A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 31
Capítulo 30 - Run Boy Run


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês!! o// Estou feliz por ter passado dos 300 comentários, mto obrigada! ♥



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A Herdeira de Hécate

Run boy run
This world is not made for you
Run boy run
They're trying to catch you

Capítulo 30 - Run Boy Run (Woodkid)

Eu realmente não imaginava que conseguiria dormir por muito tempo. Na verdade, talvez eu já tivesse certa certeza. Eu tinha percebido que nada na minha vida era fácil há muito tempo. Quando se é semideusa, nada era fácil. Então, quando Nico me acordou desesperado, não me assustei tanto. Eu realmente achava que nossa viagem até Topeka seria ininterrupta?

– Onde estamos? - perguntei, preocupada com a comoção de passageiros no ônibus parado.

– Pennsylvania ainda, nos arredores de Allentown. - disse Nico, pegando nossas mochilas no compartimento de bagagem de mãos.

– O que está acontecendo?! - Paige perguntou à nossa frente, meio desesperada enquanto Travis pegava a bagagem dos dois.

O ônibus deu uma balançada violenta, como se respondesse à pergunta da loira. Os passageiros estavam em desespero, confusos com o que acontecia.

O que é aquilo lá fora? – uma mulher perguntou, não muito atrás da gente.

Estava prestes a olhar o que era, quando Nico jogou a minha mochila em meus braços.

– Monstros. - ele respondeu a mim, fazendo um sinal para a bota onde eu guardava a varinha que minha mãe me deu.

Era hora de agir.

Peguei um pequeno livro de feitiços que eu tinha na mochila de extensão e o deixei às mãos enquanto pendurava de volta nas costas. Atravessamos o ônibus, os quatro juntos, enquanto o que quer que seja que ainda estivesse lá fora mexia o ônibus como se pretendesse derrubá-lo. E eu não podia deixá-lo machucar pessoas inocente. Olhei por uma das janelas laterais e finalmente os vi. Dois cavalos de cada lado, empurrando o ônibus como se fosse um brinquedo do parquinho. Poderiam ser taxados como cavalos comuns, a não ser pela fileira dupla ou tripla de dentes de tubarão que estavam expostos. Eu reconheci aqueles cavalos das pesquisas que Annabeth me passara antes de sairmos do Acampamento.

Podargo, Lâmpon, Xanto e Deino eram os quatro Cavalos de Diómedes. E, pelo que eu sabia, a alimentação deles era um pouco diferente da dos cavalos comuns.

Virei-me para o motorista, que parecia um pouco desesperado, e tentei manter a postura firme.

– Senhor, preciso que abra as portas para mim. - eu pedi, e ele me olhou assustado. - Quando nós quatro sairmos, você saia daqui. Vá à toda velocidade que precisa ir, e não olhe para trás.

– M-m-mas, senhorita... - ele começou, mas foi interrompido por um barulho forte de metal sendo amaçado e partido.

Os cavalos estavam quase entrando.

– Faça o que ela pediu. - disse Nico logo atrás de mim, o olhar sombrio e firme. - Acredite, para seu próprio bem.

Vi quando o motorista olhou para os passageiros em desespero, engolindo em seco. Eu sabia que ele não deixaria aquelas pessoas se ferirem e isso se confirmou quando ele assentiu, preparando-se para abrir as portas ao nosso sinal. Virei-me para a porta, e consegui ver uma das partes traseiras de um dos cavalos. Senti o bombeamento da adrenalina no sangue logo ao meu ouvido e rezei para não estar tremendo. Peguei a varinha na minha bota e me preparei para dar o sinal, mas Nico puxou meu punho e se colocou à minha frente.

– Nico! - reclamei.

– Não posso te impedir de lutar, mas posso impedir que você seja o alvo mais fácil. - ele disse no mesmo tom firme que usou com o motorista e, se eu não estivesse com a adrenalina tão em alta a ponto de explodir por cada poro do meu corpo, eu teria achado fofo da parte.

Okay, era fofo da parte dele.

– Não discuta com ele, senão você fica pro fim da fila. - disse Travis, com a mão sobre meu ombro para impedir-me de retrucar. – Também não deixarei que se machuque fácil.

Bufei, indignada, mas assenti. Mais uma sacudidela no ônibus e eu ajeitei a mochila nas costas o mais confortável possível para uma luta. Minha primeira luta. Olhei para o motorista, que parecia soar como um porco pelo medo, e assenti, no sinal para que abrisse as portas. Ele puxou a alavanca e as portas se abriram para o caos. Nico, em questão de nanosegundos, já estava com a espada negra em mãos, pulando para o asfalto quente. Já atacou os dois animais na lateral próxima e foi minha vez de reagir. Lancei uma onda elétrica pela varinha nos dois cavalos enquanto eu pulava para o lado de Nico.

Travis e Paige vieram logo depois, com suas espadas já em mãos. Atacaram os cavalos que contornaram o ônibus e eu aproveitei a distração de segundos para girar a varinha em mãos e transformá-la em uma espada. Ataquei o flanco de um dos cavalos que tentava matar Nico e ouvi a aceleração do ônibus. Não sabia se os passageiros olhavam pela janela ou não, mas foi apenas questão de segundos para que o ônibus já estivesse longe, como o motorista prometera.

Voltei minha atenção para o cavalo e desviei do golpe de seus dentes que pareciam de tubarões. Quando me disseram que eles comiam carne humana, eu não acreditei, mas aquilo fedia. Sinceramente, fedia muito. Aproveitei a escapatória e girei a espada num arco fechado em direção ao tronco do cavalo. Um corte pequeno foi feito, menor do que eu pensei que faria. Sangrou levemente, um líquido negro que eu nem sabia se era realmente sangue, e parou. Simplesmente parou de sangrar e o corte fechou.

E eu teria sido engolida viva se não fosse Nico aparecendo e me jogando longe, vindo junto para também se safar da morte.

– O que pensa que está fazendo? - ele perguntou, levantando-se rapidamente e me puxando junto.

– E-eles não morrem! - eu disse, assustada.

– Eu sei, mas dá pra deixar desacordado. - Nico disse, sorrindo sombria e marotamente enquanto se voltava para o cavalo e o atacava no rosto.

– Eu sei que com carne humana dá. - comentou Travis, respirando ofegantemente.

– Isso foi voluntário? - perguntou Paige, sorrindo sarcasticamente.

Travis apenas revirou os olhos e voltou a atacar o cavalo.

Olhei ao redor à procura de alguma coisa para desacordar aqueles cavalos canibais. Ao longe se via a estrada, mas não tão longe eu vi um pequeno bosque, pouco antes dos prédios que indicavam a periferia de Allentown. Talvez não fosse uma ideia tão ruim assim.

– Hey! - tentei chamar a atenção, mas eles estavam ocupados demais tentando não ser comidos vivos. - Hey, bando de imbecis! - tentei mais uma vez, e parece que dessa vez deu certo. - Vamos levá-los para as árvores daquele bosque! Tenho um plano para desacordá-los!

– Mas lá tem a cidade, jumenta! - reclamou Paige. O cavalo com que ela lutava pareceu soltar fogo pelas ventas e começou a atacá-la mais ferozmente. - Cidade? Quem se importa com a cidade?!

E saiu correndo para o bosque.

– Eu que não fico para trás. - disse Nico, agarrando minha mão num ato reflexo e me puxando atrás de Paige. E Travis veio logo atrás, com os animais em seu encalço.

Soltei a mão de Nico depois de alguns passos e transformei minha espada em varinha novamente. Nico me segurava pelo cotovelo, me guiando entre as primeiras para que eu não me estatelasse no chão ou fosse engolida viva enquanto caçava uma página específica do livro de feitiços que eu tinha em mãos. Alguma coisa ali tinha que ser necessária, não era possível que não tivesse nada útil naquele livro. Folheei mais algumas páginas até achar o que eu queria. Soltei a mão de Nico do meu braço e corri mais alguns passos à frente, tentando ganhar certa vantagem quanto aos outros e, principalmente, quando aos cavalos. Parei onde consegui e virei-me para eles.

Respirei fundo, levantei a varinha, e recitei. - Venti da sud a nord, portami il tornado più forte.

Segundos depois e os três semideuses que eu chamava de amigos estavam jogados no chão ao meu lado, protegendo-se como podiam do tornado que se abateu próximo a nós, arrancando as patas dos Cavalos de Diómedes do chão e balançando-os até que se encontravam inconscientes no chão do bosque. Nico levantou-se, com os cabelos negros ainda desalinhados do vendo forte, e abriu um pequeno abismo por onde os cavalos caíram direto para o Tártaro, de onde não deviam ter saído. Levantei-me também quando Travis e Paige já estavam de pé, e senti uma tontura.

E foi aí que eu percebi algo errado.

– Ai não. - resmunguei, abrindo levemente os braços para recuperar o equilíbrio que minhas pernas já não davam mais.

– O que foi? - perguntou Nico, preocupado, e se aproximou.

– Era um feitiço nível sete. - respondi, a voz baixa.

Minha visão ficou embaçada, e eu vi dois Nicos me olhando preocupados e desentendidos. Sinceramente? Acho que estou no lucro se estou vendo dois dele.

– O que isso quer dizer? - perguntou Travis, aproximando-se com Paige, que ajeitava seu cabelo embaraçado.

Respirei fundo para responder, e Nico já segurou minha cintura para que eu não caísse.

– Quer dizer que feitiços a partir do nível cinco consomem toda a minha energia.

E apaguei.


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