The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 7
Capítulo 07


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, como estão?
Eu acabei demorando um pouco para postar o novo capítulo mas isso ocorreu por conta de atribulações, eventos e projetos cosplay. E um pouco de preguiça de minha parte, devo admitir. A fanfic está tendo um bom retorno, fico imensamente agradecida por estarem acompanhando e apoiando! Se não fosse por todo esse incentivo que os leitores (que não veem só aqui, mas que comentam comigo principalmente no facebook) dão, eu não acho que teria mantido a fanfic.
Recentemente ocorreu de amigos e amigas meus fazerem um “cosplay” dos personagens da fanfic, incluindo vídeos de humor. Eu, lógico, acabo atuando neles como Cruello e o pessoal interpreta os demais personagens. Poderão ver alguns vídeos neste link: https://www.youtube.com/channel/UCSfHRdzWa4dSUZqsohlzvEg
Enfim...obrigada á todos que estão incentivando e me pressionando a continuar com a fanfic! Chega de papo e vamos á leitura.



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Capítulo 7

~*~

“ Como ele pode ser tão ousado, ordinário, cafajeste?! E porque eu tenho que ficar agindo como se estivesse gostando disso?! “

Igraine suspirou, sentindo-se derrotada. Quem ela queria enganar? Havia adorado tudo aquilo. Exceto a atitude final dele. Acaso Cruello estava achando que ela era uma vadia qualquer?

“ Ah, não! Dessa vez eu não vou deixar ele achar que pode fazer qualquer coisa comigo! Onde já se viu pegar nos meus peitos? Nunca ninguém fez isso, ele não tinha o direito! E ainda por cima fica seminu na minha frente! Droga, porque só de pensar nisso eu já fico arrepiada? Porque ele é perfeito demais e isso chega a ser irritante! Ai, eu só queria poder não me apaixonar por esse cafajeste, eu não posso! Pela deusa isso tem que parar! Se eu gostar dele só vou me dar mal! Tenho que sair daqui...dane-se a carona, quanto mais longe eu ficar de Cruello, melhor para o meu emocional!”

Caminhou decidida até a porta, notando, para sua frustração, que estava trancada. É, não tinha jeito. Sentou-se no sofá se recordando do que havia acontecido e estapeou a própria cabeça quando o pensamento de que deveria ter deixado que aquilo continuasse lhe veio a mente. Percebeu então que a caixa com a lingerie que havia ganho ainda estava no chão e a pegou, olhando para a peça.
Aquilo era bonito, tinha de admitir. Mas não teria coragem de usar uma coisa dessas...era ousado e sexy demais. Não era para uma garota como ela.

“ Nem tenho corpo para isso. Cruello só pode estar me provocando. Na certa é igual a aqueles casos de filmes adolescentes. O garoto popular do colégio fica dando atenção para a garota esquisita e simplória até ela se apaixonar por ele para depois usá-la e humilhá-la publicamente. Não passei isso nos meus tempos de colégio e vou ser obrigada a passar por isso agora que sou adulta? De jeito nenhum! “

– Está pensando em quando vai usar isso para que eu possa avaliar?

Igraine virou-se assustada quando sentiu a voz de Cruello sussurrar em seu ouvido. Todo seu corpo foi, de novo, acometido por aquele calor anormal e ela tratou de se afastar sutilmente, como se ele fosse uma cobra prestes a dar o bote.

– Já se arrumou?!
– Querida. – ele se ergueu, jogando a franja dos cabelos para o alto com a ponta dos dedos. – Eu não preciso de muito tempo para ficar impecável.

A garota revirou os olhos. Como ele podia ser tão insuportável? Tinha vontade de falar que ele não era tudo isso para ser tão convencido com a própria aparência mas não conseguia. Porque Cruello realmente possuía motivos para se gabar. Ele seria perfeito se não fosse essa maldita personalidade.
Tentou evitar de olhá-lo, mesmo que a forma como se vestira fosse bem chamativa, com aquela calça preta com estampas de cruz branca, a camiseta preta de gola e o casaco preto com pelugem (que torcia para serem sintéticas) em torno do pescoço e mangas.

– E então. – a voz dele a tirou de seus pensamentos. – Estava pensando em usar isso para mim, não é?
– NÃO! – gritou, jogando a caixa no sofá e se levantando. – E o senhor por favor pare com isso! Não estou te dando intimidade para falar tais coisas!
– ...não me dá intimidade para falar mas me deu intimidade para tocar.

Igraine sentiu o ódio dominar.

– Chega! Me deixe em paz! Não vê que eu sou uma pessoa normal?! Essas suas atitudes me deixam confusa! Eu estou assustada e preocupada com o que aconteceu com minha cachorra, não gosto da forma como age sendo que mal me conhece! Você me critica, me xinga aí do nada me agarra, o que diabos você está querendo?! Eu não...
– Venha cá.
– NÃO! Seguinte, abre essa porta e me deixa ir embora! Eu vou achar um táxi, carona ou o que for! Não quero mais saber desse tipo de coisa e...

Igraine sentiu ser puxada contra o peito de Cruello. Tentou se afastar, mas ele ergueu seu queixo e cobriu-lhe a boca com um beijo enquanto o braço circundava sua cintura. Mas dessa vez, Igraine pôde notar que o beijo era diferente. Não agressivo, sensual e ávido era...calmo, carinhoso...parecia apaixonado.

– ...é desse jeito que você gosta? – ele murmurou ao terminar.
– E-Eu...eu...o que...
– Vamos fazer assim. Depois que resolver as coisas com sua cadela, a gente continua.

~*~

Igraine apertou novamente o cinto de segurança já preso em seu corpo quando o carro fez uma ultrapassagem brusca e entrou em uma esquina sem dar qualquer sinal. Não sabia o que a estava deixando mais nervosa e desconfortável, com aquela sensação que contorcia seu estômago e aumentava seus batimentos cardíacos. Se era a forma insana como Cruello dirigia, se era pelo fato de Dois Tons estar desaparecida, se era pelo fato de ter visto Cruello seminu ou se era porque algo muito sério quase teria acontecido se sua consciência não falasse mais alto.

– Porque está calada? – a pergunta veio súbita.
– ...porque sim...?
– Na primeira vez que andou de carro comigo ficou gritando e xingando, indignada com minha forma de dirigir. – ele olhou rapidamente com um sorriso curto para ela. – Já se acostumou ou admite que eu sou excelente motorista?
– Você? Excelente motorista? Só pode estar brincando... é um maníaco tarado, isso sim.

As últimas palavras foram ditas em um sussurro mas que Cruello pôde ouvir.

– Que calúnia é essa pra cima de mim?!
– Não é calúnia, é a verdade! Desde o momento que teve a ousadia de me entregar aquela lingerie! E quando fui á sua casa você me assediou!
– Eu assediando você?! Ficou maluca? – rosnou Cruello dividindo a atenção entre a pista e Igraine. – Eu não estou fazendo nada que você também não queira!
– C-como isso?! Está pensando que eu sou o quê?! Foi o senhor que me jogou no sofá e abusou de mim!
– Abusar?! Quem começou com o histórico de abuso foi você! Primeiro me agarrou selvagemente em seu quarto e ainda apareceu de toalha logo depois tentando me seduzir!
– Mas como você pode mentir....
– Depois invade a minha casa, me agarra! Me obriga a tirar a roupa!
– Foi você que tirou sua roupa por livre e espontânea vontade!
– Foi você que me induziu á fazer aquilo!
– Eu não te induzi a me agarrar e pegar nos meus peitos!
– Você também ficou passando suas mãos em mim! E cruzou as pernas na minha cintura uma hora lá no sofá, eu senti!
– Que absurdo! – o rosto de Igraine já estava vermelho. – Eu não sou esse tipo de mulher! Pare de ficar inventando coisas!
– Você é mesmo uma cínica! Se finge de santa mas é uma ordinária!

BLAM! SCRRREEEEENNN
– CAIM! CAIM! CAIMCAIM!

Silêncio. Cruello freou bruscamente o carro e encarou Igraine boquiaberto, que o encarou de volta em um misto de surpresa e indignação.
Rapidamente ela saiu do carro para verificar.

– MINHA DEUSA! DOIS TONS!
– ...merda...
– VOCÊ ATROPELOU MINHA CACHORRA, SEU ANIMAL!

Cruello passou as mãos pelos cabelos, amaldiçoando sua sorte. Porque isso tinha que acontecer? Havia jogado pedra na cruz, não era possível.
Igraine por sua vez, estava ajoelhada á frente do carro, desesperada ao ver sua dálmata Dois Tons caída no asfalto. A cachorra estava viva e gania baixinho. Ao ver a dona, abanou a cauda mas não conseguiu se levantar. E isso fez Igraine se debulhar em lágrimas.

– DOIS TONS! AGUENTE DOIS TONS! ALGUÉM AJUDE AQUI!

Cruello saiu do veículo para averiguar a situação. Observou rapidamente a lataria do carro e olhou para a jovem acariciando a cachorra acidentada.

– DOIS TONS! Mamãe está aqui, você vai ficar bem! Alguém ajude!
– Nossa, que exagero...
– SEU CAFAJESTE! Atropelou minha cachorra! Faça alguma coisa!
– Fazer o quê?
– Ela precisa ser levada ao veterinário com urgência!
– Se está achando que vou colocar essa cadela dentro do meu carro para encher os bancos de pêlos, está enganada!
– Como você pode ser tão insensível!
– IGRAINE!

Do outro lado da rua, ambos avistaram Nanny se aproximando com passos apressados, seguida por Valder e Yumie. Igraine sentiu o alívio dominar seu corpo e estendeu a mão para sua amiga, que retribuiu o gesto.

– Nanny! A DoisTons...atropelaram a DoisTons!
– Quem a atropelou?
– ELE!!! E está se recusando a ajudar! – exclamou Igraine com o dedo em riste na direção de Cruello.
– Chefe! – Valder tirou o óculos, tão surpreso ficou. – Como o senhor pôde atropelar um animal indefeso?
– Eu...eu...ora mas o que é isso?! Estão me recriminando? Me colocando como culpado dessa situação? Isso é um absurdo! Eu não tenho culpa de nada se esse animal atravessou a rua!
– Você não estava prestando atenção na estrada, dirigindo feito um maníaco!
– Se eu não estava prestando atenção na estrada era porque você estava discutindo comigo e falando absurdos!
– Absurdos?! Quem fala absurdos e mentiras é você!
– PAREM COM ISSO!

Os dois encolheram-se diante do grito de Yumie que mantinha ambas mãos na cintura. Ela suspirou enfezada e se aproximou de DoisTons.

– Deixa eu ver o que aconteceu.
– Sabia que mexer em um animal acidentado sem saber o que faz pode acabar matando o bicho?
– Eu sou veterinária.

A resposta seca da japonesa fez Cruello trincar. Na sua opinião, Yumie não parecia nem de longe uma veterinária. Ainda mais com aquele cabelo pintado de roxo, uma maquiagem exagerada e as roupas em estilo gothic Lolita. Bom, pelo menos ela tinha um gosto estético para roupas superior ao de Igraine, com suas blusas de estampa animal.

– Yumie, Yumie! Como está a DoisTons?!
– Calma...está tudo bem, aparentemente ela não corre risco de vida.
– ...que óti...Yumie. – chamou Igraine. – Que cheiro é esse na sua boca? Você bebeu?!
– ...não. Isso é bombom de licor!

Igraine não parecia muito convencida disso mas, ao ver que a amiga já realizava os primeiros-socorros em sua cachorra, tirando de dentro da bolsa uma pequena maleta médica, voltou a atenção para os presentes.

– E o que todos vocês fazem aqui, afinal?
– Igraine, eu fiquei tão desesperada quando a Dois Tons sumiu! – começou Nanny. – Tentei te ligar o dia inteiro mas você não atendia. Não sabia o que fazer, não sabia onde você estava então...eu liguei para Yumie e Valder vierem me ajudar a procurar a DoisTons!

Igraine encarou os dois amigos. Mesmo cansados após um dia de seus respectivos trabalhos, eles vieram ajudar a procurar sua amada DoisTons enquanto ela...estava nos braços de Cruello Devil.

“Que péssima dona eu sou...”

– Obrigada pela ajuda, pessoal!
– Ah que isso, Igraine! Você é nossa amiga, estamos sempre aqui para o que precisar! Quando a Nanny me ligou eu fui o primeiro a bater ponto no trabalho, deixei até serviço pra fazer amanhã mas não me importo! Te ajudar é prioridade!

Ao ouvir aquilo, Cruello encarou Valder indignado. Tanto pelo fato de seu funcionário ter deixado serviço pendente para resgatar uma cadela quanto no fato de colocar Igraine como uma prioridade.

– E a DoisTons, Furacão, Mimo e Golias são muito especiais pra gente! – falou Yumie acariciando DoisTons enquanto lhe injetava um tranquilizante. – Nós os vimos chegarem feridos na ONG, cuidamos deles e quando você os adotou nos sentimos como padrinho e madrinhas deles!

Cruello balançou a cabeça. Aqueles quatro eram um bando de bobos mesmo.

– Ei seus defensores dos animais. – chamou, impaciente. – Acho que é melhor saírem logo do meio da rua. Eu tenho mais o que fazer!
– Você é insensível mesmo.... – Igraine se levantou. – Atropela minha cachorra e age como se nem se importasse!
– ...eu não me importo mesmo. Não com isso.
– E existe algo com o que você importa exceto si mesmo?!
– ...
– Ei vocês, parem de discutir aqui fora. – Valder se aproximou, receoso. - As pessoas nas casas estão começando a olhar.
– É melhor mesmo! Tenho que examinar a DoisTons em um lugar decente para ver o que está fraturado! – ordenou Yumie. – Valder, me ajude a levantá-la!
– Por favor, tenham cuidado... – Igraine acariciou a cabeçada dálmata que gania baixinho. – Calma, mamãe está aqui!
– Vocês fazem alarde em excesso!

~*~

No final das contas, após um falatório desconexo e algumas discussões rápidas, acabou que todos os envolvidos no caso da dálmata atropelada se encaminharam para a casa de Igraine.
Ela e Nanny entraram primeiro, apressando em pegarem Furacão e Golias e trancá-los no quarto, para que não atrapalhassem enquanto Yumie tratava de DoisTons na lavanderia. Igraine nem por um momento ficou longe de sua cachorra e tão preocupada que estava, nem lembrando-se de certa coisas que pairavam em sua cabeça.

Após verificar que Golias e Furacão não estavam destruindo o quarto da dona, Valder foi até a cozinha comer um pedaço de bolo e, com um copo de refrigerante e mãos, voltou á sala. Já Cruello, á contragosto sentou-se no sofá ocupando um espaço maior do que uma visita deveria ocupar. Valder então sentou na poltrona, as mãos sobre o colo. Vez ou outra ajeitava os óculos, evitando de olhar para o chefe. A presença de Cruello DeVil fora do ambiente de trabalho o deixava nervoso, como se á qualquer momento este lhe mandasse fazer hora extra não remunerada.

– E você?
– E-eu? Eu o quê, chefe?
– Como o quê?! Oras, o que ainda está fazendo por aqui?
– Bom...eu...estou esperando ver se ficará tudo bem com a DoisTons e...
– Porque vocês são assim? De se preocupar tanto com um animal? A cadela está viva e pelo visto não é nada grave, não precisa de tanto exagero com cuidados!
– Mas...
– Além do que você tem trabalho logo cedo na DeVil’s....deveria ter ido para a sua casa. Demorando aqui corre o risco de chegar atrasado por dormir demais!
– Não chegarei atrasado! Igraine disse que eu poderia dormir aqui hoje.

Ao ouvir aquilo, o rosto de Cruello ficou lívido e o sorriso sarcástico se desfez. Valder só percebeu que havia dito algo de errado ao notar o olhar fulminante do chefe sobre si.
Silêncio. E o jovem pareceu encolher-se um pouco na poltrona.

– Igraine fica permitindo que homens durmam na sua casa?
– Hãn...eu já dormi algumas vezes e a Yumie também e teve aquela vez que o pessoal.. .

Valder parou ao notar o olhar de Cruello. Realmente tinha que aprender a fechar a boca e evitar de falar demais coisas que não devia. Tinha de admitir que nos últimos dias estava achando estranho as perguntas ocasionais que Cruello fazia á respeito de Igraine. Se ele a havia visto apenas uma vez, quando viera buscá-lo na casa da amiga para levá-lo de volta ao trabalho, não tinha necessidade de querer saber algumas coisas meio...particulares, sobre ela.

“Aliás..porque ele fica me perguntando tanto da Igraine? E porque a Igraine fica perguntando dele? Tenho que parar de me fingir de inocente...na certa está acontecendo alguma coisa com esses dois! E então os dois aparecem juntos no carro, no mesmo dia que ela ficou desesperada me ligando e perguntando o endereço dele...não Igraine, eu não acredito! Isso é muita loucura! Preciso avisar pra ela que...”

– Eu nunca perguntei. – a voz do chefe fez Valder sair de seus pensamentos. - Mas..que tipo de relação você e Igraine têm ou já tiveram?
– Como assim?
– Não se faça de bobo! Você gosta dela?

Cruello mantinha o olhar fixo em Valder, não notando que o gato preto Mimo pulara no sofá e se aproximava vagarosamente.

– Cla-claro que eu gosto! Ela é uma pessoa muito importante para mim! – ao falar, Valder rapidamente emendou. – M-mas não é um gostar de paixão, não! Ela é uma grande amiga, uma parceira, quase uma irmã para mim!

Cruello continuava encarando o rapaz daquela forma que, Valder sabia, não era muito agradável. Quando Cruello olhava desse jeito, sempre vinha algo ruim.
O gato Mimo, inadvertidamente se aproximou da mão de Cruello, roçando sua cabecinha na mesma.
Valder engoliu em seco e tratou de consertar o que havia dito para que não gerasse dúvidas.

– A-Além do mais...mesmo que eu gostasse dela de outro jeito, o que eu não gosto, ela já...já gosta de outra pessoa há muito tempo...
– ...outra pessoa...?

A conversa foi encerrada quando Igraine surgiu com uma mochila infantil, seguida por Yumie que, á despeito dos braços finos, conseguia carregar DoisTons no colo com facilidade e atrás vinha Nanny.

– O que aconteceu? – Valder levantou-se do sofá. – A DoisTons está bem?
– Sim, sim! Ela só quebrou a pata e teve uma contusão! – respondeu a japonesa. – Dopei ela e...
–Você a dopou?!
– É forma de dizer...só dei um tranquilizante á ela e vou levar até a clínica da ONG. É bom ela ficar em observação esta noite. Abra a porta, Igraine.

Igraine obedeceu e todos, á exceção de Cruello, foram até onde a velha caminhonete de Yumie estava estacionada. Valder abriu a parte de trás da caminhonete onde já havia uma caixa especial para se colocar animais e que, por sorte, tinha o tamanho exato para cães do porte de DoisTons. Igraine já estava subindo no veículo quando Nanny a deteve.

– Onde pensa que vai?
– Para clínica. Não deixarei a DoisTons sozinha!
– ...ela não está sozinha, ela estará comigo!
– Yumie, eu te adoro mas todos nós sabemos que você sempre dorme no seu plantão na clínica.

A japonesa não respondeu porque sabia que aquilo era verdade.

– Você tem que trabalhar amanhã, precisa descansar essa noite!
– M-mas eu não posso...
– Eu vou com a Yumie para a clínica e ficarei lá. – decidiu Nanny. – Assim quando você chegar logo cedo, eu volto pra casa e tiro o dia de folga, combinado?
– ...isso não vai te atrapalhar?
– De modo algum! E ainda mais porque amanhã terei o dia todo de folga e poderei fazer algumas compras!

Nanny desfez a expressão sorridente ao notar que Valder estava entretido em acariciar DoisTons e conversar alguma coisa com Yumie e rapidamente a empregada puxou Igraine pelo braço para um canto da calçada.

– Você precisa resolver o que está lá dentro.
– Quê? Como assim?
– Larga mão de ser boba, menina! Estou falando do senhor Devil! Ele está lá, sentado no seu sofá, prontinho pra você!

Igraine encarou a mulher estarrecida.

– Não tem como inventar desculpas agora. Hoje você saiu atrás dele, estava no carro com ele! Sei que rolou coisas...várias coisas. E vou querer saber depois! Mas por hora...termine de resolver o assunto!
– Mas..mas...
– Igraine, que expressão é essa? Sua boca está mexendo igual á de um peixe...
– VALDER! Á quanto tempo está perto de nós?
– Hum...? Eu acabei de chegar...estão falando alguma coisa importante?
– Não é nada! – cortou Nanny. – Bom, eu vou para a clínica com a Yumie ajudar a cuidar da DoisTons. Valder, iremos te dar uma carona até a sua casa.
– Hein? Por quê? Pensei que...
– Vamos logo, está tarde!

Meio á contragosto, Valder despediu-se de Igraine não sem antes murmurar á amiga:
– Tenha cuidado com ele. Qualquer coisa, fale comigo, tá?
– Hãn...t-tá... “do que ele está falando?”
– Até amanhã no trabalho! Prometo que cuido bem da DoisTons! – gritou Yumie já no carro.
– Sim, tenho certeza! Até amanhã!
– Trate de descansar. – Nanny a encarou. – E mantenha a calma...dê uma chance, acredito que valerá á pena.
– O quê?
– ..pare de ser sonsa, Igraine!

Igraine tentou retrucar, mas Nanny já estava entrando no carro. Ela esperou que a caminhonete sumisse na esquina para então voltar para dentro da casa. Foi só quando trancou a porta lembrando que precisava soltar Furacão e Golias que lembrou-se de Cruello.
Todo seu corpo estremeceu ao perceber que ele estava sentado em seu sofá, de costas para a porta. A divisão de seu cabelo preto e branco era quase assimétrica, mas alguns fios brancos estavam na parte preta e vice-versa, o que conferia um certo charme. Aliás...tudo nele era charmoso.

“Vamos fazer assim. Depois que resolver as coisas com sua cadela, a gente continua.”

Igraine respirou fundo. A verdade é que, embora dissesse inúmeras coisas de que não queria, não gostava, não sentia...a verdade era o oposto. Era tudo muito recente e até absurdo, mas estava ficando cada vez mais difícil, á cada ato de Cruello e fatalidade do destino que os aproximava, tinha mais certeza de que gostaria de ficar com ele.
Sim, ficar.
Como em raras vezes acontecera, sentia-se confiante em se aproximar de alguém por quem estava interessada. Por mais anormal que aquilo fosse, Cruello parecia sentir-se atraído por ela, caso contrário não agiria daquele modo. Então...talvez fosse uma boa ideia seguir o conselho de Nanny. Nanny nunca errava em suas intuições, Igraine sabia disso.

Ajeitou o cabelo e mexeu no sutiã mesmo por cima da blusa, em uma tentativa inútil de fazer seus peitos parecerem maiores. Aquilo era algo muito idiota de se fazer, mas gostaria de aparecer mais atraente. Pensando agora, em nenhum momento que se encontrou com Cruello Devil estava visivelmente apresentável. Poderia se produzir mais, iria mostrar para ele á partir de agora que não era uma suburbana simplória como ele costumava falar.
Se aproximou, notando que Cruello parecia perdido em pensamentos, olhando fixamente para a lareira e...acariciando o gato Mimo que estava deitado ao seu lado, ronronando baixinho de barriga para cima, satisfeito com o carinho.

– Eu não estou acreditando nisso!
– Hum...o quê?

Cruello a encarou, sério. Igraine tinha um sorriso faceiro no rosto e apontou. Ao ver o gato deitado ao seu lado e sua mão acariciando a barriga do mesmo, Cruello soltou um “ah” irritado e colocou-se de pé.

– Animal abusado!
– Não sabia que você gostava de gatos.
– E eu não gosto! Não gosto de conviver com animais!
– ...tem algum motivo particular para isso?
– Apenas não gosto.
– Certo... – ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
– E onde está Valder?
– Ele foi embora, de carona com Yumie e Nanny. A Nanny ficará na clínica cuidando da DoisTons. Hoje eu...vou ficar sozinha.

Aquele era o máximo de ousadia que Igraine conseguia fazer. Sentia seu estômago retorcer de ansiedade e sabia que estava corando. Se acontecesse, não iria resistir, não depois de falar aquela indireta. É, no fim, talvez ela fosse mesmo um pouco ordinária.

– Entendo. Bem, já está tarde, eu vou embora.
Passou por Igraine e foi em direção á porta.
– E-ei, espere!
– ...o quê?

Igraine o encarou, aturdida. Havia alguma coisa errada. O normal seria Cruello vir até ela, envolvê-la em seus braços e beijá-la, para depois soltar uma de suas muitas ironias. Ou mais ainda: continuar de onde haviam parado em seu apartamento.

– Bom...eu...
Reunindo coragem, se aproximou, notando que a diferença de altura impedia que ela, em uma ousadia, tentasse fazer algo impensado.

– O que é?
– N-nada...bom...boa noite, então.

Tocou-lhe o ombro, pedindo uma despedida a que Cruello aceitou e seus lábios se encontraram.
E só.
– Até mais.

“O quê? Como assim? Um selinho? Só isso?!”

Ela o observou ir até o carro, apreensiva. Cruello ainda a olhou por alguns segundos antes de entrar no veículo e ir embora. Sozinha em casa, com Mimo esfregando em suas pernas, Igraine levou uma mão ao peito, confusa.

“ Mas o que aconteceu? Ou melhor...por que não aconteceu?”

~*~


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Notas finais do capítulo

Fiquei mais de um mês sem atualizar a fanfic. O tempo está passando muito rápido, eu não imaginei que já fazia tanto tempo!
Espero que tenham gostado desse capítulo. Ele ficou um pouco mais extenso mas acho que ajudou a compensar a demora em atualizar.
A reação final do Cruello é algo que na certa pegou todos desprevinidos. A partir de agora acredito que a fanfic tomará um rumo definido. Novos personagens irão aparecer, personagens coadjuvantes terão mais destaque..mas claro que Cruello e Igraine serão sempre o grande foco, com humor, drama e pegadas (hehe).
Enfim, obrigada por lerem até aqui e aguardem para novos acontecimentos bombásticos!
abs!



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