Peeta

A aula com Katniss parecia não acabar nunca, ela me explicava algo e eu não conseguia prender minha atenção naquilo, minha perna estava latejando e eu sentia o jeans da calça grudando no machucado, me fazendo perder a cabeça. Sem falar que Glimmer estava me ligando me deixando mais irritado ainda, e pelo visto, irritou Katniss também.

Ela pegou meu telefone e quando começei a ficar com sono, me deu petelecos na orelha. Aquilo incomodava, mas era engraçado a maneira como ela se irritava comigo. Praticamente me fuzilava com aqueles olhos impressionantemente brilhantes e fazia uma ruga no meio das sombrancelhas. O jeito como apertava os labios ou fazia um leve bico, era ate bonitinho se não comparasse com o genio dificil dela, um pouco sarcastica e sem pasciencia, provavelmente só comigo, pois eu via como Katniss tratava as amigas. Era bem carinhosa, ate mesmo aguentava as histerias de Mad, fazia as amigas rirem enquanto comigo só brigava.

Uma hora eu não aguentei a dor e ela começou a me tirar do sério, a respondi bravo e juntei minhas coisas saindo em seguida. Não aguentava mais a dor, precisava ir a enfermaria.

Cato me ajudou dando apoio para não forçar a perna e carregou minha mochila.

– O que aconteceu com você? - Perguntou a enfermeira Greasy Sae espantada ao me ver levantando a calça ate o joelho.

Tia Sae, como preferia ser chamada, era uma idosa rechonchuda e extremamente simpatica, ela gostava de nos tratar como crianças e as vezes ate dava umas balas a nós.

–Tive um pequeno acidente ontem - respondi percebendo o quão feio minha perna estava.

– Toma, vai no banheiro e coloca isto - Tia Sae me deu uma bermuda preta, provavelmente do achados e perdidos.

Roupas que eram esquecidas la, ficavam na enfermaria para casos de emergencia, como na vez em que pregamos uma peça no Thresh escondendo suas roupas no vestuario femenino, ou esta minha situação. Fui ao banheiro e troquei a calça jeans pela bermuda de tactel, percebendo que o jeans agarrou no ralado e o fazia sangrar um pouco. Sai e entreguei a calça suja a enfermeira assistente e sentei-me na maca.

– Oh Peeta, é um arranhão e tanto... Mas nada grave. Vamos limpar e enfaixar com gase. - Disse tia Sae já começando a limpar o ferimento.

Passou um pano molhado e depois tacou um spray que de inicio ardeu, mas no instante seguinte suspirei aliviado vendo a dor latejante de antes sumir. Com dedos ageis, ela também enfaixou a ferida e me deu uma pomada para espalhar pela noite.

– Novinho em folha! - Tia Sae sorriu e me ajudou a levantar - Não se preocupe com a calça, amanhã busque aqui que estará como nova.

– Você é um anjo tia Sae - sorri e a abraçei, dando um beijo em sua bochecha gordinha.

– Bajulador - zombou Cato, me entregando a mochila - Ja pode andar melhor?

– Sim, obrigado Cato, é um bom amigo - Agradeci, dando tapinhas em seu ombro e seguindo para a biblioteca.

Queria pedir desculpas a Katniss pelo modo que a tratei, por mais que ela também fosse rude comigo, não queria que ela tivesse mais motivos para me odiar. Porém, quando cheguei ela não estava mais la, talvez tenha ido assim que eu sai.

– O que arrumou na perna? - A voz de Glimmer surgiu atras de mim

– Não me assuste assim! - Coloquei a mão no peito, ela realmente me assustou

– Nada, um contra tempo apenas. Viu Thresh?

Ela negou com a cabeça e sai para procura-lo. Não foi dificil de achar, estava na quadra sentado nas arquibancadas com Titus vendo o treino de lideres de torcida.

– O que fez na perna? - perguntou Thresh quando cheguei perto dele.

Sentei-me ao seu lado - Nada de mais. Preciso de um favor.

– Pode falar - Disse Thresh sem tirar os olhos das torcedoras que montavam uma espécie de pirâmide.

– Tem o numero de Delly?

– Sim. Quer?

Assenti e ele me passou o papel que pegou no shopping. Observei e reparei que a letra era de Katniss, caprichada e delicada, assim como nas anotações do caderno. Enfiei o papel no bolso da bermuda e fui para casa louco por um banho frio afim de me livrar da dor que voltava.

Em casa, me arrepedi de não passar direto da sala de entrada para as escadas de frente para meu quarto. Parei para dar um beijo em minha mãe e ela reparou minha perna.

– Peeta! - Minha mãe berrou

– Oi mãe - dei um sorriso maroto a ela e lhe dei outro beijo - Vou tomar banho.

– Espere ai mocinho. O que aconteceu com você? - Ela me fez sentar no sofá, visivelmente preocupada com seus olhos azuis quase mareados, mostrando sua preocupação. Afinal, mãe é mãe ne? Se preocupam até com uma farpa no dedo.

Peguei sua mão e beijei seus dedos - Mãe, não se preocupe. Um homem ontem bateu com a moto na minha lateral e arranhou minha perna, só isso. Estou bem.

Ela pareceu mais tranquila quando removi a gase e mostrei. A ferida realmente não estava tão feia agora de a enfermeira Sae havia cuidado, mas doía bastante.

– Querido, fique em casa amanha okay? So para me deixar mais tranquila.

– Okay mãe.

Minha mãe me deu um beijo na cabeça e subi ao meu quarto, jogando a mochila de um lado e as roupas de outro. Entrei na banheira ainda vazia deixando-a encher, enquato eu relaxava sentindo a agua fria afogar meu corpo, deixando apenas minha cabeça do lado de fora.

Fiquei alguns instantes ali, pensando no nada, até ver a ponta dos meus dedos enrugados. Não me incomodei em limpar o ferimento, ja que tia Sae ja havia feito isso, apenas coloquei uma bermuda e deitei na cama caindo em um sono profundo.