Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 13
Quinhentos Ratos


Notas iniciais do capítulo

Acho que vou postar dias de segunda, quarta e sexta, não sei.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/492048/chapter/13

Então é por isso que vocês plantam aquelas gramas e arbustos no chão cavado. Faz todo o sentido agora. Ele diz, observando enquanto Andeir cozinhava. Dessa vez era um rosbife e uma sopa de legumes. Eles tinham combinado de dividir, mas, para o alívio de Andeir, ele era o tipo que comia um caldeirão inteiro de uma vez e aí passava uma semana sem se alimentar. Quase como uma cobra, parando para pensar.

— Sim, humanos plantam comida, para ficar mais fácil de alimentar - ela respondeu, regando o rosbife com o caldo feito com um vinho que, de novo, sabe-se lá onde ele arranjou - Criamos gado também, mas isso acho que o senhor entende melhor…

Sim, mais ou menos o que faço no território, só que não ajudo eles em quase nada. São animais, sabem sobreviver. E eu como os lobos também, se precisar, não é problema.

— Mas o gado é mais gostoso quando preparado, por isso que a gente cria e protege.

Eu realmente não escolho muito o que vou comer. Mas… vocês realmente comem de tudo também. Até uvas estragadas e com cheiro de velho… Ela sentia o nojo na voz da cabeça dele. E leite estragado e coalhado.. aliás, leite. Leite! Coisa que sai das mães! Vocês são adultos…

— O nome disso não é estragar, é fermentar - ela revira os olhos rosados - e a fermentação é controlada para fazer iguarias. E qual o problema em beber leite? Não são das nossas mães, é das vacas… que aliás, a gente cria por esse motivo também.

Mas as… uugh. Ela escuta um bufo das narinas do demônio. Não é a toa que vocês se reproduzem como ratos. Comem como ratos!

— Nossa, mas isso me ofende, senhor - ela pisca, olhando para ele - Aliás, fala mal de você também. O senhor falou mal de eu cozinhar, eu mostrei e você adorou. Agora diz que isso é comida de rato? O senhor está se chamando de rato, então.

Ela o ouviu grunhir, parar, ficar em silêncio, e então rosnar, frustrado. Andeir sentiu que ganhou dessa, mas não queria provocar ele demais. Ela tinha de se lembrar que ele ainda era quase duas vezes maior que ela, tinha tudo em maior força e poderia quebrar ela em dois. Para uma criatura como ele, ele era… meio frustrante, algumas vezes, para conversar. Tinha uma cabeça tão dura quanto ela era paciente, e algumas vezes tinha vontade de gritar, principalmente quando ele se irritava e usava aqueles benditos sinos na cabeça dela. Estava se acostumando, mas ainda doía.

Então se lembra de que ela tinha sido criada para isso mesmo, e, no final das contas, não estava mais do que fazendo seu trabalho.. Suspira. Verifica a comida. Estava pronta.

 

—POV SWITCH-

 

— Aqui senhor - a voz dela saiu meio seca, tristonha - Eu já peguei meu prato. Se quiser mais, eu posso fazer.

Ela o deixou sair para o lago subterrâneo, a passos lentos, como esperado de um humano cego. Por um momento se perguntou por que ela estava triste se ganhou a discussão, mas não quis vasculhar os pensamentos dela agora para saber. Na verdade, não queria mesmo saber, seus tentáculos se agitavam, e ele ainda sentia vontade de grunhir. Ele estava cada vez mais convencido que ela tinha poderes que ele não compreendia, e isso o deixava irritado. E também com muitas informações novas sobre humanos para analisar.

Um Andar Esguio, e estava fora. 

A floresta mais uma vez encheu seus sentidos, conectando-se ao seu interior como peças de um quebra-cabeça. A pele dos tentáculos detectou vibrações, luz e temperatura, além das texturas próximas. Seu nariz sentiu o cheiro das árvores, dos pássaros, dos esquilos dormindo naquela noite e os ursos hibernando no inverno. Seus ouvidos foram mais longe, escutando suas respirações e batimentos, bem como alguns lobos brincando na neve. Sua mente se estendeu e esticou para todos os lados de seu território, à procura de invasores e monitorando seus protegidos e aliados. Há tempos não precisava estender tanto assim para encontrar alguma coisa, mas sentiu que precisava de um sopro de ar fresco. Firmou o pé no chão e forçou a mente a estender um pouco mais.

Seria perfeito se tudo que ele sentisse, a grosso modo, fosse vertical. Uma ferida enorme num dos lados, perto do grande rio, ainda lhe dava nos nervos. Há séculos estava ali, um rombo enorme no canto do seu espaço. Seu território.

 Ele havia tentado, de muitas maneiras, alertar os humanos de que não deviam se aproximar do seu lado, e, na maioria das vezes, eles entendiam o recado, mas, como moscas, logo morriam e outros tomavam o lugar, sem fazer ideia, e recomeçavam tudo de novo. Várias e várias vezes pegava um deles tentando derrubar árvores, arrancar plantas, queimar… queimar! Para dar lugar a campinas sem sentido para criar aqueles animais grotescos, lentos, patéticos e tão gordos que se mover era difícil. E agora ele sabia, eram também animais explorados, para o desespero dele.

E para decorar, como se não bastasse, um belo sinal de “eu não ligo de invadir sua casa”: botavam símbolos mágicos nas casas de ferro frio, para ele não chegar, matar toda a vila, derrubar tudo e incendiar o que eles incendiaram. Aliás, onde eles acharam aquilo? Eles realmente entendiam de símbolos antigos, mesmo tendo uma vida tão curta? Não, pela lógica, se não já teriam invadido com aquilo e o atacado. Estava seguro nesse quesito, até onde sabia.

E apesar de ele ter atrapalhado a vida deles e feito disso tudo um verdadeiro inferno, o número deles crescia, devagar, mas estava ali. Tinham aumentado em quase um por ano desde que eles tinham se instalado ali, um tempo depois dele…Por um momento, se perguntou se isso se devia ao fato de que eles realmente se reproduziam como ratos… e apesar da força que tinha… ele só era um. Até mesmo quinhentos ratos fariam estrago num urso. Um breve pensamento passou pela sua mente interior, e isso o fez sacudir a cabeça tão violentamente que a conexão com a floresta se dissipou ao grunhir em raiva.

Eu não vou… procurar ajuda. 

Não mesmo. De longe, isso seria a pior vergonha de sua espécie. Nenhum Shlankenmann iria ajudar outro desta maneira, não quando ele pode fazer algo quanto a isso. Seria chamado de covarde, ou pior, de fraco. Somente se a floresta toda fosse devastada por uma catástrofe ou os animais de alguma forma morressem de uma epidemia forte, ou até mesmo se a sua própria vida estivesse em alto risco, que ele poderia sequer cogitar em fazer isso. Não era nenhum desses casos, nenhum deles estava fora de seu alcance.

Mas ele não sabia mais o que fazer.

Então se lembrou da carta. Os humanos da vila mandaram a garota como um sinal de paz. E bem, até agora, não detectou nenhum dos humanos da vila invadindo, apenas passando pela estrada que rodeava sua casa ou beirando a borda para procurar gravetos e outras coisas menores.

Quis sorrir ao se dar conta de que os humanos estavam sim, cumprindo seu acordo. Seria essa a solução? Talvez mantendo a garota viva e a transformando numa lenda, faria os humanos se lembrarem? Humanos se ensinam, de repente…

Não, espera... Tinha de se acalmar. Formatar um plano.

Passou a andar, devagar e sempre, para esfriar a si mesmo. Se não encontrasse ninguém para trucidar no meio do seu caminho, teria de se contentar com aquela coisa que estava perto do fogo.

Não era uma má escolha, mas não queria dar o braço a torcer. Já estava irritado por ter sido chamado de rato, mais ainda por uma rata branca cega.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Weiß Dämon" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.