......uma semana depois

— Pelo amor de Deus, de sinal de vida. Já faz quatro dias que não da às caras no serviço, sinceramente estou ficando preocupado — grunhiu Toddy na mensagem da secretaria eletrônica de Naomi — Se não aparecer essa tarde irei chamar os tiras, acho que é só, depois das minhas vinte e nove mensagens anteriores, te amo.

Naomi permanecia deitada no sofá debaixo do edredom, seus olhos estavam fixados na imensa tela de plasma que pela milésima vez repetia o mesmo filme, antigo e nostálgico. Um imenso pote de sorvete de creme e um travesseiro lhe fazia companhia naquela manhã gelada de inverno.

O som da campainha a fez sobressaltar de seu ninho depressivo, colocou o pote sobre a mesinha central e levantou-se, um breve sorriso curvou lhe os pálidos. Ainda estava de pijama, colocou as pantufas e caminhou de forma lenta na direção da porta. Por um minuto achou que seria Toddy Benson do lado de fora segurando uma garrafa de vinho e um buque de rosas vermelhas - ele sempre fazia isso para agradá-la -, mas quando a morena olhou através do olho mágico, não tinha ninguém, franziu o cenho e relutante abriu a porta.

— Você não — disse incrédula, encarando Claire parada no corredor — Será que não tem o que fazer? Talvez ir bater um papo com o ex-noivo de sua irmã barraqueira lá no... — pausou por um breve minuto, mais logo prosseguiu —...Quinto dos infernos, não estou de muito bom humor então aconselharei que de a meia volta e me deixe em paz para sempre, que tal?

Claire não disse uma palavra se quer, Naomi cruzou os braços e ameaçou a fechar a porta, mas a loura colocou a ponta do pé impedindo-a.

— Mas que DROGA, Claire vai embora não quero olhar pra sua cara —resmungou forçando a porta.

— Não irei se não me ouvir — respondeu — Pelo menos uma vez em sua vida, de uma chance para os outros se justificar, por DEUS Nanny.

Naomi fechou os olhos e respirou fundo, relutante abriu a porta, dando passagem para sua irmã entrar.

—Seja breve — grunhiu, bateu a porta com tanta violência que a chave acabou caindo sobre o carpete.

Claire permaneceu de costas para ela e observou o apartamento todo bagunçado, não era do perfil de Nanny deixar suas coisas espalhadas, a loura girou sobre os saltos e encarou a.

— Passou um furacão nesse lugar? — perguntou enquanto gesticulava, não houve uma resposta, logo ela continuou — Sei que esta me odiando nesse momento pelo fato de ter pedido para que partisse antes do meu casamento, mas veja pelo lado positivo não teve que aguentar o discurso eufórico da titia Velda, bêbada como sempre — ela pausou — Estava me martirizando por dentro. Precisava conversar com você, tem que me entender.

— Não, te perdoar — corrigiu Naomi encarando-a — Mais sabe Claire, aprendi uma grande lição nessa palhaçada toda e quer saber irei ferrar com o maldito Steve Tracker, por outro lado tenho pena de você, bonequinha da mamãe, acho que agora pode ir embora — disse enquanto abria a porta.

— Quer dizer que não ira me perdoar? — questionou.

Naomi fez uma careta zombando da pergunta, deixando Claire com o rosto rubro de vergonha.

— Ela disse a palavra certa, PERDOAR — zombou dando ênfase na última palavra — É claro que não, sua cretina egoísta, agora arraste essa sua bunda magra do meu apartamento e nunca mais volte a dar as caras por aqui.

Assim que acabou de falar pode notar os olhos de sua irmã cheios de lagrimas, Naomi sentiu sua garganta secar - orgulhosa - não poderia ceder só por causa de lágrimas.

— Pelo amor de Deus não me faça sentir-se pior que estou agora — sua voz saiu igual a uma suplica — Somos irmãs e não pode me tratar assim.

A raiva de Naomi voltou a se reacender..

— Acho que não se lembrou desse fato quando me expulsou de seu casamento, irmãs, aé irmãs, não quero ouvi-la implorar, por favor, vai embora. —grunhiu Naomi desviando os olhos para o lado — Já não sou mais da família. Não se preocupe comigo, estou indo muito bem por aqui, nem encho mais a cara e passo longe de boates noturnas, virei gente. Agora vai embora.

Claire balançou a cabeça e colocou ambas as mãos dentro do bolso de seu casaco de camurça e caminhou na direção da porta, onde estava Naomi de cabeça baixa. A loura parou alguns centímetros dela e retirou um cordão de ouro de dentro do bolso.

— Queria te entregar isso — estendeu a joia na direção de Naomi, que a pegou — Ainda me lembro o que o papai nos disse naquela noite de natal, "vocês são duas, mais aqui dentro são..

— Apenas uma — completou Naomi enquanto erguia os olhos rasos de água.

Claire mostrou um sorriso fraco molhado pelas lágrimas que escorria por seu delicado rosto.

— Fique com ele, já que perdeu o seu no verão daquele ano — grunhiu —Sei o quanto ele vale pra você.

Naomi não disse nem uma palavra sequer, apenas aceitou o cordão de ouro, Claire enxugou as lágrimas e caminhou na direção do elevador. A morena deixou escapar um longo suspiro, sempre fora taxada como a ovelha negra da família, por falar o que pensava, continha o mesmo gênio de seu falecido pai Edgard — nunca levava desaforos para casa —, mas perdoá-la seria algo que iria dar lhe a liberdade do espírito.

— Claire! — berrou Naomi ainda parada na porta, Claire pendeu a cabeça para trás para encará-la — Acho que ainda tenho um pouco de sorvete, se quiser e estou vendo pela milésima vez o Titanic.

Claire assentiu e caminhou de volta para o apartamento, mais parou alguns passos de onde estava Naomi.

— Não sei — confessou por fim.

Naomi encarou há por alguns minutos, acabou não resistindo aquela cara de piedade que Claire sempre fazia — seria uma ótima atriz — e sorriu enquanto balançava a cabeça, a felicidade caía muito bem.

— Cala a boca e entra logo antes que eu mude de ideia — brincou Naomi.

Claire soltou uma risada e se aproximou de Naomi, abraçou a de forma sufocadora — abraço de urso — pegando a morena de forma desprevenida, mais não tinha como resistir aquele abraço e logo ela retribuiu o gesto.

— Agora pode me soltar — resmungou Naomi batendo de leve no ombro de sua irmã — Claire ta me sufocando, me larga, meus vizinhos irão pensar algo errado de nós.

— Que se danem eles, eu te amo e só irei te soltar se me perdoar — disse.

— Agora posso morrer em paz, minha irmã refinada falou uma gíria. E só por isso posso te perdoar — Claire se afastou dela e sorriu — Irei contar para o seu marido que tu falou "que se danem eles" acho que isso vai fazer ele ver com quem se casou.

— Não seria capaz — questionou encarando-a, Naomi mostrou um sorriso malicioso - deixando claro que seria – virou-se de costas para ela e entrou — Espera Naomi não vai mesmo falar?

Naomi parou próxima ao aparador que ficava no final do pequeno corredor de entrada, cruzou os braços e franziu o cenho.

— Vou pensar, agora fecha essa porta estou perdendo a melhor parte do filme.

Claire caiu na risada fechando a porta atrás de si.