Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 24
Massacre


Notas iniciais do capítulo

Agora... é hora.



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— Babu, tire Andeir daqui! - Alex comandou, enquanto saía de junto.

— O quê?! - ela tentou falar para o seu marido, mas ele não estava mais lá, ela não conseguia mais distingui-lo. Só ouvia os gritos de Babu.

— Vamos, Andeir, vamos para um lugar seguro AAAH - a velha foi empurrada para um lado e caiu no chão, tendo de se proteger do pisoteamento. 

Andeir não teve tempo nem de se levantar.

Centenas de pessoas correndo por suas vidas não dão muito espaço para ela se mover e achar um jeito de andar, então infelizmente teve de permanecer sentada. 

Bravamente aguentava sua posição, mas apavorada, pois sabia exatamente o que estava acontecendo. Gritos, sons de ossos quebrando e carne sendo estraçalhada. Um deles jogado perto demais dela para espirrar sangue em suas saias, e ela sentiu a umidade em seu rosto, o cheiro de ferro e sal permeando o ar.

Os rugidos da fera eram inclementes, e sobressaíam até mesmo os berros da atriz que estava representando Andeir, mas logo o barulho cessou com um som de esganadura e uma série de sons repetidos de alguém jogando um saco de batatas no chão de um lado para o outro. Já era a moça.

Ela tapa os ouvidos, tentando não escutar. Temia que fosse vista, a fúria do demônio não tinha limites. Ouviu armas, sons de espadas, machados e lanças, arcos e flechas, mas o maior dos barulhos eram os gritos e a correria. 

Onde estava Alex?!

 

— POV Switch - 

 

Rocco não gostava de fazer isso, mas infelizmente era necessário. 

Porém, nunca tinha se divertido tanto. 

Então é assim que fazem os tratos, não é?!— ele falou, de boca aberta - Oferecem um presente de paz, e então, quando a dou, aparecem para me matar— Alguns soldados tentaram se aproximar, mas um movimento rápido das garras dele os partiram ao meio e dessa para melhor - É isso que queriam?— arremessou outro infeliz numa parede e este virou panqueca de sangue com o som tosco de tomate podre - Provocar-me? Pois seu amiguinho fez isso muito bem. Vou só retribuir o favor.

— Maldito! - um arqueiro acerta uma flecha no ombro do Slender. Pfff, por favor, esse gravetinho?… Ele encarou o humano, arrancou a flecha na frente dele e avançou para cima. O idiota saiu correndo, mas não era tão rápido quanto as pernas dele, que fizeram o rato sair voando para longe com um chute. E ele caiu atravessando um dos telhados de palha das casas. Espero que tenha doído.

Falando em teto de palha, abriu um deles e encontrou um casal dentro da casa. Perfeito, dois, ele os segura um com os tentáculos e outro com as garras, e os usa de arma para bater em outros que se aproximavam. Não duraram nem dois golpes, patéticos.

Viu um boneco em cima de alguma coisa de pedra, e irritou-se com a semelhança a si mesmo. Agora aquilo era um mero buraco no chão com água no fundo.

 - E é só acharem que deram cabo de mim, logo se esquecem quem eu sou!— e um rugido - Cadê o seu salvador agora?! Se escondeu? Apareça!

Rocco riu sonoramente quando um humano mijou nas calças ao ser encurralado. Ele pintou a parede da viela com o sangue dele. 

— Senhor, não! - ele ouviu os gritos de uma voz peculiar - Por favor, poupe-os!

Ele se virou, jogando o resto do corpo de lado, prestando atenção nela. Ele tinha notado Andeir num canto, parada, sentada numa mesa sem saber aonde ir pela confusão. Notou principalmente que ela, na verdade, eram dois no mesmo lugar. A mente dela era uma mistura de pavor e impotência, mas ainda tinha vontade de agir, mesmo sem saber como proceder sem se ferir no processo. 

E, estando habituada a ele, era sua fonte de informações. 

Ora, se não é a garota. Ele se aproxima, aproveitando para observar suas memórias. Ainda acha que isso não foi uma artimanha?

— Senhor, o povo dessa cidade não tem culpa, ele quem causou isso! - ela estava chorando, as mãos protegendo o abdômen ao sentir o arrepio na cabeça - Os aldeões acreditavam no seu pacto, eles não mexiam nas suas árvores, eu sei!

É o que você pensa, ele se aproxima, mal acharam que eu estava morto, saquearam minha casa, destruíram um bom pedaço do meu território, mataram a fauna, tomaram a comida, jogaram porcarias, tudo isso em menos de duas estações! E ainda roubaram você, o presente que eles mesmos deram!

— Não justifico as ações deles, mas também não teriam feito se não fosse a quebra do pacto! O pacto estava de pé até ele interromper! Não foi a vila inteira!

Veremos quanto a isso. Saia daqui se não quiser ser queimada com o resto. Eu aviso somente a você…

— Ele está vindo, comigo aqui com o filho dele, ele vai vir, e você vai resolver isso com ele!

Perfeito, então. 

De fato, lá estava ele o Shlanken entre os dois humanos. Nossa que idiota, se ele quisesse poderia ter ameaçado Andeir e ele não poderia fazer nada.

Garota sortuda, pois o problema dele não era com ela. 

— Aqui, seu monstro! - Alex brandiu a espada de ferro frio, no meio da praça - Vamos dar um show ao vivo.

Eu não preciso me provar, ao contrário de você — o demônio se virou, encarando ele - Gostou do souvenir? Pode ficar, tenho outros— ele mostra os tentáculos, uma parte deles, a mais perto do corpo era mais grossa que o resto, mostrando que se regenerou.

— Eu vou tirar muito mais deles quando eu acabar com você! - rosnou Alex, apontando a espada.

Os dois, humano e Shlanken, começaram a se rodear, em posição de Duelo. Nenhum dos dois queria dar o primeiro passo. Rocco tinha vantagem.

—  Se divertiu com a fama, com sua fêmea?— provocou, um sorriso macabro formou-se nos músculos de sua boca. Em campo aberto, ele poderia aparecer em qualquer lugar. Mas queria provocar. 

— Andeir nunca será sua! - haha, a menção à garota realmente mexia com ele. 

E quem disse que eu a quero para mim? — Ele se dirige ao povo ainda escondido nas ruas. Escutou um som de grito ao longe nas casas próximas da floresta, espantando alguns deles para a praça. Perfeito, Nistra, agora eles vão ouvir. 

Ainda conseguiu ganhar um pouco de tempo antes dos humanos chegarem. As pessoas arfaram em conjunto, ao verem a cena, se mantendo a uma boa distância, os olhos arregalados, impotentes. Sentiu a mente de Nistra, em sua forma humana, à distância, dando o sinal. Ele falou, alto e em bom tom:

—  Vocês usaram uma moça inocente para ser uma oferenda de paz, e mandaram este macho estúpido buscá-la. Estúpido, pois a própria moça temia pela vida dele se invadisse minhas terras. Mandou-o embora, pois acreditava que um pacto tinha sido formado. E eu acreditei, tolo erro que não será repetido.

— Do que está falando?! Não tinha pacto nenhum! Ela foi jogada para você matar, para ser seu brinquedo, usá-la como bem entender… - ele cospe no chão - criatura imunda, demônio!

Rocco entendeu exatamente o que ele estava pensando, e sentiu tanto nojo quanto.

Você é burro, não é? Eu sabia. Ninguém com juízo seria tão corajoso.

— Isso faz de você o quê, vindo aqui me enfrentar?

Eu quero justiça! Defender o que é meu, e vocês já a arruinaram!— ele aponta com um dedo para as matas, já com um acre reduzido a tocos de árvore e pilhas de madeira. - Sabe quanto tempo leva para isso crescer, seus idiotas?!

— Eu não me importo com seus pés-de-mato! - Alex bradou, os nervos à flor da pele, fazendo as pessoas se espantarem mais. Quem era aquele homem? - Você é um monstro! Uma criatura vinda das profundezas, e sei que sangra, então pode morrer.

Então por que não conseguiu me matar? 

— Andeir estava me distraindo - ele fez bico. Rocco escutou o arfado ofendido da moça, ao longe, na cadeira - Agora ela é minha esposa, e você não pode fazer nada quanto a isso.

Ahhh sim, com sua fêmea por perto, vira um fanfarrão, cantando como um galo…— Ele jogou uma cadeira na direção do humano, que se desviou por pouco, mas atingiu outros humanos, que se afastaram para ficar em um lugar seguro. Mas sabia que os humanos não resistiriam e assistiriam a cena. Idiotas curiosos. Aproveitou e bradou, desdenhoso - Estou bem a par do respeito que tem por ela. Não a escuta, a chama de frágil, quando ela conseguiu viver por dois meses em meu território, como hóspede, se virando sozinha.

Ele estava conseguindo fazê-lo perder as estribeiras. Ótimo. 

E agora que ela espera seu herdeiro— ele continuou, andando, com os dedos unidos e um passo quase zombeteiro - sente tanto medo dela que a prende em casa, como uma bonequinha de porcelana, quando ela na verdade quem está lhe dando todo o conhecimento para ser o amado líder da cidade. Sem ela, você não é nada, mas a trata como nada. Patético. Subestimar ela assim, é tão rude... pelo jeito, eu sei tratar uma mulher bem melhor do que você…

Isso foi a gota d’água para o humano, que humilhado diante do povo da cidade urrou com todas as forças e correu para cima do Shlanken. Ah, provocar nunca foi tão fácil.

Andeir, foi o que ela escutou na mente, com a voz séria.

Senhor?! Ele ouviu ela arfando de novo, com as mãos na cabeça.

Então… você é a femine dele. Decida o destino do rapaz. O Shlanken se desviava dos golpes de espada do humano, ainda não era hora de revidar. Você o ama? Quer este moço para você?

Ele recebeu sua resposta, enquanto dava Passos Esguios, cansando o humano. Memórias. Muitas delas. Algumas boas, algumas ruins, mas nenhuma delas tinha o sentimento que ele procurava. Nenhuma palavra, porém, somente tristeza e lágrimas.

Rocco tomou sua decisão.

Obrigado. E encerrou a conexão. Agora sim.

Sob comando, seus tentáculos se enrijeceram nas pontas, as garras saíram das mãos dele, lâminas afiadas e negras como o ferro fundido da espada. - Pode vir, rato.

— Só fica parado, monstro.

Com prazer.— E ele ficou, enquanto o humano investia na direção dele. Mas… um Slender não precisa se mover para o Andar Esguio. Quis estar atrás dele, ele estava.

Só foi preciso um golpe. Meio-superior das costas, ligeiramente para o lado esquerdo. Com precisão de legista, o tentáculo perfurou o peito do humano, que olhou atônito, para onde a ponta tinha atravessado. Só disse um guincho sem ar, e sangue saía de sua boca.

Torcendo como um gancho na ponta, o tentáculo puxou o humano, que largou a espada com um claque. Ele ainda tentou se mover, desesperado, mas outras cobras seguraram-lhe os braços e pernas.Um pouco mais próximo dele, e disse-lhe baixo no ouvido.

Isso é o que acontece quando se vive como herói num conto de fadas. As fadas voltam para lhe matar. E com razão. 

 

— POV Switch -

 

Andeir, mesmo sendo cega, desviou os olhos e tapou os ouvidos diante do grito de seu marido e o som que se seguiu. Já não existia mais um só Alexander, mas vários, nenhum deles vivo para contar a história. Seu coração se partiu da mesma maneira. Lágrimas brotaram de seus olhos, e ela não conseguia parar de tremer.

Cobriu o rosto. O que foi que ela fez?

Você não tem culpa do que aconteceu aqui, Andeir. Ele faz um som de rosnado baixo e fecha a boca, voltando a ser apenas uma cara lisa, mas seus pensamentos foram reconfortantes. Foi usada, assim como a mim. E você ainda foi vítima pior, pois a privaram de viver. Não podia ser você junto daquele biltre. Aprenda de uma vez. Você é melhor do que isso.

Ela encarou os humanos. As pessoas na cidade não sabiam mais o que fazer. Não tinham mais símbolos mágicos nas portas para mantê-lo do lado de fora, e agora o fogo subia alto nas casas próximas da orla, destruindo-as por completo. Ela sentia o calor daqui, contrastando com o ar frio de outono.

— Andeir! - disse a voz de Babu. Ela estava viva! Graças a Deus. - Peça clemência! Misericórdia! A senhorita é a Dama Branca!

— E-eu? - ela pisca.

Outros deram voz à velha:

— Sim, Andeir!

— Salve-nos, Weiß Damien!

— Devíamos ter te escutado todo o tempo! Estamos arrependidos, diga isso a ele! - Babu reforçou, e outros reforçaram.

Eles não acabaram de me escutar falando? Rocco bufou, parado no meio da multidão.

Andeir então se levantou, uma mão pedindo silêncio, as pessoas obedeceram. Ela suspirou. E, segurando um pedaço de madeira do chão, provindo da mesa que quebrou, tateou entre os escombros, se aproximando do demônio. 

O silêncio se tornou ainda mais sepulcral, ao ver a humana chegar tão seguramente perto daquele monstro descomunal, maior que qualquer casa comum na vila.

— Senhor! - Andeir falou, com a voz alta, de discurso - O senhor escutou o povo. Eles o temem, sabem do que o senhor é capaz. Já faz um bom tempo que vivíamos em guerra com o senhor. Oferecemos uma oferta de paz, eu sendo o símbolo dela. Mas houve algo que não esperávamos, este… - ela tem de engolir o choro. Não podia fraquejar, não podia… - Este humano foi o causador de tudo isso, e o senhor já o destruiu. Sim, somos humanos, seres arrogantes, oportunistas, traiçoeiros. Mas acreditamos no concreto, e o senhor mostrou a todos nós que não devemos subestimá-lo. O sacerdote disse-me uma vez! - ela se virou para os aldeões - Que quando se faz um pacto, põe-se o destino de ambos os pactuantes numa corda bamba, o primeiro que corta, os dois caem. Ele confiou em vocês… não, EU confiei em vocês! Me sacrifiquei, acreditando na fé que vocês tinham em mim. 

— Mas o Alexander quem não ouviu, ele era o culpado da coisa toda… - disse um moço atrevido no canto. Ambos Andeir e Rocco o encararam com intensidade, e ele se calou, se misturando na multidão.

— Tem razão - Andeir suspirou -  Ele foi um tolo, invadiu a casa, me sequestrou e saqueou. Derrubou-nos. Quebrou a confiança do pacto. E vocês aproveitaram a chance e seguiram a deixa. Esse foi o erro de vocês. Não têm respeito com as coisas dos outros? 

O silêncio foi mais intenso, ela sentiu a aura de vergonha.

— Pois é, vocês são melhores que isso, eu esperava mais de vocês! Estão em dívida - olhou para o Shlanken - Senhor, o que podemos fazer para reparar?

O Shlanken bufou. Não confio em vocês.

— Mas o senhor confia em mim. Se eu sou a ponte, o elo que precisava, para manter o pacto, então que eu seja! Se eles desobedecerem, toda a vila cairá e nenhum símbolo mágico ou sagrado vai o impedir de fazer justiça! 

Uma coisa inusitada e milagrosa aconteceu, ainda que despercebida por todos os humanos. Quando ela falou, com a verdade e voz genuína de uma mãe, o símbolo mágico de ferro, que ainda estava nas mãos do ator que fazia o padre, partiu-se no meio. O homem arregalou os olhos e ficou mudo.

O Shlanken, porém, escutou isso. Conhecedor das regras do mundo, incrivelmente, ficou satisfeito.

Então… você promete. 

— Sim senhor. Faço de minhas palavras uma jura. Um novo pacto, ouvido por todos e o senhor. Nenhum humano… 

Exceto você, que é a embaixadora.

— Exceto os portadores de meu sangue, que serão os embaixadores... - ela segura a barriga saliente, marcando o que queria dizer - ...poderão pôr os pés no seu território da floresta, depois que ela for reconstruída, árvore por árvore, até a última pedra coberta de musgo. Nós mudaremos de lugar, usaremos outro lado, daremos nosso jeito, marcamos fronteiras. Faremos tudo que pudermos para cumprir seu pacto. Caso contrário, nenhum poder investido em mim ou em qualquer poder, pode proteger vocês do seu destino. Deus é testemunha, o diabo, o escrivão.

— Então, Humana, embaixadora dos Humanos da Vila de Impedimenta, jura pelo seu sangue e o nosso, derramado aqui? - Disse a voz de uma mulher, sentada no parapeito quebrado do poço no meio da praça, vestida com um vestido preto e fivela de prata, com os cabelos brancos como os dela, portando uma faca numa das mãos. Os humanos piscaram em surpresa, murmurando se já a conheciam - Jura por todos os seus votos, até o dia em que a última gota pertencente ao sangue de sua linhagem deixará este mundo?

Andeir não tinha tempo de pensar quem era aquela moça. Se virou para ela e assentiu.

— Sim senhora, eu juro!

— Aproxime-se. O senhor também, demônio.

Os dois se aproximaram, e Andeir estendeu a mão. A moça, que os humanos da cidade supunham que estava entre uma freira e uma bruxa, segurou-a e, com a faca, fez um pequeno furo num dos dedos dela, caindo uma gota do sangue dentro do poço. O mesmo fez com a mão do Shlanken, porém ela teve de espremer o ferimento para que saísse a tal gota. Maldita regeneração. O som da gota pesada caindo dentro da água lá embaixo fez a moça assentir.

— Está selado - disse a bruxa -Com o poder que corre pelo mundo, esta fonte profunda que abastece toda a cidade será o marco do pacto. Senhorita Andeir. Deverá acompanhá-lo até a orla da floresta, e assim, quando ambos se separarem, a vila poderá lamber suas feridas e dormir em paz. Senhores e senhoras! - ela se vira, entortando a faca diante dos olhos deles - Uma Boa Noite.

E ela desapareceu em plena vista, assombrando os aldeões, gerando mais burburinhos. Rocco bufou.

Essa aí adora fazer um espetáculo… heh, igual a mim, eu acho. E começa a andar, em direção à floresta. Andeir o acompanha.

Conhece-a, senhor? Ela pensa, enquanto tateava com a vara. As pessoas abriam alas para os dois passarem.

É minha noiva, ele disse simplesmente, dando passos curtos para que ela o acompanhasse, é uma Femine disfarçada pela magia delas. Devo minha vida a ela. Literalmente.

Ohhh, e quando será o casamento? Ela sorriu. Estava feliz pelo seu senhor, agora, talvez, seu amigo.

Assim que arrumarmos essa bagunça, Ele suspirou, chutando um dos escombros para passar. E limparmos e darmos uma geral na minha casa. Só a senhorita sabe onde fica, então ainda é válida.

Bem, os humanos podem ajudar a reconstruir o terreno perdido se necessário…

NÃO! Ele silvou, agitando os tentáculos. Fiquem longe do meu território! 

Tudo bem, tudo bem, já entendi. Não vamos… Ela suspira, triste.

O monstro suspira. Eu… peço desculpas também. Pelo… pelo pai do seu filhote. Ele merecia, mas o pequeno não.

Tudo bem… Ela sentiu as lágrimas querendo voltar, eu… gostava dele, mas acho que não era meu direito me casar com ninguém…

Era sim. Você merecia viver, ser livre, não um sacrifício. Reconheço isso. Eu também errei… Vocês superam a perda de um companheiro melhor que nós. Nossa mente se une, ao nos unirmos, e fica fragmentada, incompleta, se um dos dois se perde...

Isso é triste, mas ainda bem que eu sou humana, então eu me viro sem um marido. Só vou sentir falta de alguém esquentando minha cama, mas acho que consigo superar. Ela tentou brincar dando uma risadinha mórbida, por cima da dor. O Slender também riu. Eu só… não vou mais poder ficar na vila. 

Imagino que não tenha mais aonde ir, não é?

Não sei o que será da minha vida, senhor. Meu lugar não é na minha casa atual, com os aldeões. Estou marcada desde o berço… sou considerada uma aberração, com poderes mágicos, ainda que “puros”. E eles acham que sou inútil para qualquer outra coisa, sendo cega. Só sirvo para isso, uma serva para o senhor...

Pois eu já sei o que faremos. Disse uma outra voz, quando eles estavam próximos da orla. Eu gostei de você, moça. É uma humana, mas é honrada, de bom coração, e eu gosto disso. Então a voz na mente dos dois assumiu um tom charmoso. Amor, podemos ficar com ela?

Achei que não iria querer humanos em casa…

Não, não vou querer dentro do nosso ninho, ela confirma, E creio que ela também não, mas ela não é qualquer humana. É nossa amiga. E a embaixadora, então, é justo que a casa dela seja na fronteira. Aí poderá nos visitar. E ela está com um filhote na barriga, quase a meio caminho! Já viu um? São tãããoo fofinhoooos…

Já vi alguns. Não concordo tanto com você, mas… ele suspira. Ela tinha razão com o resto. Notou, na orla, os troncos derrubados pelos humanos, arrumados em uma pilha. Ao menos aquela madeira não vai ser desperdiçada. Podem usar aquilo ali, o que sobrar, deixe criar cogumelos. Vocês gostam deles.

Obrigada, senhor - ela sorri, ficando na orla enquanto o Shlanken entrava entre as árvores, e desapareceu floresta adentro - Parabéns!

Ele não respondeu. Não precisava, ela já sabia que ele agradecia.

 

Ela se virou, e encarou o povo que a seguia atrás dela, numa procissão meio distante, morro abaixo.

Andeir se aproximou deles, então, finalmente, permitiu-se fraquejar e chorar… chorou por seu marido morto, que, apesar de ter sido quem foi, ainda era pai de seu filho ainda não nascido, e alguém a quem ela tinha apreço, o único homem em seus quase vinte anos que tinha dito que a queria como esposa, aceitado como ela realmente era apesar de tudo, e a amava como nenhum outro, se é que aquilo realmente fosse amor. Deixou-se iludir um pouco com isso, mas não alimentou mais nenhum outro sentimento. 

Alguns humanos, inclusive Bartambu, ainda meio feridos e cansados, se sentaram perto dela, em solidariedade, e também choraram pelos seus entes queridos perdidos, do massacre. Não houve comemoração, não era hora disso, e os dias seguintes com certeza não seriam. Era hora de se recuperar. 

A moça chorou até perder as forças e adormecer, e assim, foi carregada até a casa onde ela morava com o marido, não como princesa indefesa, mas como a verdadeira heroína. A moça que nunca pedia nada, mas que merecia todo o reconhecimento, dado erroneamente a outra pessoa. Agora os aldeões reconheciam o valor dela. 

E estavam dispostos a reparar o erro.

No entanto, nenhum dos humanos notou, e Andeir não podia ver, mas em sua mão, algo estava nela. Um símbolo de um círculo cruzado por duas faixas, em preto e vermelho. 

O símbolo Mágico de Impedimenta.


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Notas finais do capítulo

A história está quase ao fim, falta ainda mais um capítulo ou dois, mas não fiquem tristes. Foi uma jornada e tanto até aqui.
Sete anos para terminar essa história, Jesus, ela merecia um final!
Eu já tinha uma ideia na época, mas sentia que não tinha maturidade ainda para escrever. Hoje, com uma cabeça mais formada, eu pude continuar.
Espero que tenham gostado, assim como eu amei esse headcanon sobre a biologia e cultura dos Slenderbeings/Shlankenmänner a ponto de guardá-lo na mente durante todos esses anos.
A outra Fic, "Criança Domesticada", vai também ser terminada um dia, mas não tenho prazo para ela ainda. Tenho outras coisas a resolver.
É isso. Aguardem o próximo episódio, amo demais o apreço de vcs.



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