Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 25
Epílogo: Vida Plena




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Damien Andeir Sulaveik voltou do mercado, andando devagar e despreocupada, usando seu fiel cajado e, vez por outra, assoviando e clicando com os lábios, sabia perfeitamente se orientar pelas ruas, as quais agora conhecia como a palma de sua mão. 

Apesar de ainda não ser uma pessoa normal, estava feliz por não o ser. A famosa Weiß Damien, guardiã da fronteira, não era alguém que deveria ser subestimada. Muito menos quando sabia reconhecer pelo menos metade da cidade pelo nome. E muito menos ainda, quando ela era a única senhora que morava tão perto da floresta, e tinha todo o direito e dever de estar lá. Tudo isso sem contar com o fato de que era completamente cega.

Ela era a única que poderia apaziguar o Shlankenman, a criatura monstruosa que morava na floresta. Tinha poderes mágicos dados por Deus, para tal. Então, a fronteira era seu lugar.

Besteira, pensou Andeir, revirando os olhos diante dessa crendice chata, mas, se o povo ao menos lembrar-se do trato e não fizer mal à minha família, podem acreditar no que quiserem. Não me importo.

Já era quase meio dia quando subiu o morro para a orla da floresta, até sua casa, feita de pedra, como todas as outras da vila de Impedimenta, porém, com o primeiro andar feito de madeira, o que já a fazia se destacar de todas as outras. Abriu a porta com um rangido, deixado assim justamente para que ela soubesse quem estivesse entrando. 

— Cheguei! - ela anunciou ao abrir a porta. Estranhou o silêncio - Keelin? - Parou para escutar. Nada. Os brinquedos estavam no lugar habitual...

Ahh, aquele menino… ela bufou, as mãos na cintura e balançando a cabeça. Puxou o espírito aventureiro do pai. Mas, ainda bem, é um espírito usado para boas coisas…

 

— POV Switch -

 

O garoto de cabelos brancos e olhos azuis corria, rindo alto, com seu cajadinho de madeira, parecido com o da mãe, só que com umas coisas entalhadas, além de uma cesta na outra mão. Conhecia aquelas árvores desde que tinha aprendido a andar, então sabia que não se perderia se andasse sozinho. Seus pés ligeiros desviavam de cada raiz no chão, e os braços ágeis escalavam galhos baixos para subir morros, e usava o seu cajado para saltar sobre riachos. 

Parou para ouvir ao redor, fechando os olhos, como a mãe. Ergueu os braços, respirando fundo. Expirou, e então sorriu.

— Para lá! - ele se virou e correu. Achou uma das várias clareiras com frutinhas, onde de vez em quando ursos apareciam para comer. Ficou feliz ao ver que estava deserta. Só ele e as frutinhas. - Obaaaaa! - ele pulou para a clareira - Mamãe vai gostar se eu trouxer coisas para ela. 

Catou várias framboesas e mirtilos madurinhos, sentindo o cheiro delas antes de colher. Viver no mato durante dez anos fazia você se valer dos sentidos muito melhor. Achou uns cogumelos e se distraiu catando eles também. Ele gostava de refogado de cogumelos.

Porém, uma criança não estava ciente de todos os perigos. Ele estava tão concentrado na sua colheita que não notou a enorme figura materializando-se atrás dele. Só foi notar a presença dele quando ouviu um leve rosnado. 

O menino se virou no susto, quase derrubando a cesta. Seria uma ursa…?

Até que sorriu, aliviado e subitamente feliz ao ver o monstro de três metros de altura e dez braços, oito deles ondulando em suas costas como cobras suspensas. Lá no alto, uma cabeça completamente lisa, sem pêlos ou feições humanas, só, no máximo, duas narinas quando ele respirava mais forte.

— Tio Rocco! - ele se levantou e abraçou as pernas do Shlanken, completamente sem medo. Rocco abaixou os tentáculos, bufando frustrado.

Olá, filhote, disse ele, perambulando sozinho de novo…

— Eu não estou perdido, tio - ele aponta para uma direção - a minha casa é para lá. Só seguir o sol.

Aprende rápido, o Slender assente. Mas avisou a sua mãe, pelo menos?

O menino incha as bochechas, meio aflito. Certamente que não.

Sabe que eu não vou usar minha mente para lhe avisar de novo, garoto. Tem de ao menos deixar um sinal…

— Mas…

Sem “mas”, volte para avisar a... Até que o demônio grunhe quando escuta a voz de Andeir soar aliviada no fundo de sua mente, devido à ligação com a esposa. De novo, Nistra?! Assim ele nunca vai aprender!

Ah, deixa o pequeno, amor. Ela aparece ao lado do marido, em sua forma original alta e esguia. Ele sabe que está protegido aqui conosco, desde que não traga ninguém.

— Eu prometi, tia, não foi? - Keelin reafirma, para a aprovação da Femine.

Você tá cada dia mais bonito, ela segura o rosto dele com as mãos, deixando o menino vermelho de vergonha, fofinho demais, nem acredito que já está grandinho assim...

— Por favor me solta, tá me deixando com vergonha, tia...- ele consegue se soltar, ficando encolhido diante dos dois adultos rindo sonoramente - e o Primo? Ele tá melhor?

Sim, ele está se recuperando. Disse Rocco. Ganhou os tentáculos recentemente, então também recebeu um nome.

— Ahh! Já deu nome? E qual seria?

Por que não vem conosco para saber? Nistra estende a mão. Pode continuar a ronda, Rocco, eu assumo daqui.

— Tio, pode levar a cesta pra borda da floresta? - ele estende a cestinha que estava na mão - se não o Primo vai querer comer e são para a mamãe…

Rocco grunhiu, contrariado, mas se acalmou, pegando a cesta com um dos tentáculos. Era o mesmo caminho que ele estava tomando, de qualquer forma.

— Obrigado - ele sorriu - vamos tia, eu quero ver ele, deve estar bem bonito com os tentáculos.

Tenho certeza que está. 

O menino prende a respiração, para que a Femine o leve num Andar Esguio, para a casa deles. 

Prontinho, querido, ela ronrona, saindo de perto, o almoço vai ser servido daqui a pouco, pode ficar se quiser.

— Obrigado, tia - sorri, ao balançar a cabeça e se recuperar da tontura habitual.

Ele arregalou os olhos ao olhar para o ambiente, nunca se cansava da visão daquela casa subterrânea, iluminada pela única lareira na área central. Desde o tempo que a mãe dele morou ali, por um tempo, a casa tinha aumentado de tamanho. Agora tinha mais quartos, deixando a sala central mais parecida com uma sala de estar. Além da sala do lago, onde tinha uma piscina gigante debaixo da terra, uma delas tinha um monte de tesouros, que o garoto não podia levar para brincar mas poderia mexer se quisesse. Outra delas era a oficina de Tio Rocco, e não podia entrar sem que tivesse vontade de vomitar pelo cheiro horrível de sangue preto Shlanken, também usado quando seco para tingir as roupas deles daquele preto bem escuro, quando deixado de molho por meses na solução. Nojento, eca! E, por último, os quartos do casal e o do primo. Este último era onde ele se dirigia.

Encontrou o filhote deitado em sua cama, de bruços. Pela expressão corporal, meio tristonho, inclusive com a cara enfiada no travesseiro. Era perfeitamente igual aos adultos, só que menor, um pouco maior que a altura atual de Keelin. E olha que ele era um menino alto para a idade dele!

O filhote levantou a cabeça, mas não teve tempo de reagir, o humano foi direto em cima dele, rosnando de brincadeira - raaaaaaaawwrrr!

Os dois caíram da cama rolando, rindo alto, como os dois filhotes que eram, tentando dar golpes de brincadeira, e acabou com, dessa vez, o humano em cima dele.

— Haaaa, venci! - ele urra triunfante, levantando os braços até que um tentáculo preto bate na lateral dele, o fazendo cair com um grito - AAAUH, ei!!

Só porque você tá em cima, não significa que venceu, diz o filhote, os seus pensamentos com uma voz infantil, agora sai, eu ainda tou com as costas doendo. Essas coisas não saem facilmente, sabe...

— Então você ganhou mesmo os tentáculos, que legal! - ele pula em cima do Shlanken, mas não esquecendo de sair em seguida - qual seu nome, Primo?

Allen, ele diz, se levantando. Diminutivo de Allensimon.

— E você gosta do nome?

Gosto. Significa... “O que ouve com atenção”.Ele bufa, porém. Mamãe gosta de dar significado irônico para os nomes. Como o papai nunca descansa e o nome dele significa descanso...

— Haha, ela te chamou de desatento! - Keelin ri, balançando o corpo - Prazer de novo Allen, eu sou Keelin Sulaveik - estende a mão. O pequeno Shlanken conhecia esse gesto, e apertou sem demora, rindo do jeito dele.

— Então você ainda não pode brincar? - o garoto piscou, fazendo bico, mas conformado - ainda tá doendo muito?

Só quando eu fico deitado de costas, ele suspira, elas ainda arrastam no chão, mas papai disse que vai melhorar logo. E aí vou poder movê-los.

— Bom, então a gente pode depois ir pra floresta.

Sim. Podemos. E aí a gente luta.

 

Andeir andava pela mata, um pouco aborrecida. Já tinha passado da hora do almoço, Keelin deveria ter voltado. Ela sabia que ele estava com os Shlanken, mas também não queria que ele ficasse invadindo sem necessidade.

FIlhotes, não é mesmo? Era a voz de Rocco, encostado numa árvore, ao ter aparecido perto dela.

— Olá senhor - ela sorri, se virando pra ficar de frente para ele.

Depois desse tempo todo, você ainda evita me chamar pelo nome.

— Desculpe Rocco, força do hábito - ela sorri, então suspira constrangida - Ele não tem dado muito trabalho, tem? 

Ao menos tem mantido o meu ocupado. E com os instintos de luta afiados.

— Eu estou preocupada… ele tem passado muito tempo no seu território...eu não quero que ele acabe virando um rapaz que não entende os meios humanos...

Ele não vai esquecer quem é. Assim como você não esqueceu e resistiu. E… bem, ele é da sua linhagem, tem a permissão. E o Allen gosta dele. E Nistra também… Ele bufou, sentindo uma voz no fundo da mente. Ugh, eu também gosto. Satisfeita?

— Eu ainda assim, quero que ele aprenda ao menos a socializar com outros humanos. Isso vai ajudá-lo a ser um bom guardião, se um dia ele seguir com isso…

Tenha certeza que ele vai. O Slender se aproximou da humana. Um tentáculo a enovelou na cintura e, a levantando, a colocou no ombro. Andeir riu, enquanto o demônio a levava. 

Sabe Andeir, Rocco ponderou, meio para si mesmo. Algumas vezes eu… eu ainda acho que estou em um sonho. E que um dia eu vou acordar sozinho em minha casa, deitado no chão, ferido, a morte hesitando em me levar.

— Não devia pensar nisso senhor. É um insulto à sua realidade atual.

Nistra diz isso também. Ela não gosta de lembrar. Os passos lentos dele despertavam a mesma sensação que ela tinha tido antes, quando o conheceu. Passos lentos, mas uma velocidade impressionante, pois as passadas alcançavam vários metros.

— Eu algumas vezes, também penso assim. Mas… eu não me arrependo de tudo que aconteceu, no final das contas. Eu pude experimentar coisas na vida, conheci alguém que gostava, senti a dor do luto… tive meu filho…

Me parece uma vida plena. 

— Eu também consegui algo que eu não sabia que teria.

Que seria…?

— Consegui um amigo nas circunstâncias mais estranhas possíveis. E ele é careca, é duas vezes mais alto que eu... Meio sádico, chato e tem um humor muito ranzinza, mas tem um senso de honra e justiça…

Pare, já sei quem é. Está me fazendo ficar cinza.

Andeir abraçou a cabeça do Shlanken. Rocco realmente ficou cinza.

Agora Nistra não vai me deixar em paz com essa demonstração de afeto.

— E desde quando esposas deixam os maridos em paz, Senhor Descansado?

Sinceramente? Nunca me senti tão em paz. Em séculos.

E desapareceram no meio da mata, indo buscar o garotinho fujão. Andeir sabia que ele estava rolando na grama brincando de brigar com o seu “sobrinho”, e que talvez um dia provavelmente iria embora com o jovem Slender, enquanto procuravam um território próprio. E, um dia, ele cumpriria o pacto de Guardião. 

Mas também desejava que este destino fosse o que ele escolhesse, não o que ela queria dele. Ele era livre, o criaria para o mundo.

Ele seria com certeza, o guardião de sua própria vida.

 


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Notas finais do capítulo

E aqui está. O último capítulo da série.
Ainda vai ficar aberta pois eu ainda preciso revisar a história, mas eu considero terminada aqui.



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