Hermione não estava preparada para a rasteira que o destino lhe dera. Ela estava bem só com os problemas que já tinha e, por Merlin, deter Voldmort já era um problema e tanto! Mas não, não podia ficar assim. Tinha que botar um garoto no meio. Tinha que botar ele no meio.

A menina bufou e afundou sua cabeça no travesseiro, ainda pensando na conversa que tivera um tempo atrás com Draco. Aquela conversa fora tão estranha... Ao mesmo tempo que ambos queriam sorrir, não paravam de magoar um ao outro.

Talvez fosse isso que soubessem fazer, afinal, com todo o amor que sentiam: transformá-lo em ódio. Mas como era possível que um sentimento tão bonito desse origem a um tão horrendo? Como a pureza do amor podia ser substituída tão rapidamente pela secura do ódio?

Hermione não tinha a resposta para nenhuma dessas perguntas, o que a irritava profundamente. Sempre teve mania de querer saber de tudo, controlar tudo, ter tudo na palma da mão, nunca gostou de não ter controle sobre as coisas. E agora, parecia que nada tinha sentido.

Seu coração batia de forma diferente, suas atitudes estavam diferentes. E a apavorava o fato dela saber que não encontraria a solução para isso em livro algum. Nenhum conhecimento a ajudaria.

É, definitivamente, ela era um fracasso nisso, fosse lá o que fosse.

A menina pegou o computador, que estava em sua parte do quarto e decidiu fazer o que uma adolescente comum faria em um momento desses: ouvir musica. O problema é que, devido ao fato dela não ser uma adolescente comum, nada sabia das atuais musicas. Só restou a boa e velha Disney.

E ela nunca desaponta.

As musicas passavam e ela relembrava de sua infância, de seus pais, de sua casa. Era uma ótima distração. Musicas de todos os filmes, de todos os gêneros. Até que a musica deles resolveu a assombrar. Ela apertou o botão de próxima rapidamente, antes mesmo de ouvir uma nota.

A canção seguinte era do filme Hercules. Ah, a quanto tempo que a morena não assistia-o! Fechou os olhos e prestou bem atenção na letra, que logo se mostrou quase como legenda do que ela estava vivendo.

“No chance, no way, I won’t say I’m in love

It’s tôo cliché, I won’t say it

This scene, won’t play

I won’t say I’m in love

At least, at loud

I won’t say I’m in love....”

( Sem chances, eu não direi que é paixão

É tão clichê, não direi

Esse papel não farei,

Não direi que é paixão

Pelo menos, em voz alta

Não direi que é paixão)

Hermione soltou um longo suspiro ao terminar de ouvir. Se existia uma personagem que a ilustrava no momento, era Mégara (N/A para quem não sabe, é a princesa do filme Hercules, da Disney).

Dali a pouco tempo, as vozes que aconselhavam Mégara começaram a cantar na cabeça de Hermione os versos da canção, em que explicitavam o amor da princesa por Hercules.

“Why you keep denying

Who are you and how you’re feeling (...)

Who'd ya think you're kidding?

He's the earth and heaven to ya

Try to keep it hidden, honey we can see right through ya

Girl ya can't conceal it

We know how you're feelin', who you're thinking of”

( Por que continua negando

Quem você é e como se sente?

Quem você pensa que está enganando?

Ele é a Terra e o Céu para você

Tente manter em segredo, querido nós podemos ver através de você

Garota, não pode esconder isso

Sabemos como você se sente e em quem está pensando)

Maldição essa voz! Hermione não estava apaixonada, não estava sentindo “amor” nenhum! Só ódio daquele cabeça dura! Só vontade de dar-lhe um tapa na cara e depois de beijá-lo.

Ah, quem ela estava tentando enganar? Ela queria tanto acertar tudo quanto ele, porém mal ela sabia que Draco também sofria com a situação. Queria poder apresentá-lo aos seus pais, beijá-lo em público. Queria que as casas de Hogwarts fossem para o inferno! Para o inferno com a guerra!

Naquele momento, ela queria explodir Voldmort e todos os comensais da morte ( menos Draco, claro). Queria, como em um passe de mágica, transformar a escola em um lugar onde as casas pouco importassem. Queria ter certeza que Rony e Harry a entenderiam e apoiariam suas decisões. Queria não ter que pensar em nada, não ter que ocupar lugar algum. Ela queria um mundo onde só os dois importassem. Um mundo ideal, só para os dois.

Mas bem sabia Hermione que esquecer os problemas só a afundaria mais. Ela precisava ajudar seus amigos na guerra que estava cada vez mais iminente. Precisava passar de ano com notas boas, para orgulhar os pais. E ainda precisava se resolver com o loiro, sendo essa resolução boa ou ruim para eles.

Por onde começar? Ela não tinha ideia. Mas não era mais viável permanecer naquele sofrimento. Ela teria que dar um basta.

Os olhos da menina já ardiam novamente. Quando ela tinha se tornado uma chorona?

– Destino, por que?- ela murmurou, olhando para o Ceu- Por que dentre todos os caras do mundo, você me faz querer exatamente o que eu nunca terei? Por que um comensal? Por que um sonserino? Por que o Draco? – ela teve de parar pois os soluços a impediam de pronunciar uma palavra sequer.

Droga. Como ele mexia tanto com ela? Como, por Merlin, Hermione Granger podia estar tão apaixonada como Draco. E como nenhum dos dois enxergava isso? Que diabos de sentimento era aquele?

A resposta era um tanto quanto evidente, mas ela se mantinha cega. Ela não queria creer, não queria ver. Afinal, o amor é complexo demais para ser entendido, simples demais para ser acreditado e forte demais para desaparecer tão rápido.