Capítulo 8

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Como ela realmente imaginava, não conseguiu dormir á noite toda. Mesmo que quisesse e se sentisse cansada, sua mente e porque não, o seu coração também, fizeram questão de não permitir que ela dormisse como deveria e precisava.

Isso por culpa de Cruello Devil.

Ela até tentou não se envolver mas...quem teria capacidade de se manter inabalável diante das atitudes do “senhor Devil”? Era impossível, ainda mais para uma garota como ela. Uma garota que não estava habituada a ser alvo do interesse de alguém, ainda mais de alguém do nível dele.

Bastava fechar os olhos que ou recordava do momento em que haviam literalmente se agarrado no apartamento ou da forma como ele havia agido antes de ir embora. Aquela dualidade oposta havia sido muito estranha, muito estranha mesmo. Seria Cruello bipolar e seu cabelo de duas cores serviria para demonstrar isso? Ele era repleto de excentricidades, sofrer de algum distúrbio do tipo não seria de surpreender.

Acometida por tantos pensamentos e lembranças, Igraine só conseguiu dormir quando já era meio da madrugada. E quando acordou, percebeu que estava atrasada.

– Ai que droga! Que droga! De novo não!

Durante três anos seguidos, estivera sempre sendo acordada por Dois Tons, que agia como seu despertador natural, inclusive nos finais de semana quando queria dormir por mais tempo.
Dois Tons.
A preocupação com o estado de saúde de sua dálmata a fez esquecer por um momento seus sentimentos sobre Cruello. Sentia-se com raiva de si mesma por não ter pensado tanto em DoisTons como deveria. De fato, precisava se afastar daquele homem.

Estava com o celular em mãos á fim de ligar para Yumie quando o aparelho tocou.

– Igraine, Igraine! Você está aí?
– Lógico né, se eu atendi o celular...nossa Yumie, eu estava pensando em ligar, que ligação telepática é essa?
– Já está vindo para a ONG?
– Bom...estou saindo de casa. – mentiu, para não assumir que estava atrasada. – Mas aconteceu algo com a Dois Tons?
– Não, ela está bem. O efeito do sedativo passou e ela já até comeu. Mas é outra coisa.
– O quê?
– Está a caminho um animal em estado grave. Preciso da sua ajuda!
– Não se preocupe, logo chego aí!

Decidida, Igraine tratou de se apressar. Nada melhor do que o trabalho de ajudar animais debilitados e abandonados para afastar seus pensamentos de coisas que ainda queria considerar como inúteis.

~*~

Já passava do meio-dia quando Cruello Devil chegou á sede da empresa da Devil’s. Trajando calça e camisa social negra, o que atraía os olhares era o colete autêntico de vison não sintético que usava.

Os funcionários mais experientes sabiam que, quando Cruello Devil surgia vestido em um de seus muitos casacos de pele era porque ele não estava de bom humor. Na verdade, Cruello raramente tinha um bom humor no ambiente de trabalho, mas quando aparecia com um casaco de pele era porque seu humor estava péssimo.

Valder, embora fosse novo naquele emprego, já havia sido informado por alguns funcionários acerca disso. Havia até uma lista de nível para se medir o humor do senhor Devil com base nos acessórios de pele animal que ele usava no ambiente de trabalho. E pelo colete de pele , ele estava no nível intermediário. Então...qualquer cuidado com as palavras poderia salvar o emprego.

– B-bom dia chefe...

Sem resposta. Cruello atravessou o corredor ignorando ele e a secretária. Quando estava indo em direção á porta com acesso á sua sala particular, Valder se precipitou sobre ela.

– De-desculpa, senhor, mas poderia aguardar um pouco antes de entrar?
Os olhos de Cruello se estreitaram.
– ...por que eu deveria?
– É que...quando cheguei hoje de manhã junto com a Millley... – ele começou, indicando a secretária. – Nos deparamos com uma pequena desorganização na sua sala. Eu vou arrumar! Estou tentando arrumar logo que cheguei mas aconteceu outros imprevistos e eu...
– ..pode arrumar enquanto verifico os relatórios.
– Não! – Valder se colocou entre Cruello e a porta. – O senhor pode aguardar, fazer um lanche na cafeteria e...
– Saia daí, Valder! Está me proibindo de entrar na minha própria sala? Eu sou o dono da Devil’s! Vamos, fora, xô!
– N-não senhor é que...é que..está um pouco bagunçado e eu gostaria de ajeitar primeiro para criar um ambiente agradável para que o senhor possa trabalhar!
– Ora essa, o meu escritório não pode estar tão bagunçado assim! Eu não o deixei bagunçado, você arruma enquanto eu trabalho! Bagunçado é a casa da Igraine que cheira a cachorro! Saia da minha frente!

Cruello empurrou Valder e abriu a porta bruscamente. E seus olhos se depararam com o caos. Todo seu escritório estava revirado. Papéis se amontoavam em diversas partes, espalhavam-se pelo chão, misturados á roupas da Devil’s. Peças que ele reconhecia, pertenciam ao acervo de modelitos para desfiles da coleção anual da grife. Cruello adentrou no local, percebendo que havia por ali embalagens de comida vazias, seu frigobar fora aberto e quase não restava nada nas garrafas e o notebook sumira. Olhou de soslaio para o calendário eletrônico em sua mesa que sinalizava em vermelho o que seria uma data que não poderia ser esquecida. E Cruello aspirou o ar do ambiente, sentindo o perfume inebriante da grife Dior impregnado no local.

Seus olhos faiscaram.
– SCAAAAAAAAAAARRRRRRLEEEEEET!!!!!!!!

~*~

A ONG de proteção aos animais abandonados 4 Patinhas localizava-se nos arredores da humilde região de East End*, em um terreno que outrora fora comprado pelo casal Yamamoto, pais de Yumie. Assim como a filha, o casal de veterinários sempre manteve um amor incondicional e uma dedicação para com animais abandonados. E a instituição que criaram, sem fins lucrativos, se tornara um valioso local para que animais, vítimas do abandono e maus-tratos, pudessem ser tratados com o devido respeito e carinho para então ganharem a chance de um novo e digno lar.

Igraine tinha realmente paixão por trabalhar ali. Enquanto todas as outras pessoas sempre reclamavam de seus empregos, ela se sentia uma exceção. Embora houvesse se formado em uma área diferente, quando começara a frequentar a ONG (primeiro como voluntária e depois como funcionária registrada) descobrira sua vocação. Cuidar de animais feridos física e psicologicamente, lhe fazia um grande conforto emocional. Ainda que o salário fosse modesto e por seu diploma pudesse ganhar muito mais, Igraine, assim como Yumie, haviam decidido cuidar da 4 Patinhas em prol dos animais.

E com isso, a ONG 4 Patinhas ia crescendo gradativamente, recebendo ajuda de muitas pessoas e se tornando uma referência em proteção aos animais e ganhando, inclusive, apoio da prefeitura de Londres, que arcava com a maioria das despesas e salários dos poucos funcionários que ali trabalhavam.

Quando Igraine chegou ao local, percebeu uma agitação ali. Cachorros latiam e abanavam suas caudas avidamente e podia ouvir os miados dos gatos. Os funcionários iam pra lá e pra cá e após cumprimentá-los e explicar rapidamente o motivo da ausência nos dias anteriores, caminhou para os fundos do local.

Ali, em um local isento da agitação da clínica veterinária e do canil/gatil, ficavam os animais chegados recentemente na ONG. A maior parte não eram vítimas de abandono, e sim de maus tratos. Igraine já se deparara com tanta crueldade contra seres tão inocentes que muitas vezes se perguntava como alguém poderia fazer tais coisas.

– Oi, Yumie! Desculpe o atraso! Como está a DoisTons e...pela deusa! O que aconteceu?!

Ela rapidamente jogou a bolsa em um canto e se aproximou da mesa de metal, onde Yumie examinava uma raposa com diversos ferimentos pelo corpo. O animal havia sido sedado e Yumie realizava os exames iniciais.

– Ela foi amarrada á um carro e arrastada . – Yumie falava de forma calma, mas Igraine percebeu que a amiga estava nervosa e trêmula. – Coloca o avental, preciso da sua ajuda aqui agora! Ela foi resgatada na rodovia por um voluntário da ONG e os ferimentos são muito graves!
– Como alguém pôde fazer algo hediondo assim!
– Não sei! Só espero que o responsável pague caro por isso!
– Temos chance de salvá-la?
– Não sei, temos que tentar!! Só posso contar com você agora, não tem mais ninguém pra me ajudar nisso! Vamos lá!
– C-certo!

~*~

Cruello Devil literalmente arrombou a porta do imenso estúdio de fotografia da Devil’s, assustando fotógrafos, modelos e auxiliares de produção. Caminhou com passos firmes até o centro do local, ambas mãos na cintura e um humor péssimo. Valder vinha, aos tropeços logo atrás de si.

– Muito bem! Onde ela está?! ONDE VOCÊ ESTÁ, SCARLET!!!!!!

Silêncio. Valder notou que todos ali presentes pareciam surpresos, tensos e até um pouco...ansiosos.
– Sei que está aí, apareça! SCARLET! SCARLET! SCARLET!

Como se houvesse sido ensaiado, abrindo com violência a porta oposta, surgiu uma mulher. Metida em um vestido vermelho escarlate justíssimo, acentuando suas curvas e valorizando seus dotes avantajados, ela equilibrava-se em um scarpan no mesmo tom do vestido e estava ornada com colares e pulseiras. Seus longos cabelos negros como ébano reluziam e os óculos de formato exótico eram cravejados com pequenos brilhantes.

– Posso saber quem está aí gritando como uma bixa sendo estrangulada?!

Os presentes arregalaram os olhos e procuraram disfarçar. Os olhos de Cruello faiscaram e ele encarou a jovem mulher com um sorriso irônico.

– Ah finalmente apareceu a perua vermelha!Posso saber o que ACHA que está fazendo na minha empresa?!
– Essa empresa não é apenas sua, meu bem! Somos sócios, sem mim você não daria conta sequer de pintar seu cabelo de forma correta!
– ...Ora me poupe! Se não fosse por mim você ainda estaria usando sapatilhas, incapaz de balançar essa bunda siliconada no salto!
– Olha quem fala, metrossexual que faz depilação toda semana!
Pela primeira vez o rosto de Cruello avermelhou-se.
– E...e...e você que coloca tanto silicone que já é quase uma boneca inflável?!
– Isso aqui! – ela apertou os peitos, displicentemente. – É tudo meu mesmo! Material original! Não foi desenvolvido com suplementos alimentares como esses seus braços e torso de pombo!
– Melhor ter o torso de um pombo do que os peitos de uma vaca holandesa!
– Que eu saiba a pessoa que possui tonalidade de vaca holandesa é você!
– Todos sabem que este meu cabelo é tradição da família Devil!
– Ah sim, tradição...me diga Cruello...você pinta apenas os cabelos ou pinta outras coisas também?

Cruello fechou os punhos e demorou alguns segundos para encontrar as palavras para revidar.

– Mas que absurdo, Scarlet! Ponha-se no sue lugar e...aaaah!!!

Horrorizado, Cruello parou e encarou a mulher, que o encarou de volta. Subitamente o rapaz arrancou os óculos dela.

– Ei! O que pensa que está fazen...
– Sua....ordinária! Traidora! Até tu, Scarlet! Traindo a empresa Devil’s! Como pôde? Salafrária!

Ela revirou os olhos e começou a mexer em seu celular enquanto Cruello parecia ator de peça shakesperiana.

– Absurdo! Estou sendo vítima de traição e possivelmente espionagem industrial maquiavelicamente desenvolvida pela pessoa que jamais imaginei ser capaz de tamanha traição!
– ...bixa exagerada. É só um óculos.
– Um óculos?! Um óculos?! Começa com um óculos e depois evolui para um desfalque, roubo de informações, quebra de sigilo empresarial! Conspiração clara e óbvia! CONCORRÊNCIA! Isso aqui é um acessório da concorrência! Não deveria usar uma porcaria dessas dentro da Devil’s! Aliás, como estilista-chefe da Devil’s JAMAIS deveria usar algo que não seja da Devil’s! De acordo com a lei eu declaro estreitamente proibido que qualquer escra...digo, funcionário da Devil’s use....Aaiiie!!

Scarlet estapeara a bunda de Cruello com mais força do que o necessário. Os presentes arregalaram os olhos e contiveram exclamações de surpresa (exceto alguém, em algum lugar, que gritou “Mas que delícia! Quero estapear a bunda dele também!), enquanto o rapaz virava-se estarrecido para Scarlet, que prontamente pegou seus óculos e os colocou.

– O que pensa que está fazendo sua...despudorada!
– Esse seu teatro de escândalo é totalmente blasé, meu querido...o herdeiro da Devil’s deveria se comportar com classe!
– ..Classe?! C-como...ora essa, eu tenho muita classe! Eu pertenço a uma das melhores linhagens europeias! Tenho o padrão de beleza grega e a altivez da beleza escandianava! Tudo isso aliado á elegância inglesa, o charme francês e a soberania alemã!

Cruello então percebeu que Scarlet já havia se afastado, entretida em escolher algumas roupas do vasto cabideiro. Ela passava as roupas com violência, jogando para Valder as peças que escolhia (como ela o chamou para trabalhar ao seu lado, ninguém sabia), totalmente entretida.
Cruello bufou e deu um tapa na mão de Scarlet quando ela pegava um ousado vestido de courino.

– O que pensa que está fazendo, mulher?!
– Trabalhando para fazer com que a Devil’s lucre cada vez mais! Afinal, eu trabalho arduamente á fim de que você tenha tempo de sobra para cultuar a si mesmo! Aproveite Cruello, porque quando as rugas e os cabelos brancos reais começarem a aparecer e seu corpo escultural começar a murchar, eu que não vou querer você não!
– ...há! E quem disse que eu quero que você me queira, Scarlet?! Sua...sua...siliconada!
– Lá,lálálá...estou achando que você queria ter um pouco dessa fartura que eu tenho não é? Mas fique tranquilo meu bem, você é o empresário de maior bunda que já vi e ainda está com ela em perfeito estado!

Os funcionários presentes, que não tinham a decência de se afastarem ou voltarem a seus afazeres procuraram conter o riso e a exclamação de surpresa. Cruello, percebendo que era o centro das atenções de um modo que não apreciava, não percebeu a coloração rubra que começava a tomar seu rosto, mas avançou sobre Scarlet, puxando-a para longe do cabideiro.

– Coloque-se em seu lugar! Já estou farto de você me tratar com tamanha ousadia!
– Ei, está bravo por quê?! Isso é falta de sexo...
– SCARLET!
– ...você adora mesmo falar o meu nome, não é?
– Por que diabos voltou?! Deveria continuar onde estava!
– Ah é?! Mas que beleza! Eu tenho que abrir mão das minhas tão esperadas férias para ajudar a Devil’s, venho ás pressas para lhe contar uma notícia bombástica que você iria adorar e que nos fará produzir uma linha nova de produtos únicos e você ainda tem a pachorra de falar que eu deveria ter ficado onde estava? Que bela consideração!
– ...que notícia é essa?
– Não vou falar!
– Uma hora terá que falar!
– Não! Eu posso simplesmente cancelar o que consegui e você não saberá de nada!
– Vai prejudicar a Devil’s! Se fizer isso será demitida por justa causa!
– Volte para sua sala, Cruello...me deixe trabalhar! Sua voz está começando a me causar enxaqueca!
– Voltar para a minha sala?! Você transformou a minha sala em um chiqueiro do caos! Quem te deu permissão de entrar lá e fazer aquela bagunça?
– A porta estava aberta e eu entrei. Eu estava procurando os tecidos que você disse que me entregaria á três meses atrás! Como eu posso produzir sem matéria-prima?! Só os seus rabiscos não resolvem para criar as peças!
– Se não fossem meus rabiscos, você não conseguiria criar nada original! Nunca conseguiu!
– E você que nem sabe enfiar a linha na agulha?! Aliás, você sabe enfiar algo dentro de alguma coisa?
– ...vou enfiar na tua boca todos os desenhos que você tanto quer!
– Tente fazer isso se puder e eu juro que esse scarpan vai entrar em um lugar que você não vai gostar!
– Se não fosse por mim, você ainda estaria costurando e reformando roupas para a plebe, mantendo um brechó de pobre na frente de sua casinha mequetrefe!
– Acha mesmo? – Scarlet puxou o celular do bolso. – Olha o que eu consegui e tive que voltar para lhe contar!
A feição agressiva de Cruello cedeu lugar á uma expressão surpresa ao ver o que aparecia na tela.
– Não me diga que...

Scarlet mostrou uma foto em seu celular onde ela, quando um de seus muitos ousados e populares vestidos vermelhos estava sorrindo sensualmente ao lado de um homem grande, de barba bem feita, pele bronzeada e trajando roupas tradicionais árabes.

– O sheik Abir El-Sabahnur irá vir pessoalmente com seus filhos para assistir á um desfile exclusivo da Devil’s acompanhado por uma festa de gala repleta de neón.
– ...você realmente...
– O que Scarlet Medusa quer, Scarlet Medusa consegue! E faz o recalque chorar! O sheik Abir adorou a minha apresentação sobre a Devil’s e ele está muito interessado em trajes dessa linha. – enfatizou ela passando os dedos pela jaqueta de vison que Cruello usava.

O rosto de Cruello moldou-se em seu típico sorriso soberbo que fazia tantas pessoas se encantarem.

– Mas você é mesmo uma ordinária, Scarlet! Quando saiu daqui aos berros rebolando toda em cima desse salto agulha não imaginei que iria voltar com algo útil!
– Ora, Cruello...sabe que sempre quando eu volto para você, trago algo que alavanca a Devil’s! – Agora, terá que me contar tudo!
– Lógico! Porque acha que eu voltei, parceiro?

Ambos riram. Riram daquela forma soberba, irônica e repleta de segundas intenções, cientes de que ninguém, além dos dois, entendia do que se tratava. E, sob o olhar surpreso dos funcionários, Cruello e Scarlet saíram do local de braços dados.

~*~

A cirurgia havia durado quase três horas. E, após o processo cirúrgico, ainda foi necessário todo o cuidado pós operatório e a certeza que a vida da frágil raposa estivesse estável. Mas elas haviam conseguido.

O animal estava adormecido pelos medicamentos, com o corpo repleto de curativos e com fios que ligavam ao soro e ao eletrocardiograma. As suas amigas saíram da sala e desabaram no sofá que havia ali, visivelmente exaustas.

– ...conseguimos...
– É..mas o estado de saúde dela ainda é instável.
– Você fez o melhor que pôde, Yumie.
A amiga deu um sorriso cansado.
– Mesmo assim...eu só sei que fiz um bom trabalho, quando consigo salvar uma vida.

As duas ficaram em silêncio, só quebrado pelo ronco de seus estômagos. Elas se encararam e riram.

– Nossa, estou morrendo de fome! – falou a japonesa. – Ia comer algo quando cheguei aqui mas recebi a notícia da vinda dessa raposinha e nem tive como!
– E eu saí atrasada de casa e só consegui alimentar Furacão, Golias e Mimo...e tenho de ver a Dois Tons!
– Vamos pedir alguma coisa pra comer? Já deve passar do meio dia.
– Por mim tá ótimo. Pega meu celular e liga para aquele restaurante vegetariano.

Yumie pegou o celular da amiga mas antes que discasse o número do restaurante, percebeu algo na tela que a surpreendeu. Igraine se lembrou então do grande erro que cometera. Dias atrás, acessando o Facebook de Cruello Devil, havia salvo diversas fotos dos álbuns dele e uma das fotos colocara como papel de parede de seu celular. Aquela foto Cruello estava fora de série, literalmente, com os olhos azuis inebriantes e o sorriso charmoso e único que tinha. Gostava de ver isso cada vez que mexia em seu celular. A última coisa que olhava antes de dormir era a tela de seu celular e a primeira coisa que fazia ao acordar, era verificar a tela do celular.

Igraine encarou a amiga, com o rubor lhe cobrindo a face e o coração acelerado. Sua mente procurava desesperadamente formas de retrucar e ao encarar Yumie, percebeu que nenhum argumento racional que desse para se justificar, seria válido. A amiga a olhava de forma travessa.

– Eu sabia que você estava apaixonada por ele, sua safada!

~*~