Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 15
Pare com isso




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Andeir acordou se lembrando daquela noite, em que recebeu um beijo. O único em sua vida, nos lábios. Suspirou ao se dar conta de que era mais um sonho. Embora tenha sido uma sensação ótima, Andeir desde aquela época, não podia se dar ao luxo de sonhar com uma casa e uma vida normal. Oras, nem mesmo era normal, para começo de conversa. Mesmo que não fosse cega, não teria a aparência de uma moça comum… não tinha lugar para ela no mundo dos mortais.

Não sabia onde Alex estava, mas sabia que pelo menos, tinha feito o bem para alguém. Isso a confortava. Aliás, estava agora fazendo o bem para toda uma vila, permanecendo ali. Isso a confortou mais ainda. Centenas de pessoas estavam seguras por causa dela. O sacrifício diante de um pacto de paz.

Porém, sacrifícios significavam que ela teria de morrer, não é? Ser devorada pelo monstro?

Não vou lhe devorar, ela escutou a voz do demônio na sua cabeça. Isso a fez dar um leve susto, mas naquelas alturas, já estava acostumada.

— Perdoe-me, senhor… mas por quê? - Ela se perguntou, agora um pouco angustiada. - Eu fui enviada para o senhor por causa de um pacto com os outros da vila, o senhor não gosta de humanos… e, até onde sei, o senhor me detesta também. Mesmo que eu tenha me feito útil, ainda sinto o asco em seu âmago…

Tenho planos para você, ele disse simplesmente.

— Planos? - Ela ergueu uma sobrancelha, ainda deitada em sua cama. - O… o que pretende fazer comigo?

Saberá no tempo certo, ela ouviu um barulho de coisas se movendo onde seria a cama dele. Por agora, você continua fazendo o que faz aqui. Agora, descanse. A primavera não tarda, e teremos trabalho a fazer nela.

Ela se sentou, estranhando muito ao escutar a mudança de tom na voz dele. Parecia… quase… normal?

— Senhor? - Ela chamou baixo, cautelosamente. Um grunhido indicou que ele escutava - Está doente?

Ela escutou um breve silêncio, e então um rosnado que ela identificou como um riso.

Você é muito estranha, disse ele, primeiro sonha com viver uma vida normal com um macho que conheceu na infância, depois se conforma com sua condição como se fosse algo bom a se fazer, e agora se preocupa comigo como se eu fosse algo tão frágil quanto você.

Andeir corou. Ah é, ela tinha esquecido que ele vivia rondando a sua mente.

— Eu… tive um momento de dúvidas, só isso - ela diz, quase rouca - a vida tem tantas possibilidades, eu… algumas vezes sinto que fui privada disso. Mas é algo passageiro. Eu ainda estou firme em minha missão.

Eu não entendo, você achando que isso é uma missão.

— Senhor?

Há muitas coisas que não entendo sobre humanos, mas se há algo que eu entendo, pois animais têm esse pensamento, é que eles odeiam seres diferentes que eles, que não seguem um padrão, pois sabem que não vão sobreviver. Inclusive, há muito tempo, sempre que algum filhote de sua raça nascia com algum problema, deixavam-no à beira de minha floresta, esperando que algum ser sobrenatural o levasse, mas os filhotes acabavam morrendo de frio ou levados pelos lobos. Changeling, o nome. Para vocês, humanos, você seria uma Changeling. — ela o ouve se espreguiçar e se mover na cama enorme - Eu acho que, no final das contas, só queriam se livrar de você.

— I-isso não é verdade! - ela protestou - Eu… se eles queriam se livrar de mim, por que não fizeram quando eu ainda era um bebê? Teriam poupado o trabalho todo de me criar...

Talvez, mas não descarte a possibilidade. Talvez te criando até essa idade, tenham dado uma chance para que eu prestasse atenção em você. Bem, eles estavam certos. E agora tenho planos.

Essa conversa deu um monte de coisas para Andeir pensar, a maioria envolvendo todo o desenrolar de sua criação, sua mente vasculhando todas as lembranças que tinha do seu treinamento. Por que diabos tinham-na criado como se fosse virar esposa de um lorde, e não simplesmente como uma criada para ser jogada aos lobos? Pior, por que se deram o trabalho…?

— Não acredito em você - ela cruzou os braços - Isso seria ilógico, e insensato. Eles me criaram daquele jeito para servir ao senhor, nada mais. Se queriam se livrar de mim ou não, não me importo. O que importa é que eu estou servindo uma causa nobre. Uma Missão. E não falharei diante dela.

Pare com isso, ele grunhiu, a mão no rosto. Você não tem nenhum senso de amor-próprio, humana? Tudo tem de ser em favor dos outros? 

— E de que outro jeito se deve viver?

Ele grunhiu mais uma vez. Ela sabia, ele estava ficando irritado, mas ela não iria deixar o assunto pela metade.

— Madame Bartambu sempre dizia “uma pessoa que não vive para servir, não serve para viver”. Se eu sirvo ao senhor, então faz sentido me deixar viver.

O demônio rosnou, e os sinos encheram sua mente de novo, mas dessa vez, Andeir trincou os dentes, rosnando um pouco. Dedos invisíveis passavam pela superfície do seu cérebro, fazendo-a arrepiar todos os pêlos da cabeça. Extremamente desagradável, e ela não suportava mais isso.

— Senhor, por favor, pare com isso! - ela alteia a voz, tentando se fazer ouvir no meio do barulho infernal em sua mente - O senhor prefere uma serva ou uma louca?  

É, como suspeitei… — o demônio parou, como se tivesse satisfeito com o que viu eles realmente quebraram sua mente, lhe domaram e a deixaram dócil, indefesa diante de um perigo. Bem, tanto melhor para mim, mas… não serve para o que eu quero fazer com você. Não mesmo, tem de aprender a se virar, se localizar. Se defender.

— Eu sei me localizar - ela se levanta e se aproxima da cama dele, tocando as mãos na beirada - viu? Estou aqui diante do senhor.

Muito bom, mas aqui é minha casa, você já a conhece— ela sente um vapor quente sair da frente dela, e notou que estava bem em cima da cabeça dele, pois saíra das narinas. Mas se eu a jogar na floresta, em qualquer estação do ano, você não vai saber por onde andar.

— Mas por que vai querer que eu ande pela floresta?

Por que buscar comida para você é um saco, ele respondeu de imediato, e apesar de entender melhor de caça, você entende de comida humana melhor do que eu. Além disso, os humanos vivem sob provas concretas, não é? Então se eles a virem, saberão por meio de você que está comigo e o pacto ainda permanece. Isso vai manter aqueles pestes longe de bagunçarem minhas terras.

Isso a pegou meio de surpresa. Andeir virou um pouco a cabeça de lado.

— Oh… isso… - ela assentiu - isso realmente faz muito sentido. Talvez comigo os alertando e dizendo para não se aproximarem, pode ser que eles entendam melhor do que o senhor dando susto de morte neles. Uma ótima ideia, senhor.

Eu sei. Quebrei a cabeça esses dias tentando formular isso.

— Mas… tem uma coisa.

Ele gruniu de novo. E o que é?!

— Eles podem achar que eu sou uma espécie de bruxa. Sabe… um tipo de humana que serve aos poderes do mal… e… deita-se com demônios para ganhar seu poder.

Eca, por que eu quereria me deitar com você?— ela ouviu um bufo saindo das narinas dele, semelhantes aos de um cavalo - Eu hein, eu tenho bom gosto. Vocês humanos têm cada uma…

Ah, então não me deseja, senhor? Ela pisca um pouco, confusa e não se contendo de curiosidade.

Lógico que não. É igual um lobo montar uma corça. Acontece, mas por puro desespero do lobo de não ter direito a uma parceira. E a corça, lógico, está morta, pois se não ela fugiria da humilhação. Não é algo bom para nenhum dos dois.

Andeir fez uma careta meio de nojo. O demônio concordou.

Viu? Você também não gosta. Prefere seu macho humano do sonho, e eu prefiro uma Shlanken. Somos iguais nesse quesito.

— Ele… foi só um delírio de uma jovem tola - ela diz, suspirando meio triste - ele era um rapaz iludido, e não importava o quanto eu dissesse para ele parar de ser romântico, isso… isso só o fazia ser mais insistente. Então eu pedi para a minha cuidadora me trazer logo para cá.

Oh. Então preferiu não ficar com ele? Ele era tão… impróprio, para você assim?

— Oh, não, pelo contrário. Eu gostava dele, ele era bonito, muito bem asseado, cabelos compridos, um bom físico, e dava para notar que ele era um bom trabalhador, não vacilava diante das adversidades. 

Ainda não entendo o seu motivo para desprezá-lo…

— Ele atrapalhava meus estudos, me desviava de minha missão. Eu não queria mesmo decepcionar Babu e as outras freiras. Elas me criaram tão bem, me vestiram com as melhores roupas, o melhor do melhor… como se eu fosse me tornar esposa de um príncipe, um líder entre nós. Isso não seria algo que uma moça de minha origem ganharia. Eu… tenho muito a agradecer a elas.

Entendi. Acha que deve algo a elas. Interessante. Quem diria que vocês humanos também são capazes de se sentir assim.

— Como assim, senhor?

Não importa. Bem, ainda estou pensando nos detalhes deste plano. Então há os que ainda podem achar que você é uma bruxa… bem, eu não quero que isso também chegue aos ouvidos de minha raça, por razões... pessoais. Como fazemos eles pararem de pensar assim?

Os dois ficaram discutindo por um tempo. Parecia um plano bem interessante. Andeir sorriu um pouco. 

E silenciosamente agradeceu às freiras por elas terem afiado sua inteligência, se sentir como uma arma útil e pronta para o combate com certeza era muito bom.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ♥



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