Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 8
Caça, Caçado e Caçador


Notas iniciais do capítulo

Importante:
O Andar Esguio é uma tradução literal de Slenderwalking, a maneira como o próprio Slender chama o teletranporte. Decidi traduzir por questão de gosto, afinal, estou falando português né galera? E tbm achei que ficaria mais original da minha parte, mais "headcanon" ou "mitologia própria".

E diferente do inglês, ele não se conjuga viu? O certo é usar um verbo auxiliar como em "Eu uso um Andar Esguio" e não fazer "Eu Ando Esguiamente" olha que horror fica falar isso.

Obrigada e bom capítulo!



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E ali estava ele. Mirando seu arco para a presa, puxando a corda devagar…

E ali estava o Weiß Dämon, atrás dele, silencioso e escondido esperando o caçador abater a sua presa. Vasculhava a floresta, como sempre fazia, à procura de invasores, e eis que, para seu deleite, encontrou apenas um. E este, desprevenido, caçava um cervo, mais desprevenido ainda.

Que lindo jogo, pensou consigo. Duas presas sem fazer esforço.

Pelo cheiro, este espécime não era um da vila, então os aldeões estavam cumprindo sua parte do acordo.

Contudo, a floresta era enorme, e outros humanos apareceriam, por isso concordou com o trato. Não iria querer ficar sem a sua presa favorita.

Aproximara-se para observá-lo melhor, usando seu Andar Esguio para isso. Daquela distância conseguia ter uma boa visão dele. Era um humano alto, um metro e oitenta, jovem, cerca de vinte verões ou um pouco mais, seus cabelos escuros, corpo forte, um bom porte... só não parecia muito bem cuidado, estava todo sujo de lama e a neve não o tratou bem, os dedos estavam vacilantes e enregelados pela falta de proteção nas mãos. Pela respiração dele e seus batimentos cardíacos, deveria estar atrás desse cervo há dias, e feliz por encontrá-lo tão quieto, procurando alguma comida no chão, sem desconfiar de nada…

O caçador soltou a flecha, atravessando as árvores com um zunido fraco e acertando em cheio o animal na nuca. Uhhh, boa mira, esse é dos bons, ele teve de concordar. Apenas um tiro e o cervo estava imobilizado, caído, morto.

– Peguei? – falou o humano, relaxando de sua postura de ataque e olhando para a presa, a mão na cabeça. A felicidade dele era evidente – Eu peguei!

É, ele estava atrás desse cervo há dias. O humano correu para junto da carcaça, levando o arco e a bolsa juntos, e se ajoelhou, admirando o animal.

– Oh, finalmente! E eu estou tão longe de casa…

Falando sozinho, humano? Ele disse, invisível aos olhos comuns, e o humano olhou pros lados, assustado.

– Q-quem está aí? – o humano disse, alerta, ainda virando a cabeça pros lados, tentando achar a origem da voz. Então resolveu ir embora, agasalhando-se melhor antes de pegar seus pertences e amarrar o cervo para levá-lo.

– Eu hein, não fico aqui mais um minuto…- e o homem se levantou, levando o cervo pendurado nas costas a tiracolo, um pouco grande pra ele, mas mostrou-se forte para levá-lo.

Andou rápido para o sul, mas assim que o incômodo não passou, acelerou o passo, indo embora com o cervo, que balançava a cabeça pendente.

O Weiß Dämon gostava de brincar com suas presas, fazer o sangue delas esquentar com um pequeno exercício, mas desta vez resolveu acabar logo com isso. Usou seu Andar Esguio para acompanhá-lo sem esforço, aparecendo sempre ao lado dele, e calmamente apareceu na frente dele, fazendo-o bater a cara em sua cintura.

O humano olhou para cima, querendo saber no que acabara de bater, e arregalou os olhos ao ver o que era. Abriu a boca, mudo, paralisado, o Weiß Dämon sentia o medo em seu olhar.

Ah, como ele adorava isso. Mal deu tempo de reagir, um tentáculo já estava enrolado no pescoço do humano, que soltou nada mais do que um soluço esganiçado ao ser erguido do chão. Um estalo, e tudo estava terminado.

Peguei. O Weiß Dämon soltou a corda do corpo, fazendo o cervo e a bolsa do humano caírem. Resolveria isso depois. Esticou um dos braços longos e da sua mão brotaram garras afiadas, tão brancas quanto sua pele, e enfiou uma delas no pescoço, abrindo a carne de sua presa, da clavícula até os quadris, arrancando-lhe as entranhas em seguida, tingindo a neve com o tom do sangue se sua vítima. Fazia isso como um pequeno retorno aos animais caçadores que ele cultivava em seus domínios. Serviam tanto de alimento como de guardiões, então um pequeno agradecimento não faria mal algum.

Feito isso, deitou o corpo na neve e usou suas garras mais uma vez para retirar-lhe a pele, esfolando-o devagar. De todas as partes que um humano tinha, a única coisa de que não gostava de comer era a pele, preferindo usá-la para outros fins mais úteis. E humanos tinham a pele mais fina e macia dos animais, portanto retirá-la era um trabalho um pouco penoso. Terminada a tarefa, sentiu-se sorrir satisfeito. Agora tinha um monte de carne disponível.

Finalmente, disse o demônio. A pele do rosto, onde deveria estar a boca, esticou-se e num barulho agonizante de tecido rasgado, e uma boca preta apareceu, repleta de dentes brancos e afiados.

E ele degustou a tenra, quente e doce carne fresca, logo apenas alguns ossos restavam no chão coberto pela neve, manchado pelo sangue. Lambeu as bordas da boca com sua língua pontuda e preta antes de fechá-la, a pele que fora rasgada rapidamente se regenerou, voltando a ser a lisa cara branca sem definição. Levou dez ou onze dos maiores ossos consigo, iria servir de lenha.

Voltou a atenção para a bolsa de sua vítima, vasculhando se ele tinha algum pertence. O dono não iria mais usá-los, então os tomaria para s… Ai! Ele retirou rapidamente a mão, uma mancha preta fumacenta aparecera na ponta dos dedos. Estavam queimados. Rosnou, e com raiva rasgou a bolsa em pedaços, espalhando seu conteúdo no chão. Foi então que viu o que queimara sua mão: uma faca de caça, meio solta da bainha, com uma lâmina preta que brilhava com um tom azul-prateado…

Ferro Frio… odiava aquele material mais do que tudo. Jogou a faca para o lado com um chute, rosnando. Observou o resto das coisas: um saquinho de couro com moedas de cobre e prata – pra quê humanos levariam moedas na bolsa para caçar? – um esmeril e alguns materiais de acampamento, como um isqueiro e um lençol, bem como uma roupa avulsa e um pente feito de osso… nada que o interessasse além das moedas – elas eram bonitinhas, e brilhavam quando a luz da lareira batia nelas. Recolheu-as junto com a aljava com flechas e o pente, eram objetos peculiares...

Encarou a faca. Embora seu ferimento tivesse sido leve e já tivesse se curado, aquele não era um objeto para ser deixado ao léu... segurou-a com cuidado pela bainha e apoiando-a em duas pedras próximas, pisou forte nela e a entortou, dobrando-a três vezes e a inutilizando. Depois enterrou debaixo de uma árvore junto com os pertences que ele não iria levar. Agora não poderá ser usada contra mim.

Tendo seu trabalho terminado, ia embora quando viu o cervo morto. O humano tinha satisfeito inteiramente seu estômago, por isso tinha quase se esquecido da carcaça do outro animal. Grunhiu quando lembrou da criatura que mantinha cativa, e de que ela iria acordar…

Não querendo passar mais tempo fora de casa naquela neve – ele não se incomodava com o frio, mas também tinha seus limites – drenou o sangue, tirou as entranhas do cervo e colocou-as junto da pilha das do humano. Levou a carcaça consigo num de seus tentáculos, iria tirar a pele deste em casa.

Acho que não tenho nada mais a fazer aqui… E logo os predadores virão pegar o pequeno retorno que lhes ofereço… olhou para o nada, tentando localizar alguma criatura não-hibernante próxima. Satisfeito com a busca e sabendo que o cheiro iria atraí-los logo, voltou para casa com um Andar Esguio, encontrando sua cativa exatamente onde deixou, dormindo no monte de peles.

Jogou a pele do humano junto dela, as moedas organizou na mesa de pedra, e após esfolá-lo, cortou o cervo em vários pedaços, colocando-os numa bacia de metal e pondo-a perto da humana, assim ela identificaria facilmente e saberia o que fazer com isso. Não conhecia muito a comida humana, e nem se importaria em conhecer.

Só sabia que estava fazendo sua parte.


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Notas finais do capítulo

Sim, minha intenção era fazer esse capítulo meio macabro, afinal, ele não mataria simplesmente e deixaria uma carne tão suculenta inteirinha para os lobos, não é?

Obrigada por lerem!