Andei apressadamente até a cozinha, o barulho insistente do telefone me deixava ainda mais alvoroçada.

– Alô?

– Oi querida, que bom que foi você que atendeu – ouvi a voz da mulher, já idosa, dizer.

– Olá vovó – respondi tentando disfarçar o meu desapontamento.

– Tris, por favor, peça pra Deise trazer as roupas de Ballet da sua irmã, sim? - pediu educadamente.

– Pode deixar vovó - respondi e deliguei o telefone.

Papai e Eli haviam viajado a negócios, e Megan foi pra casa da vovó, porque meu pai acha que sou incapacitada de cuidar de uma menina de 11 anos. A casa estava totalmente vazia, os empregados nem apareciam quando os donos viajavam só Deise que era praticamente nossa babá. Digo “nossa”, porque Tobias ficou em casa, normalmente ele iria pra casa de um dos amigos, mas desta vez ele decidiu ficar para me torturar. Fazia dois dias do ocorrido na escola, dois dias que assumi para mim mesma minha paixão por ele. E junto com isso, eu decidi esquece-lo e ignora-lo, afinal, ele nunca gostaria de uma garota como eu. Além do que nós somos criados feitos irmãos, desde os meus oito anos. Lembro-me da cena de nós dois correndo pelo jardim brincando de pega-pega, ele caindo em cima de mim e nossos corpos juntos rolando pela terra, rindo até sentir a barriga doer. Um dia eu bati na porta do seu quarto, e ele me mandou em bora, então dois dias depois ele me empurrou na frente dos amigos dele e riu da minha reação. Eu nunca entendi o porquê daquilo, ele me tratava bem, e de um dia para o outro ele passou a me odiar.

Um som estrondoso me tirou dos meus pensamentos, Tobias havia acabado de chegar da sua corrida matinal, e provavelmente bateu a porta propositalmente.

– Acorda Careta! – disse rindo, revirei os olhos fingindo não ligar para o que ele falava – Minha mãe ligou?

– Ainda não.

Respondi vagamente, me virei na intenção de sair dali, mas a imagem de Tobias bebendo água sem camisa me paralisou totalmente. O suor escorria dos seus ombros até seu umbigo, e aquilo me excitava, eu queria toca-lo, queria que ele me tocasse.

– Está olhando o que? – perguntou com um tom de voz sugestivo

Ele sorria maliciosamente, isso me deixou encabulada, com certeza ele percebeu que eu o fitava.

– Nada – respondi saindo do cômodo, mas senti sua presença, e logo depois ele me pegou pelo braço me empurrando contra a parede.

Minhas costas bateram com força na parede gélida, e eu fechei os olhos para suportar a dor, ele pegou meu queixo me obrigando a olhar pra ele.

– Você acha que me engana, não é? – sussurrou passando seus lábios no meu queixo, e logo depois na minha bochecha – eu sei que você não resiste a mim.

Um riso irônico apareceu em seus lábios, parte de mim queria se entregar para ele por inteiro, já a outra queria sair dali de qualquer maneira. Ainda bem que eu ouvi a outra parte. Dei um chute no meio de suas pernas, e ele gemeu de dor.

– Vai se foder, Tobias! – grunhi entre os dentes subindo as escadas, parei no topo e rir da cara de dor do rapaz enquanto segurava a parte intima tentando anemizar a dor.

– Bruna, devolve a porcaria do controle! – Lily gritava tentando pegar o controle remoto das mãos de Bruna.

– Eu não vou assistir Atividade Paranormal, eu tenho medo – Bruna responde com voz de criança, levantando a mão para cima na intenção de impedir que Lily pegasse o controle.

Estávamos todas na sala, eu e Clara estávamos na frente na tevê assistindo o filme, já as duas moças estavam brigando pelo controle.

– Careta, pede pras suas amiguinhas pararem de fazer barulho que eu e os caras estamos tentando estudar – Tobias apareceu na ponta da escada apenas com uma calça de moletom.

Enfiei uma pipoca na boca e revirei os olhos, Lily desceu do sofá onde estava pendurada tentando pegar o maldito controle e foi até ele. Respirei pesadamente ao ver a aproximação dos dois.

– Esse é o seu irmão? – Lily perguntou apontando para o tórax de Tobias, balancei a cabeça positivamente – Você não exagerou quando disse que ele era um Deus grego.

Ela deu um sorrisinho e se afastou sentando devidamente no sofá. Senti minhas bochechas queimarem, algo ficou preso na minha garganta e eu senti o ar faltar. Comecei a tossir, bebi um pouco de agua tentando parar. Respirei fundo, e olhei pra Tobias que coçava a nuca, ele fazia isso quando estava nervoso.

– Oi gatas, como estão? – Patrick pulou os dois últimos degraus da escada abraçando Tobias.

– Eu falei pra você ficar lá em cima com o...

– Comigo? – Logan perguntou saindo da cozinha com um pote de nutella em mãos.

Ele sentou do meu lado e eu peguei umas das colheres, agradeci baixo pegando uma boa colherada do doce.

– É sério que vocês vão ficar aqui? – Tobias perguntou com cara de tédio.

– Nós vamos ficar aqui – Patrick puxou Tobias, e eles sentaram no sofá ao nosso lado.

Ficamos um bom tempo assistindo o filme, quando estava prestes a acabar eu senti algo agarrando a minha coxa, era a mão de Logan. No começo achei que era por conta do filme, mas quando o olhei ele estava sorrindo maliciosamente, passando a mão por minha coxa. Eu ia pedir delicadamente para ele tirar a mão dali, mas ouvimos alguém tossir em reprovação. Logan olhou para Tobias que nos observava com um olhar sério, logo ele tirou a mão e fitou a tevê como se nada tivesse acontecido.

– Sabe o que eu estava pensando... – Lily começou a falar e todos se viraram para ouvi-la – Vocês tem essa casa só pra vocês um final de semana inteiro, são ricos, e nunca fizeram uma house party aqui?

– Papai ficaria bravo se descobrisse – respondi.

Tobias tentou segurar o riso, mas só conseguiu que ele ficasse nasalado, Lily riu logo depois.

– Obediente do papai – Tobias disse fazendo voz de criança – É uma boa ideia Lily, eu tenho meus contatos, amanhã à noite, está marcado?

– Claro, vou criar o evento no facebook e convidar geral – ela lançou uma piscada pra ele e ele sorriu piscando de volta.

Senti uma pontada no peito, Lily sabe do meu sentimento por Tobias, nunca teria nada com ele. Espero que não.