A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 3
Capítulo 2 - Never Gonna Be Alone


Notas iniciais do capítulo

Bem, como prometido a algumas leitoras, aqui está o capítulo 2! Espero que gostem, foi um dos mais complicados de se fazer!



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A Herdeira de Hécate

Never gonna be alone!
From this moment on,
If you ever feel like letting go.
I won't left you fall...
Never gonna be alone!
I'll hold you 'til the hurt is gone.

Capítulo 2 - Never Gonna Be Alone (Nickelback)

– Aqui está. - disse Nico, entregando-me uma caneca de chocolate quente e eu fiz força pra não derrubá-lo junto com o cobertor térmico que me envolvia.

O apartamento dele na Poplar St. era lindo - completamente diferente do meu. A Poplar St. não era muito longe da Middagh St., na verdade, davam alguns poucos quarteirões. Mas o ambiente em si mudava completamente. O apartamento de Nico era moderno e sofisticado, a maioria dos móveis eram negros e brancos - masculino e elegante. E eu estava completamente sem graça ali, quase sendo paparicada por um garoto que parece um deus grego e que eu nunca havia visto na vida.

– Obrigada. - sussurrei, corando e bebericando do líquido.

– Se sente melhor? - ele perguntou, sentando-se ao meu lado e inclinando a cabeça de lado levemente, em um claro sinal de preocupação.

E eu ainda estava assustada por saber que ele estava preocupado comigo.

– E-eu... Acho que sim. - gaguejei sob o olhar atento e profundo dele. Eu tentava ao máximo evitar olhar em seus olhos negros como como a morte, mas isso estava quase se tornando impossível. Levantei meu olhar, não aguentando mais a tensão que me consumia, e me permiti mergulhar tão profundamente na negritude que eu me vi perguntando algo a ele. - Por quê está me ajudando?

Nico se mexeu um pouco desconfortável no sofá ao meu lado e franziu o cenho, como se também estivesse em dúvida.

– Eu não sei. - ele respondeu e eu percebi que estava sendo verdadeiro comigo. - Só sei que quando eu te vi ali, sabia que não podia te deixar cair. Por mais que você tenha motivos para desistir de tudo, muitas coisas boas ainda podem te acontecer. Existem coisas piores que poderiam ter acontecido, e ainda não era sua hora.

Ele logo mordeu o lábio e se calou subitamente, como se tivesse falado mais do que devia. E algo martelou em minha mente.

– O que de pior poderia ter acontecido? - perguntei, amarga e melancolicamente, analisando a borda da caneca para não ter que encará-lo.

– Coisas piores. - ele disse misteriosamente, como se tivesse medo de me falar muito. - Apenas tente seguir em frente e fazer o seu melhor. Um dia sua vida vai melhorar, é só acreditar nisso.

Dei de ombro cansadamente. - A única esperança que eu tinha, meu pai destruiu com uma faca.

Senti-o se aproximando e segurando minha mão, como se tentasse me passar forças.

– Hey, a esperança é a última que morre.

Eu levantei meu rosto, sentindo algumas lágrimas inundando minha visão.

– Eu disse algo de errado? - o sorriso de Nico se fechou quando viu as lágrimas.

Balancei a cabeça e soltei sua mão para poder enxugar as lágrimas. - Não, é que ninguém havia se importado comigo antes.

Seu sorriso marcado por duas covinhas retornou aos seus lábios.

– Muitas pessoas ainda vão aparecer. - ele disse confiante, e ficamos algum tempo apenas nos encarando.

Até que algo me chamou a atenção pelo canto de olho. Alguns raios de sol começavam a despontar por trás dos prédios e casas, anunciando a chegada de um novo dia. E eu percebi que ficara mais horas na companhia de Nico do que o esperado. Era hora de ir.

– Preciso ir. - eu disse tristemente, deixando a xícara em cima da mesinha de centro e colocando a coberta no sofá.

– Já? - eu quase podia jurar ter ouvido um tom decepcionado em sua voz, mas me lembrei de como eu podia estar louca, simplesmente ignorei.

Mas dei uma risadinha ainda assim. - Já está amanhecendo, Nico, eu preciso ir.

– Mas você disse que seu pai nem se importaria... - ele argumentou, enquanto eu ia até a porta.

– E não importa mesmo. - eu concordei, sorrindo pela sua vontade de continuar a ter minha companhia. Isso realmente era algo novo para mim. - Mas se eu pretendo seguir seu concelho de ser forte, preciso antes terminar o ensino médio.

Ele sorriu. - É assim que se fala! Vamos, eu te acompanho.

– Mas não é muito longe. - argumentei, sem querer dar mais algum trabalho para ele.

– Melhor ainda. - ele disse, abrindo a porta e indicando que eu fosse na frente. - Além disso, sou novo na cidade e quero conhecer um pouco mais.

Fomos o caminheiro inteiro em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Os meus giravam em algo semelhante em como Nico ficava lindo sob o sol da manhã ou em se eu o veria novamente. Ele me fez bem em poucas como ninguém antes. Mas eu sabia que aquilo era apenas seu lado gentil. Nunca mais nos veríamos e, se isso acontecesse, ele não se lembraria de mim. E assim, com esses pensamentos deprimentes, finalmente paramos em frente ao prédio e ficamos nos encarando, um pouco constrangidos.

– Bem, é aqui. - eu disse, e ousei levantar meu olhar para seu rosto. - Obrigada, Nico.

– Foi um prazer, Cristal. - ele disse e eu posso jurar que nunca senti borboletas no estômago ao ouvir alguém dizendo meu nome antes.

– Ah! - exclamei, lembrando-me de um detalhe importante. - Sua jaqueta... - eu disse, quase tirando sua jaqueta de aviador que ainda estava comigo, mas ele me impediu.

– Fica pra você. - Nico sorriu diante da minha expressão surpresa. - Me entregue quando nos vermos de novo.

– M-mas...

Vamos nos ver de novo. - disse ele, sorrindo marotamente. - Principalmente agora que sei onde você mora e você sabe onde moro.

Corei, mas ainda assim assenti, concordando.

E então Nico se virou, sem um adeus. Pois eu sabia que não era um adeus.

E eu fiquei parada ali em frente, até que ele sumisse das minhas vistas.

E eu percebi finalmente algo que acontecera desde que Nico me salvara da ponte, mas somente agora tomei consciência.

As cores dos meus olhos por baixo das lentes mudavam desesperadamente, como um caleidoscópio.


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