A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 5
Capítulo 4 - Afterlife




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A Herdeira de Hécate

Like walking into a dream,
So unlike what you've seen
So unsure but it seems, 'cause
we've been waiting for you

Capítulo 4 - Afterlife (Avenged Sevenfold)

– Quem você pensa que é pra me impedir?! - perguntou Kyle, que eu nem percebera que fora jogado no chão.

Claro, não é por menos. Minha mente entrara em pane quando vi Nico em toda a sua glória divina se postando à minha frente de modo protetor.

– Sou quem vai te dar uma passagem só de ida pro inferno se chegar perto dela. - disse Nico, numa voz tão friamente se emoções que eu quase não o reconhecia como o garoto gentil que me salvara.

E eu sabia, de algum modo, que ele não estava brincando.

– Vamos embora, Kyle, depois nós voltamos. - Jude, um dos amigos guarda-costas de Kyle, tremeu diante do olhar que Nico mandava a eles.

Com a ajuda de Jude e Stephan, Kyle se levantou e nos mandou um olhar furioso. - Isso vai ter volta!

Nico esperou que eles não estivessem mais em nossas vistas para se virar para mim, mudando completamente sua fisionomia fria e calculista para a gentil e preocupada do dia em que nos conhecemos. E a informação de que ele estava mesmo ali ainda não se fixara completamente em meu cérebro.

– Você está bem, Cristal? - ele perguntou, segurando meu rosto em suas mãos.

Mas minha boca se mexeu por conta própria, formando uma pergunta.

– O que faz aqui, Nico? - e então percebi meu erro quando ele soltou meu rosto. - Desculpa, eu só estou espantada em te ver aqui.

Por incrível que pareça, ele riu. - Vamos até o jardim, o que acha?

Assenti, sem me importar se estaríamos faltando aula ou não. O jardim do colégio não era lá essa coisas. Era somente uma praçinha, com algumas árvores, umas três mesas de cimento e bastante grama. Muita mesmo. Nico me levou até uma das mesas e se sentou à minha frente. Coloquei a mochila no banco ao meu lado e a revirei, apenas para arranjar tempo para pensar em algo de útil pra falar. Mas nem foi preciso, já que ele mesmo se pronunciou primeiro.

– O que está fazendo aqui? - ele perguntou, e por um momento eu fiquei confusa.

– Como assim o que estou fazendo aqui?! Estudo aqui, oras.

Calei-me novamente ao ver o olhar firme que ele me lançava. - Isso eu percebi. Mas por quê eu não te vi a semana inteira?

Cocei a bochecha, como eu fazia sempre quando estava nervosa. Como eu ia explicar pra ele que passei a última semana na cama, apenas esperando para sonhar novamente com ele, já que até a até minutos atrás eu estava confiante que Nico havia sido um sonho? Claro, eu podia fazer isso e pagar o maior mico de toda a minha vida.

Mas também podia fazer exatamente o que uma garota normal faria numa situação como essa; mentir.

– Não sei, eu faltei esses dias pra poder ajudar meu pai.

Mas também nunca disse que era uma garota normal.

– Por quê será que eu não acredito nisso? - ele perguntou sarcasticamente, abrindo um sorriso torto que quase me fez derreter.

Dei de ombros, soando mais indiferente do que realmente me sentia. - Não sei, talvez porque eu não queira dizer o porquê.

Nico balançou a cabeça, ainda sorrindo, como se pensasse que eu não havia realmente dito aquilo. Até que ele me olhou novamente, mas seu olhar tinha um brilho duro e rancoroso.

– Quem era aquele imbecil que estava te perturbando?

Abaixei meu olhar, relembrando em um único segundo tudo o que Kyle já tinha me feito. Todos os puxões, tapas, socos, tentativas de beijos, dinheiro roubado, fofocas espalhadas e palavras cruéis.

– Ele é Kyle Rodriguéz. - respondi, por fim. - Repetiu na sétima série, e desde então não me deixa em paz. Seja pra tentar me usar, me rebaixar, humilhar, bater...

– Aquele filho da mãe te bateu?!

Tudo bem... Nico, no acesso repentino de fúria dele, não disse filho da mãe. Mas não vale a pena repetir o que ele tinha dito.

– Muitas vezes, mas isso não importa agora. - e eu tinha que parar de ser burra.

Eu podia fingir muito bem que não importava, como eu sempre fazia todos esses anos, mas nunca cheguei à conclusão de que isso afetaria Nico também. Principalmente que nos conhecíamos somente há apenas uma semana. Nico se levantou, furioso e xingando Kyle de diversos nomes em uma língua que, por incrível que pareça, eu consegui entender perfeitamente. Era uma língua antiga, com um toque oriental e nunca falada na minha presença antes.

– Espera, isso é grego? - me vi perguntando de repente, e Nico finalmente pareceu se dar conta do que tinha acontecido.

Nico parou onde estava, apenas alguns passos longe de onde eu estava sentada, segurando seu pulso, e me olhou assustado e surpreso.

– Não. - ele disse tão rapidamente que eu desconfiei. Mas logo balancei a cabeça, expulsando esses pensamentos para que outro mais importantes tomassem tal lugar. - Em que sala ele está? Preciso dar um jeito nisso de uma vez por todas.

– Deixa isso pra lá, Nico, não importa. - eu disse, segurando seu pulso para que ele não fizesse merda.

– É, mas eu me importo. - disse ele, abaixando-se à minha frente para ficar na altura dos meus olhos.

Meu coração falhou uma batida, enquanto observava os orbes negros de Nico me analisando atentamente. E, por mais que minhas bochechas queimassem devido à avaliação minuciosa dele, eu não conseguia desviar meus olhos. O que estava acontecendo comigo? Por quê eu sentia que estava ficando cada vez mais dependente dele? Isso não era certo! Eu era uma zé ninguém que há uma semana tentara acabar com a pouca vida que tinha. E que Nico, por acaso, salvara.

– Por quê se importa? - perguntei, olhando tão profundamente em seus orbes misteriosos que minha voz mal passou de um sussurro. Mas eu sabia que ele tinha ouvido, assim que passou um brilho diferente em seu olhar. - Por quê você me salvou aquele dia?

– Você não tem ideia da sorte que tem em ter uma vida normal. - ele disse misteriosamente.

– O que isso quer dizer? - perguntei, confusa.

Nico se levantou, claramente procurando um meio de não responder.

– Acredite, você não vai querer saber. - ele disse, estendendo a mão e me ajudando a levantar.

Mas ele não soltou minha mão. Pegamos nossas mochilas e fomos até a sala do segundo ano.

– Está no segundo ano também? - perguntei, receosa de ter que encarar Kyle sozinha depois do que aconteceu.

Ninguém nunca havia me defendido antes, então eu não sabia qual seria as consequências.

Mas Nico me tranquilizou quase instantaneamente quando assentiu. - Aquele imbecil também está? - ele perguntou, furioso, e eu apenas assenti.

Entramos, ainda de mãos dadas, e a sala praticamente parou. O professor, sentado em sua mesa e corrigindo alguma coisa, parou a caneta no ato e uma linha azul de lado a lado na folha ficou bem visível. Os alunos que conversavam animadamente - vulgo, quase destruindo a sala - se calaram no mesmo instante e se viraram para nos encarar. Kyle, que graças ao bom Deus se sentava no lado contrário, se levantou com uma clara expressão de deboche.

– Quer dizer então que o namoradinho da boneca vai protegê-la até aqui?

Eu me encolhi atrás de Nico; e só percebi que estava tremendo quando ele apertou minha mão. Ele nada disse, só soltou minha para envolver meus ombros num abraço lateral e me levar até as últimas carteiras. Mas então eu já não estava mais tão preocupada quanto a isso.

Enquanto eu estivesse ao lado de Nico, tudo ficaria bem.


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