– Hurgh, que criatura é essa? – Diz Nicole, colocando a mão sobre a boca e virando de lado.

– Nicole! – reprende Rick. – Você está bem? – A pequena criatura nos observa com seus olhos grandes, brilhantes e assustados. Eu caminho até ele e me agacho perto do ser.

– Esta tudo bem, não vamos te machucar pequeno. – Digo enquanto estendo minha mão para ele. Ele recua e fica meio acuado, mas depois de um tempo põem sua mão sobre a minha. Fico impressionada o quanto era pequeno a mão dele sobre a minha, do tamanho de uma mão de bebe. – O que aconteceu com você?

– Eu estava no bosque, na vila dos gnomos quando fomos atacados. Foi um massacre. – Diz ele, completamente assustado e com tristeza.

– Atacados? Atacados por quem? – Pergunta Rick.

– Por um exército, um exército de cobras. De todos os tamanhos, formas e totalmente assustadoras. – Diz o pequenino.

– Que horror. E você está bem? Não está machucado?

– Eu só machuquei minha perna enquanto caía, não foi nada. – Ele mostra a perna, com um corte sobre os pelos.

– Gnomos tem casco? – É Nicole que pergunta, e realmente ele tinha cascos e eu não tinha notado antes.

– Gnomos não, mas eu sou um hibrido. Gnomo – ele coloca a mão sobre a cabeça – elfo – aponta para as orelhas pontudas – e sátiro – e aponta para os pequenos cifres que possui escondido entre o cabelo.

– Eita, que bela cruzada. – Responde Nick balançando a cabeça. A criaturinha parece não ter entendido a piada pela expressão de seu rosto.

– Então, ele ficará com nós até conseguirmos ajuda? – Pergunta Rick, que já não esta mais com o galho na mão.

– Por mim ele pode ficar. Claro se ele quiser. – Respondo.

– Por mim tanto faz. – Diz Nicole dando de ombros.

– Se vocês deixam. Eu sou Rick, essa é Daiana e aquela é Nicole.

– Eu sou Stilex, um hibrido do bosque.

Após acolhermos Stilex com nós, voltamos a dormir. Pelo menos eles foram dormir, eu fiquei de guarda por que já não estava mais com sono mesmo. Caminhava lentamente em volta da fogueira, rasgando uma folha lentamente nas mãos. Acho que não precisávamos de provas para saber que o ataque aos gnomos tinha a ver com o que estávamos passando. O que esta acontecendo com o mundo? Esta tudo de cabeça para baixo. Queria que a Jhynn estivesse aqui, na nossa infância era ela que resolvia as coisas, brigava com as crianças mais velhas e afrontava nossos pais.

Meus pensamentos se foram quando eu escutei algo. Não ouvi apenas um som, mas uma sequência de sonoridades diferentes, como se a floresta estivesse se movimentando sobre os meus pés. – ACORDEM AGORA!

Gritei o mais alto que pude, já estava em pânico em poucos segundos. Se não tivesse um enfarte naquela noite certamente meu coração era o melhor de todos.

– O que esta acontecendo agora? – Nicole diz, sem se levantar do chão. Rick e Stilex se levantam sem entender nada.

– O que foi? – pergunta Rick, mas segundos após ele falar os sons aumentam o seu “volume”, ecoando pela mata. – Que diabo é isso? – O som que era uma mistura frenética de ruídos, galhos quebrando, folhas secas se amassando, pedras batendo e gruídos baixos. – Alguma coisa esta vindo em nossa direção.

Antes que alguém pudesse falar algo, ouvimos o grito ensurdecedor de Nicole. Olho para ela desesperadamente e tem três cobras passeando sobre o seu corpo. – As cobras me acharam. – Diz Stilex assustado.

– Puta que pariu. – Diz Rick. Olho para onde ele esta olhando, mas ele está olhando para tudo, para todos os lados porque em todos os lados tem cobras. Se rastejam em nossa direção, estão nos galhos das arvores e na grama do chão.

– Eu vou morrer. – Choraminga Nicole. Stilex corre até Nick e punha uma adaga. Ele corta a cabeça de uma cobra que esta perto do rosto da garota, fazendo-a gritar. Depois ele esfaqueia as outras duas criaturas.

Vou até os dois e puxo Nicole pelo braço para ela se levantar. – Vamos, agora.

Rick não me escuta e então eu dou um tapa na sua nuca. – Chega de apreciar as anacondas, vamos correr. – Digo para ele que logo se assusta e em seguida corre atrás de Nicole e Stilex que já saíram em disparada na frente. Mas as cobras estão pelo caminho todo e precisamos pular e desviar delas.

– Façam alguma coisa, eu sou a humana imprestável aqui, lembram? – Diz Nicole arfando na nossa frente.

– Rick, você pode fazer algum feitiço?

– Eu estou esgotado, mas posso tentar algo Daia. – Após ofegar as palavras ele para, mas eu não paro para esperar. Ele precisará atrasar as rastejantes, por que eu estou exausta de mais, Nicole não pode fazer nada e Stilex apesar de ser uma criatura dos bosques, ele é muito novo.

Olho para trás e grito – Vamos logo Rick Never.

Ele olha para mim e vejo que de suas mãos escorre pequenas cachoeiras de água, que acabam empurrando as cobras que estão se rastejando em nossa direção. – São muitas, corre Rick.

Ele corre atrás de mim, mas ouço-o gritar alguma coisa sem sentido aos meus ouvidos e então ele vira para a direita. O que ele está fazendo? – Vamos se separar? – Grita Stilex ao ver Rick correndo, já longe de nós.

– CUIDADO! - Minha voz falha e sinto minha garganta doer, e eu preciso parar de correr. Esbarro em uma arvore de propósito para parar. Uma arvore caí na frente de Nick e Stilex, minada de cobras. Nicole corre em direção do Rick, apesar de que não conseguirmos mais enxergá-lo e o gnomo vai pela esquerda. Vou atrás de Stilex, não posso deixar um garoto sozinho.

Eu e Stilex corremos lado a lado por cansáveis minutos. Meus pés doem como se estivesse pisado em um formigueiro e minhas coxas parece que vão despencar. – Ali! – Aponta Stilex, para um rio que tinha um pouco mais a nossa esquarda.

– Vamos nos distanciar ainda mais dos outros. – Digo a ele.

– Nós vamos morrer se não nos refugiarmos.

Concordo com a cabeça e então corremos até o rio. É bom sentir a água gelada molhar meu corpo, queria ter forças para lutar. Na metade do rio, onde a água já bate na minha cintura, eu preciso levar Stilex nos ombros e penso que acabei de conhecer e já estamos nos ajudando e confiando um ao outro. Após chegarmos a outra margem do rio, sentamos sobre os cascalhos da margem. Stilex suspira aliviado, mas eu imagino que ainda não acabou.

As cobras se aglomeram na margem, mas não entram na água. Não são aquáticas, raciocino. Mas que merda é essa! Penso, ao ver as cobra se contorcerem, com suas peles rasgando e monstruosidades saindo de dentro delas. Em alguns segundos, o bastante para nos levantarmos do chão, as cobras se transformam em criaturas metade humanas e metade cobras. Um desses seres me encara, com ferocidade, raiva e com um olhar de assassino. Sinto minhas pernas se molharem com liquido quente, por baixo do vestido rasgado. O mesmo homem-cobra que me encara põem o pé na água, dando um passo para frente e eu e Stilex damos um passo para trás.

– Vamos morrer. – Digo.

A água começa a se movimentar e cria ondas contra os monstros. Eles recuam e se afastam alguns passos da margem. É um exercito, eu penso. Stilex me cutuca e aponta para o outro lado da margem, onde estão Rick e Nicole. Nick entra no rio e começa a nadar em nossa direção enquanto Rick movimenta as mãos de um lado para o outro. Ele que está fazendo as ondas, mas elas são fracas de mais, não vão segurar eles por muito tempo.

– Stilex fica aqui. – Ordeno e depois pulo no rio a encontro da Nicole. As ondas de Rick estão dificultando nosso nado, mas logo nos encontramos e eu olho para a margem. – Cadê as cobras?

– RICK!- Grita Nicole. Odeio quando ela grita e meu ouvido quase explode, mas desta vez não me importei, na verdade eu também deveria gritar. Mal enxergamos Rick, todos os homens-cobras estão em sua volta, estão o mastigando vivo. Seu olhar está em nós e ele estica o braço antes de sumir dentro da aglomeração de monstros.

A água começa a se mover até ficarmos secas. Toda a água se foi do rio e se ergue na margem onde está Rick e as criaturas, lentamente a água forma uma enorme parede. Uma muralha de ponta a ponta.

– Vamos Nicole. – Puxo ela pelo braço, indo ao encontro do Stilex.

– E o Rick? – Grita ela.

– Ele morreu se tu não viu. – Grito ainda mais alto, mas depois me arrependo.

Nicole se solta da minha mão e corre. Ela põe as mãos no rosto e chora, pela primeira vez desde a infância ela chora de dar soluços. Alcançamos a margem onde Stilex estava, e seguimos em frente, deixando um amigo para trás, atrás da água.