fred e George, sorrindo marotos e fazendo a caçula levar as mãos na boca como quem falou demais. Lorena e Hermione riram, já que tinham sido informadas da notícia na noite anterior. Ron ficou vermelho como seus cabelos e encarou Harry, que olhava para baixo.

– DÁ PARA ALGUÉM EXPLICAR?!

– Não é nada, Ronald! Eu quis dizer Dino, mas me confundi.

– Vocês não terminaram?

– Sim! Quer dizer... Ah, Ronald, me poupe! – ela olhou no relógio e, para seu alívio, era hora do café. – Temos que ir, partimos ao meio-dia! – e a ruiva desapareceu por entre as cabeças, deixando todos rindo e Ron bufando.

– Harry... – começou ele, mas o moreno logo se esquivou e saiu, enrolando a língua e dizendo algo como “falar café nós vemos depois”. – Vocês? – ele finalmente encarou as duas garotas que riam, mas ambas negaram balançando a cabeça. – Estão todos contra mim nesse palácio! – e bateu o pé, caminhando em direção oposta ao refeitório.

– Para onde ele vai? – questionou Hermione.

– Sei lá. – retrucou George.

– Ele é completamente....

– Extremamente...

– E infelizmente...

– Maluco. – ambos os gêmeos assentiram, balançando a cabeça em sinal de desaprovação. Era cômico como era comum para eles completar frases um do outro era comum. Realmente, não se podia imaginar como um viveria sem o outro.

– Vamos comer? – Lena sugeriu e logo todos concordaram, caminhando juntos.

Chegando, a primeira coisa que Hermione enxergou foi o namorado, que comia calmamente na mesa decorada com verde e prata. Ao seu lado, Pansy falava seriamente com ele, mas ele só balançava a cabeça murmurando algo que para Granger foi algo como “É o melhor.”.

Ela caminhou até os dois e os cumprimentou com um sorriso.

– Bom dia, Granger. – saudou Parkinson, dando uma cotovelada discreta no melhor amigo, que sequer levantou os olhos da comida.

– Draco? – Hermione falou calma, pondo a mão em seu ombro, mas ele se esquivou de maneira tão abrupta que ela recolheu-a.

– Oi, Hermione. – a voz dele foi seca e grossa, ao contrario da noite anterior. Se ela não conhecesse-o, diria que não era a mesma pessoa, ou que estava enfeitiçado.

Mas esse era o problema. Ela o conhecia e sabia muito bem de como ele podia ser grosso e frio. Só não esperava que aquele tom fosse ser dirigido à ela levando em conta os acontecimentos.

Por fim, ela se virou, magoada, e seguiu para a mesa com seus amigos, concluindo que talvez depois do dia anterior ele precisasse de tempo ou que estava com muito sono.

O último café da manhã do semestre foi sem dúvida muito animado. Todos conversando sobre as férias e sobre o semestre seguinte, fazendo planos e se despedindo. Hermione ouvia a todos e contava que iria para a casa dos pais, para encontrar depois os amigos na Toca, mas não prestava real atenção. Seu coração estava 3 mesas a esquerda, nos olhos perdidos e tempestuosos de Draco.

Quando ele se levantou para ir embora, a namorada o seguiu rapidamente, puxando seu pulso.

– Draco, espera!

– Eu tenho que arrumar as minhas coisas, Hermione.

– O que está acontecendo com você? – ela soltou, o encarando nos olhos com um olhar cheio de mágoa. O garoto suspirou e murmurou algo. “Isso está sendo muito mais difícil do que eu pensava.”- O que?

– Nada, Hermione. Eu tenho que arrumar as minhas coisas. – repetiu lentamente, sem indicar emoção alguma na face. Seu rosto estava Gélido e os olhos novamente se recusavam a encontrar os dela. Ele puxou o pulso de volta e se virou. Para muitos, aquilo poderia ser um simples gesto, mas ambos sabiam o que significava. – Boas férias, Granger.

Granger. O mundo de Hermione parou ao ouvir novamente aquele sobrenome vindo da boca de Draco. Ainda mais com o tom indiferente e frio, que a mais de dois meses ele não usava. O tom que ele usava quando a desprezava.

– Boas férias, Malfoy. – retrucou ela, tentando ao máximo parecer indiferente ao que acabara de ocorrer.

Afinal, aquilo era só uma briga, não era?

A garota continuou encarando o corredor na medida que o loiro sumia por entre a multidão, até que Gina chegou por trás dela.

– Problemas?

– Nada demais. – respondeu somente. Sabia que podia confiar na amiga, mas não iria estragar o clima “romântico e fofo”, segundo ela mesma, que havia se instalado desde que Gina deixara de ser solteira.

– Se você diz... – a ruiva deu de ombros, puxando Hermione para pegar as malas. Sem dúvidas, aquelas férias seriam cheias de surpresas.

A garota se perdeu em pensamentos durante o trajeto até o trem, onde se sentou na janela e passou a viagem inteira encarando as inúmeras árvores do trajeto. Aquilo não era o que ela tinha imaginado para a viagem, com certeza. Em seus pensamentos, ela estaria junto à Draco e quem sabe até com Pansy e Nott, com o namorado a chamando de pequena e dizendo o quanto ela faria falta durante aquele mês.

Pois é, as coisas mudam.

– Hermione? Hermione, chegamos! – Lorena a chacoalhou suavemente, a chamando. A garota sorriu, assentindo e arrumando o cabelo rapidamente. Se levantou para abraçar a todos os amigos, que ela só encontraria depois do ano novo.

– O presente de vocês eu vou entregar quando for à Toca, ok?

– Boas férias, Mione! – Harry a abraçou. – Nos vemos em 20 dias.

– Com certeza!

– Vou morrer de saudades de você sua idiota. – Gina interrompeu o amigo/namorado e completou, sussurando. – Fica bem e me avisa caso o Malfoy precise de uma lição. – Hermione riu, assentindo.

– Pode deixar. Vou ficar com saudades de você e da sua simpatia, Gina. E boa sorte contando a todos.

– Nem me lembre disso! – ela sorriu uma última vez e saiu logo atrás de Harry. Hermione se despediu dos Gêmeos e de Luna, descendo na plataforma ao lado da amiga que a tinha acordado.

– Vai estar na Toca quando eu for?

– Vou sim. – afirmou Lena, sorrindo. – Feliz Natal, Hermione. Boas férias.

– Pra você também, Lorena. – respondeu simpática e logo viu a careta da outra ao ver Astória e Alex descendo do trem.

– É a minha deixa. Nos vemos! – ela saiu correndo em direção a família e Hermione a seguiu com o olhar, observando o rosto de desgosto dos pais a repreendendo por ser da Grifinória. É, ela nunca entenderia o preconceito de sangue que existia no mundo bruxo.

Desviou o olhar um pouco para esquerda e, logo antes de passar por entre as plataformas e encontrar seus pais, pousou os olhos em Draco, que para sua surpresa também a olhava. Mas ao contrario das outras vezes, ele não sorriu. Encarou um ponto aleatório e voltou sua face para a indiferença que tanto machucava a morena.

E ela atravessou a parede com seu carrinho, tendo a certeza de que passaria aquelas férias sem a melhor parte de seu coração, que acabara de ser despedaçada e cortada em mil pedaços.