POV. Pablo

Eram 19:00 e faziam mais ou menos meia hora que havíamos chegado ao hospital e desde então não tínhamos notícias da Angie. Violetta estava bastante aflita e não posso negar que eu também, pouco tempo depois o médico apareceu e pediu para falarmos em particular.

– E então, doutor, o que aconteceu?

– Bom, ela fez uso de um medicamento abortivo, o Misoprostol, esse medicamento é ilegal e a venda é proibida, o correto é denunciar o estabelecimento onde ela comprou. Esse medicamento possui efeitos colaterais grandes e reação alérgica fortíssima, que foi o que ela teve, mas agora a febre já está diminuindo. Ela vai ficar em observação durante essa noite e amanhã pela manhã, dependendo do quadro em que ela se encontrar, vai receber alta. Apesar de tudo conseguimos fazer com que ela não perdesse a criança. - Escutei tudo o que ele falava atentamente, todavia não podia acreditar no que a Angie havia feito, nunca imaginei que a Angie cogitaria essa ideia, nunca pensei que ela tomaria essa atitude. Voltei para onde a Vilu estava.

– Pablo e então? A Angie está bem? - Estava tão desnorteado, tentando colocar as ideias nos seus devidos lugares que não escutei o que a Violetta tinha falado. - Pablo, você está me assustando, tá tudo bem?

– Desculpa, Vilu, eu não entendi o que você falou.

– Eu perguntei se está tudo bem com a Angie.

– Está, está sim, ela só vai ter que ficar em observação essa noite, mas nada de mais. Eu vou ficar com ela, acho melhor você ir pra casa, amanhã você tem aula. Se quiser eu te levo.

– Não precisa, ainda não é tão tarde e é melhor que você não deixe a Angie sozinha. - Falou levantando-se. - Obrigada por cuidar da Angie, Pablo. - Disse sorrindo, logo em seguida abraçou-me e foi embora. Fui para o quarto onde a Angie estava. Sentei-me em uma pequena poltrona que ficava ao lado da cama, apoiei a cabeça entre as mãos. Ainda não podia acreditar no que a ela havia feito, como teve coragem? Coragem de tentar acabar com a vida de um ser inocente, graças a Deus isso não aconteceu. E ela? Ela poderia ter morrido. Recostei-me na poltrona e dormi sem perceber.

– Pablo? - Acordei com a Angie, chamava-me com uma voz fraca.

– Angie, está se sentindo bem? - Falei ríspido, endireitando-me na poltrona.

– Mais ou menos, o que aconteceu? - Expliquei tudo, porém omiti a parte em que conversei com o médico. Ela calou-se e eu também, queria conversar sobre o que ela fez depois, com calma. - E quando eu vou ser liberada?

– Talvez amanhã pela manhã. - Silêncio. - Francamente, Angie, o que deu em você?

– Como? - Falou sem entender.

– Como pergunto eu! Como você teve coragem de fazer uma coisa dessas? Tentar tirar a vida de uma criança, Angie. Uma criança que nem sabe o que acontece entre você e aquele imbecil, não adianta dizer que não, eu te conheço e sei muito bem que você se sente culpada por ter dormido com seu ex-cunhado, mas a criança não tem que pagar por um erro seu. - Sem notar já havia me levantado e andava de um lado para outro com o tom de voz um pouco elevado. Eu teria conversado com ela depois e com mais calma, como havia dito, mas desde que o médico me falou eu não consegui digerir. Um defeito meu? Eu sou um pouco explosivo... Tá, eu sou bastante explosivo. - Eu nunca esperei essa atitude de você, Angie, esse ato irresponsável, essa idiotice. Você acha que condenando essa criança vai apagar tudo o que você e aquele canalha fizeram? Lamento informar, mas ela não tem nada a ver, Carrara, vocês sim, vocês são os culpados, não ela. - Meu tom de voz se elevava cada vez mais e agora eu já estava gritando, a Angie não falava nada, apenas ficava calada e escutava. Saí do quarto batendo a porta. Precisava me acalmar.