O vôo foi completamente entediante. Sabe aquele momento em que parece que o tempo não consegue passar, nem sequer devagar? Pois bem, era isso que eu estava sentindo. Minha ansiedade aumentava a cada minuto dentro do peito. Foi quando avistei Connecticut do avião. Eu queria pular dali e pousar diretamente na casa de Leon, mas obviamente eu morreria por fazer isso.

Meu pai sorriu para mim ao ver onde estávamos. Ele estava feliz por mim, e eu sabia disso. Sorri de volta.

Eu nunca havia me sentido assim antes. Quer dizer, eu nunca me apaixonei antes. Na verdade, eu não sabia ao certo o que sentia. Havia apenas acontecido algumas conversas e um grande beijo, e acho que isso não era o bastante para alguém se sentir apaixonada. Atraída, talvez, fosse a palavra certa. Emocionada, feliz. Era algo novo para mim, e estava sendo ótimo. Nada de machucados dessa vez.

Decolamos no avião por volta das duas e meia da tarde. Meu coração estava acelerado dentro do peito, novamente, ainda, obviamente. A mãe de Leon – apenas ela – estava nos esperando no aeroporto, mas ela não sorria como antes. Achei estranho.Jade me disse que ela gostava de mim, e que sempre sorria para as pessoas que gostava. Mas ela estava com uma expressão triste nos olhos, e meio que abriu um sorrisinho no canto dos lábios ao nos ver.

– Olá – disse ela, em um tom fraco. – Vamos?

– Está tudo bem? – perguntei, suspeitando de algo.

– É claro que está. Porque não estaria? – respondeu ela.

Normalmente, quando alguém acrescenta ‘porque não estaria’, quer dizer que algo está errado, e talvez eu descobriria logo.

•••

A casa de Leon era grande. Definitivamente grande. Era uma enorme casa marrom, com piscina e jardim. Dentro da casa, a mobília era totalmente limpa e arrumada. Um cheiro de bolo vinha da cozinha. a mãe de Leon , colocou a bolsa no sofá da sala e caminhou em direção a escada.

– Leon ! Chloe! Temos visitas! – gritou ela.

Chloe? Leon tinha alguma irmã que eu não conhecia?

Leon desceu as escadas correndo, bonito como eu me lembrava. Cabelo de topete, olhos arredondados e sorriso nos lábios. Ele arregalou os olhos ao me ver, e sorriu constrangido.

Mãe do Leon passou por mim e sussurrou um ‘sinto muito’. Não entendi de inicio, mas então, a tal Chloe, presumi, desceu as escadas. Loira, magra, olhos esverdeados e totalmente lindos. Ela não se parecia nada com Leon ou com mãe dele . Talvez ela fosse... Aah. Não! Não! Não!

– Violetta , essa é Chloe, minha... – ele engoliu saliva ao dizer isso. – Minha namorada.

O mundo desabou sobre mim num baque inesperado. Namorada? Como assim namorada? Ele havia me beijado há algumas semanas atrás – basicamente, eu havia beijado ele, mas ele me beijou de volta – e agora estava com uma namorada? Como assim? Então ele era um daqueles cafajestes que traí a namorada com qualquer uma pela frente?

– Namorada? – repeti baixo, mas ele ouviu.

– É... Namo... Namorada – admitiu ele.

A tal Chloe pegou em suas mãos, e sorriu para mim.

– É um prazer conhece - lá – disse ela.

Não consegui sorrir de volta. Apenas olhei para ele, não disfarçando meu espanto. Pedi licença para conhecer a casa. a Mãe do Leon assentiu, passei por Leon , batendo em seu ombro. Seu perfume entrou pelo meu nariz, e abanei meu rosto para espantar o cheiro.

– Garoto idiota – sussurrei para mim mesma.

Sentei no jardim, observando tudo ao redor, tentando assimilar tamanha informação. Se ele tinha uma namorada, porque não disse antes de tudo acontecer? Eu entenderia, até porque eu também tinha um namorado. Mas a besta resolveu contar tudo a ele, e terminei com um idiota para meio que ‘ficar’ com outro idiota.

A vida é assim. Nos prega peças inesperadas – e essa, para mim, estava sendo a mais inesperada de todas. As pessoas enganam umas as outras. A expressão de todos é surreal, que não é possível para nós que algo seja verdade. Leon , por exemplo. Eu nunca acreditaria que ele tinha uma namorada se não tivesse visto com meus próprios olhos. Ou, aliás, eu nunca acreditaria nisso se ele mesmo não tivesse confirmado com a própria boca.

– Garoto idiota – sussurrei novamente, com lágrimas nos olhos.

Passei algum tempo admirando a rua, os carros, as pessoas, tentando encontrar em cada uma algum rastro de mentira quase saindo pelos seus olhos. É evidente que todos mentimos pelo menos uma única vez. E a mentira nunca é uma coisa boa. Mas uma pequena voz na minha cabeça dizia que Leon talvez – só talvez – não tivesse mentido para mim. Na verdade, eu não havia perguntado nada para ele, então a culpa também havia sido minha. É incrível a capacidade que temos que nos sentirmos culpados por coisas que não temos culpa.

– Violetta , precisamos conversar – a voz de Leon entrou pelos meus ouvidos. Olhei para trás, e nos encaramos por algum tempo, cada um esperando que o outro dissesse algo, mas as palavras não saíram. Eu apenas queria ficar olhando para ele, procurando algo em seus olhos que provassem que aquilo não era real. Mas era real.