Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 5
Confiança é a Alma do Negócio


Notas iniciais do capítulo

Demorou, demorou e demorou, mas depois de quase dois meses um capítulo novo chegou! Foi divertido demais escrevê-lo, não sei porque demorei tanto... mas enfim, espero que vocês captem o humor que quis trazer para ele e se divirtam tanto quanto.
Beijão!



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Smoking. Ele amava smokings, mas teria de abrir mãos dos seus para ir a um show performático da estrela pop, Beyoncé. Ao invés do elegante traje, escolheu camisa social cinza cadet, coleta cinza chumbo e calça de linho da mesma cor. No geral, a vestimenta caiu tão bem quanto a primeira e desejada opção, e Ronald só teve de arrepiar um pouco os cabelos ruivos, criando um topete moderno com ajuda do gel para deixar o visual ao seu agrado. Esperava que ao agrado de Dorah também.

Essa ideia de ter de conquistá-la parecia cada vez mais engraçada e discrepante. Não discrepante porque ele não teria competência, isso nunca. Ronald Weasley confiava no seu taco como Beethoven confiava em sua intuição ao compor surdamente sua nona sinfonia. A disparidade estava em levar ineditamente uma loba multimilionária para sua cama, quando seus edredons ficaram tão acostumados com mulheres jovens e durinhas.

Ele consultou a internet do celular enquanto era passageiro no carro de Simas, para avaliar novamente Dorah Vyrlant fisicamente.

— Já tá se apaixonando? — brincou Simas olhando de relance o que o amigo ruivo consultava através da tela de cristal líquido.

— Ela até que não de se jogar fora... desse ângulo. — mostrou uma foto de premiação do lançamento de Arthur Scott onde Dorah estava atrativa sobre uma perspectiva generosa: de lado e da cintura para cima.

De corpo inteiro, a escritora detinha fartos culotes e coxas grossas das quais o editor supunha abrigar uma generosidade de celulites.

— Ela é rica, Rony. Você acha que não passa a semana inteira nesse estica e puxa das clínicas de estética? — objetou Simas quando ele levantou a questão.

— Ela é escritora, meu caro amigo. Você mais do que ninguém deveria conhecer essa raça. Eles acordam e sentam a bunda na cadeira, de onde passam o dia todo, acompanhados de altas doses de doces e café preto. Possuem mais vaidade pela diagramação do livro do que pela miopia que desenvolverão com tantas horas diante do computador.

— Alguns usam máquinas de datilografar ainda.

— Você tá falando do Stephen King?

Simas deu de ombros, rendido.

— Pense na promoção. Pense no contrato!

— Estou pensando. Na verdade, não estou pessimista, só curioso com essa novidade.

— De qualquer jeito, será uma carne totalmente nova no seu “abatedouro”. Um troféu, eu diria.

Rony riu, sacudindo a cabeça.

— Amigo, ainda bem que somos só nós nesse carro. Até minha vó se me escutasse sendo tão sexista daria um tiro de escopeta na nossa fuça.

***

Nas vantagens da área VIP Rony e Simas mostraram seus convites e evitaram a multidão da arena comum. Um segurança os apresentou um caminho muito mais sofisticado: o acesso luxuoso, acarpetado e aromatizado, que levava para os elevadores sociais. Ao entrarem, o editor ruivo aproveitou a ausência de um ascensorista e deu uma última conferida no visual através do painel lustroso antes das portas abrirem-se.

A área abastada da casa de show era formada pelo mezanino de espaçosos camarotes circundando toda a extensão do palco. Caminhando para procurar seu lugar ao lado de Dorah Vyrlant, Rony identificou muitas celebridades. Atores, cantores, escritores, produtores, esportistas, dentre tantos outros nomes populares. Cumprimentou alguns rostos que o reconheceu como editor e seguiu na busca da escritora.

Simas a identificou no penúltimo camarote da esquerda. Ele então endireitou as costas, trouxe um ar solene à tez e adentrou ao local, aproximando-se do seu assento, imediatamente ao lado da mulher. A presença dela era uma aura incomum dos demais mortais que dividiam aquele espaço. Seus olhos maduros despiram suas pretensões e seu perfume mascarou completamente o dele de tão forte que era.

— É um prazer sem igual, Sra. Vyrlant, ou seria apenas Dorah? — a cumprimentou. Galante pegou a mão dela para beijar.

— É Sra. Vyrlant pra você. — rebateu rigidamente.

As suas costas, Rony escutou Simas soltar um resmungo que poderia ser uma risadinha incutida.

— Posso me sentar, Sra. Vyrlant? —perguntou cautelosamente.

— Ora, se você é quem eu penso que é esse lugar é seu, portanto não precisa de autorização. Venha rapaz, sente do meu lado. — deu uma palmadinha no estofado com sua mão cheia de anéis.

Ele obedeceu se sentindo meio capacho.

— É tão bonito quanto dizem. — ela comentou encarando-o penetrantemente.

E, por incrível que pudesse parecer para o editor, Dorah possuía algo hipnotizante, atraente e provocantemente feminino. O mérito poderia ser atribuído aos seus lábios carnudos e caprichosamente delineados pelo batom canela.

— Dizem dizendo por aí que sou bonito, é? — sorriu galante, ajeitando-se na poltrona. Simas sentou na outra, logo atrás. — Que interessante!

— Pode bem ser trabalho de passarinhos propositais, mas, ainda sim eles estavam completamente certos. Me diga, esse cabelo que beira a perfeição, conseguiu de quem? Da mamãe ou do papai?

— Heheh! — risadinha mais nervosa não houve — Foram dos dois.

— Não sei se você faz o tipo que lê toda a obra do autor que quer puxar o saco, de qualquer forma, meu protagonista de Arthur Scott, o próprio, tem um grande melhor amigo e ele tem cabelos ruivos. Sempre achei lindo homens ruivos... Acho que são essas coisas das sardas. Uma vez fiquei com um que tinha várias no bumbum, você tem também?

Se Rony não tivesse alguma malícia defensiva poderia cair numa gagueira a partir dali. Ela debochava dele ou era somente seu jeito de falar? Será que a maluca da Lovegood deixou escapar alguma coisa sobre ele ao telefone, para o empresário de Vyrlant, que envolvesse “garoto de programa” e “facilitador de contrato” na mesma frase?

— Olha, Sra. Vyrlant, as mulheres que passaram uma noite comigo nunca comentaram sobre isso.

— Uma noite? — ergueu a sobrancelha.

Saia dessa seu idiota, saia dessa!

— Acho que elas enjoam das minhas sardas e vão embora. — brincou.

— Ou quem sabe seja ruim de cama. Isso também espanta uma mulher.

Simas deu outro gracejo a suas costas. Rony remexeu-se na poltrona como se ela estivesse em brasas.

— Não sou um homem de me gabar de muitas coisas, entretanto, se tem algo que posso me orgulhar é de valorizar e explorar todos os prazeres do corpo feminino. Sensações inéditas minhas amantes encontram no meu domínio, sou praticamente um fenômeno no assunto.

— E convencido, não é, querido? — Dorah pegou-o pelo queixo e o alisou. As unhas compridas fizeram cócegas na sua pele fina.

— Estou aberto a testes.

Não! O convite saiu antes do previsto. Saiu desesperado e boçal. Saiu muito canalha.

— A proposta para um test-drive é tentadora e eu a aceitaria a uns dois anos atrás. Ultimamente decidi que quero apenas modelos clássicos, seguramente reconhecidos.

Simas levantou subitamente e saiu do camarote. Rony podia ver aquele cara de pau rolando igual um hamster de gaiola de tanto rir, no corredor. Ele, em oposto, devia estar com ares de recém-atropelado.

— Quando nosso assunto ficou agressivo? — argumentou sorrindo tão falsamente que até doía. — Passamos para assuntos menos íntimos, de interesse comum, como seu novo romance.

Perdi. A não ser que essa criatura aniquiladora tenha piedade e me adote, perdi meu principal trunfo em questão de minutos.

— Ah, que pena! O show vai começar. — ela apontou para o palco. As luzes estavam se apagando na arena e os espectadores ficando eufóricos — Conversamos sobre trabalho depois da diversão.

Rony achou antagônico alguém do estilo da autora inglesa gostar da pop e barulhenta Beyoncé. Teve de engolir a língua mais vezes por esse “achismo”. Dorah vibrou, cantou, e acreditem se quiser, até puxou ele para uma dança. Apertou o traseiro dele também, só para constar.

Uma hora depois de muito barulho e luzes estroboscópicas o show declarou uma pausa. A casa de show voltou a acender-se e uma equipe de garçons entrou de camarote em camarote servindo champanhes. Rony pegou uma taça e passou outra para a escritora. Brindaram e beberam calmamente.

— Falamos sobre o que antes daquela diva nos agraciar com tanta energia?

— Sobre você, a diva da fantasia. Dorah, vou direto ao ponto porque não sou um profissional de palavrinhas medrosas... — por mais que a bebida fosse fraca havia dado uma coragem nele em relação à poderosa mulher — A Bússola de Ouro é a única editora em toda a América com porte suficiente para dar o tratamento merecido a suas futuras publicações. Lideramos o mercado, vencemos diversos prêmios de qualidade editorial na costa oeste, no leste, no norte e sul dos Estados Unidos e nossos autores viram Best-sellers em questão de dias assim que são publicados. Oferecemos um tratamento exclusivo até aos nossos escritores menos reconhecidos. Para nosso maior medalhão, Dorah Vyrlant, daremos nosso tempo e pleno esforço em prol da sua satisfação, a dos seus fãs atuais, e a dos futuros fãs que iremos angariar para você somente com nossa qualidade em publicações e propaganda.

A inglesa assoviou transparecendo estar vastamente impressionada.

— Que discurso lindo. Tentador! — Não... ela está debochando...

— Sra. Dorah...

— Tenho uma contraproposta. — ergueu a mão num gesto para que ele se calasse — Vou assinar seu contrato e te deixar rico, rapaz. Poderá ter um, dois, dez apartamentos para seus encontros com amantes de uma noite só. Gostei de você, quero ajudá-lo a ascender. Entretanto, terá uma condição.

— Está me deixando ansioso. — tomou um pouco do champanhe para aliviar a tensão. O líquido desceu gelado e espumante pela sua garganta apertada.

— Essa sua autopromoção de homem irresistível é verdadeira ou um truque barato para me seduzir?

— De modo...

— Seja sincero! — ordenou.

Rony relaxou no assento e assentiu.

— Minha chefa achou que um rosto bonito iria agradá-la e amaciá-la durante a reunião.

— Mulher inteligente.

— Sobre eu ser um homem irresistível, bem, sou bem sucedido financeiramente, cuido do meu corpo e da minha saúde intelectual, me considero uma companhia agradável e só tive elogios na cama. Dou duro para agradar minha parceira.

— Quantas mulheres já teve?

— De uns anos para cá todas as que quis.

— Perfeito. — sorriu maquiavelicamente. — Nunca vi alguém encaixar-se tão bem para um perfil. Olhe para frente.

Ele obedeceu. Onde a linha de seu olhar alcançava, Rony enxergava somente o camarote da direita, no outro extremo do palco.

— Que tipo de teste é esse? Confesso estar ficando assustado.

— Seu tolinho, me considere inofensiva igual uma leoa defendendo sua cria. — pegou um binóculo dentro da bolsa e passou para o editor — Ponha isto e olhe novamente.

Como um cãozinho amestrado, o ruivo enfiou o objeto na cara e esquadrinhou o camarote oposto.

— O terceiro, da esquerda para direita, tem três pessoas. Três mulheres e um homem. A de cabelos castanhos e vestido azul, que está entre as outras duas moças. Acha ela bonita?

Averiguou com cuidado. Tinha ombros delicados e um risinho reservado. O busto era modesto, o que deveria significar que possuía seios roliços e pontudos.

— Obviamente.

— Acha que consegue conquistá-la? Fazê-la apaixonar-se perdidamente por você?

— Como? — Rony abaixou o binóculo e a encarou perplexo.

— Como eu não sei. O especialista em ginecologia aqui é você. Daqui um mês vou marcar uma festa para comemorar meu aniversário na minha cobertura recém-comprada em Nova York. Está convidado. Neste dia terá de me apresentar ela e, eu terei de ser convencida de que a moça cai de amores por sua pessoa.

Rony ponderou. De início achou o pedido estranho e descabido, uma espécie de cilada. Contudo, olhando por uma ótica positiva, parecia-se demais com sua ideia original, mas, ao invés de ter de conquistar a loba dominadora, teria uma pequena gatinha para dobrar. Olhou mais atentamente para aquela coisinha linda. Ela dialogava usando graciosos gestos com as pessoas que a acompanhava. Só de observá-la conseguia ler doçura e amabilidade em sua personalidade. Seria muito fácil, e prazeroso. Corria-se o risco dela ter alguém, porém, a ausência de aliança em seus dedos anelares significava que nada sério rondava sua vida amorosa.

— Eu aceito, mas só se me disser por quê?

—É tão difícil imaginar? Preciso quebrar o tédio da minha rotina. — bebericou seu champanhe elegantemente. — Ela tem de estar apaixonada, tão apaixonada que eu e uma trupe de cegos juntos deveremos enxergar coraçõezinhos pairando sobre sua cabeça.

— Será fácil. Considere o contrato assinado. Vou pedir para Luna digitar e deixá-lo pronto para daqui um mês. — disse prepotentemente — Uma dúvida apenas. Quem é ela?

— Não sei. Estava passando o olho nos rostos e a jovem me chamou atenção. Se eu fosse você começava a trabalhar, quando o show terminar ela pode se perder na multidão e então sua chance deverá passar.


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