Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 3
Olhos Inúteis...


Notas iniciais do capítulo

Para entender melhor:

Itálico+negrito = fala do Weiß Dämon, por telepatia.
Itálico = pensamento do personagem dominante do ponto de vista. No caso do Weiß Dämon, é um pensamento interno.
— fala - = fala normal, usada pelos demais personagens.
— fala+negrito - = fala do Weiß Dämon (raramente usada, só por motivos didáticos mesmo...)



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“Ao Weiß Dämon,

Senhor da floresta, pedimos humildemente que aceite este presente. É o nosso maior tesouro, esta bela Fraünlein. Um tesouro, em troca de um trato: proteja-nos do grande Inverno, poupe-nos as vidas. Faremos o possível para não perturbá-lo, nem a sua floresta.

Tem a nossa palavra e esta oferenda como nossa garantia. Ela é inteiramente sua.

Nossos votos de eterna gratidão,

O vilarejo de Impedimenta.”

Todas aquelas palavras escritas o fizeram bufar internamente. O maior tesouro deles… esta humana cega? Branca dos pés aos cabelos, o alabastro polido com toques rosados no rosto e em áreas onde a pele era mais fina, podia até ver as veias passando por baixo.

Bem, não dava para negar que era um espécime raro, mas estes olhos inúteis… Na mesma hora em que os encarou, sentiu vontade de arrancá-los fora, e até preparou um de seus tentáculos para isso, porém parou ao tocar-lhe a pele.

Altamente macia…

Oh, agora entendo… Esta pele faria uma ótima cami… interrompeu o pensamento quando outro tentáculo passou pelos cabelos brancos. Tão macio quanto a pele. Parou ao perceber que ela chorava, o tentáculo dos olhos dela passou por baixo da lágrima, acabando por enxugá-la. Ela olhou pra frente, parando de soluçar, o seu olhar fora de foco procurava seu rosto. Os olhos em si eram inúteis, mas o conjunto com a sua face mostrava uma inocência que por um momento ele se perguntou se uma criança humana faria melhor.

Ele riu contidamente. Que interessante, pela primeira vez em séculos os humanos me deram uma de sua espécie… por sinal, bonita até… ele teve de admitir.

Trouxe-a mais para junto de si para observá-la melhor, e ela piscou os olhos pela primeira vez desde que a viu chegar à vila e observá-la em sua estadia.

Ele estava sempre observando.

Levou uma de suas mãos à face dela, tocando-lhe o rosto, e ela estremeceu. A pele dela era fria comparada à dele, e o contato com a maciez só aumentava a sensação de fragilidade que ele tinha dela.

Adorável, me deram uma bonequinha de porcelana. Ele quase riu. Ela continuava encarando o vazio na frente dela, o que era até irônico para ele. Se ela soubesse que eu não tenho um rosto visível…

Desviou o pensamento e quebrou a tensão:

“Vim trazer um presente”, disseste… – ele falou para ela telepaticamente. Era uma de suas habilidades, pois não gostava muito de falar.

Ela se arrepiou, o que significa que ela “escutou”. Continuou: As letras disseram que tu quem és o presente, criança…

Ela engoliu o que quer que estivesse em sua boca e baixou a cabeça.

– S-sim… S-sou eu… - a voz dela era suave e delicada, ele sentiu que combinava com ela. Ele estranhou quando ela juntou as mãos e as pôs à frente no rosto, respirando fundo – Estou pronta, senhor…

Ele sabia o que ela esperava, ela sabia o que ele era. E ele também. Mas esta Weiß Fraünlein deu uma demonstração tão forte de fé que era impossível não rir.

Então lhe veio uma ideia. Decidiu testá-la, levá-la cada vez mais perto do limite dessa fé tão inútil quanto os seus olhos, brincar com sua sanidade e conceitos, torturá-la, fazê-la perder essa carinha inocente e então… deliciar-se com sua carne, tão doce e tenra que ele podia salivar só de sentir o cheiro, e ela estava próxima o suficiente para ele farejá-la com clareza.

Pronta? Para o quê? Ele disse em pensamento para ela, ainda rindo, agora externamente. Ela se arrepiou.

– Não vai me devorar? – ela piscou de novo, duas, três vezes. Ela ficou surpresa. Típico.

Não. E por que motivo achas tu que eu faria isso? Devoro apenas os que fogem… Ela se arrepiou de novo. De repente ele começou a gostar de fazer isso com ela. Ele sabia que, ainda com aqueles olhos inúteis, era inútil ela fugir mesmo se quisesse, mas ponderou que um aviso a mais não seria ruim. Ela rapidamente respondeu:

– Não vou fugir, eu prometo senhor! – ela balançou as mãos como num aceno.

O vento voltou a soprar, ele pôs a cabeça para o alto e viu uma tempestade se aproximando. A boneca viva de porcelana estremeceu violentamente e se encolheu, fechando os olhos e se agarrando aos tentáculos que a prendiam, suspensa a mais de dois metros acima do solo.

Ele olhou para ela, tiritando de frio, e observou suas roupas: um vestido de pano leve – talvez fosse seda ou algodão, ele nunca se interessou em saber – e um simples casaco de pele branco que ele logo reconheceu ser de raposa do ártico, eram pouquíssimas coisas para realmente estar protegido da neve.

Realmente, vestiram-na para morrer, se não por mim, pelo frio. Pensou ele, enquanto a analisava.

Teria de sair logo dali, senão ela congelaria, acabando por estragar seu novo brinquedo.

E ele detestava comida fria.

~ POV SWITCH ~

Andeir tinha quase se esquecido de que estavam numa clareira de uma floresta em pleno inverno, e se encolheu com o vento repentino, engregelando-a até os ossos. Ela se agarrou aos “braços” que a seguravam e fechou os olhos, tremendo, batendo os dentes…

Até que sentiu alguém a abraçar e a segurar no colo, o calor do corpo dele a vez parar de tremer, e ela até se sentiu confortável. Os braços que pareciam cobras desenrolaram-se dela e logo não foram mais sentidos pela donzela, em seu lugar estava um par de braços aparentemente humanos, mas muito compridos. Ao mesmo tempo sentiu-se ser enrolada em alguma coisa que parecia ser feito de pele, só que absurdamente liso, sem pelos…

Ela olhou para cima e ouviu a respiração dele, continuava quase silenciosa, mas sentia o peito dele subir e descer. Ela não disse nada, e o ouviu na sua cabeça:

Vem vindo uma tempestade, melhor eu te levar ou você vai acabar morrendo de frio… ele falou num tom como quem estivesse aborrecido, e ele logo começou a andar. Andeir também se aborreceu com isso. Ela sabia andar na neve!

– Hmmm… mestre… - ela começou, ia justamente falar sobre isso, mas a voz foi morrendo. De repente também ficou insegura sobre chamá-lo de mestre.

Fale… ele disse. Pareceu ter gostado do tratamento.

– Eu… pra onde vamos? – ela olhou pra cima, e voltou assim que um floco de neve caiu no seu nariz. Mudou o assunto da conversa, tinha medo de que ele se enfurecesse.

Longe da neve. Respondido? O tom da “voz” era de irritação.

– S-sim… – Andeir se calou, sentindo suas bochechas esquentarem. Perguntas óbvias geralmente irritam, ela pensou.

Permaneceram em silêncio por mais um longo tempo, ele a carregando. Pelo jeito lento dos movimentos e a velocidade com que o torso dele era jogado para frente, ela notou que ele ou tinha pernas muito compridas ou tinha movimentos sobrenaturalmente rápidos. Talvez um pouco dos dois. Isso deixou Andeir perplexa, pelo que sua experiência como cega – que não era pouca – dizia, junto com toda a sua noção de espaço, ele deveria ter pelo menos dois metros de altura ou mais. E ela com um mísero metro e sessenta… ele pareceu ter percebido a quietude dela e respondeu:

Posso chegar aos três metros se eu quiser. Ela arfou. Ele pode ler mentes também?

Sim, posso… cuidado com o que pensas Fraünlein.

Ela se arrepiou. Mesmo ele dizendo que não iria matá-la, toda a desconfiança tomou conta dela. Tudo que ele disse em resposta foi outro riso contido.

Ela teria que tomar muito, mas muito cuidado com ele.


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Notas finais do capítulo

Quem quiser ver meu Deviantart, gente, só seguir o link:
http://anerolsevla.deviantart.com/
Alguns desenhos meus e todas as ilustrações do fanfic estão lá. =D