Long shot escrita por Giovanna


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, coloquei minha alma nesse capítulo, espero que gostem.



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Não foi um copo, nem dois, foram bem mais, Lily ria de algo que tínhamos visto na rua, eu não lembrava o que, mas eu também ria. Meus sapatos estavam em minhas mãos, eu nem sentia os meus pés. O chão parecia flutuar e a luz da lua iluminava nosso caminho, a garota girava com os abraços abertos no meio da rua com uma garrafa de cerveja em mãos, aquele foi um dos poucos momentos da minha vida que eu acreditei no infinito, e queria ser jovem para sempre. Peguei a cerveja de suas mãos, e virei de uma vez bebendo quase tudo, ela gargalhou e eu também. As ruas estavam nubladas, e as casas estavam dançando entre si com uma musica lenta que tocava ao fundo. Eu queria dançar com elas, querer é poder... Fiquei nas pontas dos pés e comecei a girar, dançando no ritmo da musica em que as casas dançavam, Lily também dançava então ela veio em minha direção e começamos a dançar juntas como na minha valsa no meu aniversário de 15 anos. Dançamos até os pés doerem, rimos até faltar o ar e acreditamos infinitamente no infinito.

Quando chegamos à porta de casa, eu bebi o resto da cerveja e joguei a garrafa em algum lugar, eu perguntei algo sobre ela querer dormir lá, mas Lily negou e saiu andando por meio das ruas silenciosas.

Joguei as chaves em cima do criado-mudo do hall de entrada, a casa estava tão quieta que os meus ruídos me assustavam, andei cambaleando até a cozinha tinha um recado na porta da geladeira, mas eu não consegui ler, deixei pra lá abrindo a geladeira e pegando uma maça para comer.

Subi degrau por degrau na escada, e ri sozinha quando confundi o pé esquerdo com o direito caindo de bunda no piso gelado, voltei a subir os degraus com mais cuidado até chegar ao segundo andar. Ao chegar à porta do quarto senti o meu estomago girar dentro de mim, abri a porta correndo derramando a metade da maça que restava em minhas mãos no chão. Corri até o banheiro e me ajoelhei na frente do vaso sanitário. Minha garganta e meu nariz ardiam muito, puxei a descarga e me levantei. Lavei a boca e quando olhei no espelho vi o reflexo de Tobias parado na porta do quarto, me virei e ele me olhava assustado.

Ele veio até mim, me olhou no fundo dos olhos e eu senti uma pontada no peito, ele estava decepcionado. Sua mão subiu pelo meu braço até o meu ombro baixando a alça da minha blusa, dei um tapa na sua mão quase que automático.

– Deixe-me te ajudar – sussurrou com calma.

Todos os músculos do meu corpo se contraíram tudo girava eu só conseguia ver seus olhos preocupados me fitarem, quanto mais ele me tocava, mais eu ficava arrepiada e ele sorria com isso. Não tive tempo de responder, minha blusa já estava no chão e logo depois minha saia, ele soltou meu cabelo devagar, olhando no fundo dos meus olhos, e eu senti que ele capturar minha alma só com aquele olhar, se isso fosse possível.

Ele foi até o chuveiro, e o abriu, regulou a agua e então me guiou até lá.

– Você consegue ficar aqui dentro sozinha? – perguntou e eu apenas balancei cabeça positivamente – ótimo, fique aqui de baixo vou pegar uma toalha e uma roupa pra você.

Ele saiu do banheiro e eu ainda conseguia sentir o calor dos seus dedos em mim. Amarrei o cabelo em um coque com um elástico que eu deixava no box, e me enfiei na agua gelada, tentei tirar aquela maquiagem toda, mas foi em vão. Então peguei o demaquilante que por uma sorte divina Lily tinha deixado lá e passei no rosto com a ajuda de um algodão retirando tudo da minha pele, senti um alívio, como tinha gente que conseguia dormir com aquilo?

Deixei a agua cair nas minhas costas, eu estava começando a acordar, não via mais as coisas embaçadas, e elas não estavam girando também. Ouvi a porta do banheiro se abrir então eu desliguei o chuveiro. Tobias andou até a minha direção com uma tolha na mão e colocou em minhas costas então ele me apertou contra o seu peito me abraçando.

– Eu peguei um pijama, está muito frio pra você dormir de camisola – disse apontando para a pia onde tinha algumas peças de roupas dobradas – consegue se trocar sozinha?

Balancei a cabeça positivamente, eu não estava tão atordoada a esse ponto.

– Não precisa ter vergonha de mim – sussurrou perto do meu rosto, levei meus olhos até os seus, então ele segurou meu queixo, sua boca se aproximou e então tocou a minha testa – Estarei lá fora se precisar.

Eu me troquei o mais rápido que pude, coloquei uma blusa de mangas compridas e uma calça de moletom, escovei os dentes e sai do banheiro. Tobias estava sentado na cama, com a cabeça apoiada nas mãos, ele me observou alguns segundos e depois levantou.

– Está melhor? – perguntou se aproximando.

– Meu estômago ainda dói, mas estou bem. – lancei um sorriso frouxo.

– Eu deixei um remédio do lado da sua cama – disse apontando para o criado-mudo – durma bem.

Ele se aproximou ainda mais colocando a sua mão em minha nuca, então eu fiz o mesmo, e soltou um riso baixo e eu senti minhas bochechas se enrubescerem, então novamente seus lábios repousaram em minha testa, fechei os olhos e senti sua boca deslizar até meu nariz, e depois até minha bochecha, então eu só me lembro de ter acordado sozinha em minha cama no dia seguinte.

– Você não se lembra de mais nada? – Bruna perguntou indignada.

– Não Bruna! – neguei bebendo mais um gole do refrigerante em minhas mãos – eu ainda estava meio bêbada, nem me lembro de como consegui chegar em casa.

– Você ficou pior que eu colega – disse rindo.

Tenho que confessar que fiz algo muito errado, depois do evento fomos a um pub onde Lily conhecia o dono, e isso bastou para entrarmos e bebermos mais do que a conta, não sei o que houve comigo, mas eu me sentia audaciosa fazendo aquilo. O sinal tocou, então eu e Bruna subimos até a sala da Sra. Olsen, a professora de redação.

Sentamos nos lugares de sempre, não se falava de outra coisa além das notas das provas. A professora entrou na sala e todos ficaram em silencio, ela estava com um sorriso agradável no rosto, colocou suas coisas em cima da mesa e andou até o meio da sala, e nós sabemos que quando ela faz isso vem discurso por aí.

– Olá alunos, bom dia, creio que estão todos alvoroçados para descobrirem quanto tiraram na prova – disse então todos os alunos começaram a falar auto na intenção dela adiantar o processo, em vão – Silêncio, por favor! Esse bimestre eu decidi ter um conceito nobre para escolher o tema de cada um. Nas ultimas duas semanas eu andei observando cada aluno, um por um, observei os olhares, as distrações, os rabiscos das carteiras. Ou seja, eu lhes dei o tema que vocês queriam o tema que combinava com cada um.

Obviamente essa professora estava ficando louca, afinal, o meu tema não tem nada a ver comigo. Ela continuou falando, mas eu não queria mais prestar atenção, peguei um lápis e comecei a rabiscar coisas avulsas na carteira. Então a voz da professora soou em minha cabeça, rapidamente, tirei o caderno de cima da minha mesa, e me surpreendi com o que vi, eu desenhava corações, de vários tipos e tamanhos, não eram apenas rabiscos eram corações.

– Uma das provas me deixou surpresa, porque eu fiquei em duvida se realmente aquele tema serviria para a tal pessoa, e a garota arrasou em uma crônica magnifica – por um segundo eu tive praticamente a certeza que ela estava falando de mim – Beatrice, me permite ler a sua prova em voz alta?

Uma aflição tomou conta de mim, a professora abriu um sorriso e então eu concordei. Não poderia dizer não. Bruna deu uns tapinhas no meu ombro me desejando parabéns. A Sra. Olsen pegou minha prova, apoiou-se na mesa e começou a lê-la em alto e bom som.

– “No ponto de vista cientifico, o amor realmente modifica algo dentro de nós, porém nada mais é que nossos neurotransmissores cerebrais fazendo o seu trabalho. A noradrenalina acelera o bater do coração, a serotonina torna-nos obcecados e descontrolados, e a dopamina faz-nos sentir felizes – e um pouco tolos – só com um sorriso ou um olhar. Porém, para nós o amor é algo sobrenatural, o coração acelerado tem a ver com a proximidade do amado, pensar todos os dias nele torna-se algo rotineiro, e quando ele sorri, ah o sorriso! É como se o mundo inteiro parasse pra vê-lo sorrindo, e você sorri junto com uma sensação de paz incomum dentro de você.

O triste é que muitos amores são perdidos pelo tempo, quem nunca amou e não foi amado que atire a primeira pedra! São incontáveis vezes que isso acontece que você sorri e a pessoa não sorri de volta, que não existe troca de olhares, só você lembra-se dele, mas ele nunca se lembra de você.

Existe aquele amor amigo, quando a pessoa não gosta da outra, mas quer vê-la bem. Mas também existe aquele amor destruidor, quando a pessoa não sabe que você a ama, ou sabe e finge não saber.

É tão destruidor quando ele não sorri de volta, não é? Você sente o seu peito doer, tende a olhar pra baixo e tenta esquecer, mas aquelas imagens nunca iram sair de sua mente. Então, se outro alguém passa, seu amado abre um sorriso incrivelmente lindo, como você nunca virá antes, e você sente o seu peito doer.

Nunca intenderá como se apaixonou, afinal, o que ele tem demais? Além do sorriso encantador, do jeito durão de ser, mas quando ele está com você, só com você... Ele simplesmente muda, e você quer chegar mais perto, você sente vontade de toca-lo mesmo sabendo que aquilo é errado, porém algo dentro de você implora por aquilo, então ele se afasta.

No ponto de vista cientifico o amor realmente modifica algo dentro de nós, porém nada mais é que nossos neurotransmissores cerebrais fazendo o seu trabalho. No meu ponto de vista o amor nos muda, nos faz menos egoístas, afinal, amar é dedicar-se ao outro mais do que a você mesma, é se sacrificar por ele, mesmo ele não merecendo, é chorar em uma noite e sorrir de manhã ao vê-lo, é querer tê-lo pra si, mas se não puder, você tem que deixa-lo ir, o deixar sorrir com outra pessoa, pois se ele estiver sorrindo, você também estará “.

Assim que terminou a leitura, os alunos bateram palmas, agradeci sentindo minhas bochechas esquentarem automaticamente.

– Parabéns Beatrice, seu tema se encaixou perfeitamente com você e o momento que está passando.

Momento que está passando” aquelas palavras bateram contra tudo que eu estava sentindo, aquilo não poderia ser verdade. Eu não estava apaixonada.

Ela disse a nota de todos os alunos, a maioria tinha se saído bem, Bruna, por exemplo, teve mais um dez no seu boletim. O sinal tocou, peguei minhas coisas e me dirigi para a porta, mas ouvi a professora me chamando. Fechei os olhos com força, contei até três e me virei com um falso sorriso em meu rosto. Dirigi-me até a sua mesa, ela tirou os óculos e me olhou com um brilho inesperado no olhar.

– Querida Tris, quero lhe fazer um pedido, posso mostrar sua redação para as outras salas? – perguntou.

– Claro! – respondi sorrindo.

– Obrigada – disse, eu sorri como resposta e saí caminhando até a porta, assim que coloquei a mão na maçaneta a ouvi dizer – Não sei quem ele é, mas é um rapaz de sorte.

Meus olhos encheram de lágrimas, eu andei o mais rápido que pude até o banheiro, empurrando alguns alunos, Bruna viu o meu desespero e me seguiu, assim que entrei eu desabei, chorei de soluçar, ela não entendia o porquê daquilo, nem eu mesma entendi.

– O que aconteceu Tris? – ela perguntava preocupada segurando meu rosto.

– Eu... – fiz uma pausa e respirei fundo – estou apaixonada pelo Tobias.

As palavras saíram tão naturalmente de mim, que quase não acreditei no que tinha acabado de dizer, então agora sim minha vida estava acabada, eu acabei de assumir um sentimento que nunca deveria existir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, obrigada por ler.