Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 11
Achavam que não podia, mas pode.


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, tou continuando a história. Eu tou fazendo enquanto tou me dando umas pequenas férias do meu quadrinho, então vou postando de quando em quando.
Divirtam-se!



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A rotina de Andeir passou a ser um pouco mais fácil, com o passar do tempo.

Quando acordava, cedo de manhã, encontrava seu senhor já trabalhando com seus pertences. Algumas vezes era ajeitando moedas, outra era trabalhando em algo com as peles que sempre tinha na pilha. Ela dava bom dia, se alongava e, prendendo os longos cabelos num coque com uma tira de couro, se punha a trabalhar. Com uma vassoura feita de gravetos, ela limpava o chão de pedra do covil. Não era uma caverna comum. Ela sentia nas paredes, marcas de garras em toda a extensão, cruzadas em todas as direções.

— O senhor quem escavou isso tudo? - ela perguntou meio que pensando em voz alta.

Sim, ele respondeu, enquanto tratava de uma pele num canto da caverna. Era um lugar que parecia mais com um curtume, mas sem muito cheiro além de uma substância que parecia sangue mas misturada com álcool puro. Incomodava o nariz dela, então ela ficava a uma certa distância.

— Deve ter garras muito afiadas para cortar pedra assim - ela comentou, ao notar as paredes.

Óbvio.

— Não se machucou ao fazer isso?

O demônio parou o que estava fazendo, como que para pensar, então continuou.

Não. Ela sentia que a atitude dele estava diferente. Não hostil, mas também não receptivo. Ele não estava mesmo acostumado a ter companhia.

— Eu sei tratar feridas também se precisar.

Já disse que não, ele cortou, eu me curo rápido.

— Tudo bem - ela assentiu, voltando a varrer - Só achei que seria útil dizer.

Ele continuou em silêncio. Ele não deve mesmo estar acostumado com companhia… ainda mais uma falante. Ela sabia que ele podia ler os pensamentos dela, mas não se importou, deu de ombros e continuou varrendo. Pensou numa música e ficou com ela na cabeça.

Depois de limpar o chão, ela passou a procurar coisas para arrumar. Não que o demônio fosse desorganizado - na verdade até se surpreendia com o jeito metódico dele - mas umas coisas ou outras ficavam fora de lugar, a lareira precisava retirar a fuligem acumulada e trocar a lenha, e as coisas precisavam de um pouco de limpeza. Quando não tinha mais nada que conseguisse detectar, e tendo decidido que estava com fome, ia cozinhar algo para comer. Ele pareceu ter notado que humanos não comem só carne, então trazia várias coisas da floresta: cogumelos que ela separava ao identificar como comestíveis, nozes deixadas no chão pelos esquilos, frutinhas de inverno, até algumas trufas que ela prontamente usava de tempero. Uma conserva de frutas que ele tinha arranjado de sei lá onde, ela comia de sobremesa. Tinha até um monte de frutas secas e charque salgado, achadas numa bolsa, provavelmente de uma das vítimas. Em bom estado, ela sorriu muito com isso.

E apesar de curioso, o seu dono parecia sempre enojado de observar as coisas sendo preparadas por ela. Ela chegou a oferecer, mas pelo grunhido gutural, sabia que ele ainda não queria. Tudo bem também. A comida sempre durava alguns dias, e o resto sempre dava para cozinhar algo novo, o gosto da sopa ia ficando cada vez melhor. 

Um dia desses ela queimou o dedo com a panela quente, e apesar de não ter ido socorrer, ele pareceu preocupado, observando de longe. Ela sentia a mente dele rondando a sua, Andeir aprendeu a distinguir quando estava tentando entender o que estava acontecendo.

— Eu estou bem - ela assegurou, enfaixando o dedo - isso é normal.

Eu disse que se ficasse mexendo com fogo, iria se queimar. Vocês não têm uma pele como a minha, ele disse em tom de exasperação. E fica ainda mais irritado quando ela volta a mexer na panela. 

Que criatura teimosa. Continua mexendo no fogo mesmo assim…

— Eu tenho de continuar. Afinal, a minha comida não vai se preparar sozinha - ela diz, num tom calmo.

É claro que não, ela notou o sarcasmo na voz, afinal, as frutinhas não estão maduras, as nozes precisam ser maceradas para não quebrar seus dentinhos frágeis e delicados…

— Carne crua na verdade faz mal pra mim - ela corrige - eu posso comer mas posso ficar doente. As frutinhas, que na verdade são frutas grandes para mim, são ameixas de inverno, elas são boas assim, mas são melhores ainda se eu cozinhar com a carne e…

Sempre com esse assunto de cozinhar! ele corta com irritação. Ela conseguia ouvir o rosnado baixo dele nos fundos da caverna. Andeir deu de ombros, imperturbada.

— É o que mais gosto de fazer - ela diz, depois de um tempo - descobrir sabores sempre foi algo que gostei de fazer. E agora que não tem mais nenhuma velha condescendente me impedindo de trabalhar, estou aprendendo mais do que nunca.

Então… elas não te deixavam fazer isso? O tom agora foi de súbita curiosidade.

— Não.

Então isso por acaso é errado? Eu sabia!— ela o ouviu se aproximar, os passos largos atravessando a sala.

— Não é errado. Isso é normal - ela experimenta o caldo. Delícia - Mas só por eu ser cega, achavam que eu não conseguia fazer nada. Igual a você, se parar para pensar.

Isso pareceu pegar ele de surpresa. Ele parou a apenas um passo dela, e ela sentia o pensamento dele muito confuso.

Mas vocês são inúteis quando cegos. Ao menos todos que observei, e já observei muitos. Eles quando perdem a visão esbarram em tudo. Ficam atrapalhados, covardes...

— Talvez. Mas alguém que é cego por tanto tempo quanto eu, sabe que no fundo não precisa dela. A visão facilita muito, mas tendo uma mente funcionando e todos os outros sentidos, dá para viver.

Ele parou por uns segundos, recolhendo-se aos próprios pensamentos. Então continuou:

Então… achavam que você não podia.

— Não mesmo, senhor - ela se vira para encará-lo um pouco, depois que serviu um prato para ela mesma - Na verdade, exceto algumas das minhas cuidadoras, todos olhavam para mim e diziam que eu era… bem, exatamente como descreveu. Atrapalhada, não conseguiria me virar, coitadinha… - ela suspira - eu já estou acostumada, na verdade, até usava isso para conseguir o que eu queria, mas… - ela suspira - tem uma hora que ser subestimada o tempo todo cansa. Imagino que não saiba o que é isso… afinal, o senhor é o terror da floresta.

Ele pareceu gostar disso, se aproximando um pouco mais.

De fato. Ele assentiu. Sabe por quê?

— Por que o senhor tem três metros de altura, dez braços, dentes e garras afiadas?

Também. Mas porque ninguém pode me impedir de fazer o que eu quero.

Ela sorriu. Começou a comer, usando a colher. Ele franziu o rosto ainda, mas não fez objeção.

— Eu gosto do senhor - ela comenta, depois de uns minutos em silêncio - não me subestima. Bem, não me conhece muito, mas também não me impede de fazer o que faço. Ao menos quando estou fazendo certo. Não fica sentindo pena.

Ele ficou em silêncio, então ela continuou.

— E sinceramente, isso é melhor do que qualquer luxo que eu tive. Não sou tratada como a pobre Andeir. Somente… Andeir. Ou humana dos olhos inúteis, como você me chama. São inúteis mesmo, não tenho como negar.

Ela escutou um ronronado que parecia um riso. Era a primeira vez que ele ria numa conversa.

Você é estranha. Ele diz divertido. Mais estranha do que os humanos costumam ser.

— Obrigada, eu acho - ela sorriu junto - O senhor… eu não conheço outros iguais ao senhor, então não posso dizer se é normal ou estranho.

Não tem outros, ele diz, ao menos aqui. 

— E onde estão?

Se eu soubesse… só sei que estão bem longe do alcance da minha mente. E minha mente alcança todo o meu território, quando estou concentrado.

— Ah. Eu sei que não sou nenhum… Slenderman? - ela arrisca. Ele parece não ligar - bem, sei que não sou nenhuma Slenderwoman, se isso existe, mas fico feliz de ao menos não estar mais sozinho. Deve ser chato não ter ninguém para conversar.

Estou habituado. Na verdade, eu acho estranho alguém responder, ele admite.

— Vai ser por pouco tempo. Comparado ao tempo de vida que o senhor tem…

Talvez. Mas ao menos depois que você for, minha casa não vai ficar cheirando a carne estragada — ela sente uma leve pressão no prato dela, ele tinha pego algum pedaço de carne - E trufas molhadas e outras coisas que você mistura nessa panela, já perdi a conta... 

Um som de fungado. É, não vou sentir falta mesmo.

Andeir começa a rir até que escuta um som abafado de algo sendo rasgado que a faz arrepiar até os pêlos da nuca. A respiração do monstro se torna menos suave enquanto engole o pedaço que ele havia roubado do prato de Andeir, e estala a língua. Pelo modo como sentiu que ele devorava, não queria nem imaginar como seriam os dentes dele.

Um momento de silêncio, ela escuta um ronronado interessado, então de repente ela escuta a panela sendo retirada do fogo e revirada com um monte de sons de alguém engolindo em grandes sorvos. Andeir piscou quando a panela foi colocada ao lado dela. Quando testou, estava vazia. Em segundos, foi-se a refeição de dois dias.

— Ah… - é tudo que ela conseguia dizer. 

Me diga, ele falou por ela, depois de um momento de silêncio, que tipo de coisas a mais você sabe estragar pra fazer ficar bom?


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Notas finais do capítulo

Aí está. Estou deixando um intervalo de alguns dias para agendar as postagens, mas eu tou aproveitando todo tempo livre que eu puder.
Não quero deixar vocês órfãos da história tão cedo hahahaha.



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