Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 12
Não Senhor


Notas iniciais do capítulo

E aqui está outro. Estou numa rampage de escrita.
Eu pretendo mesmo terminar essa história.



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Alexander tinha de admitir, esse trabalho de “lenhador-não-lenhador” estava sendo um ótimo exercício de manhã cedo. Drummont não gostava de andar pela neve, mas não podia reclamar se tinha um estábulo quentinho de noite para dormir e sair do frio, e ele, algumas moedas e um lugar quente para ficar enquanto não se estabelecia. 

Aos poucos ia conhecendo os aldeões, quando entregava a lenha antes do toque de recolher. Não lembrava do nome de metade, mas ainda bem que existiam pronomes de tratamento. Uma senhora que morava na esquina ainda sentia falta do filho, e olhava para a floresta com esperança de que ele voltasse da caçada. Uma caçada que já durava duas semanas. Ele sabia que as caçadas duravam muito, ainda mais perseguindo uma presa, mas pelo que se contava por aí, ele duvidava de que ele fosse voltar algum dia. Não com o monstro por aí.

Outro senhor, o padeiro, que morava próximo do moinho de água, lamentava o fato de não poder mais fazer o seu famoso pão de nozes, cobiçados na época de colheita, e que não podia pegar mais fundo na floresta, onde tinham as melhores nogueiras. 

— Sempre pode-se colher as frutas e cogumelos sabe - ele dizia - as nozes e tudo mais, mas é difícil quando se tem tão pouco tempo hábil. 

Os agricultores do outro lado do rio alegam ter visto o Demônio Branco andando por lá pela noite, quando na lua alta. O que estaria fazendo, ninguém sabia. Mas sabia que o garoto que vivia nas ruas do outro lado do rio não vivia mais. 

— Mas ninguém ousou fazer nada? - Questionava Alexander, indignado pela tão pouca iniciativa dos aldeões.

— Acha que não, moço? - uma senhora disse, sentada na frente da sua casa, fumando um cachimbo com cheiro esquisito - A cavalaria real não vem aqui, tá muito longe da Estrada do Rei, mas muitos tentaram fazer algo por nós. Nada adiantou. O diabo é esperto. As garras são tão afiadas que armaduras são inúteis para sua força descomunal. E anda tão silenciosamente que nem Deus se dá conta de sua presença, some sem deixar rastros, como se ele fosse parte da névoa. 

— Minha vó uma vez me disse - disse outro, enquanto Alexander vendia um pouco de lenha para ele - que ela estava muito apertada e sem se dar conta do perigo, foi usar a casinha, aí quando saiu dela, viu o monstro. Era absurdamente alto, poderia ser confundido com uma árvore se não fosse a pele branca como a neve.

— Joséas diz que o viu numa noite, pela janela - outro relato, de uma senhora que esperava seu quinto filho - ele não tinha braços normais, mas tinha pelo menos seis deles, que se moviam como caudas de cobra. Negros como melaço maturado.

— Não, ele tem braços sim - dizia outro - mas ele os retrai pra dentro do corpo!

O que ele conseguia ver, é que muitos diziam muita coisa sobre o monstro, mas ninguém tinha uma ideia concreta de como ele era. Só que era grande, esguio e muito assustador. E que era um demônio. E era branco.

A orla da floresta estava cada vez menos delimitada, pelo que ele poderia ver. O demônio não andava somente pelas árvores, mas em pleno campo aberto. Ele havia se tornado corajoso, e agora aterrorizava os aldeões a ficarem trancados em casa à noite. As crianças brincavam com bonecos feitos dele, na esperança de um dia poder derrotá-lo, mas eram rapidamente impedidos pelas mães, com medo de que eles realmente pudessem enraizar aquela ideia. Os meninos faziam bico, e devolviam o pano branco velho que tinham usado para fazer a cabeça do monstro. Ele riu, antes de voltar para seu trabalho. 

Já havia descoberto que o demônio não ficava apenas na floresta, mas rondava por todo o vilarejo e um pouco pelo rio, e as plantações do outro lado. Cavalgando ao redor da floresta, com a desculpa de procurar mais lenha no chão, procurou ao invés disso, marcas de garras estranhas, que ele sabia que não eram de lobos ou ursos. Achou-as facilmente a alguns quilômetros a leste, e no outro dia, outros tantos a oeste, e seguindo um padrão peculiar de círculo. Ele não era nenhum caçador, mas se tinha uma coisa que tinha sido durante toda sua vida, era um aprendiz nato. Gostava de aprender tudo que pudesse ser útil, e ele tinha aprendido que, quanto mais inteligente e metódica a pessoa, mais óbvias eram suas coisas instintivas. E o demônio parecia ser o tipo meio-a-meio. Tinha uns palpites, mas para caçar esse monstro, tinha de ser cauteloso. Não queria acabar como vários outros corajosos que não voltavam. Teria de estudar mais sobre isso. 

O sol estava começando a se pôr. Deveria voltar para não gerar suspeitas. Quando em roma, faça como os romanos, não é?

O esmeril passou mais uma vez pelo fio da lâmina naquela noite. Quanto mais passava, mais sentia que ela estava louca para um combate. Sabia que ela estava precisando de um combate. Trabalhava com cautela, sabia bem que Madame Bartambu o vigiava de perto. Ela tinha começado a trabalhar na hospedaria somente para ficar de olho nele. Mas não seria uma velha que iria impedi-lo. 

Não senhor. Não quando tinha um anjo esperando para que ele a buscasse.

Parou um pouco ao se dar conta de que talvez, a esta hora, de tanto tempo que ele perdia na orla, ela poderia estar realmente morta.

Suspirou. Se fosse assim, então que serventia teria? Balançou a cabeça, não podia ser verdade. Não senhor.

 

Olhava para as árvores com um tom de desafio, e o velho Calebe olhava para ele com muita pena. Extrema pena.

— Ela não vai voltar, Alex - dizia ele - pode tirar o cavalinho da neve.

— Eu sei - ele tentava dizer aquilo, mas não para si mesmo, mas sim para calar a boca do velho - Eu só estou vendo quais as melhores lenhas para pegar.

— Muito bem - ele olha onde Alexander estava olhando - Eu evitaria ficar olhando para elas, se fosse você. Dá menos vontade de derrubar se não ficar namorando elas.

Alex ignorou o comentário.

— Diga-me, Calebe - ele comentou, enquanto escavava para tirar madeira embaixo da neve num tronco caído - você nunca sentiu vontade de… sei lá, sair da vila e procurar outras formas de vida?

— Já sim - ele assente - Eu era lenhador na outra cidade, mas minha esposa decidiu voltar para a vila para cuidar da velha mãe. Quando vimos, ela tinha morrido, as economias que tínhamos gastamos com os remédios da velha e não tínhamos escolha a não ser ficar aqui. E eu não posso exercer minha profissão se não quiser ser empalado feito o velho Nathan. - ele apontou para o esqueleto no alto do morro - Mas a vida não é ruim, não dá pra reclamar. Essas árvores derrubam muitos galhos, e uma vez tive uma sorte de encontrar um tronco caído depois de uma tempestade de raios. E outro no início de inverno, do outro lado. Eu nunca senti tanta saudade de empunhar meu machado como naquele dia.

— A guarda real nunca veio aqui? - ele perguntou outro dia.

— Nunca. Tão longe da estrada real, os cavaleiros nem se incomodam em chegar. Só para cobrar os impostos, os malditos - ele cospe - dizem que somos uma vila pagã, e nunca param para ficar tempo suficiente para saber das coisas. Ninguém quer ouvir histórias de velhos ou reclamações de crendices de aldeões. E aparentemente ele só ataca essa vila, não a do outro lado da floresta, uma semana ao norte. Então o território dele é por aqui mesmo. Mas somos um bando de malucos. Fortes, resilientes, e não fugimos por causa de um monstro branco, hehe!

Ou talvez por que não tem aonde ir, como você, pensou Alexander, mas resolveu ficar calado com essa. O pobre já tinha muita coisa para se preocupar.

E cada vez mais, estes comentários eram mais uma passada no esmeril de sua determinação. A sua lâmina interior estava ficando mais afiada do que nunca. 


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Notas finais do capítulo

Meus capítulos são sempre curtos, mas diretos. Não sei se isso é algo bom ou não, qualquer sugestão me digam.



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