Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 13
Estranhos Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo meus lindos!
Comentem, por favor ;)
Beijões



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Não teve o socão prometido esperando por Ronald no trabalho no dia seguinte, mas nada estava bem. Dino o fitava como alguém que tinha preparado uma macumba regada a ovos podres e sangue de bode toda vez que o ruivo passava perto da sua baia de trabalho. Simas lançava indiretas cruéis sobre o “Roniquinho” o mais alto possível dos seus ouvidos. Apenas Neville trocava algumas palavras com ele, a maioria para dizer que ele agira errado, e que Dino daria o socão a qualquer momento.

Apesar dos pesares, o rapaz experimentava a leveza de uma manhã adorável ao lado de Hermione, e mirava os pensamentos nela para não se aborrecer com o complô dos amigos. Ela (assombrosamente) não sabia da possibilidade de fazer waffles, que não fossem comprados na padaria mais próxima. Rony então arregaçou as mangas (uma pequena força de expressão, afinal uma única peça de roupa ficara em seu corpo) e pediu para a namorada aguardar enquanto ele desbravava a cozinha dela em busca dos ingredientes e dos meios de se assar uma boa massa para o café. Foi o preparo de waffles mais vistoso da vida do editor. Aquela linda mulher se postou na bancada, o mesmo camisão da noite passada, os cabelos soltos e volumosos (sem chapinhas ou escovas) admirando os dotes culinários herdado dos Weasley. Por duas vezes ele foi obrigado a se debruçar sobre a bancada e roubar selinhos atrevidos, mas completamente justos já que era ele quem cuidava da excelente alimentação dela naquela manhã.

 Como tudo que era bom acabava rápido, ele foi embora do apartamento dela, e algo oco vibrou no peito dele por isso.

Era um sábado e o prédio começou a esvaziar mais cedo, a maioria dos empregados indo embora na hora do almoço. Rony ficou um bom tempo sozinho na sala da copiadora, fugindo dos olhares reprovadores, e somente abandonou-a, com fardos e fardos de cópias debaixo do braço, depois das duas da tarde. Ele deixou os papéis em sua sala e foi para a sala da diretoria ter com sua chefe.

De sábado a secretária de Luna não vinha, portanto, o rapaz passou direto pela antessala e bateu três vezes na porta dela. Luna demorou um pouco para chamá-lo.

— Entre.

Rony deslizou para dentro da sala da diretora e aproximou-se da mesa. Ela indicou a poltrona vazia a sua frente, o olhar sonhador, mirando algum ponto acima da sua cabeça.

— Como vai, Ronald?

— Tudo certo. Você queria falar comigo?

— Sim, sim. Ontem eu estava em casa e percebi que Vênus estava galgando por Capricórnio, eles estão praticamente se engalfinhando — disse com irritação — o que é sempre um presságio de coisas incomuns. Não deu outra. A própria Dorah Vyrlant me ligou perguntando como ia seu trabalho.

— A aposta?

— Claro que é a aposta, por Netuno, Ronald!

— Desculpe, ando um pouco cansado.

— Tudo bem. — Luna disse com uma calma imediata.

— As coisas estão caminhando.

— A festa está chegando e você tem que apresentar a moça, a tal pretendente escolhida por ela, completamente apaixonada por você. Ela está apaixonada por você?

Ele lembrou da madrugada passada. Do sexo incrível. Do cheiro dela grudado no cabelo dele.

— Sim, muito apaixonada.

— Sabia que você não me decepcionaria. — Luna relaxou no seu assento. — Provavelmente teremos de alugar outra gráfica, porque apenas a da Bússola de Ouro não dará conta das tiragens da nova saga da Vyrlant. A Barnes & Nobles já está com uma lista de cinco mil reservas e o livro ainda nem nas mãos do editor!

Rony assoviou impressionado:

— Grandes notícias! — animou-se na poltrona.

A reunião com Luna, que queria discutir outros tópicos com o editor, durou mais uma hora. Depois ele se despediu da chefe, desejou-lhe um bom fim de semana e tomou os elevadores. No percurso, uma jovem muito bonita saltou do quinto andar e flertou descaradamente com o ruivo. Ele deu um breve sorrisinho à moça, porém sua cabeça estava longe.

Estava em Hermione. No quão gostoso havia sido acordar sentindo o corpo dela colado no dele, e no primeiro instante em que se falaram depois das peripécias da noite ela sussurrou:

“ Queria parar o tempo agora. ”

***

Depois de acordar um pouco dolorida nas costas, no chão da sala, Hermione despachou o ruivo do seu apartamento. Antes, porém, ele acordou muito disposto cobrindo-a de beijos deliciosos e a ensinando como preparar waffles sem a ajuda da padaria da esquina. Um verdadeiro mistério, ela praticamente não sabia da possibilidade de criar waffles sem o grill e uma pessoa profissional. Rony tinha um jeito surpreendente de lidar com utensílios de cozinha. Ele misturou os ovos, peneirou a farinha, acertou a quentura da frigideira passando cada massa cuidadosamente na chapa. Era uma criatura absoluta divina, sem camisa, os cabelos amarfanhados, jogados displicentes para o lado, vestindo apenas a cueca samba canção. Quando ele depositou o café da manhã no prato dela, sorrindo galante, ela quase teve vontade de pular em seus braços e repetir a dose da madrugada.

A despedida na porta foi estranhamente desoladora e poucos minutos depois em que se encontrava sozinha, seu celular tocou loucamente anunciando sobre acontecimentos nem tão bons prestes a emergirem.

Hermione não trabalhava de sábado, ou melhor, ela ficava em casa adiantando o que podia nesse dia. Sua semana nunca era calma. Mary era desorganizada e gananciosa, uma vontade ansiosa de agarrar todos os contratos disponíveis, logo sua pilha de trabalho nunca diminuía. Naquele sábado, infelizmente Hermione havia sido requisitada a comparecer na presença da chefe, durante o almoço, que mesmo sendo um encontro combinado no shopping, ainda era desagradável.

Mary acenou para a morena poder vê-la em seu vestido branco estilo oriental e chamou-a para a mesa ocupada pela mulher no meio da praça de alimentação.

— Oi Mary. — a morena avançou dando um beijinho rápido no rosto da chefe.

— Hermione, Hermione! — exclamou Mary espevitada — Sente aqui agora.

— O que houve? — a moça perguntou preocupada com o desespero da outra.

— Me diga agora: como anda as coisas com aquele homem? A Dorah ligou para mim hoje cedo querendo informações. Não me diga que ele ainda está com você?!

Hermione se enterrou na cadeira disponível, sem forças. Aquele assunto não. Não naquele dia em que ela ainda estava com remorso de tudo ter sido tão bom com Ronald. Precisaria de um fim de semana inteiro para digerir a noite fantástica deles.

— É que...

— Ai! Nem começa! — Mary ralhou franzindo o cenho — Estão juntos, né?

Ela confirmou acenando a cabeça.

— Eu achei que você fosse mais competente, Hermione. Não podemos perder esse contrato por nada. A editora que agarrar essa bocada vai contar presidentes americanos pelas próximas três gerações!

— Temos alguns dias adiante. Vou me esforçar mais. Estou quase lá.

As palavras saíam cinzas da boca da morena e não convenceriam Mary nem se ela estivesse disposta a ser enganada:

— Espere aí. Essa sua cara é a cara que eu estou pensando? Você está gostando do pilantra?

— MAS É CLARO QUE NÃO!!! — exclamou enérgica, algo que continuou não convencendo nem um pouco a chefe.

— Vou dizer apenas uma vez, Hermione. Se por um acaso, se houver a mais remota possibilidade de eu acabar perdendo esse contrato porque dependo de você, não vai sobrar uma mesa para seu bumbum durinho nem na minha editora nem em nenhuma outra que eu puder te recomendar muito mal. Isso é apenas um aviso.  

— Que bom que estou muito à vontade nessa situação.

— Eu não preciso da sua ironia.

— E eu preciso de espaço! — Hermione espalmou a mão na mesa — Não sei se parou para pensar, Mary, mas tudo que eu estou fazendo por esse contrato vai muito além de causar boa impressão numa reunião ou ralar madrugada adentro para apresentar um workshop. Eu tenho que dormir com esse cara e bancar a namorada dele! Tenho sentimentos... e ele também.

Mary arregalou os olhos e levou a mão na boca.

— Para por aí. A senhorita sabia muito bem onde estava se metendo e agora fica toda cheia de dedos pesando o coraçãozinho daquele funcionário mequetrefe da Bússola de Ouro? Realmente, Hermione, assim fico decepcionada. Achei que você queria correr atrás dos seus sonhos e manter o incrível padrão conquistado até aqui na sua vida.

A morena mordeu os lábios, sem resposta para o sermão. Carrancuda, cruzou os braços e ficou observando famílias felizes passeando daquela forma patética, um cordão humano entre o pai, a mãe e os filhinhos, pelos corredores. Atrapalhando o caminho de pessoas ocupadas e independentes, almoçando antes de voltarem ao trabalho ou pagando uma conta quando a primeira oportunidade no dia surgiu.

 Afinal, quais eram os sonhos dela mesmo?

— Vou indo. — Mary levantou bruscamente da mesa e a sacudiu pelo ombro. Antes que a moça pudesse desviar já estava recebendo um beijo de mero encostar de bochechas e um abraço esquisito da chefe — Não quis ser dura com você. Se esse contrato for nosso, como sei que será, essa foi só uma das nossas reuniões acaloradas. Se cuida!


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